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sábado, 26 de março de 2011

'Não seremos loucos?'




Não Seremos Loucos ?
com base em original de Rodolpho Calligaris
                sob título ‘Loucura  Espiritista’
publicado no Reformador (FEB)  em  Junho 1941

                        ...Não constitui, porventura, sinais evidentes de alienação mental, estarmos nós a repetir o ‘Amai-vos uns aos outros’ a uma sociedade que se entredevora animalescamente, surda aos chamados da razão e do bom-senso, insensível a todos os apelos, impassível ante todas as desgraças e indiferente a todas as misérias?
            Não será loucura crermos na ‘força do direito’ quando o que impera é o ‘direito da força’?
            Não será loucura sermos humilhados, escarnecidos, ridicularizados por causa da doutrina que professamos e perdoarmos aos que assim nos ofendem, continuando a trabalhar, imperturbavelmente, para que essa mesma doutrina tenha acesso em seus corações e os ilumine com as suas suaves e reconfortantes claridades?
            Não será doidice vermos nos animais colocados abaixo de nós na escala evolutiva das espécies seres perfectíveis, destinados a ocupar, um dia, a mesma posição em que hoje nos encontramos?
            Não seremos loucos por combater prejuízos racistas, considerando todos os homens, brancos e pretos, vermelhos e pardos, como filhos de um só Pai, e dignos, todos, do mesmo respeito e de igual consideração?
            Não seremos loucos por vermos em nosso semelhante um irmão e não um inimigo a combater - no delinqüente vulgar uma alma a redimir e não um quisto a eliminar?
            Não será loucura preocuparmo-nos com os problemas do espírito, quando a humanidade se inclina a prestar vassalagem ao ouro e à carne - os deuses da atualidade?
            Não será loucura rompermos com os formalismos sociais e religiosos, vazios de sentido, quais o uso do luto, coroas mortuárias, velas, missas, batizados, crismas, jejuns alimentares, etc., a que ainda estão escravizadas tantas e tantas criaturas?
            Não será loucura construir, fundar e manter asilos, hospitais, creches, albergues, abrigos, escolas de alfabetização, etc., lutando para isso com mil e uma dificuldades, quando tal tarefa é de competência do Estado?
            Não será loucura esforçarmo-nos por vencer as nossas paixões, corrigir os nossos defeitos, desenvolver as virtudes ativas a cristãs, a fim de criarmos dentro do nosso próprio ‘eu’ o nosso céu, quando outras religiões nos oferecem o mesmo céu por processos muito mais cômodos e muito menos sacrificantes?
            Não será loucura dizermos ‘até logo’ aos nossos mortos queridos, na convicção de os revermos no outro lado da vida?
            Não será loucura deixarmos os nossos lares, descurarmos os nossos interesses materiais, renunciarmos a certos prazeres que a vida nos oferece, e sairmos por aí tentando aliviar sofrimentos físicos e morais, gratuitamente, como o recomendou o Cristo Jesus?
            Não será loucura bendizermos da Dor que excrucia, reconhecendo nela o instrumento que vem de lapidar a nossa alma e torná-la um diamante capaz de produzir mil cintilações?
            Não será loucura encararmos a Morte como anjo libertador e não como um espantalho terreno?
            Não será loucura admitirmos a existência de outras humanidades noutras esferas além da Terra?
            Não será loucura crermos na pluralidade das existências, como meio de depuração e perfectabilidade das almas, em sua marcha ascensional para Deus?
            Oh! somos loucos, sim, porque concebemos um Deus diferente dos outros deuses, um Deus que não tem iras e nem rancores, que não se vinga nem destroi suas criaturas, mas que é todo amor e bondade e faz justiça com misericórdia, enseja aos culpados a oportunidade de se remirem com seu próprio esforço, conquistando méritos, através da lei bendita dos renascimentos!
            E mais loucos ainda por termos certeza que, num futuro que talvez não esteja muito distante, a humanidade inteira há de se tornar louca como nós.
            Mas, então, já os homens terão outra mentalidade e as nações se regerão por outros sistemas de vida, baseados na Paz, na Justiça e na Fraternidade!

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