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quinta-feira, 31 de março de 2011

09-10/10 'O Livro dos Médiuns de Paulo, o Apóstolo'




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            O exercício da mediunidade sem amor é frio e inócuo. Os Espíritos, que sentem mais as nossa vibrações interiores do coração do que as palavras que pronunciamos, sabem se estamos realmente interessados nas suas dores e angústias ou se estamos apenas recitando palavras ocas de consolo estéril. Se atrás das palavras não está a sustentação do amor, eles não produzem os frutos da misericórdia, do despertamento, do arrependimento.
            E, assim, a exposição que Paulo iniciou declarando que iria ‘mostrar um caminho mais excelente’, ele a retoma para dizer que todos deveriam ‘buscar o amor, mas também aspirar aos dons espirituais’.
            Com isso, assegura que nem a mediunidade e nem o amor podem ficar estáticos, de braços cruzados; são dinâmicos. O amor é o caminho mais excelente, mas são prescinde da mediunidade como um dos seus veículos de atuação.
            Entra o apóstolo, a seguir, nos conselhos de ordem prática, dizendo por que prefere o dom da profecia, ou seja, a mediunidade de incorporação. É que a faculdade de falar em línguas estrangeiras a ninguém aproveita, se não estiver também presente quem possa interpretar e traduzir o pensamento expresso pelo Espírito manifestante.
            -- Desejo que faleis todos em línguas – diz ele em 14:15 -; prefiro, no entanto, que profetizeis. Pois, o que profetiza, supera o que fala em línguas, a não ser que também interprete, para que a assembléia se edifique.
            E, assim, o capítulo 14 é todo dedicado à classificação das faculdades, não quanto às pessoas que as exercem, de vez que Paulo já explicou que são todos membros do mesmo corpo, mas quanto à utilidade que têm tais faculdades para os que participam dos trabalhos mediúnicos.
            Sua preocupação maior aí é com o fenômeno das línguas desconhecidas que, ao que parece, estava assumindo certa predominância em Corinto, sem proveito para ninguém. Sua linguagem é extremamente engenhosa e precisa.
            -- Porque se oro em línguas (estranhas) meu espírito ora, mas minha mente permanece sem proveito. Então, que fazer? Orarei com o espírito mas orarei também com a mente (14: 14-15).
            Na verdade, se o Espírito transmite uma comunicação ou uma prece em língua desconhecida, o espírito do médium que está ligado ao manifestante certamente aproveita a mensagem, mas não consegue trazê-la para a sua consciência, a que Paulo chama de mente. Ao despertar, não sabe o médium o que disse o Espírito por seu intermédio, nem ninguém à sua volta sabe: “meu espírito ora, mas minha mente permanece sem proveito”.
            Ademais, prossegue Paulo, o fenômeno da mediunidade xenoglóssica impressionava muito aos descrentes, a que ele chama de infiéis, pela sua espetaculosidade, mas, para os crentes, era melhor a incorporação tranquila de um Espírito que, usando a língua corrente, transmitia a sua mensagem de edificação e estímulo, trazendo ensinamentos, advertências e instruções.
            -- Se, pois, se reúne uma assembléia e todos falam línguas e entram nela os não iniciados ou infiéis, não dirão que estais loucos? Pelo contrário, se todos se profetizam e entra um infiel ou não iniciado, será convencido por todos, julgado por todos. Os segredos do seu coração ficarão descobertos e, prostrado com o rosto em terra, adorará a Deus, confessando que Deus está verdadeiramente entre vós (14: 23-25).
            Paulo adverte aqui quanto à inconveniência de se dedicarem todos à xenoglossia, especialmente do efeito sobre os assistentes não familiarizados com as práticas da mediunidade cristã. Ao passo que, falando em linguagem que todos entendam, os resultados seriam muito melhores, de vez que os Espíritos, muito frequentemente, vão buscar nos assistentes os mais secretos pensamentos, o que causa grande impacto e mudanças de atitude pessoal.

10

            No seu admirável “Livro dos Médiuns”, Paulo não deixou de regulamentar nem mesmo a ordenação dos trabalhos. Todas as mediunidades poderiam ser exercitadas, desde que para edificação dos presentes. Apenas dois ou, no máximo três deveriam falar em línguas estranhas e que houvesse sempre um intérprete. Se não houver intérprete, o médium deve guardar silêncio, ou seja, em jargão espírita: não deve “dar passividade” ao Espírito manifestante, pois que a ninguém aproveitaria a sua comunicação.
            Quanto aos profetas, ou seja, médiuns de incorporação, que falem dois ou três ‘e os demais julguem’.  As comunicações não devem, pois, ser recebidas e aceitas sem análise e crítica, paar evitar enganos, fraudes e mistificações. Se alguém tem ainda algum Espírito a receber, cale-se o primeiro, ou seja, o que estava falando, pois todos devem exercitar suas faculdades com ordem e metodicamente, cada um por sua vez. E mais:
            - Os Espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas, pois Deus não é um Deus de confusão mas de paz.
            Notável advertência essa, em tão poucas palavras. Realmente, o médium não deve deixar que o Espírito faça com ele o que bem entenda; na mediunidade disciplinada, os Espíritos manifestantes estão sob o controle dos médiuns, pois Deus não é um Deus de confusão, mas de paz e, nos trabalhos realizados sob a proteção divina, não seriam admitidos tumultos.
            Ninguém mais na assistência deveria tomar a iniciativa de falar; regra que até hoje é observada nos bons grupos mediúnicos, nos quais são designados  aqueles que devem conversar com os Espíritos, não sendo permitido a ninguém mais dirigir-lhes a palavra, mesmo quando interpelados pelos manifestantes, a não ser que para isso autorizados.
            E conclui:
            - Portanto, irmãos, aspirai ao dom da profecia e não embaraceis que se fale em línguas, mas faça-se tudo com decoro e ordem.
            Assim termina Paulo seu Livro dos Médiuns’, roteiro preciosíssimo que teria garantido à Igreja nascente uma segura trilha evolutiva através dos séculos.  Onde estaríamos, hoje, em adiantamento espiritual, se a mediunidade tivesse sido preservada de acordo com os padrões que Paulo lhe fixou? Foi uma pena que esse filão ficasse abandonado tão cedo; as paixões humanas do poder temporal assim o determinaram. Nem tudo, porém, está perdido, porque sempre poderemos voltar sobre os nossos passos e remontar às fontes incontaminadas daqueles tempos iluminados. Mas quanto tempo se perdeu, quantos Espíritos se transviaram, quantas dores foram experimentadas, quantas sombras envolveram a terra, apenas porque alguns espíritos desavisados acharam que nem a mediunidade precisava do Cristianismo nem o Cristianismo, como movimento, precisava da mediunidade.
            Allan Kardec retomou a idéia, no século XIX. É bom, pois, que os Espíritas do século XX reexaminem as fontes do Cristianismo primitivo, buscando ali, como previu Paulo, as lições que se preservaram intactas.  O Apóstolo dos Gentios teve a intuição divina do futuro e o senso maravilhoso da História. Não é sem razão que o Cristo dizia dele que era um vaso escolhido. Jesus conhecia muito bem as dimensões daquele espírito e Paulo deu perfeito testemunho da confiança que o Mestre depositou nele, de tal maneira se integrou no pensamento de Jesus. Essa identidade profunda de propósitos e de entendimento, ele a expressaria numa das suas sínteses mais belas e mais geniais:
            - Não sou eu quem vivo, é o Cristo que vive em mim...         

10 comentários:

  1. ESTÁ POSTADO COMO CAPÍTULO 09 E 10 QUANDO EM VERDADE SÃO OS CAPÍTULOS 11 E 12. ONDE CONSEGUIR OS CAPÍTULOS 09 E 10????

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  2. Agradeço pelo seu alerta. Houve um erro de numeração apenas. Já foi corrigido. A matéria está toda postada. Não falta nada. Grato,

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  3. No seu admirável “Livro dos Médiuns”, Paulo
    Onde achar esse livro, Aron?

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  4. Prezada Lourdes, Não se trata de um livro mas sim do título de uma série de artigos do Dr Hermínio de Miranda.

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  5. Já achei. Primeira epístola aos Corintios, 12/13/14.
    Valeu.

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  6. Este blog não passa de um 'copy and paste' do muito que estava esquecido nas páginas da revista 'Reformador' durante todo o século XX.
    Paz!

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    1. Muito útil, seu blog. Agradeço bastante ter achado todas essas informações. Jesus te abençoe.

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