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sábado, 26 de março de 2011

'A Inquisição' - Parte 6 e final.




        Torquemada - Em 1420 nascia, em Valladolid, Tomás Torquemada. Viajando, ainda muito novo, apaixonou-se, em Córdoba, por uma mulher. Não soube ou não pode prendê-la; e um mouro, preferido por ela, levou-a para Granada!...
            Germina, então, e radica-se no coração de Torquemada, o ódio de toda a sua vida contra os mouros. Vai dali a Saragoça, onde freqüenta os estudos de Teologia e, pelo braço de um padre que o admirava, entrou no convento dos domínicos. Aprende, rebuscando nos arquivos, a conhecer a autoridade que desfrutaram os inquisidores. O ódio, a ambição, o desejo de vingança, projetaram-lhe, bem definido e avultado, um pensamento que precisa corresponder a uma realidade - o restabelecimento da inquisição.
            Era, no entanto, preciso unificar a Espanha sob uma só vontade... E Torquemada pressente a possibilidade de reunir Aragão com Leão e Castela.
            Veste-se o hábito de S. Domingos e vai para Toledo pregar.
            Faz-se cristão, esmoler de Isabel, e seu confessor, por último. Imperou-lhe no pensamento e no coração; inoculou-lhe a arma da dissimulação e a idéia da grandeza que lhe havia de vir, um dia, da sua união com o príncipe herdeiro de Aragão. E Isabel amou o príncipe... No confessionário instruiu-a, o domínico, de todos os princípios de governo e da política que lhe convinha. Depois, prepara-a para a primeira comunhão; traça-lhe o céu de felicidades, dado por Deus aos príncipes que persistem na fé e pinta-lhe as desgraças que os acompanham quando se apartam da religião católica... Vêm a propósito as heresias... as medidas rigorosas que os vigários de Jesus se têm visto forçados a usar para as expulsar do coração do homem. E ouve, enfim, à princesa o juramento de que, quando fosse rainha, havia de restabelecer a inquisição! 
            E foi Torquemada que assentou Isabel no trono de Castela e foi ele que a casou com Fernando de Sicília, herdeiro de João II, rei de Aragão, reunindo-se os dois mais poderosos estados da Península.
            Lembra-se então a promessa. Havia mouros e judeus. Nada estaria seguro, enquanto eles não se convertessem... Mas mesmo convertidos, nunca fiar!... Eles fingiriam abraçar a religião católica e no fundo permaneceriam pagãos. Era preciso um remédio aplicado constantemente. Só um tribunal de jurisdição sobre as consciências - a Inquisição!

            O “Quemadero” - A rainha facilmente convenceu o rei, e os dois católicos entram na faina da sua santidade! Em fins de 1481, só em Sevilha tinham sido queimadas vivas cerca de trezentas pessoas e condenadas a cárcere perpétuo oitenta. No resto da província e no bispado de Cádiz, foram à fogueira nesse ano 2000, e 17000 condenados a diversas penas.
            Para maior facilidade das execuções - escreve Alexandre Herculano  - levantou-se em Sevilha um cadafalso de cantaria onde os judeus e os cristãos-novos eram metidos, lançando-lhes depois o fogo. Este monumento que ainda existia nos princípios do século XIX, era conhecido pela expressiva denominação de Quemadero
            O terror obrigou milhares de famílias a fugir de Espanha. Queixaram-se ao papa. Sisto IV  mandou chamar à reconciliação aqueles que pedissem, ainda que condenados ao suplício das chamas. Assim o disse numa bula de 2 de agosto de 1843... Onze dias depois, revogou-a! Alguns cristãos-novos  que voltaram de Roma, depois de pago e bem pago o favor do papa, e chegaram a Sevilha confiados na promessa, como estava revogada a bula, foram queimados e os seus bens confiscados! Santa Inquisição!...

            O Inquisidor Feroz - Por fim, é Torquemada erguido à maior altura do seu sonho. É feito cardeal e o primeiro inquisidor geral em toda a Espanha. Tem sob as suas ordens quarenta e cinco inquisidores gerais. “a inquisição é uma instituição política e permanente, com autoridade soberana, absoluta, independente dos bispos”.
            Em catorze anos, este Torquemada, que deu ao tribunal da inquisição espanhola a forma jurídica oposta a todas as leis humanas, instaurou processo a cerca de oitenta mil pessoas e mandou a fogueira mais de oito mil, realizando-se as execuções entre cerimônias e festas religiosas de inconcebível pompa! A certa altura, os judeus afligem-no demais. Não o satisfaz a conversão forçada e a tortura e o fogo. Quer ver-se, de vez, inteiramente livre da raça... maldita, por ter religião diferente da de Roma... É preciso correr de toda a Espanha os judeus!...
            Os pobres hebreus, aterrados com as notícias em curso, de que seriam expulsos a sabendo de quanto D. Fernando é amigo de dinheiro, cotizam-se e oferecem aos reis trinta mil ducados, números redondos, para que os deixassem em paz. Além do dinheiro, prometiam sujeitar-se às obrigações civis que lhes eram impostas, habitar os bairros separados, recolher antes do anoitecer e abster-se do exercício de profissões só próprias de cristãos. Era tal o amor à terra que preferiam os flagelos do Santo Ofício!
            Fernando e Isabel, comovidos, pensaram um instante em tolerar no reino os judeus. Mas, de súbito, Torquemada, entrando junto dos soberanos e atirando-lhes para cima de uma mesa com um crucifixo, disse-lhes: “Judas vendeu Cristo por trinta dinheiros. Vossa Altezas querem vendê-lo por trinta mil ducados; aí o tem, realizem o mercado.” Os reis ficaram aterrados e assinaram em 31 de março de 1492 a sentença do exílio. Os judeus tinham de abandonar a Espanha dentro de quatro meses...
            Os espanhóis tinham  degolado na América povos e reis, em homenagem a seu Deus, conforme se dizia. Na sua própria pátria encontraram as fogueiras prontas a devorá-los, em nome do mesmo Deus...
            E só porque Torquemada, o inquisidor feroz, quisera ser cardeal e exercer um poder independente e superior aos grandes e aos reis, e porque queria vingar-se do mouro de Córdoba em todos os mouros e judeus; e só queria ter à sua ordem uma instituição fatal a todos os seus inimigos e que fosse o baluarte que o mantivesse nas honras a que se tinha erguido; só para servir as ambições, os ódios e as vinganças dum frade dominicano e de outro franciscano - Torquemada e Ximenes - os reis católicos, estabelecendo a inquisição, inundaram a Europa de sangue!...
            

2 comentários:

  1. Olá, Aron. Boa noite. tudo bem? Você pode me indicar um livro sobre Torquemada? Quero saber essa história da paixão jovem do inquisidor. Um abraço e parabéns pelo blog.

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  2. Prezado Companheiro,
    Não conheço nenhum livro sobre o assunto que tenha o rótulo de espírita e que mereça crédito. Sugiro a busca nos sites virtuais 'Livronauta' e 'Estante Virtual'. Lá, existem livros com o título 'Torquemada'. Fique com Deus,

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