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domingo, 18 de janeiro de 2015

Vigilãncia Permanente



Vigilância Permanente
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Maio 1955

            Quanto mais observamos a vida e buscamos compreendê-la através dos ensinamentos evangélicos, mais nos capacitamos do atraso em que se encontra nosso espírito. A exemplificação do Evangelho nos dá uma ideia da distância infinita que nos separa da perfeição e isto nos traz positiva evidência da sabedoria da lei da reencarnação, porquanto, a não ser assim, estaríamos diante de um destino cheio de injustiça para a maioria das criaturas humanas. Muitas vezes nosso espírito se alegra ante a comprovação de que pudemos vencer bem determinada prova evangélica, mas logo, ainda sob o entusiasmo do triunfo alcançado, experimentamos a decepção de nova derrota, por havermos deixado de cumprir ou de observar este ou aquele preceito do Evangelho. Em vez de desanimarmos, porém, precisamos erguer a cabeça corajosamente e seguir na luta contra as nossas deficiências morais. O revés deve ser encarado como advertência para que não deixemos um só instante a vigilância que nos cumpre guardar no itinerário humano. Orar e vigiar não é um a “slogan" para decorar artigos ou discursos: é um conselho de grande importância, mas ao qual nem sempre se dá o valor devido.

            Orar é um ato que nos pode pôr em contato com as forças espirituais invisíveis se houver sinceridade na prece e alma limpa de quem ora. Vigiar é uma atitude de atenção para que não sejamos surpreendidos pelos inimigos que se encastelaram nos hábitos maus que adquirimos e mantemos, malgrado o esforço despendido para nos libertarmos deles. Portanto, orar é uma posição defensiva, pois, por meio da prece fortalecemos nossa situação espiritual, predispondo-nos à resistência contra as acometidas das trevas e iluminando a rota que seguimos, com o fito de alcançar, passo a passo, a melhoria do panorama cármico. Vigiar é também uma atitude defensiva, que devemos, sustentar sempre contra os inimigos do nosso progresso moral. Quem são esses inimigos? Nós mesmos. Eles estão ocultos em nossa defeituosa educação, nos impulsos que não sabemos jugular, nos hábitos que insensivelmente vamos adquirindo, por imitação ou por tendência natural do nosso espírito.

            Justamente quando tentamos realizar um programa evangélico, as dificuldades se amontoam, perturbando-nos o espírito. Às vezes, tantos são os obstáculos que o desânimo nos acomete. Se não nos forrarmos de forte decisão, cedo abandonaremos a luta. Então, as dificuldades crescerão espantosamente, se tentarmos recuperar o terreno perdido. Mesmo assim, será demonstração de fé não desistir da luta, sempre mais gloriosa na vitória, quanto maiores foram os óbices vencidos. Certa vez, um confrade nos disse:

            - Estudo o Evangelho e procuro, na medida do possível, seguir lhe os ensinamentos. Tenho, entretanto, um vício irresistível. Por mais que, tenha feito, não consigo dominá-lo... Acho que os Espíritos obsessores não o permitem...

            Malgrado a desvalia da nossa opinião, contraditamos suas palavras, esclarecendo que, se sua determinação fosse realmente forte, o vício estaria já superado. Às vezes, somos nós os nossos próprios obsessores, porque não cultivamos a força de vontade e, à menor tentativa de correção, cedemos e caímos no ritmo censurável. Sempre que um pensamento mau nos assalta, devemos procurar alguma atividade que nos distraia o espírito e nos facilite evadir-nos da tentação. Se esta nos persegue insistentemente é porque o “diabo" está dentro de nós: são os nossos hábitos, as fraquezas do nosso espírito, ainda não educado evangelicamente para permanecer imune ou insensível às solicitações do instinto e às seduções que a vida material multiplica. Esses são os “diabos" que realmente existem...

            Nenhum de nós - dizemo-lo tomando-nos por exemplo primário - é infalível na exemplificação do Evangelho. Todos procuramos acertar, errando frequentemente, mas tentando sempre errar cada vez menos. E isto é mais difícil do que parece. Basta uma observação cuidadosa, quotidiana, das vezes que logramos vencer e das vezes em que somente nos lembramos das determinações evangélicas após haver falido. “Procura e acharás; trabalha e produzirás. Desta maneira serás filho das tuas obras, terás delas o mérito e serás recompensado de acordo com o que hajas feito." (O Evangelho segundo o Espiritismo", cap, XXV, 3, “in fine") Temos de ser filhos de nossas obras. Supor-se que poderemos ficar livre de canseiras e preocupações, com a ajuda dos Espíritos, é ilusão. “Os Espíritos não vêm isentar o homem da lei do trabalho; vêm unicamente mostrar-lhe a meta que lhe cumpre atingir e o caminho que a ela conduz, dizendo--lhe: Anda e chegarás. Toparás com pedras; 'Olha e afasta-as tu mesmo." (O Livro dos Médiuns, cap. XXVI, 291) Entretanto, qualquer esforço bem intencionado que façamos, será bem ajudado pelo Espíritos, mas essa ajuda se manifesta de forma diversa da que geralmente se pensa: eles nos animam, dão-nos coragem, emprestam-nos forças, alertam-nos, pela intuição, para a conveniência de não nos entregarmos ao desânimo. Que ajuda! Ela constitui a alavanca com que poderemos, baseados na fé e no trabalho, deslocar imensos blocos de pedra!

            Geralmente somos mais ajudados do que percebemos. Sem o amparo dos Espíritos generosos e prestativos, nem sempre levaríamos a bom termo nossos deveres espirituais. Conhecedores disto, mais do que nunca devemos compreender que orar e vigiar não é uma frase feita, de efeito decorativo. Ela encerra um conselho valiosíssimo e é uma advertência de que não devemos jamais esquecer. Vigilantes, para que as nossas fraquezas não nos atraiçoem quando as combatemos, podemos encontrar na prece a arma poderosa que nos tornará fortes um dia, tão fortes que nos será possível socorrer, como agora somos socorridos, aqueles que precisarem da nossa ajuda eficiente. Se pretendemos ser úteis, aprimoremos mais e mais as nossas virtudes e expunjamos de nossa alma os defeitos e vícios que ainda a debilitam.

            O espírita deve estar permanentemente em vigilância, mais severo em sitiar seus defeitos do que em perseguir os de seus semelhantes. Fácil é criticar e pormenorizar faltas alheias. Tarefa bem mais séria possuem os que se abrigaram no Espiritismo: a reforma íntima de cada um. Há sempre um “homem velho" dentro daqueles que ainda não alcançaram a compreensão doutrinária pela exemplificação constante. Esse “homem velho" precisa de ser exilado de nossa alma. A prece é uma forma de vigilância, um como que toque de sentido! que devemos executar diariamente. A medida que formos derrotando o “homem velho", irá surgindo o “homem novo", que nos fará mais unido ao ideal espírita, porque mais intimamente ligado ao Cristo Jesus, Mestre dos mestres do Espiritismo, que é o Cristianismo primitivo ressurgido, o Cristianismo dos tempos novos!


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