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sábado, 10 de janeiro de 2015

Parapsicologia e Farmacologia (parte 2)


A parte primeira do artigo abaixo foi postada em 9 de Janeiro de 2014.
Pedimos desculpas pelo nosso descuido. O Blog.

Parapsicologia e Farmacologia (parte 2)
por Hermínio Miranda
Reformador (FEB) Jan 1962

            Vamos concluir hoje o exame das questões relacionadas com a Para psicologia e a Farmacologia, iniciado no artigo anterior.

            Examinaremos os temas discutidos na 2ª Conferência realizada de 6 a 10 de Novembro de 1959, em St. Paul de Vence, na França. Tal como no Congresso realizado em Nova Iorque; tomaram parte nesta vários médicos, psicólogos, psiquiatras e cientistas em geral.

            Também como no congresso anterior, o objetivo foi a discussão do mecanismo da mente sob a ação de drogas provocadoras de fenômenos tipo mediúnico.

            O Dr. Alain Assailly, representante da França, médico especialista em neuro-endocrinologia, apresentou um estudo sobre os “Elementos bioquímicos da mediunidade”. Sua tese é a de que um certo conflito psicológico do médium parece ser importante fator para atingir os estados de clarividência. Acha que influem não somente conflitos afetivos, mas também de natureza biológica. Muitos médiuns, na sua opinião, vivem sob a tensão de agudos conflitos devidos a aspirações insatisfeitas de natureza afetiva, ou de caráter espiritual. Informa que um dos melhores médiuns de Paris é um homem que sofre há algum tempo de séria doença crônica.

            Certamente que não estou em condições de discutir com o Dr. Assailly, mas todos conhecemos médiuns sadios e tranquilos, o que invalida a sua tese...

            Em todo caso ele sugere que algumas pesquisas deveriam ser feitas a fim de determinar se existe alguma relação entre os hormônios e o estado de clarividência (isto é, de mediunidade). Um teste esboçado pelo Dr. Assailly seria proceder a exames de urina dos médiuns, cada 24 horas, durante uma semana, e determinar, então, qual a relação entre o tipo de mediunidade manifestado pelo médium e os hormônios encontrados no material colhido.

            Há, porém, um sábio conselho do autor: é quando previne o experimentador para que não se aproxime do médium de maneira “muito fria, demasiadamente objetiva, proibitivamente científica e céptica e até mesmo hostil”. Tal atitude somente servirá para criar obstáculos que inutilizarão as experiências. Já representa algum progresso o fato de a Ciência reconhecer que as pesquisas em torno dos fenômenos mediúnicos não podem ser conduzidas da maneira fria com que se examinam fenômenos físicos ou químicos. No caso, estuda-se a complexa estrutura funcional do espírito humano e não o simples comportamento previsível de um grupamento de células ou de um conjunto de forças cegas.

            O médium tem a sua personalidade e a sua formação psicológica, moral e religiosa.  Não é uma coisa, uma simples máquina de produzir fenômenos de natureza incomum. É um ser humano.

            O Dr. Duncan B. Blewett, do Canadá, acha que há “um tremendo futuro para as drogas psiquedélicas nos tratamentos psiquiátricos” cuja duração pode ser reduzida. Informa que após um ano de pesquisas no Centro de Tratamento, na cidade de Regina, no Canadá concluiu que a maior dificuldade está em conseguir, com precisão, caracterizar “com o que estamos lidando”. Isso porque o único meio de obter informação a respeito dos fenômenos que se passam é o relato das próprias pessoas sob a ação das drogas. E poucas dessas pessoas conseguem descrever razoàvelmente o que se passa com elas durante o processo. O LSD, segundo o Dr. Blewett, é uma das mais poderosas drogas conhecidas. Um centésimo milionésimo de grama produzirá, às vezes, notáveis estados na pessoa que a ingerir. Se a dose não for suficiente, o paciente ficará num estado intermediário, como se estivesse com um pé no sonho e outro na realidade habitual. Acha ele que o LSD, alterando de alguma forma, ainda desconhecida, a função redutora do cérebro e tumultuando aquilo que é tido como sua estrutura construída no passado, permite que novos grupamentos de ideias apareçam. Longe de ser um desastre, acrescenta o Dr. Blewett, a pessoa tem então capacidade para reorganizar sua percepção - sua percepção inabitual - em um nível muito mais alto que o comum. O paciente informa então que vê as coisas com maior clareza, compreende-as com um grau mais agudo de percepção. O problema, diz o autor, é provar que o paciente se torna, sob a ação da droga, uma pessoa muito mais sábia do que era dez minutos antes. Informa ainda o autor que, na sua própria experiência, sob a ação do LSD, melhoram suas relações com sua própria família. Seus filhos parecem mais felizes, dá-se melhor com a esposa. Esta, por seu turno, compreende melhor o marido, uma vez iniciado o tratamento com o LSD.

            Não sei se diante de tão pouca informação seria lícito concluir, mas talvez valha a pena arriscar uma tímida hipótese. Talvez esse nível mais elevado de compreensão e percepção seja devido ao fato de que, sob a ação da droga, o cérebro perispiritual atua com maior liberdade, afastando-se um pouco da influência pesada e inibidora do cérebro físico. Mas é muito cedo para formular hipóteses...

            O Dr. Roberto Cavanna, representante da Itália, interessa-se mais detidamente pelo aspecto químico das reações que as drogas possam causar quando postas em contato com as substâncias orgânicas existentes nas diferentes regiões do cérebro (físico). Relata experiências pessoais nas quais, ingerindo 5 miligramas de metamfetamina, presenciou um vívido cortejo de imagens, independentes de sua vontade, mas, na sua maioria, relacionadas com cenas reais de seu passado remoto. Acha que indicações preciosas poderão ser obtidas com o uso do LSD 25 e da psilocibina.

            Já a Sra. Eileen J. Garret, dos Estados Unidos, discorre sobre o tema “A Psicofarmacologia equipara-se à mediunidade”. Começa por dizer que sua própria experiência autoriza-a a declarar que o uso do LSD exalta a experiência mediúnica, mas não a técnica de procurar adivinhar os símbolos das cartas do baralho Zener que, na sua opinião, nada tem a ver com a mediunidade. Embora ela não acrescente outros esclarecimentos, pode-se admitir que falta, para melhor compreensão de tais fenômenos, a distinção entre Animismo e Espiritismo. A seguir, a autora descreve seus estados de transe mediúnico, obtidos, segundo declara, por processos de respiração. Informa, então, que ouve frequentemente vozes que a aconselham e orientam, como por exemplo: “Você tem certa quantidade de trabalho a fazer e deve faze-lo completamente e bem.” 0 que é surpreendente, no entanto, é o comentário da autora. Diz ela: “Não consegui ainda encontrar um analista que pudesse dizer-me se essas vozes são alucinações ou o que são. Julgo que são de orientação íntima.” Ora, com a experiência que tem a autora, não poderia mais ter dessas dúvidas se, paralelamente à sua atividade prática como médium, tivesse um conhecimento doutrinário mais profundo. Acha ainda a autora que as diferenças entre a experiência mediúnica e o estado de exaltação obtido através da ingestão de LSD são muito marcantes. De suas experiências mediúnicas nada fica na memória, enquanto que a
experiência, com a droga, resta bem vívida na memória, ao retomar ao estado natural. Creio que também aqui faltou certo conhecimento doutrinário, pois que há vários tipos de mediunidade . Provavelmente as conclusões da Sra. Garrett não seriam as mesmas se em vez de médium inconsciente, como parece ser, fosse médium consciente.

            O comentário do Sr. J. L. Halliday (da Grã-Bretanha) nada apresenta de especial interesse, na minha opinião. Seu título é “A prática da introversão ativa”, que, pela descrição, parece mais um método de concentração atuando sobre certos centros diretores da percepção extra-sensorial.

            Rosalind Heywood, também da Grã-Bretanha, apresenta um pequeno ensaio informando que a “personalidade se altera sob a ação da mescalina”.

            Abram Hoffer, do Canadá, Diretor de Psiquiatria do Hospital Universitário de Saskatoon, assinala que uma coisa chamou sua atenção, tanto no congresso de Nova Iorque, como no da França: é que os sensitivos atravessam uma fase preparatória, como se fosse uma espécie de ritual, antes de passar ao transe. Oferece, então, sua hipótese, que pode ser formulada nos seguintes termos: a sensibilidade mediúnica depende de uma determinada taxa de adrenalina no organismo. As variações no índice de adrenalina produzem o estado de tensão necessário à eclosão de fenômenos extraordinários. O mesmo aconteceria, então, com o LSD, que estimularia a liberação de adrenalina, para depois fazê-la baixar subitamente. O desequilíbrio provocaria o estado de exaltação já mencionado. Sua conclusão - um tanto precipitada a nosso ver - é a de que “se pode produzir um sensitivo (isto é, médium) por meio de drogas”.  

            Acrescenta que, na sua opinião, o sensitivo necessita de um período de tensão seguido de um período de relaxamento. Como não sou médium, nem tenho experiência de tipo científico com médiuns, não posso dizer grande coisa sobre essa conclusão, mas tenho a impressão de que seria arriscado colocar nesse único quadro todos os médiuns indistintamente.

            Francis Huxley, dos Estados Unidos, começa seu trabalho por afirmar que o grande obstáculo da Parapsicologia tem sido livrar-se desses componentes subjetivos de seus fenômenos e colocar-se na área dos fatos objetivos. Acha o Sr. Huxley - e com ele concordamos nes- te ponto - que o elemento pessoal é a chave do fenômeno de percepção extra-sensorial. Não adianta querer estudar a ESP por meios mecânicos. Sugere que uma das primeiras preocupações dos parapsicólogos deveria ser não no sentido de trabalhar para investigar a percepção extra-sensorial, mas treinar seus pacientes no exercício de suas faculdades subjetivas.

            O Dr. Karlis Osis, dos Estados Unidos, relata as experiências da Fundação de Parapsicologia com médiuns sob a influência do LSD.

            As reações dos médiuns foram, de modo geral, idênticas. Todos se sentiram donos de conhecimentos filosóficos, como também experimentaram a necessidade de fazer profecias. Um deles viu personalidades espirituais em torno dos experimentadores.

            O Dr. Humphry Osmond, do Canadá, sugere novas técnicas de investigação. Também ele está interessado em estudar as possíveis relações entre a mediunidade e a experiência psiquedélica. Acrescenta que no Congresso de Nova Iorque, pela primeira vez, sensitivos e cientistas compareceram em pé de igualdade a um conclave. Em lugar de ficarem na posição de cobaias, os médiuns tornaram-se assistentes dos investigadores. Até aqui muito bem. Logo em seguida, no entanto, o Dr. Osmond faz uma afirmativa estapafúrdia, ao declarar que não há documentos que comprovem que os médiuns tenham sido seriamente questionados pelos cientistas. O Dr. Osmond, aparentemente, não empresta qualquer valor às inúmeras e exaustivas experiências de Sir Oliver Lodge, Sir William Crookes, Lombroso, Prof. Hyslop, Gustavo Geley e tantos outros. Aliás, o autor menciona os dois primeiros para acrescentar sumariamente que, tanto quanto sabe, foram os únicos que manifestaram certa agudeza em encarar os sensitivos com alguma simpatia. Queixa-se depois de que em Parapsicologia o mal é que existem tão poucas hipóteses, ao passo que “o grande sucesso do físico está, provavelmente, acima de tudo, no seu crescente e espantoso arrojo em formular hipóteses”.

            Vem a seguir, o trabalho do Sr. Thomas T. Paterson, da Grã-Bretanha, sob o título de “Fronteiras da Experimentação”. O Dr. Paterson pertence ao Departamento de Pesquisa Social e Economia da Universidade de Glasgow. As especulações do autor são mais de natureza filosófica que prática. Para ele os fenômenos da ESP se limitam a relações individuais entre a pessoa que emite determinada ideia e a que a capta. A prevalecer essa classificação tão generalizadora, toda a ESP ficaria resumida em fenômenos de telepatia, o que não corresponderia à realidade.

            Já o Padre Reginald Omez, da França, apresenta-se como um teólogo católico “interessado no homem sob condições normais ou paranormais, sem influência externa”. Entende que o homem é o centro do mundo e um colaborador de Deus. Padre Omez lança três perguntas reveladoras de suas preocupações. São elas: -
“Qual a origem dos poderes paranormais?” – “Qual o melhor uso que poderemos fazer deles?”- “Quando confrontados com o fenômeno chamado maravilhoso ou supernatural, podemos encontrar uma explanação para ele? e como achar essa explicação?” Diz o Padre que há 30 anos estuda o “fenômeno maravilhoso”. Em média lhe são trazidos cerca de 60 casos de possessão, alucinação (auditiva, visual), estigmas, etc. Muitos lhe são enviados por padres, seus colegas; outros, por médicos. Sua conclusão é a de que os exemplos de influência supernatural são muito raros.

            A seguir, Padre Omez se declara um grafólogo quase que nato, informando mais que a intuição é o seu instrumento de trabalho. Para facilitar seus estudos - palavras suas – “entra em estado de transe”, ou seja, de tensão. Exatamente quando sob pressão, com a pulsação acelerada, é que produz os melhores resultados grafológicos. No fim, apresenta a sua palavra conclusiva, ressalvando, porém, que considera não científico tirar conclusões de suas observações e experiências. Oferece, no entanto, o que classifica de “impressão pessoal”. Pensa que tais poderes existem, em graus variados, em todos os seres humanos. Como aparecem em certas circunstâncias especiais, significa que tais poderes sempre existiram na natureza humana, tendo sido mais amplamente desenvolvidos do que o são agora. Algumas pessoas, naturalmente, são mais bem dotadas que as outras, acrescenta o Padre Omez. A telepatia existe, em certo grau, em todos.

            O Dr. Emílio Servadio, da Itália, escreve sobre “Critérios psicológicos e métodos de testes”. Declara-se estimulado pelos assuntos discutidos no Congresso, que cuidou de três ramos de conhecimento de alta importância: a Psicofarmacologia, a Psicologia profunda e a Parapsicologia. Entende que um dos objetivos da pesquisa será colocá-las juntas e verificar como se influenciam elas mutuamente.

            Finalmente, o Dr. John R. Smythies, dos Estados Unidos, informa, numa breve comunicação, que um dos principais problemas da Parapsicologia está em que ela não é aceita pela maioria dos cientistas como urna disciplina científica.

            Eis aí o que se discutiu nos dois Congressos de Farmacologia e Parapsicologia, um nos Estados Unidos, outro na França.

            Temos o dever de conceder algum crédito de confiança aos cientistas e pesquisadores interessados nesses problemas; ficamos, porém, com o direito de juntar nossa pitadinha de desencanto. Há cem anos que os cientistas se reúnem para debater os problemas do Espírito e do funcionamento da mente humana. E que tem resultado de prático de tudo isso? Podemos, em sã consciência, declarar que as coisas melhoraram em relação a esse ramo do conhecimento? Quando nos lembramos dos nomes daqueles que no passado já investigaram os fenômenos do Espírito e proclamaram sua autenticidade, ficamos estarrecidos ao verificar quão pouco serviram, para o meio científico, suas conclusões e observações. Neste ponto a intuição maravilhosa do povo funciona de maneira muito mais eficiente. O homem da rua, que busca as causas mais profundas da vida, não nos livros de ciência, mas na própria vida, encontra a verdade com muito mais frequência que todos esses cientistas tão brilhantes, cercados de recursos técnicos, de conhecimento teórico, de livros, mas, de certa forma, tão presos aos preconceitos e falsidades da ciência materialista. Entre o homem humilde que, singelamente, se rende à evidência dos fatos e o orgulhoso cientista para o qual os fatos têm que se encaixar nas suas teorias prediletas, a gente prefere ficar com aquele. A criatura humana que, no silêncio de seu coração, recebeu amorosa mensagem de um ente querido, perfeitamente identificado, que passou para o “lado de lá”, não precisa de provas de laboratório, nem de teorias parapsicológicas para aceitar a Verdade que tem diante de si. Afinal de contas, senhores, é uma Verdade tão nítida, tão pura, tão singela e ao mesmo tempo tão tremenda: que o Espírito sobrevive à desagregação do corpo físico.            

            Agora, com a psicofarmacologia em moda, vão os cientistas começar tudo de novo. Mas são tantas as suas dúvidas e tão contraditórias as opiniões e conceitos que esposam, que a gente fica a pensar: será que desta vez vai? Não vão ficar a brincar com novas, brilhantes e vazias hipóteses e teorias para tentar explicar de maneira diferente o que já está tão bem explicado no Evangelho de Jesus e nos livros tão lúcidos de Allan Kardec?


FIM

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