Em
defesa da
Doutrina
dos Espíritos
por Lúcio dos Anjos
Reformador (FEB) Agosto 1955
O grande mal de todo aquele que
combate o Espiritismo é tentar fazê-lo sem o haver estudado ainda que
superficialmente. Daí a série de erros e equívocos em que caem, tal como
ocorreu com o nosso ilustre irmão, Sr. A.... Bem se vê, por seus alvitres -pobres
alvitres- que jamais se deu ao trabalho
de compulsar uma obra espírita. Disso temos certeza. Se não, vejamos:
Tem o nosso amigo a doutrina de
Kardec “o lobo em pele de ovelhas", o que não
passa de tolo engano. Não encontrará o nosso irmão uma obra espírita
sequer da qual se possa depreender, ainda que levemente, algum objetivo mau.
Quais as vantagens de se esconderem os espiritistas durante a vida toda por
detrás da pele da ovelha? Quando, afinal, demonstramos nossas más intenções?
Sim, porque desde que Allan Kardec coordenou importantes mensagens mediúnicas,
as lições que se têm publicado sobre o Espiritismo são as mais puras e
benéficas. O lobo, ao que parece, não se revelou ainda e podemos garantir ao
nosso amigo que não se revelará jamais.
A seguir, diz o ilustre leitor A...
que o Espiritismo é "intimamente anticristão”, negando as verdades mais
importantes e vitais de nossa fé". Não é bem isto que se passa. Procuramos
demonstrar, é bem verdade, que a fé das criaturas em dogmas e fórmulas religiosas incompatíveis com a razão
de nada podem valer aos olhos de Deus, porquanto muitas vezes exigem a
aceitação cega e passiva de afirmativas
que não encontram apoio na lógica. Quanto à "nossa" característica de
"anticristãos", há injustiça e falsidade. Tome-se tudo que se tem
dito e escrito sobre o Espiritismo e se terá certeza de que ele surgiu para cumprir a missão na qual outras
religiões já fracassaram, como bem o disse um grande espiritista de nossos
dias. Surgiu para restaurar o Cristianismo do Cristo, para restabelecer a
verdade deturpada pelos homens, explicar em espírito e verdade a letra dos
Evangelhos de jesus Cristo.
Alega
o Sr. A... que são puro engodo nossas pregações em torno do nome de Jesus,
porque negamos a Sua divindade. Nós, que propalamos os mais duros castigos aos
Espíritos que simplesmente falam em nome de um outro sem estarem autorizados
para tanto, como poderíamos falar em
nome do Salvador com objetivos impuros ou condenáveis? É muita maldade de sua
parte, Sr. A... Esqueceu-se o senhor de
que falamos em nome de Jesus para chamar alguém ao caminho do bem; nunca, para acirrar
ânimos, benzer armas bélicas, prometer o paraíso, inocentar os pecadores que
porventura nos venham confessar seus erros... Relativamente à divindade
atribuída a Jesus, nós a negamos, sim, mas no sentido de que o Messias seja o
próprio Deus ou, por outra, no de que ambos sejam um só. Podemos dizê-lo
divino; mas pela Sua pureza, pela Sua elevação espiritual, pela Sua sabedoria
imensa, pela Sua força magnética suprema, pelo fato de nunca haver falido na
sua jornada espiritística até chegar onde se encontra - ao lado do Criador.
Negamos, todavia, seja Ele o próprio Criador. Deus é muito mais do tudo que se
possa imaginar. Deus é o infinito, e está acima de todos e de tudo, tal como
nos revelou o apóstolo Paulo, inspirado pelos Espíritos do Senhor:
“Não
há outro Deus senão um só. Um só Deus e pai de todos, que é sobre todos e
por todos e em todos. Tudo vem dele,
tudo existe por ele, tudo está nele. O
Rei dos Reis, o Senhor dos senhores; o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo.”
Portanto, o Salvador também é
criação de Deus. Aliás, Jesus não foi capaz de negá-lo uma única vez durante a
Sua peregrinação pela Terra. Ao contrário, falou repetidas vezes em: "meu
Pai que está nos Céus", "o reino de meu Pai", "Perdoai-lhes,
Pai, não sabem o que fazem", "recebe-me em Teu seio", etc...
Mas, prossigamos em nossas
explicações.
Não citamos trechos da Bíblia para
enganar. Não! Citamo-los porque sabemos que as Sagradas Escrituras são o
verdadeiro caminho para se chegar ao Pai. Apenas, ao citá-los, advertimos de
que não basta ouvi-los, ou interpretá-los, ou repeti-los . É necessário, antes
de tudo, cumpri-los! Esta é a missão do Espiritismo.
Fala o Sr. A... em "santos
católicos", ignorante de que os espiritistas aceitam também tais criaturas
(que não são exclusivas da Igreja, está claro), porém, como sendo unicamente
boníssimos Espíritos, de grande elevação, que peregrinaram pelo orbe terráqueo.
Seus nomes, portanto, podem perfeitamente identificar um Centro Espírita.
Apenas não aceitamos - pelo absurdo que o fato encerra - estarem esses santos
no Céu, em carne e osso. Isso é ridículo. No mais, não queremos com isso (dando
aos Centros nomes de santos) atrair nenhum católico incauto, pois está escrito
que devemos apenas ensinar e pregar aos de boa-vontade. Não é preocupação
precípua do Espiritismo converter os católicos, buscando-os à custa de engodos
dentro das Igrejas. Não há necessidade disto, pois muitos deles já nos buscam e
frequentam nossos Centros...
A seguir, mente o Sr. A..., quando
diz que o Espiritismo faz guerra à Igreja.
Pelo
contrário: a Igreja é que faz guerra ao Espiritismo. Quando o amigo viu a
Federação Espírita
Brasileira condenando ao inferno ou excomungando os que não a vão procurar?
Onde leu alguma obra escrita com a única e exclusiva finalidade de combater a
Igreja? Em lugar nenhum, estamos certos; em época alguma. No entanto, quanto se
tem dito, escrito e pregado contra a doutrina dos Espíritos através de
folhetos, jornais, livros e conclaves católicos... Não obstante, para desespero
dos nossos acusadores, o Espiritismo medra cada novo dia, exatamente porque não
é uma religião, mas a Religião.
Não condenamos nenhum sacerdócio.
Procuramos esclarecer e guiar o mau homem, seja espiritista, católico ou
protestante, pois a maldade é apenas uma evidência de retardamento espiritual.
Finalmente, depois de tanto falar
das "mazelas" do Espiritismo, termina o nosso amigo fazendo-nos a
mais violenta das ameaças: somos hereges, excomungados e expulsos da comunhão
dos fiéis. Em outras palavras: promete-nos o irmão o Inferno, o sofrimento
eterno e tudo o que de pior possa existir depois da morte da matéria. Vejam o
contra senso! Promessas tão cruéis nos são feitas em nome de Deus que é
infinitamente bom, e nós é que somos maus quando falamos em nome do Cristo para
lembrar simplesmente que
todos devemos fazer somente o bem, inclusive perdoar aos nossos inimigos,
ajudar os nossos vingadores, aliviar as dores dos nossos algozes... Quanta
carência de bom-senso religioso e filosófico! Pois nós, ao contrário,
asseguramos que todo católico, protestante, islamita, ou seja de que seita for,
desde que pratique o bem e somente o bem, estará muito mais perto de Deus do
que aqueles que se dizem tanto e vivem tirando vinganças, amaldiçoando o
próximo, "excomungando" o irmão em carne, anatematizando os filhos e
a esposa."
(Ext. do "Diário
Carioca", de 1/6/55, seção “A opinião do leitor".
Do Blog: Omitimos o nome do personagem
citado neste artigo. Ele, certamente, já desencarnou e não merece ter suas
opiniões equivocadas mais uma vez destacadas. Os conceitos doutrinários, estes
sim, permanecem bem atuais.
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