A
Doutrina é tudo
Percival Antunes/
(Indalício Mendes)
(Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Junho 1962
O
Espiritismo, tal como o definem os Espíritos na codificação kardequiana, não
será ja
mais uma religião sacerdotal e muito menos profissional,
dotada de templos suntuosos e subordinada a encenações litúrgicas,
incompatíveis com a humildade evangélica encontrável nos princípios do
primitivo Cristianismo.
Desse
modo, o Espiritismo é o refúgio de todos os que se sentem desamparados de
justiça, de todos os que sofrem, de todos os que percebem a necessidade de
orientar a vida terrena com as luzes da Espiritualidade. Os sofredores, os
humildes, os injustiçados, os preteridos, os esquecidos, encontram no
Espiritismo o lenitivo de que precisam para vencer as suas dificuldades morais
e os seus problemas espirituais.
Todavia,
aqueles que concorrem para o desequilíbrio social, os maus ricos e os poderosos
que subestimam os fracos, também costumam buscar no Espiritismo, quando
atingidos pela lei correcional do Carma, a paz que deles se afasta. Então podem
aprender que não são melhores que os seus semelhantes. Se aproveitam as lições
e procuram reparar os males causados por seu comportamento terreno, conseguem
salvar parte da experiência encarnacionista.
Em
suma, o Espiritismo mostra a nova forma do verdadeiro Cristianismo, do
Cristianismo do Cristo, e pode continuar cumprindo sua missão educativa e
corretiva no seio da Humanidade, levando luz onde houver treva, água onde houver
sede, pão onde a fome predominar, e paz onde a dissidência estiver em ação.
Para
que o Espiritismo possa cumprir, como até hoje, sua alta missão, seus adeptos
terão que repelir tudo quanto seja capaz de deturpar ou comprometer a Doutrina
dos Espíritos, a fim de que ele não venha a sofrer no futuro o que sofreu o
Cristianismo do Cristo, cujos princípios foram falseados e não chegaram a
influir positivamente na formação moral dos homens.
Há
na criatura humana a tendência natural para inovar ou para acomodar-se a
conveniências, ainda que à custa da desnaturação de ideais, doutrinas e
programas. Alguns querem correr demais, outros não querem correr mais. Numa
doutrina, como a espírita, não há necessidade de inovações nem de estagnação.
Tudo está perfeitamente determinado e previsto. Basta que a doutrina seja
exemplificada como é preciso, para que tudo corra bem.
A
Doutrina Espírita não é obra humana. Diz o Codificador na “Introdução” de “O
Livro dos Espíritos: “A Doutrina dos Espíritos não é de concepção humana. Foi ditada pelas
próprias Inteligências que se manifestaram, quando ninguém disso cogitava,
quando até a opinião geral a repelia.”
O
Espiritismo expande-se pelo mundo e, para alegria nossa, o Brasil constitui o
bastião do movimento espírita mundial. É que a Doutrina dos Espíritos não
necessita de adaptações, pois a Humanidade é uma só, em qualquer parte da Terra.
Além disso, é da própria natureza da Doutrina o possuir enorme elasticidade e
capacidade de adaptação, sem perigo de serem constringidos ou feridos os
princípios essenciais em que ela está erigida.
Importa,
porém, que todos os espíritas compreendam, aceitem e prestigiem essa maravilhosa
maleabilidade que assegura a eternidade dinâmica da nossa Doutrina.
Nosso
dever é pensar e agir de modo a evitar se instalem no Espiritismo os preconceitos
sectários, o fanatismo, o farisaísmo, o misticismo mórbido, a passividade
suicida, a aquisição de hábitos e práticas trazidos de outros credos, o
intelectualismo fofo e estéril, além do personalismo e da presunção de onisciência.
Precisamos ser cada vez mais humildes, cada vez mais convencidos de que nada
somos, nada sabemos e nada poderemos alcançar sem que estejamos sendo fiéis,
assim na teoria que na prática, às determinações da Doutrina.
O
espírita só o é mesmo quando conhece e exemplifica a Doutrina, mantendo-se
humilde, fraterno, prestativo, sereno, tolerante, ativo e trabalhador, mais
apto a perdoar do que a punir.
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