O
Jovem Rico
19,16 Um
jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: - Mestre, que devo fazer de bom
para alcançar a beatitude? Disse-lhe Jesus:
19,17 “ -Por que me perguntais a respeito do
que se deve fazer de bom ? Só Deus é bom. Se queres alcançar a beatitude,
observa os mandamentos.”
19,18
“Quais? perguntou ele.
Jesus respondeu: “ -Não matarás,
não cometerás adultério, não
furtarás, não dirás
falso testemunho,
19,19 Honra
teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.”
19,20 Disse-Lhe o jovem: -Tenho observado tudo
isto desde a minha infância, que me falta ainda?
19,21 Respondeu Jesus: “Se queres ser perfeito,
vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e
segue-me!”
19,22 Ouvindo
estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.
Para
Mt (19,19) -“Honra teu pai e
tua mãe,
amarás teu próximo
como a ti mesmo ”, encontramos
a orientação de Kardec, no Cap.
XIV de “O Evangelho...”:
“O mandamento:
“Honrai a vosso pai e a vossa mãe” é uma consequência da lei geral da caridade
e de amor ao próximo, porque não se pode amar o próximo sem amar pai e mãe; mas
a palavra honrai encerra um dever a mais a seu respeito: o da piedade filial.
Deus quis mostrar com isso que, ao
amor, é preciso acrescentar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência, o que implica a obrigação de
cumprir para com eles, de um modo mais rigoroso ainda, tudo o que a caridade
manda para com o próximo. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que
estão no lugar de pai e mãe, e que têm tanto mais mérito quanto seu devotamento
é menos obrigatório. Deus pune sempre, de maneira rigorosa, toda violação a
esse mandamento.
Honrar a seu pai e a sua mãe, não é
somente respeitá-los: é assisti-los na necessidade, proporcionar-lhes o repouso
na velhice, cercá-los de solicitude como fizeram por nós em nossa infância.”
Complementa Kardec:
“Certos pais, é verdade, menosprezam
seus deveres, e não são para os filhos o que deveriam sê-lo; mas cabe a Deus
puni-los e não aos seus filhos; não cabe a estes censurá-los, porque talvez
eles próprios merecessem que fosse assim.”
“Deus disse:
“Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo sobre a terra,
que o Senhor vosso Deus vos dará” ; por que, pois, promete como recompensa a
vida sobre a terra e não a vida celeste? A explicação está nestas palavras:
“Que Deus vos dará”, suprimidas na forma moderna do decálogo, o quer lhe
desnatura o sentido. Para compreender-se estas palavras, é preciso se reportar
à situação e às ideias dos Hebreus, à época em que foram ditas; eles não
compreendiam ainda a vida futura; sua vida não se estendia além da vida
corporal; deviam, pois, ser mais tocados pelo que viam do que pelo que não
viam; por isso, Deus fala numa linguagem à sua altura e, como a crianças, lhes
dá em perspectiva o que pode satisfazê-los. Estavam, então, no deserto; a terra
que Deus lhes dará era a Terra Prometida, objetivo de suas aspirações; eles não
desejavam nada além disso, e Deus lhes disse que viveriam nela longo tempo,
quer dizer, que a possuiriam por muito tempo,
se observassem seus mandamentos.”
Para Mt (19,16-22)
-O Jovem Rico -, encontramos a
orientação de Kardec, no Cap. XVI de “ O
Evangelho... ”:
“Se a riqueza devesse ser um obstáculo
absoluto à salvação daqueles que a possuem, assim como se poderia inferir de
certas palavras de Jesus interpretadas segundo a letra e não segundo o
espírito, Deus, que a dispensa, teria colocado nas mãos de alguns um
instrumento de perdição sem recursos, pensamento que repugna à razão. A
riqueza, sem dúvida, é uma prova muito difícil, mais perigosa que a miséria
pelos seus arrastamentos, as tentações que dá e a fascinação que exerce; é o
excitante supremo do orgulho, do egoísmo e da vida sensual; é o laço mais
poderoso que liga o homem à Terra e afasta seus pensamentos do céu; produz uma
tal vertigem que se vê, frequentemente, aquele que passa da miséria à fortuna esquecer
depressa sua primeira posição e tornar-se insensível, egoísta e vão. Mas do
fato de tornar o caminho difícil, não se segue que o torne impossível, e não
possa tornar-se um meio de salvação nas mãos daquele que dela sabe se servir,
como certos venenos podem devolver a saúde, se são empregados a propósito e com
discernimento.
Quando Jesus disse ao jovem que o
interrogou sobre os meios de ganhar a vida eterna: “Desfazei-vos de todos os vossos bens e segui-Me,” Ele não entendia
estabelecer como princípio absoluto que cada um deva se despojar daquilo que
possui, e que a salvação só tem esse preço, mas mostrar que o apego aos bens terrestres é um obstáculo
à salvação. Esse jovem, com efeito, se acreditava quite porque tinha observado
certos mandamentos e, todavia, recua ante a ideia de abandonar seus bens; seu
desejo de obter a vida eterna não ia até esse sacrifício.
A proposição de Jesus lhe fez era
uma prova decisiva para pôr a descoberto o fundo de seu pensamento; ele podia,
sem dúvida, ser um perfeito homem honesto, segundo o mundo, não fazer mal a
ninguém, não maldizer seu próximo, não ser vão nem orgulhoso, honrar a seu pai
e a sua mãe; mas não tinha a verdadeira caridade, porque sua virtude não ia até a
abnegação. Eis o que Jesus quis demonstrar; era uma aplicação do
princípio: Fora da caridade não há salvação.”
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