O
Kardec
Brasileiro
Reformador (FEB) Agosto 1955
A veneranda figura do Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes, muito justamente cognominado o “Kardec brasileiro”, tem
constituído motivo para magníficos escritos e excelentes palestras, tantos os exemplos
nobres de sua passagem pela Terra onde deixou traços inapagados de seu
adamantino caráter e de sua obra doutrinária, eminentemente espírita. Cearense
de nascimento tendo iniciado sua reencarnação em Riacho do Sangue, a 29 de
Agosto de 1831, o Dr. Bezerra de Menezes proveio de família católica, de esmerada educação e muito fiel ao rumo religioso
que adotara. Veio para o Rio de Janeiro aos vinte anos, decidido a estudar
Medicina, o que fez sem auxílio de nenhuma ordem, arrostando enormes
sacrifícios, até se formar em 1856. Conquanto boníssimos, seus pais não lhe puderam
ajudar nos estudos, circunstância que serviu para por a prova a têmpera moral
desse homem eminente, que foi um patriota exemplar, na devida acepção da
palavra.
Esteve na política, exercendo o
mandato de vereador por duas vezes e, mais tarde, duas vezes deputado federal.
Sua atuação como político foi meritória, jamais se afastando dos deveres assumidos
e sempre defendendo as causas que de perto tocavam nos mais delicados
interesses do povo. Em virtude do seu espírito independente, inamoldável a
transigências incompatíveis com a sua formação moral, Bezerra de Menezes encontrou
forte oposição da parte do Governo, de chefes de partidos e de adversários
ferrenhos. Foi
em 1861 que se elegeu vereador pela primeira vez, mas sua eleição foi impugnada
por Um
chefe conservador, sob a alegação de ser Bezerra de Menezes médico militar.
Para não sacrificar
seu partido, Bezerra imediatamente se demitiu do lugar de assistente-mor,
sendo, então, empossado no cargo de vereador. Que exemplo! Que magnífica
demonstração de escrúpulo e de lealdade ao partido a que se encontrava ligado!
Foi deputado geral em 1867, pelo distrito da Corte, mas, em 1868, com a
dissolução da Câmara Federal, retornou às suas atividades particulares,
seriamente comprometidas pelo devotamento que tivera com os encargos políticos.
Pode dizer-se que Bezerra, de um momento para outro teve de começar vida nova.
As dificuldades em que se encontrou, visto que lhe era pesada a a
responsabilidade familial, não o desanimaram. Trabalhando com afinco, criou a
Estrada de Ferro Macaé e Campos e se meteu em outros empreendimentos de valor.
Em 1876-1880 foi
novamente vereador, exercendo a presidência da Câmara, voltando mais tarde a
ser deputado geral pela Corte e província do Rio de Janeiro, o que demonstra o
prestígio que desfrutava no seio do povo.
Esse aspecto da vida do Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes põe em relevo sua dedicação ao bem público. Entretanto,
vejamos o outro lado do homem, aquele lado em que ele haveria de se revelar
também uma personalidade forte e atraente, afirmando sua elevada estatura de
doutrinador, pregando a Doutrina Espírita, pela palavra e pelo exemplo, mais
por este do que por aquela. Era amado dos pobres, pois, como médico
competentíssimo e cristão de fino lavor, Adolfo Bezerra de Menezes espontaneamente
se punha ao serviço de seus semelhantes, sem atentar sequer para as suas
conveniências. Esse pormenor de seu belo caráter fixa o perfil desse homem
extraordinário.
Há pequeno e valioso livro na
Livraria da Federação Espírita Brasileira – “Uma carta de Bezerra de Menezes”,
que faz ressaltar a beleza moral desse grande espírita. Em 1886, recebeu ele,
então já integrado no Espiritismo, uma carta de um seu irmão germano, de nome
Soares, que o considerava apóstata, por haver renunciado ao Catolicismo.
Bezerra de Menezes, sem perder a serenidade, antes com o estilo suave de sua linguagem
cristã, deu inesquecível lição doutrinária. Essa a carta que figura no livro referido,
digna de ser meditada por quantos se interessam pela verdade exposta sem acrimônia,
mas com absoluta tranquilidade. A certa altura de sua explanação ao amigo
Soares, Bezerra de Menezes ponderou: “Afirmo-lhe
que V. fala assim porque nunca estudou o Espiritismo a fundo. Faz-se com
essa doutrina o que se faz com a
Maçonaria, que, no Brasil pelo menos, é o mais estrênuo propulsor do culto de
nossa religião. Pois eu lhe digo, embora V. sinta em minhas palavras cheiro de
enxofre: Nunca apreciei tão perfeitamente, para admirar e adorar, o sublime
ensino de Jesus-Cristo, como depois de ter estudado a Doutrina Espírita.”
Sob o pseudônimo de Max, Adolfo
Bezerra de Menezes escreveu inspiradas páginas de propaganda do Espiritismo, de
difusão dos princípios que todos defendemos sob a égide da Federação Espírita
Brasileira, fundamentado no Evangelho. Pregou a caridade, porém, praticou-a
muito mais, porque entendia que o espírita deve ser mais prático do que
teórico, mais objetivo na interpretação da Doutrina do que subjetivo.
Espiritismo é serviço, renúncia, dedicação, trabalho, fraternidade, tolerância
e amor ao próximo.
Sendo médico alopata, adotava a
homeopatia para seu tratamento e de sua família, na Assistência aos
Necessitados da Federação Espírita Brasileira. Um dia, diz um de seus biógrafos,
Bezerra de Menezes confessou que não mais tinha o direito de exercer a
medicina, pois que preferia a homeopatia em lugar da medicina oficial, em que
era formado. Bittencourt Sampaio,
outro grande e nobre espírito, sugeriu-lhe que,
então, se tornasse médico homeopata, ao que ele retrucou que não usava a dos
médicos, mas a dos Espíritos. Foi quando se manifestou o Espírito Agostinho,
por intermédio do famoso médium
Frederico Júnior, e
animou-o a seguir a sugestão de Bittencourt, afirmando que
o ajudariam os Espíritos a serviço da causa de Jesus. Seguiu o conselho,
estudou a ciência homeopática e cumpriu como ninguém seu apostolado.
Se Adolfo Bezerra de Menezes foi
grande por sua cultura, pela nobreza de seu caráter, pela dedicação com que
defendeu o Espiritismo em diversas oportunidades sérias, por seu admirável
espírito de renúncia, a que se aliava digna humildade, foi maior, bem maior por
seu acendrado espírito evangélico, sempre presente nas suas obras de caridade,
exercidas com verdadeiro espírito cristão: cotidianamente, sem conhecer horas
de repouso, sempre que havia um enfermo a tratar, um aflito a consolar, uma dor
a mitigar. A mesma energia que demonstrava na política, no exercício da função
pública, evidenciava no Espiritismo, no desempenho da missão evangélica. Certa
feita, apreciando os altibaixos da
política municipal, exclamou, o coração de sincero patriota ferido pelos
desenganos que sofrera: “Tu, meu querido
Brasil, tens andado sem leme e sem bússola precisamente porque nunca tiveste, e
tão cedo não terás, em sua verdadeira base, a municipalidade. Cumpri meu dever,
mas era cedo ainda.” Desfraldava, assim, a bandeira do municipalismo, em
que via o caminho mais seguro para a felicidade do país. Sua alma vivia
embebida de amor pelo Brasil e de amor pela Humanidade. Deixando a política,
Bezerra de Menezes se viu conduzido ao ambiente que mais convinha à sua alma
cheia de claridades. Parecia que lhe cantavam aos ouvidos a frase impressionantemente
verdadeira do anjo Ismael, em comunicação lapidar: “A missão dos espíritas no Brasil
é divulgar o Evangelho em espírito e verdade. Os que quiserem bem cumprir o
dever a que se obrigaram antes de nascer, deverão, pois, reunir-se debaixo
deste pálio trinitário: “Deus, Cristo e Caridade”. Onde estiver essa bandeira,
aí estarei eu, Ismael”.
*
Desencarnando com 69 anos
incompletos, Adolfo Bezerra de Menezes deixou na história do Espiritismo
brasileiro uma grande história. Sim, a história de um Espírito luminoso, baixado
para realizar grande e profícuo trabalho de cristianização dos homens. Pregou eloquência
invulgar, mas foi inexcedível na prática da caridade. Mesmo desencarnado, até hoje
Adolfo Bezerra de Menezes está pontualmente ao lado dos que dele precisam,
espalhando fluidos benéficos e iluminando almas inquietas pela provação.
Várias obras espíritas deixou esse
grande expoente do Espiritismo brasileiro, entre as quais “A Loucura sob Novo
Prisma”, “A Casa Assombrada”, “A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica”
(que é a carta a que acima nos ferimos), “Estudos Filosóficos”, em 3 volumes, esta
sob o pseudônimo de Max, etc.
Esta a eminente personalidade que os
espíritas brasileiros muito justamente reverenciam como o "Kardec do Brasil".
Foi presidente da Federação Espírita Brasileira duas vezes: a primeira, em
1889; a segunda, de 1895 até 11 de Abril de 1900, data em que desencarnou.
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