André Luiz
e suas histórias
“muito terrenas”
Wandick Freitas
Reformador (FEB) Julho 1955
Pesquisai e achareis, pois tendes a
Natureza a vos auxiliar
na descoberta da Verdade. Se, entretanto,
não vos sentirdes capazes de avançar
pelos
caminhos que levam a descobri-la,
atendei aos que já investigaram.
Epiteto.
Kant aconselhava-nos a não
acreditarmos em tudo o que dizem, mas também a não imaginarmos tudo o que dizem
não tem fundamento. Kardec recomendou, por sua vez, se preferisse rejeitar noventa
e nove verdades a aceitar-se um erro.
Apesar de toda a prudência, sempre
justificável exageram os espíritas que pretendem ver na obra de André Luiz,
recebida pela extraordinária mediunidade de Francisco Cândido Xavier, uma fantasia
que deve ser posta de "quarentena", porque acham as histórias
"muito terrenas"...
Tenho para mim que as restrições que
se fazem à obra de André Luiz partem de elementos que possuem incompleto
conhecimento do Espiritismo ou de certos metapsiquistas que entendem que as conclusões
que podemos tirar das informações que nos chegam do que se convencionou
chamar o Além, a respeito da vida futura, - "não valem - como dizia Du
Prel - mais do que as dum peixe dotado de inteligência, que julgasse da
natureza do homem terrestre pela conduta dum mergulhador a trabalhar no fundo
do oceano".
É verdade que a experiência ainda é insuficiente
e concordamos também com o Barão Du Prel quando afirma que "os Espíritos
manifestantes se acham numa esfera estranha, em que, pela sua natureza, só
podem mover-se e comunicar-se em condições especiais e restritas, e que a sua
verdadeira vida no Além deve ser completamente diferente". Por outro lado,
não é menos verdade - e eu faço questão de usar ainda as mesmas palavras do brilhante
autor de "O Outro Lado da Vida"
- que os nossos conhecimentos do Além tendem a tornar-se cada vez mais exatos e
claros".
Realmente parecem chocantes as
descrições que André Luiz faz em seus livros, psicografados pelo Chico Xavier.
Mas, geralmente, é a incompreensão de muitos espíritas - incompreensão mesmo -
a respeito de aspectos elementares do Espiritismo - que os leva à dúvida diante do conteúdo da série
iniciada com "Nosso Lar". E, entendendo que se trata de uma
"nova revelação", colocam-se em atitude de extrema reserva. (Em
alguns já não é reserva,
mas desencanto, decepção, ao verificar que o Além não é a espécie de
"Campos Elísios", que imaginavam). Atente-se para o fato de que, além de não contrariarem
Kardec, as obras de André Luiz trazem o endosso respeitável de Emmanuel e a confiança
que a mediunidade de Chico Xavier nos inspira. Mas não é tudo, nem o mais
importante. No prefácio da primeira obra da série - "Nosso Lar" - adverte
Emmanuel que André Luiz não vai relatar coisas novas, uma vez que outros, muito
antes, já haviam trazido ao conhecimento dos homens os fatos relativos à vida
do Além.
Como é compreensível, o espaço de
que dispomos nesta revista não nos permite reunir todos os fatos já relatados
para mostrar como eles concordam com os narrados por André Luiz, pois apenas
uma pequena parte deles não caberia mesmo num alentado livro. Vejamos o que
podemos oferecer ao leitor para comparar com o que já leu em André Luiz.
Nos escritos recebidos pela
mediunidade do Reverendo G. Vale Owen, da Inglaterra, reunidos em quatro
volumes após sua publicação em "Weekly Dispatch" em 1920-21, cuja
primeira parte sobre "as regiões inferiores do Céu" foi traduzida por
Carlos Imbassahy para o português e enfeixada em volume com o título de "A Vida Além do Véu", encontramos
estes trechos:
"Há muitas coisas aqui que se
não podem exprimir em nenhuma das linguagens da Terra."
"- Pode agora fazer-nos o favor
de descrever sua casa, paisagens, etc.?
"- É a Terra aperfeiçoada,
responde o Espírito. Certo, o que chamais quarta dimensão, até certo ponto
existe aqui. Nós temos montes, rios, belas florestas e muitas casas; e tudo foi
preparado pelos que nos antecederam."
"Nossa casa é muito bem
acabada, interna e externamente. Dentro possui banheiros, um salão de música e
aparelhos registradores do nosso trabalho. É um edifício amplo. O terreno é muito extenso e todo ele está como
que em relação com as casas; há relação em tudo. Assim, por exemplo, as árvores
são verdadeiras árvores e crescem como na Terra, porém estão de acordo com os
edifícios. As diferentes qualidades de árvores correspondem algumas a
determinada casa mais do que a outras e cooperam para o efeito e para o
trabalho a que essa casa é destinada. Assim acontece com o agrupamento de
árvores em bosques, com os canteiros que limitam os caminhos, com a disposição
dos regatos e cachoeiras que se encontram em diversos recantos dos
terrenos." "Outra coisa que se poderia notar seria o voo dos
pássaros... "
*
Vejamos agora alguns trechos da obra
de J. Arthur Findlay - "No Limiar do
Etéreo" - com prefácio de Sir William Barrett, professor de Física do
Real Colégio de Ciências da Irlanda e antigo presidente da Sociedade de
Pesquisas Psíquicas de Londres, traduzida por Guillon Ribeiro. Não vamos gastar
tempo citando os títulos de mister Findlay. Seria muito espaço...
"Não é material o nosso mundo,
mas real em tudo; é tangível, mas composto de substância em estado muito mais
alto de vibrações do que a matéria que constitui o vosso."
- Comeis e saboreais o vosso
alimento? "Comemos e bebemos, sim; porém não como
entendeis o beber e o comer. Para nós é uma condição mental. Saboreamos
mentalmente o que comemos, não corporalmente, como vós." "Das flores
e dos campos aspiramos os aromas, como o fazeis aí. Tudo é tangível, porém num
grau mais alto de beleza do que tudo na Terra. Aqui as flores e os campos não deperecem
como aí. O vegetal para de crescer e desaparece. Desmaterializa-se. Aqui há uma
coisa similar ao que chamais morte. Chamamo-la transição."
- Assemelha-se à nossa a vossa
vegetação?
"De certo modo, mas é muito
mais linda."
- Como são as vossas casas?
"São quais as queremos. As
vossas aí são primeiro concebidas em mente, depois do que se junta a matéria
física para construí-las de acordo com o que imaginastes. Aqui, temos o poder
de moldar a substância etérea, conforme pensamos. Assim, também as nossas casas
são produtos de nossas mentes. Pensamos e construímos. É uma questão de
vibração do pensamento."
*
Finalmente, vamos transcrever alguns
trechos de "Raymond", de
Sir Oliver Lodge, tradução de Monteiro Lobato, contendo revelações de Raymond
Lodge, jovem morto durante a primeira guerra mundial de 1914, transmitidas a um
outro Espírito - Feda - que por sua vez as retransmitia ao médium:
"Há lá obras que ainda não
foram publicadas no plano terrestre. Esses livros aparecerão um dia, livros como
os que já apareceram." "Raymond gostou de ver ruas e casas."
"Tenho visto chegar rapazes
cheios de más ideias e vícios. Vão para um lugar em que eu não quero ir - mas
não é exatamente o inferno. Mais parecido a um reformatório."
"Há lugares na minha esfera em
que se pode ouvir bela música, quando queremos."
- Dormis aí?
"Cochilamos. "
- E chove?
"A chuva não atrapalha."
"Eu vivo numa morada construída
de tijolos - e há árvores e flores e o chão é sólido. Se
a gente ajoelha-se na lama, aparentemente suja a roupa." "O que me
preocupa é como a
coisa é feita, como é composta." (Raymond comunicava-se pouco tempo após a
sua morte e não estava ainda ambientado em sua nova situação. )
Já abusámos do espaço e da paciência
dos leitores. Encerremos com as palavras de Sir Artur Conan Doyle, autor de
"A História do Espiritismo" :
"A narrativa aí a tendes diante
de vós e ela dirá de si mesma. Não procureis investigar as
minúcias: julgai pela impressão geral. Não a critiqueis indevidamente, porque
seja ela nova e estranha. Lembrai-vos de que não há narrativa na Terra, ainda
mesmo a mais sagrada de todas, que não possa ser ridicularizada, extraindo-se lhe
passagens do contexto, ou frisando-se o que é de pouco valor.
"O efeito total produzido em
vosso espírito e em vossa alma será o único padrão por onde podereis julgar o
alcance e a força desta revelação.
"Muitas outras há, variáveis
nos pormenores, consoante a esfera descrita ou a opacidade do transmitente,
visto como cada qual dá maior ou menor intensidade à luz, quando lhe serve de
veículo. Somente de Espíritos puros poderemos obter ensinamentos puros."
“Subverte ela nossas antigas
crenças? Mil vezes, não! Amplia-as, define-as, embeleza-as, preenche o vácuo
que nos fazia descaminhar; e, exceção feita para os pedantes pouco esclarecidos
que perderam o contato com a Espiritualidade, ela é infinitamente reconfortante
e elucidativa. "
(Ext.
de "Cena", Março-Abril de 1955)
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