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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

André Luiz e suas histórias 'muito terrenas'



André Luiz
e suas histórias “muito terrenas”
Wandick Freitas
Reformador (FEB) Julho 1955

Pesquisai e achareis, pois tendes a Natureza a vos auxiliar
 na descoberta da Verdade. Se, entretanto,
não vos sentirdes capazes de avançar pelos
 caminhos que levam a descobri-la,
atendei aos que já investigaram.
Epiteto.

            Kant aconselhava-nos a não acreditarmos em tudo o que dizem, mas também a não imaginarmos tudo o que dizem não tem fundamento. Kardec recomendou, por sua vez, se preferisse rejeitar noventa e nove verdades a aceitar-se um erro.

            Apesar de toda a prudência, sempre justificável exageram os espíritas que pretendem ver na obra de André Luiz, recebida pela extraordinária mediunidade de Francisco Cândido Xavier, uma fantasia que deve ser posta de "quarentena", porque acham as histórias "muito terrenas"...

            Tenho para mim que as restrições que se fazem à obra de André Luiz partem de elementos que possuem incompleto conhecimento do Espiritismo ou de certos metapsiquistas que entendem que as conclusões que podemos tirar das informações  que nos chegam do que se convencionou chamar o Além, a respeito da vida futura, - "não valem - como dizia Du Prel - mais do que as dum peixe dotado de inteligência, que julgasse da natureza do homem terrestre pela conduta dum mergulhador a trabalhar no fundo do oceano".

            É verdade que a experiência ainda é insuficiente e concordamos também com o Barão Du Prel quando afirma que "os Espíritos manifestantes se acham numa esfera estranha, em que, pela sua natureza, só podem mover-se e comunicar-se em condições especiais e restritas, e que a sua verdadeira vida no Além deve ser completamente diferente". Por outro lado, não é menos verdade - e eu faço questão de usar ainda as mesmas palavras do brilhante autor de "O Outro Lado da Vida" - que os nossos conhecimentos do Além tendem a tornar-se cada vez mais exatos e claros".

            Realmente parecem chocantes as descrições que André Luiz faz em seus livros, psicografados pelo Chico Xavier. Mas, geralmente, é a incompreensão de muitos espíritas - incompreensão mesmo - a respeito de aspectos elementares do Espiritismo -  que os leva à dúvida diante do conteúdo da série iniciada com "Nosso Lar". E, entendendo que se trata de uma "nova revelação", colocam-se em atitude de extrema reserva. (Em alguns já não é reserva, mas desencanto, decepção, ao verificar que o Além não é a espécie de "Campos Elísios", que imaginavam).  Atente-se para o fato de que, além de não contrariarem Kardec, as obras de André Luiz trazem o endosso respeitável de Emmanuel e a confiança que a mediunidade de Chico Xavier nos inspira. Mas não é tudo, nem o mais importante. No prefácio da primeira obra da série - "Nosso Lar" - adverte Emmanuel que André Luiz não vai relatar coisas novas, uma vez que outros, muito antes, já haviam trazido ao conhecimento dos homens os fatos relativos à vida do Além.

            Como é compreensível, o espaço de que dispomos nesta revista não nos permite reunir todos os fatos já relatados para mostrar como eles concordam com os narrados por André Luiz, pois apenas uma pequena parte deles não caberia mesmo num alentado livro. Vejamos o que podemos oferecer ao leitor para comparar com o que já leu em André Luiz.

            Nos escritos recebidos pela mediunidade do Reverendo G. Vale Owen, da Inglaterra, reunidos em quatro volumes após sua publicação em "Weekly Dispatch" em 1920-21, cuja primeira parte sobre "as regiões inferiores do Céu" foi traduzida por Carlos Imbassahy para o português e enfeixada em volume com o título de "A Vida Além do Véu", encontramos estes trechos:

            "Há muitas coisas aqui que se não podem exprimir em nenhuma das linguagens da Terra."

            "- Pode agora fazer-nos o favor de descrever sua casa, paisagens, etc.?

            "- É a Terra aperfeiçoada, responde o Espírito. Certo, o que chamais quarta dimensão, até certo ponto existe aqui. Nós temos montes, rios, belas florestas e muitas casas; e tudo foi preparado pelos que nos antecederam."

            "Nossa casa é muito bem acabada, interna e externamente. Dentro possui banheiros, um salão de música e aparelhos registradores do nosso trabalho. É um edifício amplo.  O terreno é muito extenso e todo ele está como que em relação com as casas; há relação em tudo. Assim, por exemplo, as árvores são verdadeiras árvores e crescem como na Terra, porém estão de acordo com os edifícios. As diferentes qualidades de árvores correspondem algumas a determinada casa mais do que a outras e cooperam para o efeito e para o trabalho a que essa casa é destinada. Assim acontece com o agrupamento de árvores em bosques, com os canteiros que limitam os caminhos, com a disposição dos regatos e cachoeiras que se encontram em diversos recantos dos terrenos." "Outra coisa que se poderia notar seria o voo dos pássaros... "

*

            Vejamos agora alguns trechos da obra de J. Arthur Findlay - "No Limiar do Etéreo" - com prefácio de Sir William Barrett, professor de Física do Real Colégio de Ciências da Irlanda e antigo presidente da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, traduzida por Guillon Ribeiro. Não vamos gastar tempo citando os títulos de mister Findlay.  Seria muito espaço...

            "Não é material o nosso mundo, mas real em tudo; é tangível, mas composto de substância em estado muito mais alto de vibrações do que a matéria que constitui o vosso."

            - Comeis e saboreais o vosso alimento? "Comemos e bebemos, sim; porém não como entendeis o beber e o comer. Para nós é uma condição mental. Saboreamos mentalmente o que comemos, não corporalmente, como vós." "Das flores e dos campos aspiramos os aromas, como o fazeis aí. Tudo é tangível, porém num grau mais alto de beleza do que tudo na Terra. Aqui as flores e os campos não deperecem como aí. O vegetal para de crescer e desaparece. Desmaterializa-se. Aqui há uma coisa similar ao que chamais morte. Chamamo-la transição."

            - Assemelha-se à nossa a vossa vegetação?

            "De certo modo, mas é muito mais linda."

            - Como são as vossas casas?

            "São quais as queremos. As vossas aí são primeiro concebidas em mente, depois do que se junta a matéria física para construí-las de acordo com o que imaginastes. Aqui, temos o poder de moldar a substância etérea, conforme pensamos. Assim, também as nossas casas são produtos de nossas mentes. Pensamos e construímos. É uma questão de vibração do pensamento."

*

            Finalmente, vamos transcrever alguns trechos de "Raymond", de Sir Oliver Lodge, tradução de Monteiro Lobato, contendo revelações de Raymond Lodge, jovem morto durante a primeira guerra mundial de 1914, transmitidas a um outro Espírito - Feda - que por sua vez as retransmitia ao médium:

            "Há lá obras que ainda não foram publicadas no plano terrestre. Esses livros aparecerão um dia, livros como os que já apareceram." "Raymond gostou de ver ruas e casas."

            "Tenho visto chegar rapazes cheios de más ideias e vícios. Vão para um lugar em que eu não quero ir - mas não é exatamente o inferno. Mais parecido a um reformatório."

            "Há lugares na minha esfera em que se pode ouvir bela música, quando queremos."

            - Dormis aí?

            "Cochilamos. "

            - E chove?

            "A chuva não atrapalha."

            "Eu vivo numa morada construída de tijolos - e há árvores e flores e o chão é sólido. Se a gente ajoelha-se na lama, aparentemente suja a roupa." "O que me preocupa é como a coisa é feita, como é composta." (Raymond comunicava-se pouco tempo após a sua morte e não estava ainda ambientado em sua nova situação. )

            Já abusámos do espaço e da paciência dos leitores. Encerremos com as palavras de Sir Artur Conan Doyle, autor de "A História do Espiritismo" :

            "A narrativa aí a tendes diante de vós e ela dirá de si mesma. Não procureis investigar as minúcias: julgai pela impressão geral. Não a critiqueis indevidamente, porque seja ela nova e estranha. Lembrai-vos de que não há narrativa na Terra, ainda mesmo a mais sagrada de todas, que não possa ser ridicularizada, extraindo-se lhe passagens do contexto, ou frisando-se o que é de pouco valor.

            "O efeito total produzido em vosso espírito e em vossa alma será o único padrão por onde podereis julgar o alcance e a força desta revelação.

            "Muitas outras há, variáveis nos pormenores, consoante a esfera descrita ou a opacidade do transmitente, visto como cada qual dá maior ou menor intensidade à luz, quando lhe serve de veículo. Somente de Espíritos puros poderemos obter ensinamentos puros."

            “Subverte ela nossas antigas crenças? Mil vezes, não! Amplia-as, define-as, embeleza-as, preenche o vácuo que nos fazia descaminhar; e, exceção feita para os pedantes pouco esclarecidos que perderam o contato com a Espiritualidade, ela é infinitamente reconfortante e elucidativa. "

                                                                                    (Ext. de "Cena", Março-Abril de 1955)




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