Intelectualismo
pernicioso
Vinélius Di Marco / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1955
Tem-se notado, a pesar nosso, que
elementos talentosos, que poderiam ser utilíssimos à causa do Espiritismo, se
esqueçam das recomendações doutrinárias e se deixem levar pelos impulsos que a vaidade
estimula dissimuladamente. Em lugar de se esforçarem pela exemplificação evangélica,
fiéis à Doutrina, se deixam arrastar por intelectualismo perigoso, que
abrilhanta sua ação falada e escrita, aumentando-lhes os aplausos do superficialismo,
mas, desgraçadamente, fazendo-os distanciar-se da austeridade evangélica.
Na defesa de pontos de vista nem
sempre fraternos, tripudiam sobre as lições doutrinárias, assumindo enormes
responsabilidades perante o futuro, porque terão um dia, em obediência à Lei que
rege a vida do Espírito, de prestar contas de seus atos. Nada melhor para a
defesa da nossa educação espiritual do que a observância da Doutrina Espírita
em paralelo com o Evansegundo o Espiritismo. Jesus foi a humildade personificada.
Tendo poder para ser muito, fez questão de ser humilde, fazendo realçar a necessidade
da humildade, quando disse: "Tomai sobre
vós o meu jugo e aprendei comigo que sou branco e humilde de
coração e achareis repouso para as vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo."
O intelectualismo que invadiu certos
setores do Espiritismo é obra da treva. Reflete o abandono da Doutrina e o
esquecimento do Evangelho. Sua ação é mais nociva do que a esterilidade, porque
deixa consequências perniciosas, cava a desunião, incentiva os inimigos do
Espiritismo, enfraquece o trabalho da Seara e estabelece antagonismos que não
pode nem deve haver entre irmãos de um mesmo credo. Felizmente, há sempre
companheiros que procuram, a tempo, refrear as manifestações negativas da
treva, através de médiuns invigilantes, mais preocupados com os lauréis do
mundo do que com os encargos
contraídos por seu Espírito.
O Espiritismo é e tem de ser
cultivado pela humildade laboriosa. Sem humildade não há espírito evangélico
nem há solidez doutrinária. Devemos insistir em que a Doutrina de Kardec seja a
pedra de toque da formação moral de todos aqueles que ingressam no Espiritismo
e nele permanecem. Não podemos ter a veleidade de aspirar a posições de relevo,
muito menos de adquirir supremacia nisto ou naquilo. Nosso dever, perante Jesus
e perante o Espiritismo, é ser humildes de coração, absolutamente fiéis às
determinações doutrinárias e ao Evangelho segundo o Espiritismo.
Não há lugar, na Seara Espírita,
para vaidades literárias, para vaidades de qualquer natureza. O espírita de
maior cultura intelectual e de maior talento, não vale mais do que o espírita
inculto e sem talento, mas humilde cultor da Doutrina e do Evangelho. Não é o
cérebro que aproxima a criatura humana de Deus, mas o coração. Cérebro, apenas,
não traduz vibração sentimental, porque somente o coração sabe sentir. O ideal
é a união do cérebro com o coração, predominando este sobre aquele. Quando o
cérebro possui ascendência sobre o coração, a frieza calculista põe limites aos
ritmos do sentimento e
pode até anulá-los.
Enfrentemos o intelectualismo
pernicioso com os recursos constantes da Doutrina e do Evangelho. Pugnemos
humildemente, mas com persistência, pela humildade, porque não se pode conceber
espírita que não seja humilde, quer por educação doutrinária, quer por
compreensão das verdades evangélicas.
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