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quarta-feira, 13 de junho de 2012

b. Dos Princípios Incontroversos às Hipóteses Plausíveis





 b. “Dos Princípios Incontroversos
às Hipóteses Plausíveis”


No Domínio das Hipóteses

            Ainda e sempre tem cabimento a sábia e prudente exortação de Allan Kardec, ao fazer a crítica das obras de Roustaing: "Tudo que nestas paginas se refere à moral propriamente dita pode ser aceito sem receio. porque corresponde ela à moral evangélica; no que concerne a certas revelações e a certos princípios, esperemos que o consenso universal venha trazer-lhes autoridade, para que se possam converter em princípios doutrinários". (Apreciação crítica de Allan Kardec aos 4 Evangelhos de Roustaing).

            Não é, como se tem querido entender, a condenação desses princípios, dessas revelações: apenas a recomendação de que os podemos aceitar como hipóteses para as nossas pesquisas, para os nossos estudos, para as nossas indagações.

            Advertência oportuna e salutaríssima do codificador! Com esse critério devemos examinar tudo que se contém na extensa bibliografia espírita, quer a de cunho nimiamente científico, quer a de caráter filosófico ou religioso, quer ainda a de procedência mediúnica, pois que não podem elas transcender aos limites do pensamento humano.

            Em geral, as ilações morais correspondem aos princípios positivos da doutrina, ao passo que as conclusões científicas baseiam-se em hipóteses.

            É' o que procuraremos demonstrar, perlustrando as páginas de alguns dos autores que desfrutam de maior reputação e que maior gratidão nos merecem, pelo acervo precioso de conhecimentos que nos transmitiram em suas obras, que representam o resultado de profundos e árduos, bem intencionados e Iouvabilíssimos esforços.

            Longe de nós o pensamento de reduzir-lhes o valor ou contestar-lhes o arrazoado: preocupa-nos apenas o dever de mostrar aos leitores, porventura pouco experientes, que em muitas citações, em muitas afirmativas e na exposição de muitos princípios, não tiveram eles o propósito de firmar doutrina - o que é muito grave e de imensa responsabilidade; mas apenas aventaram hipóteses, para tornar compreensíveis fenômenos, fatos, manifestações, observados nos domínios do Espiritismo, onde os estudos devem ser realizados sem aquela arrogância e inflexibilidade mental dos sábios oficiais, mas com a candura, a docilidade, o receio mesmo de estar ou não expondo bem, quer o próprio pensamento, quer as inspirações que chegam do alto.

            Neste terreno as afirmativas peremptórias cabem aos Mestres - e nós só temos um, a saber: Nosso Senhor Jesus Cristo, na linguagem divina dos seus Evangelhos e na do Consolador por Ele enviado: (Matheus 23, vers. 9 e 10: "E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem os chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo")         

            Ora, o que Jesus nos afirmou categoricamente, por seus próprios lábios, há 2 mil anos, e nos revelou nos últimos tempos, por intermédio dos seus mensageiros, é o que procuramos concretizar no esquema supra.

            Fora daí encontramo-nos no mundo das hipóteses.

            Neste pressuposto sincero e bem intencionado, entremos na análise a que se destina esta 2ª parte da presente dissertação.

            Considerando-se o que ocorre no processo evolutivo do Espírito, a partir do instante em que ele assoma ao limiar da Humanidade (instante que ainda não se acha bem determinado, quer pela Ciência, quer pela Revelação (1), o que nos ensina a doutrina Espirita é que no Homem distinguem-se três elementos: o Ego imortal ou Espírito, o corpo fluídico (perispírito) e o corpo material que o fixa à superfície do planeta, sobre a qual se pode locomover, não lhe sendo dado, contando apenas com os seus elementos orgânicos, alçar-se na atmosfera, andar sobre as águas ou descer ao fundo dos oceanos.  

            (1) V. "Roma e o Evangelho": mensagem de João sobre esse magno assunto.

            Com este ele desce, encarnando-se, ao plano terreno, tantas vezes quantas sejam necessárias ao pleno desenvolvimento de suas faculdades espirituais e à aquisição das qualidades intelectuais e morais que lhe permitam ascender às esferas fluídicas. O perispírito, que durante essa fase de aperfeiçoamento o identifica, - porque o Espirito do homem terreno desconhece a sua própria individualidade essencial, - é constituído de elementos fluídicos do plano a que pertence. Permite ao Espírito facilidades de locomoção inimagináveis. Pela sua natureza sutilíssima, não o impede de penetrar a matéria, de transpor os espaços, mesmo os interplanetários - tudo condicionado ao seu grão de progresso individual.

            À proporção que vai evoluindo (o Espírito) vai o seu perispírito se tornando mais belo, de aspecto mais nobre e puro, concordemente com o influxo da mentalidade que o plasma e, como é o perispírito o modelo do corpo físico, este concomitantemente vai assumindo formas cada vez mais estéticas e belas.

            A hipótese se enquadra à evolução biológica, constatada pelas Ciências naturais, pois está provado que o homem das cavernas era mais grosseiro, muito mais desajeitado, menos esbelto, menos belo, em suma, do que o homem da atualidade. É, pois, o espírito que plasma seu perispírito, de acordo com a maior ou menor pureza de sentimentos que possui, mas obedecendo sempre a leis divinas, inflexíveis e, como o corpo físico é modelado pelo perispírito, as mesmas considerações se lhe podem aplicar.

            A vida do Espirito acha-se adstrita a um determinado plano material, enquanto conserva ele afinidade com esse plano; extinta essa afinidade, transcende-o, passando a outro superior. Essa é a regra; se exceções há, só se poderão verificar em relação a espíritos recalcitrantes no erro, surdos aos conselhos dos seus guias. Mas, nestes casos; haverá antes punição, expiação que se abate sobre espíritos orgulhosos, do que uma exceção propriamente dita à regra da ascensão espiritual mesmo porque essa transmigração de almas, para outros mundos inferiores aos em que se encontravam, cercea-lhes a liberdade apenas por um lapso de tempo incomparavelmente menor do que aquele de que o espírito necessita para a ascensão natural. gradativa, de um a outro plano de aperfeiçoamento.

            Chega, assim, de etapa em etapa, até a ordem dos mundos fluídicos, onde só o envolve o perispírito. Já então a vida é um cântico de glórias, uma constante vibração de amor.

            Trata-se ainda, contudo, de um mundo fluídico, isto é, de um plano limitado no seio do cosmos ilimitado.

            O herói, portanto, prossegue em suas vitórias; o Espírito ascende, ascende sempre, até que conquista a auréola de Espirito Puro - e então é unigênito do Pai, categoria a que Jesus pertence, nessa qualidade de unigênito, isto é, constituído somente de Espírito, regressando ao seio do Pai,  como fora criado em essência, mas engrandecido, enobrecido, divinizado pelo próprio esforço, sob as vistas misericordiosas e justas do Eterno Senhor. Então não mais se acha sujeito às limitações corporais ou perispirituais: foi restituído à imagem e semelhança de Deus, que assim o criou. (Doutra forma não se compreenderia a expressão unigênito, pois que Jesus não deve ser o único filho de Deus que foi criado por Deus).
           
            Desse instante glorioso começam para o Espírito as investiduras celestes e ele se torna colaborador de Deus na obra eterna da elaboração dos mundos e da educação de outros espíritos, como ele criados por Deus.

            Esta hipótese simplista, mas eloquente, da evolução espiritual foi entrevista pelos mestres da antiguidade, por filósofos e poetas. Dante a formulou na sua Divina Comédia, embora subordinada às ideias da época.

            Não a teria Jesus confirmado. ao dizer: "O que é da carne é carne; o que é do espírito é espírito?"

            Hipótese formulada através dos impulsos da Fé, insuscetível de demonstração a posteriori, ela é acessível às almas que puderam cultivar a sua inteligência, granjeando cultura cientifica, de maior ou menor amplitude, sem perder as doçuras. a simplicidade, o aroma espiritual do sentimento religioso.

            Tais almas, em rápidos instantes de êxtase, quando o amor lhes sorri como celeste blandícia e não como um eflúvio magnético da vitalidade orgânica, entrevem os albores da pura espiritualidade - e sabem que aí, nessa hipótese,  está a Verdade.


* * *

por Arnaldo S. Thiago

Conferência realizada em 1º de dezembro de 1940
no Centro Espirita "Discípulos de Samuel"

inAo Serviço do Mestre”    (Ed. FEB 1942)




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