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sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Jesus de Nazaré


O Jesus de Nazaré
por José Monteiro Lima
 Reformador (FEB)  Junho 1946

            Nenhum livro tem sido tão discutido e analisado como os Evangelhos. No intuito de elucidar certos pontos e demonstrar a sua autenticidade, dirigentes escribas tem, nos últimos cinquenta anos, examinado os mais antigos documentos, visando estabelecer relações históricas entre Jesus e a sua época. Os quatro Evangelhos bastariam para confirmar a vida e a obra de Jesus naqueles recuados tempos, contudo teólogos e cientistas tem procurado em outras fontes, pelo exame das obras de antigos historiadores, comprovar a autenticidade do livro sagrado.
            Tchendorf, célebre teólogo alemão, que teve a felicidade de encontrar em 1859, no mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai, o antiquíssimo manuscrito bíblico, contendo o Velho e o Novo Testamento completos, chamado Códice Sinaíta, que está hoje no Museu Britânico, declarou, como resultado das suas observações, que “para nenhum livro clássico da Grécia antiga é possível convocar três testemunhas primitivas comparáveis aos códices Sinaítas, Vaticano e Alexandrino, para a confirmação e retificação do seu texto.”
            As “Biografias” de Suetônio, os “Anais” de Tácito, as “Cartas” de Plínio e outras obras antigas tem sido fontes de preciosas informações. Suetônio, célebre historiador do primeiro século, numa passagem que certamente se refere a Jesus (Cláudio, cap. 25), conta que o imperador Cláudioexpulsara de Roma os judeus que andavam continuamente agitados com a doutrina de Chrestus”. Alguns comentadores admitem que Suetônio, como os demais romanos da época, confundiam os judeus com os cristãos e que Chrestus, que lhe davam como chefe, não era outro senão Jesus Cristo, cujo nome alteraram.
            Tácito (Anais XV, 44) numa passagem ainda mais decisiva, conta que Nero, após o incêndio de Roma, mandou matar grande número de cristãos, explicando que esta seita devia o seu nome a um indivíduo chamado Cristus “que no reinado de Tibério, havia sido condenado ao suplício pelo procurador Pôncio Pilatos”. Temos, aí, com efeito, uma declaração definida da comunidade cristã do primeiro século.
            Tácito não nos dá, infelizmente, detalhes da crença e dos costumes dos membros desta seita, se bem que nos declare o nome do seu fundador, a época da sua morte e o nome do magistrado que o condenou. Tácito certamente não conhecera Jesus pessoalmente, se bem que os seus “Anais” tenham sido escritos provavelmente 36 anos depois da crucificação do Mestre, mas é possível que houvessem conhecido alguém que tivesse estado em contato com os seus discípulos.
            Entre os judeus é digno de menção o historiador Josefo, que deixou na sua obra “Antiguidades Judaicas” (XVIII, 5, 2), escrita vinte anos após a morte de Jesus, o seguinte trecho: “Nesse tempo (no tempo de Pilatos) - diz ele - viveu Jesus, homem sábio, se se pode chamá-lo de homem, porque fazia muitas maravilhas. Ensinava a verdade aos que desejavam ser instruídos, atraindo assim muitos judeus e gentios; era o Cristo. Acusado perante Pilatos pelos principais da nossa nação, Pilatos o mandou crucificar. Os que o amavam antes, não cessaram de o amar, porque, três dias depois da sua morte, se mostrou aos seus discípulos, vivo novamente. Os santos profetas haviam predito estas coisas dele, assim como de outras maravilhas, e a seita dos cristãos, que lhe deve o nome, subsiste até hoje.”
            Esta passagem, entretanto, tem sido contestada sob a alegação de que Josefo, judeu e fariseu da classe sacerdotal, que recebia favores do império, não iria exaltar o chefe de uma religião da qual o imperador era inimigo declarado.
            Renan não acredita que tenha havido interpolação, admitindo, porém, que o trecho acima tenha sido retocado por algum cristão, aceitando a passagem autêntica, no seu conjunto.
            O Talmud, livro sagrado dos judeus, poderia dar-nos páginas de grande valor histórico, mas, infelizmente, só encontramos referências sobre os processos de punição de ‘sedutores’ que atentam contra a pureza da religião judaica, declarando finalmente que Jesus tinha sido condenado segundo o testemunho de duas pessoas que o haviam trazido. Defensores do Judaísmo, provavelmente por causa das perseguições dos judeus, procuram esclarecer, porém, que esse Jesus não teria sido o fundador do Cristianismo, mas um outro Jesus que vivera 100 anos antes.
            De todos os testemunhos antigos, porém, nenhum se compara com o de Paulo de Tarso, cujas epístolas, principalmente a dirigida aos Gálatas, as duas aos Coríntios, e aos Romanos, que Renan classifica de ‘autenticidade incontestável’, são provas irrefutáveis da obra de Jesus.

            É desnecessário acrescentar outros testemunhos de teólogos e historiadores do primeiro século, mesmo porque não necessitamos de outra provas senão aquelas que os Evangelhos nos trazem pela sua beleza espiritual. Poderíamos responder aos contraditores, perguntando como Goethe quando, no fim da vida, lhe vieram dizer que haviam descoberto que o Evangelho de João não era autêntico: “Que é autêntico - respondeu o autor de Fausto - senão aquilo que é eternamente belo e verdadeiro?”


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