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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Crer sem ver



Crer sem Ver
 por Pedro de Camargo, o Vinícius
Reformador 01.03.1926

“Bem-aventurados os que não viram e creram.”

            A propósito da incredulidade de Tomé, Jesus proferiu a frase acima transcrita. Está visto que o Mestre não pretendia implantar a crendice, a fé ingênua e cega, que gera o fanatismo e coroçoa a superstição.
            Tomé baseava-se neste critério: Ver para crer. Todavia, os olhos que verdadeiramente veem não são os do corpo; são os do espírito. Os olhos físicos estão na dependência dos espirituais. Aquilo que vemos com os olhos da carne é transmitido ao espírito por meio de impressões. Ele é que realmente vê, porquanto é ele que julga, que discerne, que interpreta, que induz e deduz. Sem tal operação, ninguém vê, imagina, supõe que vê. A visão real é a do interior; a do exterior serve apenas para despertar aquela impressionando-a de maneira mais ou menos acentuada. Os olhos do corpo para si sós, nada vêem, positivamente falando.
            O analfabeto vê os caracteres impressos no papel, mas, em verdade, nada enxerga, porque o seu espírito, não educado, nenhuma interpretação pode tirar daqueles símbolos. Nele, com respeito ao alfabeto, só funcionam os olhos do corpo e tal função, desacompanhada da dos olhos do espírito, é nula ou quase nula. Por isso é que muita gente, segundo a eloquente expressão evangélica, tem olhos e não vê, tem ouvidos e não ouve, tem inteligência e não entende. Há uma espécie de analfabetos para as coisas espirituais. Para estes, os sinais positivos do Além são inexpressivos e vãos.
            Os olhos do espírito podem dispensar o concurso dos do corpo, agindo independentemente das impressões do exterior. Quando o espírito possui certo grau de adiantamento intelectual e, especialmente, de sensibilidade moral, começa a surpreender no seu interior uma fonte de maravilhas, um mundo prodigioso, até então inexplorado. Estes tais são bem-aventurados pois estão em condições de crer sem ver; enquanto aqueles outros são desditosos porque, a despeito de verem, tornarem a ver e verem ainda, não chegam a crer, não adquirem convicções, nem alcançam fé, nem esperança.
            Os que sabem ver com os olhos do Espírito dispensam os sinais externos porque o seu interior já é teatro dos milagres mais portentosos, das maravilhas mais surpreendentes.


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