'Juramento Antiespírita'
Reformador (FEB) Março 1954
Recebemos uma folha solta que vamos reproduzir na íntegra, para ficar registrado como um sinal dos tempos. Ei-la:
Profissão de Fé e Juramento Antiespírita
Na 1ª Reunião Ordinária da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (Belém 12 a 19 de Agosto de 1953), o Episcopado Brasileiro deliberou “exigir de todos os membros de Associações Religiosas um juramento antiespírita”. A razão de tão severa medida reside no incontestável fato de que o Espiritismo se tem utilizado de todos os meios para penetrar nos ambientes católicos e que muitos, iludidos por traiçoeira propaganda, aderiram ao Espiritismo ou frequentam suas sessões, pensando que podem ao mesmo tempo continuar católicos e até ingressar em Associações Religiosas. Por isso, o Pároco ou seu delegado, em hora previamente combinada, reunirá todos os membros de uma Associação, explicando-lhes o sentido e os graves motivos de tão solene compromisso. Em seguida recitarão todos juntos a Profissão de Fé, finda a qual o Padre, revestido de sobrepeliz e estola roxa, sentado, e com o Evangelho diante de si, receberá o juramento individual de cada associado. Este compromisso deverá futuramente ser assumido por todo o novo membro de qualquer Associação Religiosa.
Profissão de Fé contra o Espiritismo
Creio em um só Deus verdadeiro, / distinto do mundo / e subsistente em Três Pessoas: / Pai, Filho e Espírito Santo. / Criador do Universo e de quanto nele existe; / e que com sua paternal Providência / conserva e governa / todos os seres materiais e espirituais. / Creio que Deus se manifestou aos homens / no Antigo e Novo Testamento / e reafirmo publicamente a minha fé / em tudo que Deus nos revelou. / Creio que Jesus Cristo / Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, / Deus igual ao Pai e ao Espírito Santo, / se fez verdadeiro Homem, / com corpo e alma, / no seio puríssimo da Virgem Maria; / e que padeceu e morreu para nos salvar. / Creio que Jesus Cristo fundou a Igreja Católica / e instituiu os sete sacramentos, / sinais eficazes da graça divina, / que nos conferem os frutos da Redenção. / Creio que vivemos uma só vez sobre a Terra / e que imediatamente depois da morte / a alma será julgada por Deus, / recebendo os bons, / logo ou depois do Purgatório, / o prêmio do Céu / e os maus o castigo sem fim do Inferno; / e que ao juízo final / todos hão de ressuscitar / com os seus próprios corpos. / Condeno, por isso, / e rejeito o Espiritismo, / suas doutrinas heréticas / e suas práticas supersticiosas, / particularmente a reencarnação / e a evocação dos mortos, / muitas vezes condenada por Deus e pela Igreja.
Juramento Antiespírita
Eu, N.N., em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, com a mão sobre o sagrado Evangelho, juro que não sou espírita e prometo que jamais hei de assistir a uma sessão, nem farei uso de receitas espíritas. Juro também que não lerei nem guardarei comigo ou com outrem livros, revistas, folhetos e jornais que defendam ou propaguem as heresias ou as superstições do Espiritismo, em qualquer de suas formas. Comprometo-me a fazer valer a minha autoridade para conservar afastados do Espiritismo os que de mim dependem. Assim prometo, assim me ajudem Deus e estes santos Evangelhos.
Ass. ...........................................
Até aqui a folha solta que nos foi enviada e devemos deixar registrada em mãos dos vinte e três mil leitores desta revista. Agora, um breve comentário ao documento dos nossos irmãos católicos. No Novo Credo acima transcrito encontram-se estas palavras que merecem ser sublinhadas:
“Creio que vivemos uma só vez sobre a terra e que imediatamente depois da morte a alma será julgada por Deus, recebendo os bons, logo ou depois do Purgatório, o prêmio no Céu e os maus o castigo sem fim no Inferno.”
Vejamos aonde nos leva esta doutrina. Vivemos uma só vez; logo a alma é criada por ocasião do nascimento e na hora da morte termina a possibilidade de se salvar; porque logo depois é julgada e absolvida ou condenada à penas eternas. A vida é de extensão e de recursos variáveis ao infinito: uns vivem algumas horas, outros alguns dias, ou meses, ou anos, ou decênios ou até um século, isto é, uns dispõem de mais e outros de menos tempo para adquirir as virtudes necessárias à salvação.
As qualidades inatas são conhecidas e reconhecidas por todos, existindo até a Doutrina de Predestinação: uns nascem para a santidade, para nobres feitos; outros para a maldade, a ignorância, o pecado.
Mas foi Deus quem proporciona a uns uma longa vida em meio apto a adquirir virtudes; mas faz que outros nasçam em meios viciosos que não conhecem a doutrina salvadora, porque vivem sob exemplos de crimes desde a infância, e morrem, por vezes, muito jovens.
A imensa maioria da Humanidade realmente não recebe a educação católica, não sabe distinguir entre o bem e o mal do ponto de vista católico; são maus e nem sabem que o são. Nascem, vivem e morrem, na Ásia, na África, na América, centenas de milhões de pessoas que não sabem sequer que existe a Igreja Católica. É muito maior no mundo atual o número de pessoas que crêem na reencarnação, do que o número dos que crêem no inferno; pois que a reencarnação é dogma das religiões mais divulgadas no mundo, do Bramanismo, do Budismo, e não somente do Espiritismo e da Teosofia, como pensam alguns brasileiros.
A doutrina reencarnacionista é mais antiga muitos milênios do que a Igreja Católica, e sempre teve partidários entusiastas entre os filósofos e pensadores, mesmo do Ocidente, porque ela se baseia em fatos inegáveis e se harmoniza coma justiça e com a sabedoria de Deus.
Negada a reencarnação e diante da infinita variedade de qualidades morais nos homens, ficam negados os atributos de Deus: não seria bom, porque cria homens maus para condená-los ao inferno eterno; ou não seria sábio, porque não soube criar bons todos os homens; ou não seria poderoso, porque não teria podido salvar todas as suas criaturas; não seria justo, porque daria a uns e negaria a outros os meios necessários à salvação, e, assim por diante, de blasfêmia em blasfêmia, esse juramento nos levaria ao Ateísmo absoluto.
“Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.”
I. Pequeno
(Antônio Wantuil de Freitas também assinava I. Pequeno)
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