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sábado, 31 de julho de 2021

Educar para o bem

 

Educar para o Bem

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Julho 1962

             A quem observa o desregramento da vida atual, não há de escapar a presunção de que isso ocorre porque enfraqueceu a educação de família, a chamada “educação de berço”, permitindo-se, por outro lado, que o cinema, o teatro, o rádio, e já agora a TV, em vez de se constituírem elementos preciosos de preservação e consolidação dos princípios  de ordem moral, concorram abertamente para corrompê-los e destruí-los.

            O conceito de liberdade ampliou-se tanto que ficou desfigurado, a ponto de se diluir na licenciosidade. Os jornais, a seu turno, e com eles as revistas, permitiram-se a divulgação de fotografias e textos não conducentes com ao recato, a exploração sensacionalista do crime e do vício como elementos destinados à multiplicação de sua tiragem. Dessa maneira, tem-se verificado alarmante aberração de hábitos e costumes, que, a falta de autoridade dos pais, a indiferença dos mestres nas escolas e a negligência ou comodismo das autoridades incumbidas da defesa da chamada sociedade, estimulam e agravam.

            Ligue-se o rádio e se ouvirão gracejos pesados, de duplo sentido ou de sentido agressivamente imoral. Faça-se o mesmo com a TV e aí, então, a situação piora, porque, além do som, há a imagem a invadir os lares, para lá levando palavras e gestos chocantes, a pretexto de humorismo, envenenando a moralidade, incutindo no espírito  da juventude ideias incompatíveis com a decência, ou deturpando o sentimento infantil com programas de lutas belicosas, de crimes, em que são vistos duelos a pistola, apunhalamentos pelas costas, enfim, cenas que em nada podem melhorar as condições da vida mental dos dias em que vivemos.

            Se ainda não bastassem tantos elementos de corrupção, já encontráveis em certos teatros, nos quais é moda o emprego até de palavras obscenas, e, em determinados filmes nacionais e de procedência estrangeira, em que tudo se sacrifica ao que de mais rasteiro é possível admitir-se nos ambientes do mais baixo estalão moral, a juventude ainda se v~e seduzida por ritmos e danças selvagens.

            Só a educação do sentimento poderá salvar o homem de ruína progressiva, do rebaixamento total. Essa educação terá de ser incrementada dentro do lar, prosseguindo nas escolas. Não é preciso remontar à Idade Média, porque, então, para combater um mal, seria revivido um outro, que deixou marcas indeléveis na mentalidade humana.

            Será necessário confinar a excessiva liberdade que se concede à infância , através da educação evangélica, diremos melhor – através da educação evangélica, ministrada com sentido prático, pela qual os pais concordem em renunciar a prazeres mundanos, que lhes obrigam o relaxamento da vigilância indispensável no lar, e prefiram, em contrapartida, voltar suas atenções aos deveres espirituais, hoje tão abandonados ou cultivados apenas na aparência.

            Quando vemos nos jornais e nas TVs anúncios de brinquedos que imitam armas de fogo, admirando-nos que não haja protestos contra os males introduzidos desde cedo no espírito infantil. E lamentamos a inconsciência dos pais que enchem os filos de cartucheiras, pistolas ou rifles de brinquedo, deliciando-se com o verem todos eles, horas e horas por dia, simulando lutas entre bandidos! Assim se vai, instilando na alma da criança o desamor ao próximo, a noção de que os problemas da vida podem ser resolvidos simplesmente por tiro e facadas. Alguns pais, por não quererem incomodar-se com o disciplinamento dos filhos, permitem essa espécie de brincadeira e ainda sorriem, contentes, quando eles, vestidos de “cowboys” (!), infernam a paciência alheia, fazem pequenas desordens, imitando o que veem no cinema e na televisão.

            Enquanto isso, a fábricas de armas de brinquedo prosperam. Até mesmo em programas elogiáveis, porque buscam estimular o estudo, premiando meninos e meninas, os prêmios são, na maioria das vezes, revólveres e cartucheiras... Há dias, foi lançado até um revólver de repetição e o propagandista salientava o pormenor: parece-se com uma arma de verdade...

            Onde a consciência dos pais? Onde os princípios de formação religiosa que dizem haver recebido e, para comprová-lo comparecem a missas e cerimônias outras de caráter litúrgico? Onde a educação cristã? Onde o amor real aos filhos, se os preparam, com a mais negra inconsciência, para uma vida sem repercussão evangélica? Que esperam dessas crianças, amanhã, se elas, desde agora, aprendem a considerar as armas de destruição como elementos imprescindíveis para a sua defesa ou para atacar o próximo?

            Como poderão esses pais acreditar no futuro de filhos tão mal preparados psicologicamente? As impressões que as crianças fixam, geralmente as influenciam o resto da vida. Por isto, fácil se torna compreender as consequências dessa educação defeituosa, dessa má educação de pais fúteis, materializados, que pensam mais em si mesmos do que nos filhos.

            O que se faz hoje em dia é destruir na alma da criança os sentimentos de paz, substituindo-os pelos sentimentos desfraternos, que não poderão acolher jamais o sublime ensino do Cristo: “Amai-vos uns aos outros”.

            A maior tarefa cabe ás mães na luta pela educação real dos filhos, na recuperação moral da família, no estabelecimento de rumos diferentes, que farão das crianças de hoje homens úteis à família e à Humanidade, ou homens cúpidos, egoístas, desumanos, para os quais os outros homens serão sempre considerados obstáculos que precisam ser destruídos.

            Muitos pais, por excessivo e mal compreendido sentimentalismo, fecham os olhos a erros, hábitos, vícios e defeitos dos filhos. Creem que, com o tempo, hão de melhorar e esquecerão a “bobagens” da infância e da primeira juventude. Mas se esquecem de que a tolerância, a falta de energia, a imperfeita visão das coisas e dos fatos, nada mais fazem que abrir caminho a novos erros, a consolidar hábitos, vícios e defeitos.

            Crianças criadas com muitas vontades, que fazem mais o que querem do que o que devem, tornar-se-ão, quando mas crescidas, difíceis de controlar. Poderão transformar-se, com o tempo, em ditadoras dentro do lar, reservando aos pais as maiores dores-de-cabeça e os maiores desencantos.

            Não se deve, por prudência e por educação, avivar na criança o sentido de interesse pelo dinheiro, nem facilitar-lhe a obtenção deste, para que não venha ela, depois, experimentar verdadeira obsessão pela posse e o orgulho de ter mais dinheiro que outra criança. A influência que essa conduta tem na deformação do caráter é extraordinária.

            Há pais que pensam consistir em rezas decoradas a educação evangélica dos filhos. O que vale é a orientação e a exemplificação. Devem estar vigilantes para que a criança compreenda as lições recebidas e as cumpra, sem o que de nada valerá o dizer frases de feitura religiosa, porque a substância espiritual, de que elas poderão ser o veículo, não conseguirá identificar-se com o seu espírito.

            Num mundo tumultuado como o atual, em que o materialismo domina a vida do lar e a vida externa, a conduta evangelizada é muito importante. Cada manhã e cada noite, antes de levantar-se e antes de deitar-se, os filhos devem conversar com a mãe e esta, com a sutileza comum ao sexo feminino, deve examinar aspectos do dia vivido e comentá-los com critério evangélico. Não será preciso entediar as crianças com muita reza, mas esclarece-las, apontando-lhes o caminho da retificação e dando-lhes normas para seguirem no viver diuturno.

            A mãe do famoso Mahatma Gandhi, a maior expressão espiritual do século costumava fazer os filos repetirem com ela, todas as noites, ao deitar, frases mais ou menos assim: “Serei sempre bom, jamais farei mal a quem quer que seja”. E deles exigia tanto quanto possível a exemplificação dessas promessas. Ora, um trabalho persistente de auto sugestão ia-se desenvolvendo dessa maneira e as ideias do bem como se sedimentavam na alma de cada um deles. E não houve na família Gandhi um único elemento que descambasse para o mal.

            Por isso, Gandhi, reconhecendo que a “educação espiritual das crianças é uma tarefa muito mais árdua do que a educação física ou intelectual”, entendia que, tal como estas duas que só se realizam com a ajuda de exercícios práticos, também a espiritual não pode deixar de ser desenvolvida pela prática cotidiana dos exercícios do espírito.

            Na educação, não se deve abandonar a criança a uma liberdade excessiva. Para o bem dela própria, sua liberdade tem de estar condicionada a normas definidas pela educação. O homem bom é um homem livre. A educação espírita ou evangelizada não tem por fim domesticar o homem, mas prepara-lo convenientemente para uma vida com duplo aspecto, material e espiritual, coma predominância desta sobre aquela.

            O mundo de hoje sofre as consequências da má compreensão da liberdade humana, pois a entendem como a faculdade de permitir que cada qual faça o que entenda, sem respeitar o seu próximo. Isto está longe dos princípios morais baseados nos ensinamentos do Cristo.          

            Educar para o bem é educar para a vida real. Aquele que se habita a proceder bem, cultivando a honestidade, a tolerância, a urbanidade e a fraternidade, encontrará diante de si um caminho em menos tortuoso e áspero do que aquele que, dominado pelo egoísmo, só pensa em si, só faz o que atende a seus interesses, que não vê no mundo senão as suas conveniências. Não é possível que alguém viva rigorosamente para si, apenas, num mundo em que há milhões de seres sofrendo de fome, de sede e de dor, porque cada qual colhe o que planta. Ninguém escapa a esta lei.


sexta-feira, 30 de julho de 2021

O Lugar do Evangelho

 

O Lugar Do Evangelho

Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Julho 1962

             Dizia Benaisar ao amigo irado:

            - Digo-te que te precipitas, Yala. Não deves condenar ninguém por simples suposição.

            - Não é suposição. É certeza. Disse-me Beraida que ouviu o que de mim se falou, pois estava presente. Ninguém mais digno de crédito do que ele, Benaisar.

            - Esse mesmo juízo faço eu da pessoa que tu acusas. Ouve, amigo: Às vezes somos levados a admitir coisas que nos iludem os sentidos, embora estejamos convencidos de que ocorreram realmente conforme acreditamos. Tua informante pode ter sido vítima de um equívoco, tanto mais que a ocorrência se verificara em ambiente agitado.

            - Julgas-me louco? Não! Não! Tenho certeza absoluta do que houve e meu julgamento está feito. Sou um homem de grandes virtudes, como sabes, Benaisar, e não mereço ser tratado assim.

            Já que tendes tanta certeza nada mais tenho a fazer aqui. Retirar-me-ei, porque não desejo discutir contigo. Todavia, acho-te intolerante e bom seria que te recordasses daquela passagem do Evangelho que diz: “Não julgueis para não serdes julgados; porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os outros; empregar-se-à convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para com os outros”...

            - Lembro-me bem dessas palavras, Benaisar. Deverias, então, ensiná-las a quem disse mal de mim...

            -Evidentemente, eu o faria se tivesse a mesma certeza que tens. De qualquer forma, Yala, medita um pouco a respeito desta outra frase do Mestre: “Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado”...

            Depois do rápido diálogo, cada qual tomou o seu rumo.

 ***

            Dias depois, encontraram-se de novo e Yala retornou ao assunto, com a mesma disposição de espírito:

            - Cada vez tenho mais certeza do que te disse, Benaisar.

            E repetiu as mesmas razões anteriormente defendidas. O amigo as ouviu em silêncio, falando em seguida:

            Continuo a pensar que te precipitaste no julgamento feito, Yala. Robusteceu-se em mim a convicção de que estás alimentando um mal-entendido, porque, na realidade, ninguém falou mal de ti.

            - Então duvidas de mi?! Que amigo és? – exclamou, irritado, fazendo um gesto nervoso, o amigo de Benaisar. – Não perdoarei jamais o que de mim foi dito. Não o mereço, porque sou um homem de grandes virtudes!

            - Está bem, Yala, está bem. Eu deveria dizer antes: Está mal, Yala, está mal, porque desperdiças uma oportunidade magnífica de exemplificar as lições sublimes do Evangelho. Assemelhas-te àquela personagem para quem disse Jesus: “Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? Ainda que fosse expressão da realidade o que supões, não deverias ser tão extremado. Yala, porque cada vez mais te distancias do Evangelho, que conheces e tens o dever de respeitar? Lamento-o por ti. Louvas te numa opinião que não pode ter o dom da infalibilidade. Hoje sei que nada se passou como o afirmas. Neste caso, os papéis estão invertidos: és tu quem está em falta, porque insistes no erro de sancionar um equívoco...

            - Já que discordas de mim, sigamos caminhos diferentes. Minha convicção é inabalável e jamais apagarei com o perdão essa nódoa às minhas virtudes. És um falso amigo; abandonas-me na hora em que sou humilhado.

            - Entrego-te à tua consciência, Yala. Ela será teu juiz, no amanhã que se aproxima. Antes que te vás, porém, faço minhas estas palavras de um cristão de verdades reais: “Queres ser feliz um instante? Vinga-te. Queres ser feliz para sempre? Perdoa. “Posso dizer-te, concluindo, que, pelo outro lado, há muito que estás perdoado...

            Retomando seu caminho, Benaisar murmurou tristemente:

            - É bem mais fácil ter o Evangelho nos lábios do que no coração... que é o seu verdadeiro lugar.


Unificação e Doutrina

 

Unificação e Doutrina

por Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Setembro 1962

 

            O trabalho de unificação dento do Espiritismo tem dado, fora de dúvida, excelentes resultados, embora exija ainda, e o exigirá por muito tempo, as atenções dos responsáveis pela propagação e defesa de seus princípios. Nada se deve fazer fora da Doutrina. Esta é uma norma fixa e invariável. Omiti-la ou despreza-la será como que renunciar àqueles princípios ou subordiná-los a pontos de vista meramente pessoais, nem sempre afins com os reais e altos interesses espíritas.

            Quando vemos alguns confrades entusiasmados em fundar serviços já existentes e em pleno funcionamento na zoa em que residem, lamentamos que tanto entusiasmo e tanto esforço não sejam dirigidos para revitalizar e desenvolver os trabalhos já fundados e em funcionamento. Essa dispersão de esforços não atende às necessidades legítimas da nossa causa, porque a unificação de trabalhos, a união maior para um mesmo fim, tornará possível a realização mais rápida e mais eficiente dos objetivos louváveis que engalanaram a alma desses obreiros.

            Se cada grupo puxar para um lado diferente, o resultado será muito menos satisfatório do que se todos, unidos, puxarem para um lado só. Às vezes pode ser a vaidade a inspiradora da criação de obras paralela. Em outras, porém, acreditamos, é o desejo de fazer alguma coisa mais substancial em benefício do próximo, com a presunção de que o existente não satisfaz. Ora, se todo os espíritas estiverem imbuídos de humildade; se não prevalecer a preocupação de aparecer com destaque; se concordarem em dar a sua valiosa cooperação àqueles que já lutam para sustentar e desenvolver trabalhos de finalidade idêntica, tudo melhorará. A união faz a força. Ou somos espíritas e aceitamos integralmente a Doutrina ou somos falsos espíritas e, neste caso, só aceitamos da Doutrina aquilo que nos convém em determinadas ocasiões.

            Allan Kardec, nas obras que trazem o seu nome, é um manancial de instruções preciosas. Ninguém, dentro do Espiritismo, tem o direito de ignorar a Doutrina, do contrário será, não um espírita, mas um aderente sem raízes profundas. O que dá força ao Espiritismo é justamente a sua doutrina, porque estabelece com segurança os rumos que todos devemos seguir, que nos orienta, nos instrui e nos aponta os caminhos certos da salvação quando nos encontramos em dúvida ou ficamos presos a situações criadas pela nossa própria imprevidência ou ignorância.

            O Espiritismo não pode estacionar. Mesmo que os homens, mal inspirados, tentassem fazê-lo, esbarrariam com a ação dinâmica dos Espíritos. Há trabalho, cada vez maior em nossa seara. Todos trabalham. A Federação Espírita Brasileira dá o exemplo de ação bem orientada e de trabalho fecundo, embora silencioso. Mas não se afastará, como jamais se afastou, dos deveres impostos pela Doutrina. Isto é que se precisa realçar. “A Doutrina é, sem dúvida, imperecível, porque repousa nas leis da Natureza e porque, melhor do que qualquer outra, corresponde às legítimas aspirações dos homens”, disse-o Kardec.

            Como sempre acontece à margem de qualquer movimento religioso, filosófico ou ideológico, é vezo surgirem inovadores, os que acham que não se faz nada, ou que se faz pouco ou mal, e engendram planos mirabolantes, espaventosos, por isso mesmo sem base sólida e fadados ao malogro. Ora, a Doutrina Espírita tem caráter essencialmente progressivo, conforme o Codificador acentuou:Pelo fato de ela não se embalar com sonhos irrealizáveis, não se segue que se imobiliza no presente. Apoiada tão só nas leis da Natureza, não pode variar mais do que estas leis; mas se pôr de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade.” São também palavras de Allan Kardec.

            Todavia, essa aceitação ou assimilação terá de se sujeitar a um critério altamente ponderado. Nada poderá ser feito precipitadamente. Semelhante predisposição, contida em Kardec, prova a maleabilidade superior da nossa Doutrina, maleabilidade inerente à sua natureza profundamente progressiva.

            Quando se cogitava de dar ao Espiritismo uma orientação única, surgiram ideias variadas e curiosas. Conta Kardec: “Houve quem propusesse que os candidatos fossem designados pelos próprios Espíritos em cada grupo ou sociedade espírita. Além de que este meio não obviaria a todos os inconvenientes, apresentaria outros peculiares a semelhante modo de proceder, que a experiência já demonstrou e que fora supérfluo lembrar aqui. Não se deve perder de vista que a missão dos Espíritos consiste em nos instruir, para que melhoremos, porém não em se sobreporem ao nosso livre arbítrio. Eles nos sugerem ideias, ajudam com seus conselhos, principalmente no que concerne às questões morais, mas deixam ao nosso raciocínio o encargo da execução das coisas materiais, encargo que não lhes cabe poupar-nos. Contentem-se os homens com o serem assistidos e protegidos por Espíritos bons; não descarreguem, porém, sobre eles, a responsabilidade que incumbe ao encarnado.

            “Esse meio, aliás, suscitaria maiores embaraços do que se poderia supor, pela dificuldade de fazer-se que todos os grupos participassem de semelhante eleição. Seria uma complicação nas rodagens e estas tanto menos suscetíveis se mostrarão de desarranjar-se, quanto mais simplificadas forem.

            “O problema é, pois, o de constituir-se uma direção central, em condições de frça e estabilidade que a ponham ao abrigo de todas as flutuações, que correspondam a todas as necessidades da Causa e oponham intransponível barreira às tramas da intriga e da ambição.”

            Unificar, em todos os sentidos e de todas as formas, é o objetivo que todos os espíritas devemos perseguir sem esmorecimento. Para que se torne fácil, basta que cada qual siga a Doutrina, exemplifique seus princípios, procure colocar a Doutrina acima de atitudes personalistas e de interesses outros, porque a verdade é que ninguém perderá coisa alguma se se dispuser a obedecer àqueles princípios. Pelo contrário, somente se beneficiará, beneficiando a coletividade espírita e a Humanidade.


quinta-feira, 29 de julho de 2021

A Advertência de Kardec

 

A Advertência de Kardec

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Setembro 1962

             A cada dia que passa mais nos convencemos das dificuldades que nos esperam, nas tentativas cotidianas que fazemos para merecer o nome de “espírita”. Como é difícil ser espírita na verdadeira acepção do vocábulo! Quanta vezes fraquejamos, cedemos, traímos as nossas próprias determinações, porque ainda não conseguimos fechar a nossa alma à penetração insidiosa de pensamentos inferiores! Todavia, com a ajuda dos incansáveis irmãos da Espiritualidade, continuamos lutando contra as nossas deficiências, tristes provas insofismáveis da nossa fraqueza e da nossa incapacidade de vigilância.

             Somente com perseverança lograremos um dia superar essas dificuldades. É mister, contudo, não desanimar e transformar a vergonha das faltas cometidas em estímulo para a regeneração definitiva.

             Aprendemos que “recordar é também reaprender”. Daí a frequência com que voltamos às páginas kardequianas, na ânsia de reter instruções, de reparar omissões e consolidar conhecimentos que nos facilitem resistir e vencer depressivas influências.

             Abrimos ‘Obras Póstumas” e compreendemos que até o mal tem papel importante na obrado bem. As lutas que Kardec teve de travar, porque o movimento era invadido por indivíduos sem outro objetivo que o de solapá-lo, tiveram, porém, grande utilidade para a Causa. Então Kardec ensina: “Alguns indivíduos, mais perspicazes do que outros, entreviram o homem na criança que acabava de nascer e temeram-na, como Herodes temeu o menino Jesus. Não se atrevendo a atacar de frente o Espiritismo, esses indivíduos fizeram de agentes com o encargo de o abraçarem pra asfixiá-lo; agentes que se mascaram, para em toda parte se intrometerem, para suscitarem habilmente a desafeição nos Centros e espalharem, dentro destes, com furtiva mão, o veneno da calúnia, acendendo, ao mesmo tempo, o facho da discórdia, inspirando atos comprometedores, tentando desencaminhar a doutrina, a fim de torna-la ridícula ou odiosa w simular em seguida defecções.” (1)

              A firmeza com que Kardec pintou esse retrato da situação verificada nos primeiros tempos do Espiritismo, deve ser analisada, porque nunca se sabe se esses perigos desapareceram totalmente ou se são suscetíveis de reaparecer periodicamente.

             E Kardec prossegue: “Outros ainda são mais habilidosos: pregando a união, semeiam a separação; destramente levantam questões irritantes e ferinas; despertam o ciúme da preponderância entre os diversos grupos; deleitar-se-iam, vendo-os apedrejar-se e ergue bandeira contra bandeira, a propósito de algumas divergências de opiniões sobre certas questões de forma ou de fundo, as mais das vezes provocadas intencionalmente.” (1)

             Meditamos sobre essas palavras impressionantes do Codificador, que completa seu pensamento desta forma: “Esses são espíritas de contrabando, mas que também foram de alguma utilidade; ensinaram o verdadeiro espírita a ser prudente, circunspecto e a não se fiar nas aparências!” (1)

             Hoje, infelizmente, a situação do Espiritismo é diversa daquela que desafiou o valor moral de Allan Kardec, sem resultado, aliás. Todavia, os espíritas devem estar sempre alertas, porque o poder da Treva é grande e sempre deseja experimentar a sinceridade das nossas convicções e a solidez dos nossos propósitos. A arma que devemos usar é a Doutrina: a defesa que melhor nos resguardará está no Evangelho.

             Trabalhando com devotamento e sinceridade, estaremos mais perto da Verdade, sem, no entanto, nos esquecermos um só instante desta advertência contida numa comunicação de Allan Kardec, já então no mundo dos Espíritos: “Insta não perder de vista que estamos num momento de transição e que nenhuma transição se opera sem conflito. Ninguém, pois, deve espantar-se de que certas paixões se agitem, por efeito de ambições malogradas, de interesses feridos, de pretensões frustradas. Pouco a pouco, porém, tudo isso se extingue, a febre abranda, os homens passam e as novas ideias permanecem. Espíritas, se quereis ser invencíveis, sede benévolos e caridosos; o bem é uma couraça contra a qual sempre se quebrarão as manobras de malevolência...” (2)

         (1)   Kardec – “Obras Póstumas”, edição de 1949, pág. 225

         (2)   Id., id., pág. 229


quarta-feira, 28 de julho de 2021

O Difícil Mister da Caridade

 


O Difícil Mister da Caridade

Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Outubro 1962

            Várias maneiras há de fazer-se a caridade, que muitos dentre vós confundem com a esmola. Diferença grande vai, no entanto, de uma para a outra. A esmola, meus amigos, é algumas vezes útil, porque dá alívio aos pobres; mas é quase sempre humilhante, tanto para quem dá, como para o que a recebe. A caridade, ao contrário, liga o benfeitor ao beneficiado e se disfarça de tantos modos! Pode-se ser carinhoso, mesmo com os parentes e com os amigos, sendo uns indulgentes para com os outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, evitando não ferir o amor-próprio de ninguém.” Este é pequeno trecho de uma comunicação de “Cárita”, encontrável em “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

             Todos nós precisamos de caridade, embora talvez nem todos temos necessidade de esmola. A caridade, segundo o conceito espírita, encerra tolerância, devotamento, fraternidade, humildade, prestabilidade, paciência, perdão, altruísmo, finalmente – amor, que é tudo isso, de par com a sinceridade e a renúncia.

             Ser caridoso não é atender exclusivamente à necessidade que outros demonstrem de alimentos, roupas e dinheiro. Preservar alguém de se destruir pelos maus hábitos, orientar para o bem, ajudar a reerguer-se, tudo isso pode ser uma forma de caridade. Mas só o será se o ato fraterno não se macular pela vaidade e pela soberba. Dar é servir, mas é necessário saber dar, para que aquele que recebe não se sinta inferiorizado a ponto de sofrer intimamente com a ajuda que lhe e dada.

           Precisamos compreender que, de um modo geral, todos necessitamos de caridade, às vezes mais do que aqueles que vemos aparentemente menos felizes. Bem diz o ditado: “Quem vê cara, não vê coração.” Outro afirma: “As aparências enganam.” Legitimamente inspirado, o poeta Raimundo Corrêa pôs num dos mais belos sonetos da literatura brasileira estas verdades ao qual denominou “Mal Secreto”:

 “Se a cólera que espuma, a dor que mora

n’alma, e destrói cada ilusão que nasce,

tudo o que punge, tudo o que devora

o coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse, o espírito que chora,

ver através da máscara da face,

quanta gente, talvez, que inveja agora

nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo

guarda um atroz, recôndito inimigo,

como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,

cuja ventura única consiste

em parecer aos outros venturosa!”

             Nessa maravilha de concisão e de expressão, Raimundo Corrêa deixou estratificada uma das verdades que campeiam no mundo, retratando a realidade da vida humana nesse aspecto íntimo, não raro doloroso, muitas vezes inescrutável.

             Desejamos concluir este artiguete com as palavras de “Irmã Rosália”, colhidas na mesma fonte atrás indicada:

             “Desejo compreendais bem o que seja a caridade moral, que todos podem praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é mais difícil de exercer-se.

            “A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as palavras e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém, com que vos recebem pessoas que muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.

            “Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra. Tende, porém, cuidado, principalmente em não tratar com desprezo o vosso semelhante. Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito: Tende presente sempre que, repelindo um pobre, talvez repilais m Espírito que vos foi caro e que, no momento, se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra, a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, ao qual, a meu turno, tenho agora de implorar auxílio.


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Corrupção da Juventude

 

Corrupção da Juventude

Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Outubro 1962

            Nenhuma religião, que o seja efetivamente, deve estimular qualquer forma de violência ou dificultar o encontro da paz e da fraternidade. Por isto, surpreendemo-nos quando, há tempos, um sacerdote católico veio à televisão defender a pena de morte. Do mesmo modo, estranhamos que, nos Estados Unidos, se não nos falta a memória, uma freira dava instrução militar (!) a meninos. A fotografia saiu publicada aqui na Guanabara, num dos jornais de maior circulação.

            A Religião, segundo o próprio nome o indica, é o esforço para unir, conjugar, reunir, ligar. Se faz o contrário, não é rigorosamente uma religião, embora a tradição que a aponte como tal.

            Agora, lendo um jornal de Março último, encontramos este telegrama datado de 17 e procedente de Dijon, França:

             “A Polícia prendeu um sacerdote acusado de inculcar em seis jovens as ideias da proscrita organização do Exército secreto. A Polícia informo que o sacerdote Georges Nantes pregava, em seus sermões, contra a independência da Argélia. Acrescentou que admitiu que fazia que seis jovens o ajudassem a preparar material em favor da Organização do Exército Secreto e que, em seguida, enviavam a Prefeitos preeminentes da região. (UPI).”

             Não podemos deixar de lamentar o fato, de que o telegrama, publicado a 18 de Março pelo “Diário de Notícias” do Rio, nos deu ciência. Em vez de o sacerdote encaminhar os jovens pela senda de o sacerdote encaminhar os jovens pela senda do respeito à paz, do amor à fraternidade, da consideração aos fracos que desejam libertar-se, fazia justamente o contrário, tornando-se cúmplice de uma organização terrorista, que se opõe violentamente à independência da Argélia.

             A nós somente interessa o fato moral. Expusemo-lo com simplicidade e com parcos comentários, porque não desejamos faze maiores referências ao acaso. Tirem os leitores, com serenidade, partindo de um ponto de vista simplesmente humano – já não diremos evangélico – as conclusões que julgarem mais sensatas e lógicas.

             Não é a primeira vez que tal sucede: não será a última. Infelizmente, infelizmente. Ver-se um sacerdote empenhado em corromper jovens, insuflando em sua mente ideias de violência, de morte e até mesmo de traição à sua Pátria, que está desejosa de conceder a liberdade desejada pela Argélia, aspiração justa de um povo que almeja caminhar com seus próprios pés. A França, que laçou ao mundo a divisa – “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” quer dar à Argélia essa liberdade, mas um grupo sedicioso, que se denominou “Organização do Exército Secreto”, se opõe a tão justo propósito, recorrendo ao terrorismo, matando franceses e argelinos, na ânsia de impedir tão compreensível conquista.

 

Conversando com seu próprio fantasma

Elliza Orzeszko

  Conversando com 
seu próprio fantasma

Por Lino Teles (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Outubro 1962

 

            Eliza Orzeszko é uma das maiores glórias da literatura mundial. Viveu na Polônia, de 1843 a 1910.

            Em seu excelente romance “Marta”, que teve a honra de ser traduzido para o Esperanto pelo Dr. L. L. Zamenhof e que assim se tornou um dos clássicos da língua internacional, narra ela a dolorosa situação de uma pobre mulher nascida na melhor sociedade varsoviana, onde viveu feliz até aos 24 anos, ficou viúva, pobre e sofreu horrores até a morte violenta, debaixo de um bonde.

            Marta era de moral irrepreensível e de fina educação social; ficou viúva com uma filhinha de quatro anos e não se pode adaptar a nenhuma profissão: todas as tentativas neste sentido lhe falharam, porque não tinha qualquer educação profissional. Todo o seu cabedal de conhecimentos era apenas para ornamentação de salões, e isso não basta como meio de vida.

           Em plena miséria, numa água-furtada, está ela meditando junto à filha condenada à fome e discute consigo mesma. Leiamos na página 104:

            “Diante dela, flutuando no espaço vazio, achava-se uma figura de mulher com mortal angústia no rosto, com o rubor da vergonha na fronte, com as mãos entrelaçadas. Era a sua própria figura, refletida no espelho de sua imaginação.

           “Então és tu – dizia Marta mentalmente ao seu fantasma que nascera de seu próprio espírito – então és tu aquela mesma mulher que tão heroicamente prometeu a si mesma e à sua filhinha trabalhar, por sua perseverança e energia varar caminho ente os homens e conquistar um lugar ao sol?  Que fizeste, pois, desde o tempo em que tomaste essas resoluções? Como cumpriste a promessa que fizeste das profundezas de teu espírito à sombra querida do pai de tua filhinha?

          “A figura de mulher começou a oscilar no ar como um ramo flexível sacudido pelos vendavais; em vez de qualquer resposta, ela bateu mais fortemente as mãos uma contra a outra e murmurou com lábios trêmulos: - Eu não tinha aptidões” Eu sou uma ignorante!

            “Ó criatura inepta! – exclamou Marta de si para si – es assim digna do nome de ser humano, se sua cabeça é tão néscia que não sabe bem o que pensar de si mesma, se tuas mãos            são tão fracas que não se podem resguardar com seus desvelos nem a cabecinha minúscula de uma pobre criança! Porque então te estimavam outrora? Poderias agora estimar-te a ti mesma?

            “A figura de mulher descruzou as mãos e com elas cobriu o rosto que se curvou profundamente”.

             Há desses momentos em que o Espírito olha objetivamente e julga com severidade seu corpo, sua personalidade humana, tão diferente do seu ideal eterno.

            Mais adiante, na página 220, a Autora descreve a cena tétrica da meninazinha exânime, sem tratamento, que, num delírio, estendendo os bracinhos para o espaço vazio, para o pai que morrera um ano antes, exclama: “Papai! Papai!, gemendo, sorrindo e rogando socorro. Esta cena é realmente espírita e de fatos semelhantes tratou Bozzano em “Aparições no Leito de Moribundos”.

            Repitamos: “Marta”, de Eliza Orzeszko, é uma das obras imortais da literatura universal, tendo-se, por felicidade, tornado obra clássica do Esperanto, estudada em todos os países.

            Do ponto de vista social, a educação da mulher progrediu muito depois do tempo em que Eliza Orzeszko escreveu esse livro de combate aos defeitos de nossa civilização contra o sexo feminino. A mulher hoje frequenta escolas profissionais, aprende a trabalhar, a ser economicamente livre, e não uma eterna criança indefesa ou escrava, como era há um século.

            A autora de ‘Marta” foi uma das preparadoras da sociedade futura.

Do Espiritismo

                                         


Do Espiritismo

Bezerra de Menezes (Espírito)  por Aura Celeste (Adelaide Câmara)

Fonte: “Do Além”, 5º fasc. CCLXX

Livro: “Tudo por Cristo!

Edição: Pongetti /  Fundo de Publicações AMARO CÂMARA - 1960  

 Asilo Espírita João Evangelista

 

            A fase atual do espiritismo é de assombrosa atividade. Intrépido, valoroso, um certo número de espíritos, como uma rajada purificadora revolve as consciências, vasculhando-as para arredar delas os elementos impuros, implantando em seu lugar o gérmen da fé que regenera e salva... Enquanto almas impiedosas que inspiram compaixão e dó pela insensatez de suas ideias procuram avassalar consciências em que o amor de Deus deve reinar!

            Por essas intuições, tais seres afastam os espíritos encarnados do caminho da verdade que está em Jesus, sol que há de, embora a contragosto deles, iluminar o destino de toda a criação.

            Que corra, pois, de mão em mão, esse punhado de palavras do “Além”, na intenção sincera de beneficiar os humanos.

            A todos dizemos: “A vitória do Cristianismo é certa!”

            Ninguém se deve enredar na teia ardilosa dos que, adulterando a revelação divina contida nos Evangelhos, querem fazer monopólio das verdades eternas, a seu modo torcidas e interpretadas. São esses os que querem banir o Senhor da sua casa! Mas, a fé em Jesus está acesa em centenas de milhões de almas humanas e a chama purificadora do amor continuará a sua conquista de corações incessantemente! Para isso Deus enviou à Terra o Consolador Prometido: o Espiritismo!

                                                   Assina: Max (Bezerra de Menezes)

Cristianismo e Espiritismo

 


Cristianismo e Espiritismo

Bezerra de Menezes (Espírito)  

por Aura Celeste (Adelaide Câmara)

Fonte: “Do Além”, 4º fasc. CCXX, 24 de Junho de 1924

Livro: “Tudo por Cristo!

Edição: Pongetti /  

Fundo de Publicações AMARO CÂMARA - 1960  - 

Asilo Espírita João Evangelista

 

            Paz aos homens de boa vontade.

            O Cristianismo, religião de elevação e santificação da alma, encontra no Espiritismo seu mais alto expoente.

            Em meio desse ambiente que envolve a Terra na época atual, saturado de violências sangrentas, ódios recalcados por longa incubação, explodindo fragorosamente, é ele o único refúgio às almas piedosas. São grandes os meios de que dispõe a igreja espírita para diminuir o efeito desses males sobre a humanidade. Para isso põe o Senhor em suas mãos o remédio eficaz contra a calamidade que assola o planeta, física, moral e espiritualmente. Esse remédio se encontra na luz que dimana das páginas benditas do Evangelho do Cristo.

            Para que põe a Igreja espírita a candeia sob o alqueire, em vez de a colocar sobre o velador, para que alumie toda a casa?

            Por que tranca a Igreja espírita as portas do reino de Deus, nele não penetrando nem consentindo que outros penetrem?

            Não desconhece ela a responsabilidade que sobre os seus ombros pesa... Que pensar, portanto, da sua inércia e despreocupação, perante a penúria moral que invade assustadoramente os próprios centros de caridade? Terão os depositários das verdades eternas no planeta deixado de crer e de amar?

            Meus amigos, de outros planos os vossos companheiros se entristecem da vossa desídia e estacionário progredir...

            Necessitais abandonar o círculo estreito que traçastes ao redor de vós mesmos, romper essa estreiteza que restringe o vosso pensamento, sufoca os vossos sentimentos e encurta a vossa ação positiva no campo vastíssimo a desbravar, que tendes diante dos vossos olhos. Recordai-vos de que não podeis conhecer a Deus senão pelo amor, pela caridade. De nada vale o dizer: Senhor, Senhor... (palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo) – sem testemunhar por ações positivas e inequívocas que sois discípulos do Divino Mestre.

            Ser espírita é amar ao seu Deus, acima de outro qualquer amor; é seguir os mandamentos, as leis de amor, os preceitos de caridade ditados ao nosso planeta pelo filho imaculado desse mesmo Deus, a quem dizeis adorar em espírito e verdade; ser espírita é dedicar-se de corpo e alma à causa que esse mesmo Jesus abraçou e defendeu até o sacrifício, e em benefício da qual os servos do Senhor, nos primeiros tempos da era cristã não pouparam a própria existência que então fruíam.

            É bem amargo assinalar que o vosso coração não arde naquela chama de amor que distingue o verdadeiro servo do Senhor.

            Nada tendes a objetar às minhas considerações que ora vos faço porque sabeis que elas são justas e inspiradas pelo grande amor que consagro à mesma causa que esposais. Sede, pois, coerentes convosco mesmos, com os princípios básicos do Cristianismo, provando aos que de fora vos observam, que o Espiritismo é Cristianismo! Não podeis caminhar sós, bem o sabeis.

            A que vos conduzirá Espiritismo sem Cristianismo? Desconhecendo essa verdade, recusando o ensino que do Alto vos envia o Mestre Amado, chegareis a ser como “cegos” conduzindo “cegos”...

            Conciliai, pois, a vossa maneira de proceder no exercício das posições que ocupais à frente do movimento espírita, no centro em que trabalhais, com os preceitos de Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo sempre em vista que o Mestre não parou, antes pelo contrário, está como sempre em plena atividade, fazendo baixar os seus mensageiros até vós, trazendo as revelações, os mandamentos que tendes por dever seguir fielmente.

            A seu tempo virá o Senhor da seara separar o joio do trigo que por ora crescem juntos. Deus vos ilumine.

            Assina: Max (Bezerra de Menezes)


sábado, 24 de julho de 2021

Não julgueis

 

Não julgueis

de Bezerra de Menezes  (Espírito)  por Aura Celeste (Adelaide Câmara)

Fonte: “Do Além”, 4º fasc., CCXII, 20 de Maio de 1924

Livro: “Tudo por Cristo!

Edição: Pongetti /  Fundo de Publicações AMARO CÂMARA - 1960  

Asilo Espírita João Evangelista

 

            Meus amigos, criaturas há impulsivas para quem no primeiro momento tudo é bom, perfeito, razoável, e sob essa impressão procuram agir; é errônea essa maneira de proceder, falso esse modo de interpretar os atos dos seus irmãos. Daí se originam contendas, perfídias, apreciações injustas, que não só vão ferir a pessoa que o produziu, mas afetam também o próprio pensador. Eis porque Nosso Senhor Jesus Cristo disse: Não julgueis para não serdes julgados.

            Sim, meus amigos, com a medida com que medirmos, com essa medida seremos nós medidos, isto é, no grau e da forma que perdoarmos, dessa forma seremos perdoados. Lembrai-vos, meus amigos, de que a vida do cristão deve ser o espelho no qual se reflitam todos os atos comprobatórios da sua sinceridade. Dizer com os lábios, pregar virtude e não exemplifica-las nos fatos de sua vida de relação é um pensar errado, é uma maneira de proceder que não se coaduna com os preceitos evangélicos.

            No entanto, tivemos na Terra o Modelo perfeito de todas as virtudes, Nosso Senhor Jesus Cristo, que tudo exemplificou com humildade! Sim, meus amigos, porque o homem muitas vezes interpreta o perdão, como ato de nobreza orgulhosa do seu caráter, ele sabe que perante o mundo lhe fica bem esse perdão; entretanto esse não é o perdão verdadeiro, não é o que foi ensinado pelo Cristo de Deus.

            É preciso que saibais perdoar com humildade, isto é, atenuando as d´vidas do ofensor, justificando sua fragilidade, atribuindo à fraqueza do seu espírito, porquanto não fosse espírito fraco e possuísse envergadura suficiente para dar execução ao ensino de amor, certamente não fenderia seus irmãos.

Assina: Max (Bezerra de Menezes)

 

 

 


Paz, Luz e Fé

 

Paz - luz - fé

de Bezerra de Menezes  (Espírito)  

por Aura Celeste (Adelaide Câmara)

                  Fonte: “Do Além”, 3º fasc. CXLIX, 06 de agosto de 1923

           Livro: “Tudo por Cristo!” Edição: Pongetti 

Fundo de Publicações AMARO CÂMARA - 1960  

            Asilo Espírita João Evangelista 

 

     “Todos os homens estão sujeitos ao erro, ninguém é perfeito. 

Só Cristo Jesus jamais pecou, que foi puro desde a eternidade dos tempos.”