"E eu
rogarei a meu Pai, e ele vos enviará outro Consolador, a
fim de que fique eternamente convosco." Jesus (João, 14:16).
A Doutrina Espírita, em sua
destinação de Consolador Prometido, apresta-se, diante da Humanidade, em
atendimento ao seu desiderato, abraçando a responsabilidade histórica na marcha
da civilização.
Não se detém unicamente particularizando
conforto e consolo, socorro e estímulo aos encarcerados nas dores dos resgates
indispensáveis. Descerra às criaturas os infindáveis campos da renovação interior, na lavoura do apoio
recíproco e da fraternidade verdadeira, promovendo, intensamente, o conúbio de
forças dos dois planos da vida, num sintomático e decisivo apelo ao Amor.
Paulatinamente, a Revelação Espírita
desdobra-se em informações e ensinamentos dosados e adequados aos nossos níveis
de compreensão e maturidade.
Instrutores do Infinito Bem,
apóstolos da perfeição moral, benfeitores da luz divina integram-se no mesmo
afã evangélico de lastrear os caminhos humanos com a palavra do bom ânimo e da
transformação para melhor.
O ensino espírita faz-se respeitado
no seio das comunidades, pela contínua atualidade de seus conceitos quanto pelo
acervo inalienável de seu patrimônio educacional.
Lamentavelmente, entretanto, temos
observado que dilatado número de corações abeira-se da fonte conservando os
odres vazios...
Impulsionados, muitos deles, pelos
dolorosos acicates do sofrimento, encontraram o bálsamo para suas chagas
íntimas, postando-se, ainda hoje, de mãos estendidas e corações súplices, quais
indigentes da viciação sistemática, que abarrotam os saguões de instituições
socorristas terrestres. Mostram-se incapazes de refletir e raciocinar; porém,
são ávidos em receber.
Outros, quais frágeis avezinhas
pressentindo o sopro das adversidades, pousaram suas esperanças nos troncos
robustecidos do amparo moral que a Doutrina a todos proporciona e
aquietaram-se, quais filhotes implumes, à espera do alimento pronto, sem a mais
leve intenção de reanimarem-se para as realidades do esforço próprio. Louvam a excelência
do amparo dos Benfeitores Celestes, embora não se distanciem da inércia
espiritual onde se acotovelam.
Outros mais, que se achegaram aos
esteios luminosos do Espiritismo, quais cigarras estonteantes de entusiasmo e
gratidão ante a fenomenologia abundante e convincente, experimentam as
vacilações da fé passageira que não recebeu senão as insuflações das primeiras
horas, satisfazendo-se, tão-só, à tepidez do arrebol, em observações de
superfície, sonegando o imprescindível apoio à fornalha da razão pelo exercício
do estudo sistematizado.
Cantaram louvores à imortalidade comprovada, contudo, deixaram-se cair,
exangues, incapazes de pressentir, na ação do tempo, as vizinhanças do inverno
na alma.
Quantos espíritas ainda não se
dignaram adentrar o vasto campo do conhecimento que a Doutrina lhes oferece,
pervagando, indiferentes ou tumultuosos, entre as superficialidades do trivial e
do passageiro! Há de lhes chegar o momento grave, quando difícil abatimento ou
decepção lhes espicaçará a tibiez espiritual que os impediu à boa marcha, sob o
império da vontade resoluta, no estudo e no conhecimento das verdades superiores.
São eles os devotos de superfície,
desejosos de se repletarem nos favores imediatistas.
Os celeiros do Espiritismo estão
abarrotados, sim, de consolo e de esperança, de estímulo e de bom ânimo,
trazendo, igualmente, as advertências em torno do valor do tempo e das
oportunidades que a vida nos confere, para que nos fortaleçamos no conhecimento
e na sabedoria que nos equilibrarão, frente ao amor, para os Cimos da Vida.
Quem adia o esforço pessoal na
dinâmica das horas não assimilou, por enquanto, a verdadeira noção do tempo.
Temos os espíritos ainda tão
carentes de entendimento e disciplina, quanto reconhecemos nossas organizações
somáticas necessitadas de pão.
Aprofundemo-nos na Doutrina
Espírita, valorizando, em nós, as bênçãos do livre-arbítrio em nome do estudo
enobrecedor que nos alimenta os espíritos.
O passe ser-nos-á valioso auxílio de
refazimento e alívio; a água fluidificada será o veículo propício aos
benefícios suscitados em preces; as notícias dos familiares ou amigos
domiciliados no além arregimentar-nos-ão júbilos espirituais e trégua às
saudades lancinantes; a orientação medicamentosa nos proporcionará justo alívio
à enfermidade pertinaz; o núcleo assistencial surgira a nossa frente como
indispensável oficina de adestramento de corações; mas, tudo isto não passará de
recursos de superfície, se o espiritista, cônscio de seus deveres fundamentais
diante da vida, não enriquecer o mundo íntimo no conhecimento indispensável e
sustentador.
Não se pode substituir a cirurgia
enérgica por paliativo de barbitúricos intoxicantes, quando a extirpação do mal
é indispensável ao equilíbrio físico. O bisturi fará a assepsia definitiva onde
a droga é impotente para agir. De igual modo, não poderemos adiar o
aprofundamento na instrução espírita, reconhecidos de que somente o esforço próprio,
despendido no estudo e na meditação eficaz, nos removerá os óbices à nossa
saúde integral... E o Livro Espírita aí está, como instrumento oportuno do
Consolador Prometido, qual fórceps sublime, desentranhando-nos das sombras de
nossa mediocridade evolutiva para os luzeiros da consciência esclarecida, sob a
escolta do coração operoso.
Devotos
de superfície
Guillon
Ribeiro
por Júlio
Cezar Grandi Ribeiro
Reformador (FEB) Março de 1977