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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Aborto


 

A partir de agora...

 

A partir de agora...

José Brígido (Indalício Mendes)     

Reformador (FEB) Novembro 1963

             Eles se encontravam na vida terrena e por qualquer coisa se desentenderam. Eram quase amigos quando influências alheias cortaram o vínculo de fraternidade que começava a crescer. No entanto, ambos de algum modo se respeitavam, embora não soubessem conter os efeitos da dissociação afetiva que se ia consumando. Acabaram por atritar-se e daí nasceu uma separação isenta de ódio, é verdade, mas com suficiente fermento de inimizade. Acontece, entretanto, que a vida humana se projeta também no plano espiritual. E daí...

            Certa vez, quando se achavam estremecidas as relações entre os dois homens, os mentores espirituais fizerem que seus Espíritos se encontrassem, durante o sono, no mundo invisível. Foi, então, fixado o seguinte diálogo:

            - Temos tanta necessidade de ser humildes quanto de respirar para sobreviver. Talvez até necessitemos mais da humildade... No entanto, ainda somos manejados por hábitos e preconceitos seculares, fortalecidos por uma educação moral defeituosa e mal dirigida. A verdade é que eu e você somos iguais: temos vaidade e orgulho, não gostamos que nos mostrem falhas, principalmente nos assuntos em que nos consideramos seguros.

            - Pensando bem, é isso mesmo. Mas você...

            - Sim, eu... Sei o que você está pensando. Não diga mais "você"; diga nós... Compreendo ser também assim, embora, às vezes, pense estar liberto dessas imperfeições.

            - Curioso: lá embaixo o orgulho não nos deixa ficar juntos e conversar assim, com sinceridade, como estamos conversando aqui. Você me evita, eu evito você... Como as coisas mudam, não é?

            - Sem dúvida. Ainda somos felizes por poder verificar essa diferença. Tudo também pode depender, até certo ponto, do ambiente em que vivemos. Na realidade, todos somos excessivamente individualistas. Egoístas, diria melhor. .Julgamos sempre valer mais do que realmente valemos. Ai está o mal.

            - Agrada-me que você pense assim, tão superiormente. Se disto nos lembrarmos quando regressarmos ao corpo que nos espera, poderemos fazer as pazes e voltar a ser amigos.

            - Se não nos lembrarmos de tudo, haveremos de guardar alguma coisa e esse nada nos ajudará a desbastar as arestas dessa desafeição idiota em que nos achamos na Terra. Se somos compreensivos agora, poderemos ser compreensivos também na Terra. Sabemos que nos falta humildade. Sabemos aqui, mas lá não nos lembramos de socalcar a nossa vaidade e dominá-la.

            Nessa ocasião, uma luminosa entidade se aproximou de ambos e entrou na conversa. A voz mansa, mas firme, denotava experiência:

            - Você tem maior responsabilidade - disse para o primeiro dos interlocutores - porque está no Espiritismo, conhece a Doutrina Espírita e o Evangelho. Não deveria incorrer nos erros em que às vezes se afunda como um nadador desatento.

            Voltando-se para o outro, ajuntou:

            - Mas nem por isso você é menos responsável, embora não aceite o Espiritismo e não conheça a Doutrina Espirita. Já possui uma preparação mental capaz de lhe dar a medida da responsabilidade de cada ser humano em face de um seu semelhante. A sua experiência já lhe permite distinguir o bem e o mal. Portanto, não se considere isento de culpa, mesmo porque o seu passado espiritual lhe aconselha mais vigilância nos atos e nas palavras. Os deveres que cada uma das criaturas humanas traz ao encarnar não são diferentes só porque um professa esta religião e outro professa religião diferente. Nada disso. Todo homem tem um programa a cumprir, uma obrigação a realizar, quando deixa o mundo espiritual e penetra no mundo terreno. Todos carregam o seu fardo cármico, com as suas responsabilidades, as suas aflições, as suas dores. Todos são devidamente instruídos ao deixarem o plano espacial e nenhum pode alegar ter sido lançado à Terra sem prévia advertência dos mentores que trabalham pela redenção de cada um. Além disso, nenhum anda SÓ. Todos têm um acompanhante fiel, que procura alertá-lo, ajuda-lo nos momentos cruciais da vida. Mas nenhum acompanhante pode agir em detrimento do livre-arbítrio daquele que lhe cumpre seguir. Se a sua responsabilidade é menor em face deste seu companheiro de jornada terrena, nem por isso lhe isenta de culpa. Todos os que quebram ou favorecem a quebra dos laços de fraternidade, sejam quais forem os pretextos, são corresponsáveis pela desarmonia. Quem o diz não sou eu, mas o espelho cármico que todos possuímos, no qual se refletem as nossas virtudes e as nossas imperfeições morais.

            Depois de observar o efeito de suas palavras sobre os dois Espíritos que, temporariamente divorciados da Terra, aquiesciam em trocar ideias no Espaço, a entidade recomeçou a falar:

            - Vocês estão vendo esses dois amigos que lhes estão próximos? Não? E agora, conseguem vê-los? Bem. São os seus Espíritos-guias. Os seus “anjos da guarda”, como costumam dizer lá em baixo. A neblina materialista impede que vocês os vejam, mas eles estão sempre presentes em sua vida, na hora alegre e na hora triste. Exercem a fidelidade como um sacerdócio sacrossanto. Têm muito trabalho para evitar que vocês se desviem do bom caminho e sofrem extraordinariamente quando falham, menos por eles do que pela impertinência de vocês. Felizmente, dizem-me eles, vocês não são muito rebeldes. Isto já representa alguma coisa.

            Num tom ainda mais amistoso, a entidade prosseguiu:

            - Vamos conversar um pouco mais intimamente, porque o raiar do dia se aproxima e vocês terão de iniciar suas tarefas terrenas logo que regressarem à Terra. Não pensem que sou um santo. Já fui também como vocês. Até bem pior. Não gostava de ser contrariado, procurava fazer valer as minhas opiniões, ainda que absurdas. Irritava-me por qualquer coisa, não admitia discordâncias. Como sofri! Eu mesmo criava em torno de mim uma atmosfera desfavorável, fluidos que impressionavam desagradavelmente a quantos de mim se acercavam. Em lugar de compreender que eu era o causador desse ambiente inferior, queixava-me de todos. Ninguém servia para mim, todos, por melhor que fossem, tinham um defeitozinho... A questão era observar. Em vez de me contentar com as qualidades das pessoas, eu procurava, com a tenacidade de um garimpeiro, descobrir lhes as deficiências. E, ao apontá-las, nunca me ocorria que eu as tinha duplicadamente... Sofri muito!

            Suspirou com certa tristeza, recomeçando logo:

            - O sofrimento exerceu sobre mim, paulatinamente, uma ação retificadora. Foi dando polimento ao meu estado moral. Reencarnei diversas vezes sem melhorar muito até que, numa dessas reencarnações, apesar da descrença que me dominava a respeito de religiões, encontrei no Espiritismo a bússola que me irá fazer reencontrar o rumo perdido, o caminho da minha educação. Não foi fácil. Os princípios da Doutrina Espírita nos ensinam a arte do bem viver na Terra e os meios de cultivar a amizade e a simpatia dos nossos semelhantes, a fim de que, ao voltarmos ao mundo espiritual, achemos a subida menos difícil. Mas, tudo custou muito. Eu lia muito, frequentava muitos Centros, ouvia palestras, porém não conseguia reter os belos ensinamentos para cumpri-los sem defecção. Falhei muito, vendo malogradas inúmeras tentativas de exemplificação, porque o meu Espiritismo era para uso externo. Eu aconselhava a Doutrina a outros irmãos, mas não a seguia. Citava passagens do Evangelho, sem, contudo, delas me recordar quando precisava dar o exemplo. Semelhante procedimento fez que eu sofresse ainda mais. Lutei, perseverei, vendo magníficas oportunidades perdidas. Sinto-me agora menos inseguro e mais animado para continuar o meu trabalho de auto aperfeiçoamento. A dor causada pela falta de exemplificação, pela oportunidade que nos é oferecida e não a aproveitamos, é indescritível. É uma dor moral profunda, meus amigos. Mais vale sofrer por fidelidade à Doutrina do que por apego a hábitos e costumes que a contrariam. Ninguém pode exemplificar bem a Doutrina sem exercer a humildade legitima.

            Ouvimos em silêncio todas as palavras do mentor esclarecido. Que poderíamos dizer, se o nosso nível espiritual não nos permitia sequer sentir sem abalo a forte vibração fluídica desse amigo? É fácil conquistar a humildade? Ele sentiu a nossa pergunta e respondeu:

            - Não, é difícil, muito difícil. Ela tem de ser conseguida através da renúncia diária ao que presumimos ser indispensável à importância da nossa vida terrena, moralmente falando. A sua conquista pode ser fácil quando o passado cármico não é demasiadamente denso. Caso contrário, não será trabalho de um dia. Pode levar anos. Para ser sólida, precisa de cultivo permanente, de todos os instantes, cotidianamente. É fruto de ação pertinaz e indefectível. Não é humildade o sentimento que se exerce esporadicamente. Exige a reforma do sentimento íntimo. Não é tarefa difícil de realizar, mas a sua conquista constituí a maior vitória do Espírito. Mas não confundam humildade com subserviência. A humildade dignifica o Espírito; a subserviência o rebaixa. Ninguém deve renunciar ao esforço reconstrutivo quando fracassar. A cada queda, nova tentativa, novo esforço para não cair, até que consiga manter-se de pé e, com alegria, verificar a vitória obtida sobre si mesmo. A reeducação espiritual é trabalho tão precioso na Terra quanto o da alimentação cotidiana a que vocês estão sujeitos na vida material. Mas cuida-se pouco do Espírito. Não é só frequentar Centros Espíritas e igrejas que promove o apuramento da alma. É mister seguir o itinerário espiritual com coragem e persistência para obter benefícios. Esses benefícios serão tanto maiores quanto maior for o interesse que tomarmos pelos nossos semelhantes. Há muitas formas de ajudar, muitas maneiras de fazer o bem. O exercício da caridade é o caminho mais curto da salvação, diz “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

            Ditas essas palavras, a entidade espiritual se despediu, deixando nos dois ouvintes inefável sensação de paz. Eles, então, se abraçaram e se desculparam mutuamente dos agravos que haviam trocado.

            - A partir de agora, seremos mesmo amigos. Os laços da amizade que tecíamos estavam fracos. Os incidentes em que nos vimos envolvidos serviram para nos tornar mais lúcidos em relação aos deveres que temos com os outros, na vida de relação. Portanto, a partir de agora ...

            A verdade é que os dois homens despertaram mais humanos, mais fraternos. Não se lembraram do que havia ocorrido durante o sono do corpo, mas sentiam estar predispostos a olhar os semelhantes com maior boa-vontade e tolerância. E quando se encontraram, em vez de passarem silenciosamente, cumprimentaram-se, a princípio discretamente e mais tarde com menor reserva. Até que o dia de conversarem amistosamente chegou e se abraçaram.

            Esta é uma lição verídica e demonstra quanto podem fazer os Espíritos esclarecidos acerca do cultivo da fraternidade na Terra.

            Vocês que leram esta história, se tiverem algum caso a resolver, tomem uma decisão, prefiram ter a iniciativa da reconciliação, porque isso será importante para o futuro espiritual de cada um, encarnado ou desencarnado. Portanto, decida, pondo de lado preconceitos e temores, vaidade e orgulho. Diga como aqueles dois amigos o fizeram:

            - A partir de agora...


Como é bom ser bom

             

Como é bom ser bom

José Brígido (Indalício Mendes)   Reformador (FEB) Junho 1963

             - Deixe disso, Tiago, deixe disso. Tenho tanto que fazer e você ainda quer que eu vá perder a noite para ajudar a quem não conheço?

            - Não vejo nada demais nisso. Eu também trabalho muito e sempre que posso “dou uma mãozinha” a quem precisa mais do que eu.

            Depois de curto diálogo, Macário ficou pensativo. As palavras do seu amigo Tiago lhe ficaram dançando no cérebro, o dia todo.

            Afinal - monologava -, que ganharei com isso? Tempo é dinheiro. A gente faz o bem e recebe o quê? A vida está difícil, tenho de “dar duro”, porque, se eu não ganhar dinheiro, ninguém terá pena de mim...

            Dizendo isto, de si para consigo, Macário decidiu definitivamente esquecer o apelo de Tiago. E os dias se passaram.

            Por outro lado, o amigo, que se esfalfava no trabalho diário pelo pão da família, ainda se dispunha, nas horas de folga, a ajudar um pouco aos que necessitavam mais do que ele. Se não podia dar dinheiro, dava cooperação, procurando com outras pessoas, melhor arrumadas na vida, um meio de auxiliar os infelizes.

* * *

            Alguns anos se passam sem alteração no ritmo da vida dos dois amigos. Tiago, humilde e prestante; Macário, ativo, ambicioso e egoísta, seguiam paralelamente o seu destino. O primeiro, modesto, progredira o suficiente para dar à família um pouco mais de conforto; o segundo, entretanto, alçara altos postos no comércio e já estava em situação magnifica, morando em apartamento luxuoso, no Leblon, com três automóveis, lancha a gasolina, casa de campo ampla e vistosa em Nova Friburgo. Ganhara notoriedade e de quando em quando seu nome surgia com elogios nos Jornais e o Rádio e a TV disputavam a sua palavra sobre questões de economia e finanças.

            Tanta felicidade, tanta grandeza, tanta projeção: entretanto, não duraram muito tempo. Certa vez Macário, ao regressar longa visita ao estrangeiro, encontrou o filho gravemente enfermo. Isto não o preocupou muito tempo, porque tinha dinheiro e com dinheiro seria fácil convocar luminares da Medicina para debelarem o mal que ameaçava a vida do menino.

            0s dias, porém, foram-se passando e os luminares não conseguiram positivar a origem da moléstia que entristecera o lar de Macário. Não desanimando, ele fez vir dos Estados Unidos vários especialistas, que, tanto quanto os médicos nacionais e europeus, se mostraram incapazes de uma ação realmente efetiva.

            Enquanto isto ocorria, a mulher de Macário, dona Mirtes, se acabava de sofrimento. Não largava a cabeceira do filho. Ainda que corajosa, percebia que o filho morreria dentro de alguns meses. A alegria que, antes, morava naquele lar, desertara. Poucos amigos acompanhavam com sincero interesse a doença de Silvio. Muitos e muitos, entretanto, faziam visitas convencionais, porque não podiam deixar de agradar a Macário, de quem dependiam. Como negócios são negócios, era mister dar presença em casa de Macário, telefonar-lhe, mostrar, enfim, que estavam também preocupados com a moléstia do menino.

            E tudo corria assim, num ambiente de hipocrisia, porque eles precisavam da influência do prestigioso homem de negócios. Só uns poucos amigos acompanhavam os desvelos de dona Mirtes e a ajudavam, permitindo pudesse ela repousar alguns instantes, sem comprometer o horário da medicação prescrita pelos médicos.

            Macário não tinha muito tempo para estar com o doente. Os negócios o absorviam. Só à noite, quando chegava, bastante fatigado, ia vê-lo e sentir, então, mais de perto, a dor que realmente o acabrunhava, mas que a febre dos negócios atenuava nas agitadíssimas horas de todo o dia.

***

            Mas, vejam vocês como as coisas acontecem nesta vida. Macário só andava de automóvel. Uma tarde, no entanto, bem próximo da estrada de Tairetá, zona de trabalho de Tiago, eles se encontram, quando o automóvel de Macário enguiçou.

            Macário não pareceu lembrar-se logo do antigo amigo. Subira tanto, tanto, que as antigas amizades humildes pareciam ter-se apequenado a ponto de desaparecerem da sua lembrança. Como acontece quando se sobe num avião. A princípio, tudo é visto em suas normais proporções. Depois, à medida que o avião se eleva no espaço, tudo vai diminuindo, diminuindo, que acaba por se sumir à nossa visão limitada. Os campos, as casas e as pessoas vão ficando reduzidas, parecem brinquedos infantis, de tão pequenos, e logo após se apagam à nossa vista.

            - O Macário! Há quanto tempo não vejo você! - exclamou, alegre e feliz, o modesto o Tiago.

            No primeiro instante, Macário olhou com indiferença o homem que a ele se dirigiu com tanto entusiasmo e maior intimidade. Como é que se julgava com o direito de lhe falar daquele jeito? Depois, a memória lhe permitiu identificar Tiago e, então, discreto, respondeu:

            - Ah, Tiago! Como vai?

            - Na boa luta de sempre ... E você?

            - Sempre muito ocupado e preocupado. Tenho um filho, o Silvio, que está muito doente...

            Na sua simplicidade, Tiago o interrompeu:

            - Sinto que posso ajudar-lhe, Macário. Permite-me que o vá ver?

            - Muito obrigado. Agora, não. Ele está em mãos de médicos excelentes. Muito obrigado.

            Tiago percebeu a distância que os separava. Assim mesmo, cedendo a um impulso íntimo, ofereceu-lhe a casa:

            - Olhe, Macário. Eu moro ali, naquela casinha branca e de grades azuis. Quando passar por aqui e nos quiser dar a honra de tomar um cafezinho feito na hora...

            - Obrigado, Tiago. Raramente passo por aqui. Meu automóvel “afogou” e por isso tivemos a oportunidade deste encontro. Se precisar de alguma coisa, procure-me. Tiago, no Pa1âcio do Comércio, na Esplanada do Castelo.

            E se separaram.

            Macário depressa se esqueceu do encontro. Preocupava-o a conclusão de importante negócio entabulado com capitalistas norte-americanos. Não queria atrasar-se, porque tempo é dinheiro.

            Tiago, porém, ficou parado na estrada, vendo o carro sumir-se na poeira do caminho. Sorria um sorriso tímido e melancólico, pensando consigo mesmo: - Pobre amigo: sempre preocupado em ganhar tempo...

***

            Naquela noite, no humilde centro espírita que dirigia, Tiago consultou o Guia a respeito do estado e saúde do menino.

            - Não é bom. Até agora os médicos, apesar de competentes e dedicados, não acertaram com o diagnóstico. O que ele tem é menos material do que espiritual. Mas o organismo está sendo minado por um obsessor. Nada poderemos fazer de longe.

Precisamos penetrar o ambiente em que vive a família, para melhor realizarmos a tarefa. Ele, além das responsabilidades que trouxe da reencarnação anterior, sofre os efeitos do materialismo do pai; cuja frieza tem causado muitos males e desapontamentos, atraindo sobre ele as mais negativas vibrações.

            - Desconfio, entretanto, que não poderemos ser úteis, pois a família não nos dará acesso, quando souber que somos espíritas.

            - Tente, Tiago. Há lá uma criatura boníssima, que sofre muito. É católica, mas não intolerante. Procure falar-lhe. Quem sabe se não concordará em nos auxiliar em favor do filho? O amor de mãe pode tudo, Tiago.

***

            Já no dia imediato, Tiago, depois de haver conseguido localizar a residência de Macário, o que não foi difícil, dada a sua projeção na sociedade, bateu à porta.

            - Desejo falar à senhora do Dr. Macário.

            - A quem devo anunciar? - perguntou o criado.

            - Peço dizer que Tiago Vilares deseja falar-lhe a respeito do menino Sílvio.

            Depois de admitido à sala de visitas luxuosa e confortável, Tiago compreendeu a situação de ampla prosperidade do amigo. Imediatamente, apareceu dona Mirtes, simples, distinta, bastante abatida, mas de olhar brilhante.

            - Sim, senhor... Tiago. A que devo sua visita?

            - Minha senhora: durante muitos anos fui amigo do seu marido, o Macário. Há dias o vi e soube do estado de saúde do seu filho, Se me permitir, procurarei ajudá-la.

            - O senhor é médico?

            - Não, minha senhora. Sou apenas um espírita entregue ao trabalho de ajudar o próximo no que puder. Soube que os médicos até hoje não lograram desvendar a origem do mal do seu pequeno Silvio. A Medicina não poderá curá-lo, acredite. Se confiar em mim...

            - Nada farei sem autorização do meu marido. O senhor compreende a enorme responsabilidade que eu teria de assumir. Falarei com ele.

            - Está bem, minha senhora, está bem. Devo adiantar-lhe que o seu filho está envolto em pesadas influências espirituais. Temos de andar depressa para salvá-lo. Assim, logo que puder, se concordar conosco, queira chamar-nos. Somos obreiros do Cristo. Nada fazemos por nós, que nos constituímos meros instrumentos do Alto.

            Quando Tiago saiu, dona Mirtes ficou pensativa. Não tardou que chorasse muito. Não sabia o que decidir, pois cabia-lhe o dever de dar ciência a Macário do ocorrido.

            Quando este chegou, ao anoitecer, e soube da visita de Tiago, teve um impulso de raiva:

            - Era só o que faltava; deixar de lado médicos eminentes para dar crédito a um bobalhão desses metido em bruxarias. Não, Mirtes, nada disso. Você acha que um sujeito de poucas letras, sem posição relevante no mundo social, pode, por meio de mágicas, restituir a saúde do nosso filho? Não! Não acredito nessas asneiras.

            E tudo ficou como estava.

            No Centro espírita, Tiago não deixava de trabalhar por Silvio, por meio de irradiações frequentes. Isto, no entanto, não poderia curá-lo. Apenas lhe dava um certo alívio porque os bons Espíritos buscavam animá-lo para que pudesse resistir galhardamente à prova a que estava sendo submetido por um obsessor poderoso, contra o qual nada podiam fazer sem que tivessem a ajuda dos familiares do menino.

            Um mês depois, o estado de Silvio se agravou muito. Os médicos foram francos, desenganando-o. Dona Mirtes definhava cada vez mais, suportando mal a tortura que era para ela o sofrimento do filho amado. O próprio Macário chegara a ponto de renunciar a todos os sérios compromissos que o prendiam à vida dos negócios para ficar ao lado do filho.

            Certa noite, Jogo após uma crise de Sílvio, dona Mirtes desfaleceu. Foi um reboliço em casa. Todos ficaram atarantados com a situação. E Macário, tão hábil em sua especialidade, estava apalermado. Enchera a casa de médicos, mas estes não chegavam a um acordo acerca do estado de Silvio. Quando dona Mirtes recuperou os sentidos, mandou chamar Macário:

            - Ouça, Macário: tudo está perdido?

            - Sim, Mirtes. Pelo que afirmam os médicos os dias de Sílvio estão contados...

            - Se assim é, quero que chames aquele teu antigo amigo Tiago, com urgência, para tentar alguma coisa em favor do nosso filho.

            - Mas, como?! Você é católica fervorosa, não pode meter-se com essas bruxarias de espiritismo, não pode ombrear com macumbeiros, Mirtes! Que dirá o padre Alexandre? Em que situação ficarei diante do arcebispo e do cardeal? Você sabe que preciso da simpatia deles para conservar o alto nível das minhas relações profissionais com influentes homens de negócio e com o Governo. Que pretende você fazer?

            - Estou resolvida a tudo, Macário. A vida do meu filho vale mais do que tudo isto. Prefiro ser pobre e viver feliz na mais estrita modéstia, a continuar mergulhada no fausto e trazer o coração despedaçado pela dúvida e pela dor. Além disso, antes de ser católica, sou mãe, Macário. Se a religião me impõe uma atitude de preconceito e intolerância, romperei com ela. Já fiz inúmeras promessas, desde que Sílvio adoeceu. Nada alcancei, não obstante a minha sinceridade e tudo quanto tenho feito pela Igreja. Se tudo está perdido, na opinião do Ciência, deixa-me, agora, fazer eu mesma a minha última tentativa.

            Acabrunhado, Macário, que amava intensamente o filho, acabou concordando. Meteu-se num automóvel e partiu, na noite escura e quente, em busca de Tiago. Este se achava no Centro, em pleno trabalho.

            Quando Macário chegou, disseram-lhe:

            - Faz favor de esperar um pouco, aqui. “Seu” Tiago está falando com o Guia. Vou avisá-lo.

            Nessa mesma ocasião, já o Guia havia prevenido Tiago:

            - Vá; há visita para você, meu irmão. Traga-o cá.

            Para encurtar razões, diremos logo que Macário, muito sem jeito, sentindo-se mal em ambiente tão humilde, se aproximou do Guia, que o recebeu cordialmente.

            - Quanto a você, procure também um médico, antes que seja tarde. O seu caso pode ser resolvido pela Medicina da Terra. Não se descuide. Seu filho ficará bom. Vai custar um pouco, porque demoraram muito. Mas tudo terá de melhorar. Há coisas na vida que valem mais do que dinheiro. Reduza as suas preocupações com os negócios e devote algum tempo aos problemas da alma. Pense um pouco em Cristo meu amigo. Há muita gente que passa fome, que não tom roupa que substitua os farrapos que veste! Há tanta criança precisando de assistência, tantos pais reclamando um emprego para não permitir que os filhos se estingam de inanição! E você sentirá a vida melhor, meu amigo, quando compreender que a vida não tem por finalidade o luxo e que o dinheiro não é o objetivo da nossa vinda à Terra.

***

            Após dois meses de trabalho exaustivo, Tiago e seus companheiros foram recompensados. Silvio ficara salvo. Seu obsessor, devidamente instruído pelos doutrinadores espíritas, acabou por se arrepender do mal que praticava e se mostrou mesmo inclinado a renunciar para sempre à ideia de vingança, incorporando-se aos obreiros do bem que colaboravam com o modesto Centro Espírita dirigido por Tiago.

            De uns anos a esta parte, o nome de Macário não anda nas páginas dedicadas aos altos negócios, nos jornais importantes. Mas é comum vê-lo entre aqueles que, por seu espírito caritativo, concorrem para aliviar as dores do mundo. O homem frio e interesseiro desapareceu. Surgiu nele um outro, mais humano porque mais compreensivo e mais generoso.

            Por isto, com lágrimas nos olhos, abraçado a Tiago, ele confessou com deliciosa humildade:

            - Meu querido amigo Tiago: Como é bom ser bom!




quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Jesus perante as mulheres

                              

         28,09  Neste momento, Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes: “Salve!” Aproximaram-se elas e prostradas diante Dele, beijaram-Lhe os pés. 28,10  Disse-lhes Jesus: “Não temais! Ide dizer aos meus irmãos que se dirijam à Galiléia, pois é lá que eles Me verão.”  

      Para   Mt (28,9-10),   encontramos e“A Gênese”, de Allan Kardec, no seu Cap. XV, a orientação  sobre essa passagem do Evangelho:

             “Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte, com circunstanciados pormenores que não permitem se duvide da realidade do fato.

             Elas, aliás, se explicam perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, cuja história, antiga e contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade.

        Se notarmos as circunstâncias em que se deram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões, todos os caracteres de um ser fluídico.

            Aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o vêem, outros não, sob aparências que não o tornam reconhecível nem sequer por seus discípulos; mostra-se  em recintos fechados, onde um corpo carnal não poderia penetrar; sua própria linguagem carece de vivacidade da de um ser corpóreo; fala em tom breve e sentencioso, peculiar aos Espíritos que se manifestam daquele maneira; todas as atitudes, numa palavra, denotam alguma coisa que não é do mundo terreno.

            Sua presença causa simultaneamente surpresa e medo; ao vê-lo, seus discípulos não lhe falam com a mesma liberdade de antes; sentem que já não é um homem.

            Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo perispiritual, o que explica que só tenha sido visto pelos que ele quis que o vissem. Se estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava vivo. Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos não se apercebiam dessas particularidades, a que, provavelmente, não davam atenção. Desde que viam o Senhor  e o tocavam, haviam de achar que aquele era o seu corpo ressuscitado.

            Ao passo que a incredulidade rejeita todos os fatos que  Jesus produziu, por terem uma aparência sobrenatural, e os considera, sem exceção, lendários, o Espiritismo dá explicação natural à maior parte desses fatos.

            Prova a possibilidade deles, não só pela teoria das leis fluídicas, como pela identidade que apresentam com análogos fatos produzidos por uma imensidade de pessoas, nas mais vulgares condições.

            Por serem, de certo modo, tais fatos de domínio público, eles nada provam, em princípio, com relação à natureza excepcional de Jesus.” 

 Nota de Rodapé

            “Os inúmeros fatos contemporâneos de curas, aparições, possessões, dupla vista e outros, que se encontram relatados na Revue Spirite e lembrados nas observações acima, oferecem, até quanto aos pormenores, tão flagrante analogia com os que o Evangelho narra, que ressalta evidente a identidade dos efeitos e das causas. Não se compreende que o mesmo fato tivesse hoje uma causa natural e que essa causa fosse sobrenatural outrora; diabólica com uns e divina com os outros. Se fora possível pô-los aqui em confronto uns com os outros, a comparação mais fácil se tornaria...” 

     


O futuro está em nossas mãos

 



O futuro está em nossas mãos

Tasso Porciúncula (Indalício Mendes)   Reformador (FEB) Abril 1963

             Cada ser humano tem de trabalhar pela própria felicidade. Se o seu carma é pesado, poderá amortizá-lo em tantas encarnações quantas sejam necessárias à sua reabilitação. Por sobre a Humanidade paira o Cristo, vigilante, caridoso, terno, que estimula os fracos, encoraja os tíbios, suaviza as dores dos enfermos, acalma os desesperados, iluminando lhes a jornada com a esperança. Nunca, porém, concedendo privilégios a este ou àquele, por ser desta ou daquela religião, por professar este ou aquele credo. Nunca, porém, impedindo que cada qual se levante por si mesmo e por si mesmo busque, à custa de lutas e sacrifícios, se necessário, a redenção final.

            Ninguém ficará eternamente condenado ao sofrimento, ninguém padecerá de penas eternas, porque a todos é dado o ensejo de melhorar, de compreender a diferença que há entre o bem e o mal. As provações representam o compromisso cármico de cada um, compromisso que terá de ser cumprido integralmente, através das encarnações. Portanto, o Espírito terá diante de si, como uma estrada aberta a seus passos, o Tempo. Quanto mais depressa resgatar seus débitos, mais depressa conhecerá a ventura. Dependerá de si próprio o destino que cumprirá em cada estágio reencarnacionista.

            Dizer-se que Jesus morreu para salvar a Humanidade é uma burla, porque nunca a Humanidade sofreu tanto quanto depois do sacrifício brutal imposto ao meigo Nazareno. Se fosse verdade a assertiva, o mundo não conheceria guerras, os homens seriam felizes, viveriam em paz, amar-se-iam sinceramente, abominariam a hipocrisia, a intriga, a falsidade, a felonia, a traição. Jesus veio ao mundo para deixar o seu Evangelho - roteiro de paz, amor e felicidade - e firmar o exemplo grandiloquente de coragem e fé nos ideais que pregou e defendeu. Se todos seguissem esses ideais, com a mesma fé, a mesma coragem, o mesmo entusiasmo e a mesma determinação, o mundo não estaria hoje sofrendo mil e uma torturas. O homem não continuaria sendo escravo do homem e reinaria na Terra a fraternidade aconselhada por Jesus. Ele nos traçou o caminho.

            Nós, no Espiritismo, não ensinamos que Jesus morreu para redimir a Humanidade, porque, decorridos quase dois mil anos da implantação de um cristianismo que não revela a verdadeira estrutura do pensamento do Cristo, não há paz na Terra, nos lares, onde quer que haja agrupamentos humanos. Enche-se a boca de prédicas bonitas, pendura-se Jesus nos lábios, mas os corações nem sempre o admitem lá dentro.

            Os que se afirmam herdeiros do Cristo muitas vezes espalham o fermento da desarmonia, acendendo as fogueiras da intolerância, do desamor e do sectarismo.

            O que ensinamos, no Espiritismo, é o modo de seguir o itinerário traçado pelo Mestre no Evangelho, mas sem fantasia nem mistério. A Doutrina Espírita é um farol que leva ao infinito a luz do conhecimento acerca do destino do homem na Terra e do Espírito no Além. Esse itinerário nos deixará um dia no porto da redenção espiritual, através dos esforços que realizarmos para conquistar, palmo a palmo, o terreno perdido em encarnações mal orientadas, e para expungir do nosso “eu” os vícios e defeitos que retardam a nossa evolução.

            Jesus deu o exemplo de irmos até ao sacrifício, se preciso, na defesa dos ideais de aperfeiçoamento moral, fazendo o bem, exercendo a tolerância e sem nos vingarmos daqueles que nos fazem mal. Só assim alcançaremos a melhoria e o fortalecimento da nossa condição cármica. Temos, pois, de persistir na luta para lhe seguir as pegadas gloriosas, sem lamúrias nem desesperos. É mister, contudo, distinguir o Espiritismo do “espiritismo”. Ninguém pode ser espírita à sua moda. Somente pode ser espírita quem conforma sua conduta pelas normas doutrinárias, procurando delas não se afastar, haja o que houver, reerguendo-se sempre que cair.

            Ser espírita é obedecer à Doutrina codificada por Allan Kardec, fugindo ao sectarismo, à intolerância e a tudo quanto desvirtue o conceito ético do Espiritismo. Ser espírita é manter-se fiel a essa Doutrina, mostrando-se absolutamente isento de influências de outras religiões incompatíveis com os princípios que adotamos. Ou somos peixe ou somos carne. Não podemos ser as duas coisas ao mesmo tempo. Devemos evitar a “miscigenação” que se vai insinuando em nosso meio, sem, entretanto, cairmos na ortodoxia, que é fonte geradora da intolerância. Assim, não teremos mais tarde que lamentar as consequências do descaso e só assim imporemos limites ao mistifório “doutrinário” que está aflorando em Centros mal dirigidos.

            No Espiritismo, o fundamental é sua Doutrina, porque somente através dela, e só com ela, será possível o progresso moral e espiritual do homem. Não interessa aparentar erudição, mas conhecimentos seguros da Doutrina e subordinação a seus princípios. O que interessa é doutrinar, educar, orientando, fazendo que retifiquem seus passos aqueles que se desencaminharam na vida terrena, para que experimentem o reconforto do coração esclarecido. O Espiritismo ensina ao homem o porquê da vida terrena, dos sofrimentos, das desigualdades sociais. Mostra a vida espiritual, feliz, não como um Paraíso destinado aos favorecidos pelo “pistolão” de credos supostamente privilegiados, mas como um direito que cada qual pode conquistar por seu próprio mérito. É um direito que se terá de adquirir pelo trabalho, nunca por dinheiro.

            Até hoje o Espiritismo tem sido coerente com os seus princípios fundamentais, não obstante o esgalhamento que se observa, alheio a essas normas indispensáveis e insubstituíveis. É preciso que continue coerente, embora os obstáculos sejam cada vez maiores, pois, à medida que se aproxima o advento do Terceiro Milênio, mais fundas e demoradas serão as dores do mundo. E os que não estiverem preparados para suportar o que ainda está por vir, demonstrando coragem e resignação valorosa, soçobrarão fatalmente no mar revolto dos entrechoques ideológicos e sociais.

            “O Livro dos Espíritos” contém os "Princípios da Doutrina Espírita.” Estudá-lo sempre e sempre, na ânsia louvável de assimilar-lhe os ensinamentos, é dever de cada um de nós. Só se define como espírita quem saiba exemplificar as normas doutrinárias, pautando suas ações terrenas, na vida íntima do lar e na vida fora do lar, pelas lições prodigiosas da Doutrina codificada por Allan Kardec.


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Leviana afirmativa

 


Leviana afirmativa

Percival Antunes (Indalício Mendes)   Reformador (FEB) Julho 1963

             Parece inacreditável, pelo absurdo contido na afirmativa sem dúvida alguma inverídica, que alguém ousasse dizer que os líderes espíritas pregam o ódio. Entretanto, isso tem sido dito pelo rádio com o evidente propósito de fazer crer, àqueles que desconhecem o verdadeiro ambiente kardequista, que a moral evangélica é para nós um mito. Ora, quem prega o ódio não é de modo algum espírita.

            A nossa religião é visceralmente democrática.

            Aceita qualquer pessoa, sem cogitar do seu passado, do seu presente, da sua nacionalidade, do seu idioma, da sua raça e da cor da sua pele ou se é física ou mentalmente perfeita ou imperfeita. A todos acolhe com o mesmo espirito fraterno, procurando atender a quantos a procuram, em busca de uma esperança ou atrás de um lenitivo. É uma religião universalista, se assim podemos dizer, que se preocupa exclusivamente com os problemas humanos em face do Espírito, mostrando ao homem os seus deveres morais e espirituais, as suas obrigações terrenas, os meios de alcançar o aprimoramento indispensável à sua ascensão na escala evolutiva.

            O Espiritismo não faz seleções, não envereda pelo tortuoso caminho das discriminações. Sua ação acolhedora se exerce principalmente sobre aqueles que se mostrem mais retardados na pauta da evolução moral. 0s sãos não precisam de assistência, mas os enfermos. É natural, portanto, que pessoas que vieram para a nossa religião, egressas de outros credos ou sem credo algum, ainda não tenham podido assimilar bem os ensinamentos do Espiritismo e, assim sendo, às vezes se manifestem descaridosamente a respeito de outras criaturas com as quais não tenham afinidade de nenhuma ordem superior.

            Todavia, a afirmativa de que são líderes espirituais que pregam o ódio é mais específica. Se há alguém que se rotule de líder e proceda assim, está “ab initio” provando que não é líder de coisa alguma. Ninguém que possua qualquer parcela de responsabilidade real, dentro do movimento espírita kardequista, será capaz de abrigar sentimentos tão rasteiros, que anulam a mais mínima presunção de respeito à Doutrina codificada por Allan Kardec. E quem o faça, não é espirita.

            É sempre perigosa, pelas injustiças que produz, a generalização de conceitos dessa natureza. Não desejamos remontar à origem de uma asserção tão leviana, mas apenas lamentar que se busque combater o Espiritismo e os espíritas com processos incompatíveis com os mais corriqueiros princípios da verdade. Já o iluminado Léon Denis, em “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, obra maravilhosa que ninguém deve deixar de reler, pontifica Somos o que pensamos, com a condição de pensarmos com força, vontade e persistência. Mas, quase sempre, nossos pensamentos passam constantemente de um a outro assunto. Pensamos raras vezes por nós mesmos, refletimos os mil pensamentos incoerentes do meio em que vivemos. Poucos homens sabem viver do próprio pensamento, beber nas fontes profundas, nesse grande reservatório da inspiração que cada um traz consigo, mas que a maior parte ignora. Primeiro que tudo, é preciso aprender a fiscalizar os pensamentos, a discipliná-los, a imprimir-lhes uma  direção determinada um fim nobre e digno.          

            “A fiscalização dos pensamentos implica a fiscalização dos atos, porque, se uns são bons, os outros sê-lo-ão igualmente, e todo o nosso procedimento achar-se-á regulado por uma concatenação harmônica. Ao passo que, se nossos atos são bons e nossos pensamentos maus, apenas haverá uma falsa aparência do bem e continuaremos a trazer em nós um foco malfazejo, cujas influências mais cedo ou mais tarde se derramarão fatalmente sobre nossa vida.”

            Pior ainda é o processo de alguém procurar valorizar suas próprias opiniões à custa de afirmações malevolentes e sem fundamento.

            Léon Denis pondera com segurança: “o homem só é grande, só tem valor, pelo seu pensamento.”


O "Dia do Papa"

 


O “Dia do Papa”

por I. Pequeno (A. Wantuil de Freitas)      

Reformador (FEB) Julho 1947

             S. Eminência o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro distribuiu por todos os nossos jornais as suas instruções referentes às celebrações do “Dia do Papa", marcado para o dia 29 de Junho, dia de S. Pedro. É natural, portanto, que a data correspondesse ao dia daquele de quem S. S. se diz sucessor; todavia, quando nos lembramos de que o Cristo logo após proferir aquelas palavras em que se basearam todos os papas, como justificativa dos seus direitos de herança, também nos vêm à memória aquelas que lhe saíram dos lábios, quase em seguida, quando se dirigiu ao Pedro que o negou mais tarde: - Afasta-te de mim, satanás! Nada temos, porém, com isso. Somos filhos do demônio, viciosos, hereges, salteadores e não sei mais o quê. Somos tudo isso e mais alguma coisa, tal como nos classificam; contudo, iremos fazer a vontade de sua eminência, transcrevendo de “O Globo”, de 26 de Junho, a letra b da sua circular à imprensa, auxiliando-o, portanto, colaborando em benefício da paupérrima arca do Vaticano, cuja “pobreza” foi exibida em nossos cinemas.

 

            b) - “coleta”, em todas as igrejas, capelas e Comunidades, não só à estação de todas as missas “como nos outros atos religiosos e reuniões” desse dia “integralmente” destinado ao óbolo de S. Pedro

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

No bem de todos

 

No bem de todos

Emmanuel por Chico Xavier    Reformador (FEB) Agosto 1963

             Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes, porque ele disse: "Não te deixarei, nem te desampararei.” – Paulo aos Hebreus 13:5.

             Encarna-se e reencarna-se o espírito na Terra, a fim de aperfeiçoar-se no rumo das Estâncias Superiores do Universo.

            Não te encarceres, assim, nos tormentos do supérfluo que a avareza retém, como sendo recurso indispensável à vida, na cegueira com que inventa fantasiosas necessidades.

            O dono do pomar não comerá dos frutos senão a quota compatível com os recursos do estômago.

            O atacadista de algodão vestirá uma camisa de cada vez.

            Entretanto, o cultivador e o negociante serão abençoados nos Céus se libertam os valores que administram, em louvor do trabalho que dignifica, da educação que eleva, da beneficência que restaura ou da fraternidade que sublima.

            Atendamos aos deveres que as circunstâncias nos atribuem, acalentando ideais de melhoria, mas aprendemos a contentar-nos com o que temos, sem ambicionar o que não possuímos, em matéria de aquisições passageiras, a fim de conquistarmos, sem atritos desnecessários, os talentos que nos faltam.

            Ainda não se viu homem no mundo, cercado de tesouros infrutíferos que se livrasse, tão somente por isso, das leis que regem o sofrimento e a enfermidade, a velhice e a morte.      Respeitemos os princípios divinos do bem para todos.

            Confiemos, trabalhando.

            Caminhemos, servindo.

            “Não te deixarei, nem te desampararei” – disse-nos o Senhor.

            Sim, o Senhor jamais nos deixará, nem nos desamparará, mas, se não queremos experiências dolorosas, espera naturalmente que não nos releguemos à ilusão, sem lhe desprezemos a companhia.


Diferença capital

                          

Diferença capital

Lincóia Araucano (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Dezembro 1963

             Temos lido e ouvido quantidade incalculável de ataques ao Espiritismo em artigos, livros, palestras, e notamos que todos condenam de preferência os fenômenos, deixando em silêncio quase total os ensinos decorrentes desses fenômenos. Esse silêncio equivale talvez a uma respeitosa aprovação da Doutrina Espírita. Combatem-se os correios que nos trazem a mensagem, mas não a mensagem mesma.

            Ora, o correio não tem importância, é apenas condutor da mensagem. Se a mensagem é respeitável e por isso tem sido respeitada, que importa saber se o correio é bonito ou feio?

            Como explicar-se essa anomalia?

            O combate contra o Cristianismo nascente era completamente outro; não se combatiam fenômenos, combatiam-se os ensinos, a Doutrina mesma trazida por Jesus de Nazaré e seus discípulos. Essa Doutrina nova vinha de encontro a toda a organização social do tempo, era uma revolução que ameaçava a ordem social. A sociedade era dividida em classes de senhores e de escravos. Estes eram privados de todos os direitos, só tinham deveres e os mais duros deveres. O Cristianismo proclamava a igualdade de todos os homens, ricos e pobres, escravos e senhores, cultos e ignorantes, homens e mulheres, todos eram tratados como irmãos, filhos do mesmo Pai.

            Os pregadores dessa nova moral eram perigosos revolucionários contra os detentores do poder político-religioso, e a reação era lógica e compreensível, como veio com toda a severidade. A crueldade da reação não venceu as ideias novas daqueles sublimes revolucionários que morriam sob tormentos, que eram lançados as feras no circo romano, sem renunciar à sua crença.

            Hoje a moral evangélica está teoricamente aceita e ninguém ousa levantar-se contra ela, e como os fenômenos espíritas a confirmam integralmente e a interpretam e a comentam com inteligência, justificando-a, poucos se atrevem a insurgir-se contra os ensinos dos Espíritos. Mas só teoricamente a moral cristã está aprovada; na prática vivemos divididos entre pobres e ricos, sábios e ignorantes, com muito dos costumes anteriores ao Cristianismo e muito pouca prática cristã.

            Temos rótulo cristão e vida pagã. É preciso pregar, ensinar de novo o Evangelho com explicações e exemplos de suas consequências. É isto que está fazendo o Espiritismo. O Espiritismo não aceita este estado de hipocrisia em que vivemos, dizendo-nos cristãos e praticando como pagãos. Como não se tem coragem de atacar a moral cristã, guarda-se parcial silêncio sobre os ensinos dos Espíritos e limita-se a atacar os fenômenos.

            A diferença capital é que os adversários do Cristianismo nascente não eram hipócritas: - batiam-se abertamente pela conservação de suas prerrogativas político-religiosas; mas os adversários do Espiritismo não ousam combater o Evangelho e tentam vencer a nova mensagem evangélica, denunciando os correios que no-la entregam.

            Terão força de vencer o Governador do Planeta? É evidente que não. Se a Doutrina do Evangelho não for posta em prática pacificamente pelo amor, sua falta ocasionará duras revoluções e a Humanidade progredirá pelo caminho das grandes dores, rumando de qualquer modo para O Evangelho. Apenas daremos uma grande volta pôr vias pedregosas, para irmos chegar ao alvo que nos foi traçado por Deus como nosso destino. A moral evangélica terá que ser posta em prática, por mais que o homem recalcitre contra o aguilhão do progresso moral.

            Os ataques ao Espiritismo revertem-se todos em sua defesa, pelo fato mesmo de silenciarem quanto aos belos ensinos evangélicos recebidos em grandiosos livros como “Parnaso de Além - Túmulo”, “Antologia dos Imortais”, “Paulo e Estêvão”, “Agenda Cristã”, “O Evangelho segundo Espiritismo”, e tantos outros.

            A literatura doutrinária cresce e eleva-se de nível dia a dia, e os adversários que se limitam a atacar fenômenos, sem coragem de dizer a verdade, de proclamar que defendem suas prerrogativas religiosas, políticas, econômicas, terão que desaparecer diante de tanta beleza.

            O Evangelho é invencível e mesmo os fenômenos negados terão que ser aceitos - como já vão sendo - pela repetição incessante e em formas sempre mais belas.

            Entre os negadores enfileiram-se alguns padres católicos que confirmam os fenômenos, mas os atribuem ao demônio. Então nos aparece Satanás transformado em anjo de luz, reverente diante de Jesus, ensinando-nos o Evangelho com todo o respeito e exemplificando sua imperiosa necessidade na vida. “Deus abençoe o Diabo” que nos ensina bela moral evangélica, como escreveu o Sr. Luís Rodríguez num belo livro com esse título.

            Repitamos: o Evangelho é invencível e por isso o Espiritismo é invencível.


domingo, 27 de dezembro de 2020

Hospitalidade

          

Hospitalidade

Emmanuel por Chico Xavier     Reformador (FEB) Janeiro 1967

            “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, 

por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos."

                                                          Paulo aos Hebreus 13:2.

 

            É provável que nem sempre disponhas dos recursos necessários à hospedagem de companheiros em casa.

            Obstáculos e vínculos domésticos, em muitas ocasiões, determinam impedimentos.

            Se a parentela ainda não se compraz contigo, na cultura da gentileza, não é justo violentes a harmonia do lar, estabelecendo discórdia, em nome do Evangelho que te recomenda servi-los.

            Nada razoável empilhar amigos em espaço irrisório, impondo-lhes constrangimentos, à conta de bem-querer.

            Todos nós, porém, conseguimos descerrar as portas da alma e oferecer acolhimento moral.

            Nem todos os desabrigados se classificam entre os que jornadeiam sem teto.

            Aqui e ali, surpreendemos os que vagueiam, deserdados de apoio e convivência...

            Observa e tê-los-ás no caminho, a te pedirem asilo no entendimento.

            Dá-lhes uma frase de coragem, um pensamento de paz, um gesto de amizade, um momento de atenção.

            Às vezes, aquele que hoje se reergue com a tua migalha de amor é quem te vai solucionar as necessidades de amanhã, num carro de bênçãos. Não te digas inútil, nem te afirmes incapaz.

            Ninguém existe que não possa auxiliar alguém, estendendo o agasalho da simpatia pelos fios do coração.

 


Conceito de liberdade

 

Conceito de Liberdade  

por Indalício Mendes    Reformador (FEB) Agosto 1963

             A maior aspiração do homem é a liberdade. Todos lutam por ela, todos se sacrificam até à morte, para alcançar o bem que é ser livre. Todavia, imprescindível se torna compreender que a liberdade é sempre relativa, sem o que não será útil. Quando transpõe o limite da relatividade, torna-se perniciosa e constitui perigo.

            A Natureza nos ensina não existir liberdade absoluta. A prudência, o senso de oportunidade, a luta pela sobrevivência, a educação e outras formas de preparação do homem para resistir à destruição que o cerca, constituem elementos probatórios da relatividade da liberdade.

            Atribui-se a Robespierre, aquele carniceiro da Revolução francesa, esta frase monumental: “0 direito de um indivíduo acaba onde começa o direito de outro.” Não nos parece muito viável que tão luminoso conceito haja saído de uma cerebração violenta e doentia como a de Robespierre. Contudo, aceitemo-la como assim fora. Naquela frase se comprime uma verdade extraordinária, que, obedecida, evitaria muitos dos males que afligem a vida humana.

            Tanto a liberdade é condicionada a diferentes conceitos coercitivos, que juridicamente se concedem e reconhecem direitos humanos que valem por uma carta de liberdade, mas ao mesmo se estabelecem deveres, que são formas restritivas dessa mesma liberdade. Ora, assim sendo, é fácil compreender o desarrazoado de certas afirmativas, que propugnam cada vez mais “direitos”, cada vez mais liberdade, como se cada um de nós pudesse fazer impunemente tudo quanto nos venha à cabeça, sem atentar para a coação que semelhante procedimento determinaria a outrem.

            Assim, reconhecemos e aceitamos a normalidade da liberdade condicional, da liberdade que possa ser exercida sem danos para quem quer que seja, tal como no-la ensina a Doutrina Espírita, que nos revela o poder controlador dessa liberdade, poder a que chamamos Lei de Causa e Efeito. Essa lei nos garante a liberdade a que temos direito, mas nos pune pelos excessos que pratiquemos quando supomos que somos exageradamente livres.

            A Lei da Reencarnação nos impõe o cumprimento dos deveres e obrigações - que contraímos quando ultrapassamos o limite da liberdade a que temos direito. Reencarnando, teremos o ensejo de amortizar débitos e reparar erros pretéritos de, enfim, resgatar a nossa legítima liberdade, comprometida pelos excessos que praticamos, invadindo o âmbito da liberdade alheia.

            Recebemos, de geração a geração, a herança dos postulados dogmáticos que em nada favorecem a compreensão que devemos ter da vida nem esclarecem a posição em que nos devemos colocar em face dela. Dizer-se, por exemplo, que “o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus”, parece-nos sacrílego. Primeiro, porque desconhecemos qual seja a imagem de Deus; segundo, porque lhe atribuímos uma forma antropomórfica, a fim de satisfazermos à nossa vaidade, ao orgulho de que sejamos algo de superior no reino animal. Admitamos que sim, mas não nos esqueçamos jamais das lições que recebemos dos nossos chamados “irmãos inferiores”... Eles têm sido até hoje vítimas da nossa “superioridade”. Não obstante termos sido feitos “à imagem e semelhança de Deus”, ainda não evoluímos o suficiente para deixarmos de matar esses “irmãos inferiores”, comendo-lhes as carnes e as vísceras, utilizando-lhes os ossos e o couro, os cascos e os cornos, etc. Em pleno século das luzes, somos de um primitivismo alarmante. Gozamos de volúpia, quando, para festejarmos uma data qualquer, nos reunimos em torno de uma mesa para atacar os despojos de perus, leitões, galinhas, cabritos, faisões ou coisa que os valha. Onde a nossa superioridade, se ainda nos fazemos prisioneiros da animalidade? Onde a nossa grandeza, se ainda nos comprazemos em devorar cadáveres de inocentes animais, dando a esses atos os mais originais requintes de voracidade?

            Por isso, continuamos a ver o Mundo estremecer entre dores e gritos, entre dúvidas e angústias. Não há tranquilidade, não há confiança, não há felicidade real. Tudo é aparência. Sobre a Humanidade inteira descem as nuvens negras do medo. Aqueles que, mais bem orientados, se abrigam em setores de espiritualização, que se iluminam com o Evangelho do Cristo ou tem como bússola uma Doutrina como a espírita, esses poderão suportar melhor as dores do mundo porque compreendem a origem dessas dores, pois sabem porque todos sofremos.

            Sofremos porque não somos livres. Onde há liberdade, não há dor. A dor é uma limitação da liberdade, mas uma limitação benéfica, por educativa. Ninguém pode ser livre sem ser bom, sem dar um pouco de si para o bem de seus semelhantes.

            A Doutrina Espírita ensina ao homem o caminho da liberdade. Todo aquele que se desvencilha dos maus hábitos e pensamentos, que combate o mal e realiza o bem, está no rumo de ser livre. Só o é quem consegue dominar as suas próprias deficiências e inferioridades, quem adquire a humildade esclarecida e renuncia aos orgulhos do mundo, vivendo acima dos preconceitos que ainda hoje contribuem poderosamente para tornar infeliz a Humanidade.

            Tudo que não conduz ao bem retarda a verdadeira liberdade humana. Toda religião só é boa quando assegura ao homem, ainda neste mundo, o bem moral de que ele necessita para enfrentar com coragem, resignação e eficiência o seu destino, entendendo-se por destino, nesta frase, as obrigações cármicas por ele contraídas, às quais terá que atender mais dia, menos dia.

            Portanto, se alguém pretender ser verdadeiramente livre, terá de começar desde agora a luta por essa liberdade. Não combatendo os seus semelhantes, mas combatendo a si mesmo, isto é, os seus pendores para o mal, ao mesmo tempo que estimulando a aspiração do bem-fazer. O livre-arbítrio não foi dado ao homem para que ele faça o que quiser, sem responder pelos erros cometidos. O livre-arbítrio constitui uma faculdade destinada a permitir ao homem o aprendizado da verdadeira ciência de viver.

           Ele aprenderá por si mesmo, de encarnação em encarnação, a regular o uso desse livre-arbítrio, até alcançar a sabedoria da vida.

            Lê-se em “O Livro dos Espíritos” (Lei de Liberdade) que “a liberdade de ação existe desde que a vontade aparece. Nos primeiros tempos da vida a liberdade é quase nula: desenvolve-se e muda de objetivo com as faculdades. A criança, tendo pensamento em relação às necessidades da sua idade, aplica o livre-arbítrio às coisas que lhe são necessárias”.

            Mas é o exercício do livre-arbítrio que educa a vontade, com o correr dos tempos, à custa de vicissitudes e desenganos. Ninguém nasce perfeito e nisso é que reside o valor do aprendizado que o Espírito vem fazer na Terra e em outros mundos-escolas. De qualquer forma, em conclusão, só é realmente livre quem é bom.