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sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Médium vigilante

 

                         

                                Médium Vigilante

                               por Indalício Mendes   Reformador (FEB) Dezembro 1963

                Uma das condições mais importantes para assegurar a normalidade do exercício mediúnico consiste na conservação da saúde. Qualquer médium, pelas responsabilidades que tem no campo mediúnico, não deve descurar-se da saúde. Ela é imprescindível ao seu trabalho. Sem ela, tornar-se-á inseguro, vacilante e sujeito a falhas que lhe serão prejudiciais em muitos aspectos.

                Tem-se dito que um médium enfermo não deve entregar-se ao exercício mediúnico. Aliás, em qualquer atividade, a pessoa enferma não se mostra apta a fazer o que faz quando se encontra bem de saúde. Portanto, nada de mais que o médium abstenha de qualquer esforço mediúnico quando suas condições de saúde não forem boas. Será um benefício para ele e para aqueles que recorrem à sua mediunidade.

                A mediunidade, entretanto, não afeta a saúde. O que pode afetá-la é o exercício exagerado, contínuo, dessa faculdade. Esclarecem e ensinam os Espíritos (ver “O Livro dos Médiuns” cap. XVIII): “O exercício muito prolongado de qualquer faculdade acarreta fadiga; a mediunidade está no mesmo caso, principalmente a que se aplica aos efeitos físicos; ela necessariamente ocasiona um dispêndio de fluido que traz a fadiga, mas se repara pelo repouso.”

                Assim como o estado físico, também o estado moral do médium pode aconselhar o não exercício da mediunidade ou, conforme o caso o exercício moderado. “Há pessoas relativamente às quais se devem evitar todas as causas de sobre excitação e o exercício da mediunidade é uma delas.

            Certa feita, uma médium do nosso conhecimento, acicatada por sérios problemas na esfera doméstica, foi tomada de uma apatia profunda. Ficou indiferente a questões que, em outra ocasião, lhe teriam suscitado providências enérgicas e salutares. Mostrava-se deprimida, acabrunhada, vencida e sem esperança. Todavia, esforçava-se por uma recuperação e buscava na prece a ajuda de que necessitava. Entretanto, o quadro permanecia negro. Talvez o seu estado mental, transtornado pelo nervosismo decorrente dos sérios problemas que enfrentava, não lhe permitisse orar com todo o empenho da alma. Foi aconselhada a não persistir, mas a renunciar provisoriamente a qualquer trabalho mediúnico, embora devesse socorrer-se da mediunidade alheia para reagir e sobrepujar a profunda astenia em que caíra.

            A sua tenacidade é digna de louvor. Jamais perdeu a. fé, ainda que, por vezes, titubeasse, revelando incerteza quanto ao desfecho da luta íntima que a afligia. Via em seu redor pessoas queridas da família submetidas a provações ásperas, tudo a um só tempo. Acabou por se sentir envolvida também pela onda de fluidos negativos. O seu mérito, contudo, estava e está no fato de jamais haver esquecido as lições recebidas através das obras espíritas, principalmente as de Kardec. Mesmo sentindo o peso de angústias terríveis, continuava a realizar tentativas de reerguimento. Está sendo feliz, porque já vai reconquistando o terreno perdido. A batalha tem sido árdua e os progressos lentos e difíceis. Mas progride. O essencial é que avance. Esse avanço é prova de que está vencendo a crise, e dia virá, muito próximo, em que o progresso será mais rápido. Uma vez que readquira a firmeza, não tardará a eliminar de vez os efeitos nocivos de influências espirituais depressivas.

            A luta do espírita que quiser manter-se fiel à Doutrina é permanente. Não há nenhum, por mais familiarizado que se encontre com os ensinamentos espíritas, que não experimente, às vezes, um deslize, não cometa um recuo, forçado pela sua própria condição humana, pelas contingências da vida material quando em antagonismo com as exigências espirituais. Espíritas infalíveis, não os conhecemos. Se os há, então já ultrapassaram o limite imposto pela condição humana e estão a caminho da “santificação”. Basta encarnar para ficar sujeito a fraquezas, maiores ou menores, consoante o grau de espiritualidade já alcançado.

            Não há vantagem que o homem recolhido ao convento, fora da vida profana, possa errar menos do que aquele que se acotovela diariamente com o mundo agitado e egoísta. Mais valor tem aquele que, enfrentando esse mundo, não se deixa corromper por ele, errando pouco do que os outros que, segregados dos perigos inerentes aos contatos com a Humanidade ainda não educada espiritualmente, são tidos e havidos como puros e irreprocháveis.

            O médium que zela por si mesmo, pela saúde física e moral, este, sim, estará desempenhando com acerto e segurança o papel importante que lhe foi confiado na vida. Seu dever não é evitar os perigos do mundo, mas enfrentá-los para alcançar mérito na luta, em sua defesa e na defesa daqueles que confiam na sua mediunidade. Esta é a atitude real do médium vigilante.


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