Em defesa da Doutrina dos Espíritos
Lúcio dos Anjos
Reformador
(FEB) Agosto 1955
"0 grande mal de todo aquele que
combate o Espiritismo é tentar fazê-lo sem o haver estudado ainda que
superficialmente. Daí a série de erros e equívocos em que caem, tal como
ocorreu com o nosso ilustre irmão, Sr. Antônio Basílio de Castro Júnior. Bem se
vê, por seus alvitres - pobres alvitres - que jamais se deu ao trabalho de compulsar
uma obra espirita. Disso temos certeza. Senão, vejamos:
Tem o nosso amigo a doutrina de Kardec como
"o lobo em pele de ovelhas", o que não passa de tolo engano. Não
encontrará, o nosso irmão uma obra espírita sequer da qual se possa depreender,
ainda que levemente, algum objetivo mau. Quais as vantagens de se esconderem os
espiritistas durante a vida toda por detrás da pele da ovelha? Quando, afinal,
demonstramos nossas más intenções? Sim, porque desde que AlIan Kardec coordenou
importantes mensagens mediúnicas, as lições que se têm publicado sobre o
Espiritismo são as mais puras e benéficas. O lobo, ao que parece, não se
revelou ainda e podemos garantir ao nosso amigo que não se revelará jamais.
A seguir, diz o ilustre leitor Antônio Basílio
de Castro Júnior que o Espiritismo é "intimamente anticristão, negando as
verdades mais importantes e vitais de nossa fé". Não é bem isto que se
passa, Procuramos demonstrar, é bem verdade, que a fé das criaturas em dogmas e
fórmulas religiosas incompatíveis com a razão, de nada podem valer aos olhos de
Deus, porquanto multas vezes exigem a aceitação cega e passiva de afirmativas
que não encontram apoio na lógica. Quanto à "nossa" característica de
"anticristãos", há injustiça e falsidade. Tome-se tudo que se tem
dito e escrito sobre o Espiritismo e se terá certeza de que ele surgiu para
cumprir
a
missão na qual outras religiões já fracassaram, como bem disse um grande
espiritista de nossos dias. Surgiu para restaurar o Cristianismo do Cristo,
para restabelecer a verdade deturpada pelos homens, explicar em espírito e
verdade a letra dos Evangelhos de Jesus-Cristo.
Alega o Sr. Antônio Basílio que são puro
engodo nossas pregações em torno do nome de Jesus, porque negamos a Sua
divindade. Nós, que propalamos os mais duros castigos aos Espíritos que
simplesmente falam em nome de um outro sem estarem autorizados para tanto como
poderíamos falar em nome do Salvador com objetivos impuros ou condenáveis? É
muita maldade de sua parte, Sr. Antônio Basílio. Esqueceu-se o senhor de que
falamos em nome de Jesus para chamar alguém ao caminho do bem; nunca, para
acirrar ânimos, benzer armas bélicas, prometer o paraíso, inocentar os
pecadores que porventura nos venham confessar seus erros... Relativamente à
divindade atribuída a Jesus, nós a negamos, sim, mas no sentido de que o
Messias seja o próprio Deus ou, por outra, no de que ambos sejam um Só. Podemos
dize-lo divino; mas pela Sua pureza, pela Sua elevação espiritual, pela Sua
sabedoria imensa, pela Sua força magnética suprema, pelo fato de nunca haver
falido na sua jornada espiritística até chegar onde se encontra - ao lado do
Criador. Negamos, todavia, seja Ele o próprio Criador. Deus é muito mais do que
tudo que se possa imaginar. Deus é o infinito e está acima de todos e de tudo,
tal como nos revelou o apóstolo Paulo, inspirado pelos Espíritos do Senhor:
"Não
há outro Deus senão um só. Um só Deus e pai de todos, que é sobre todos e por
todos e em todos. Tudo vem dele, tudo existe por ele, tudo está nele. O Rei dos
Reis, o Senhor dos senhores; o Deus de Nosso Senhor Jesus--Cristo."
Portanto, o Salvador também é criação de
Deus. Aliás, Jesus não foi capaz de negá-lo uma única vez durante a Sua
peregrinação pela Terra. Ao contrário, falou repetidas vezes em: "meu Pai que está nos Céus'; "o
reino de meu Pai", "Perdoai-lhes, Pai, não sabem o que fazem",
"recebe-me em Teu seio", etc ...
Mas, prossigamos em nossas explicações.
Não citamos trechos da Bíblia para enganar.
Não! Citamo-los porque sabemos que as Sagradas Escrituras são o verdadeiro
caminho para se chegar ao Pai. Apenas, ao citá-los, advertimos de que não basta
ouvi-los, ou interpretá-los, ou repeti-los, É necessário, antes de tudo, cumpri-los!
Esta é a missão do Espiritismo.
Fala o Sr. Antônio Basílio em "santos católicos",
ignorante de que os espiritistas aceitam também tais criaturas (que não são
exclusivas da Igreja está claro), porém, como sendo unicamente boníssimos Espíritos
de grande elevação, que peregrinaram pelo orbe terráqueo. Seus nomes, portanto,
podem perfeitamente identificar
um
Centro Espírita. Apenas não aceitamos - pelo absurdo que o fato encerra -
estarem esses santos no Céu, em carne e osso. Isso é ridículo. No mais, não
queremos com isso (dando aos Centros nomes de santos) atrair nenhum católico
incauto, pois está escrito que devemos apenas ensinar e pregar aos de
boa-vontade. Não é preocupação precípua do Espiritismo converter os católicos,
buscando-os à custa de engodos dentro das Igrejas. Não há necessidade disto,
pois muitos deles já nos buscam e frequentam nossos Centros...
A seguir, mente o Sr. Antônio Basílio,
quando diz que o Espiritismo faz guerra à Igreja. Pelo contrário: a Igreja é
que faz guerra ao Espiritismo. Quando o amigo viu a Federação Espírita
Brasileira condenando ao inferno ou excomungando os que não a vão procurar?
Onde leu alguma obra escrita com a única e exclusiva finalidade de combater a
Igreja? Em lugar nenhum, estamos certos; em época alguma. No entanto, quanto se
tem dito, escrito e pregado contra a doutrina dos Espíritos através de
folhetos, jornais, livros e conclaves católicos... Não obstante, para desespero
dos nossos acusadores, o Espiritismo medra cada novo dia, exatamente porque não
é uma religião, mas a Religião.
Não condenamos nenhum sacerdócio.
Procuramos esclarecer e guiar o mau homem, seja espiritista, católico ou
protestante, pois a maldade é apenas uma evidência de retardamento espiritual.
Finalmente, depois de tanto falar das
"mazelas" do Espiritismo, termina o nosso amigo fazendo-nos a mais
violenta das ameaças: somos hereges, excomungados e expulsos da comunhão dos fiéis.
Em outras, palavras: promete-nos o irmão o Inferno, o sofrimento eterno a tudo
o que de pior possa existir depois da morte da matéria.
Vejam
o contra senso! Promessas tão cruéis nos são feitas em nome de Deus que é
infinitamente bom, e nós é que somos maus quando falamos em nome do Cristo para
lembrar simplesmente que todos devemos fazer somente o bem, inclusive perdoar aos
nossos inimigos, ajudar os nossos vingadores, aliviar as dores dos nossos
algozes...
Quanta
carência de bom-senso religioso e filosófico! Pois nós, ao contrário,
asseguramos que todo católico, protestante, Islamita, ou seja de que seita for,
desde que pratique o bem e somente o bem, estará muito mais perto de Deus do
que aqueles que se dizem tanto e vivem tirando vinganças, amaldiçoando o
próximo, "excomungando" o irmão em carne, anatematizando os filhos e
a esposa."
(Ext.
do "Diário Carioca", de 1/6/53. Seção “A opinião do leitor".)