Moisés
por Carlos B. de Souza
Reformador (FEB) Outubro 1942
Sim,
Moisés, Elias e João Batista são, um só, o mesmo Espirito encarnado três vezes
em missão. Esse Espirito, quando foi Moisés, preparou a vinda do Cristo e a
anunciou veladamente: quando foi Elias deu grande brilho à tradição hebraica e
anunciou, nas suas profecias, que teria de ser o precursor do Cristo, quando
reencarnou em João Batista, filho de Zacarias e de Isabel, foi esse precursor. (Os 4 Evangelhos ou Revelação da Revelação – pág.
497 - Tomo II - 1942).
A história da
Terra, até onde puderam chegar as pacientes investigações dos historiadores, é
um verdadeiro amálgama de crimes e de tragédias hediondas, que ainda hoje fazem
tremer de horror os corações das almas já mais ou menos evoluídas, as mesmas,
certamente, que tomaram parte ativa e delituosa nessas infrações às leis
humanas e divinas, tomando-se como ponto de apoio, para semelhante assertiva, a
sábia lei das reencarnações ou vidas sucessivas.
Quem quer que se dê
ao trabalho de folhear a Bíblia Sagrada, contendo o Velho e o Novo Testamentos,
verificará, com profunda tristeza, que grande parte dos missionários do longínquo
passado incorreram em lamentáveis falências, a começar pela figura
inconfundível de Moisés ou Mosché, "o maior vulto do Antigo Testamento,
guerreiro, estadista, historiador, poeta, moralista e legislador dos
hebreus", segundo a opinião do Sr. Jaime de Séguier (Dicionário Prático
Ilustrado, pág. 1578).
Quando contava
quarenta anos, teve de fugir para o deserto, por haver assassinado um egípcio
que batera impiedosamente num judeu.
Foi a sua primeira
queda, a sua inicial falência, prova de que o seu Espírito já havia derramado o
sangue humano em suas existências anteriores, não estando ainda liberto dessa
tara moral.
Não obstante essa
falência, um dia, em pleno deserto, um Enviado de Deus (Espírito de Luz)
investiu Moisés (o "salvo das águas" do Nilo) da difícil e humanitária
missão de libertar o seu povo da negra escravidão do Egito, conduzindo-o à
Palestina.
Possuidor dos mais
raros e preciosos dotes mediúnicos, destacando-se os de efeitos físicos, dos
quais lançava mão, sabiamente, para infundir o pavor no ânimo dos implacáveis inimigos
da raça hebreia, pode enfim Moisés libertar o seu povo, caído na mais baixa prática
da idolatria. A viagem do povo hebreu através da aridez dos desertos, vencendo
mil obstáculos, inclusive a fome e a sede, só pode ser levada a bom termo,
graças aos poderosos dotes mediúnicos do libertador, que também contava, sem o
saber, com o auxílio de Espíritos, que do plano astral guiavam ao que na Terra
também servia de guia a uma raça bastante sofredora.
Tendo Moisés, no
alto do monte Sinai, onde passara quarenta dias, recebido por via mediúnica os
dez mandamentos da lei de Deus (o Decálogo), achou que era chegado o momento
oportuno de levar a nova lei ao conhecimento do seu povo, que lá em baixo, na
planície, livre da presença do seu guia, se entregara a lamentável ato de
idolatria, adorando um bezerro de ouro. Ora, o primeiro mandamento do Decálogo
condenava terminantemente semelhante prática, muito do agrado do povo egípcio.
Cheio de cólera,
vendo que, as suas ordens haviam sido infringidas, o que importava numa prova
de indisciplina, Moisés não transigiu com os infratores, ordenando que fossem
passados a fio de espada. Não podia ser outra, na época de atraso moral a que
nos estamos reportando, a atitude do futuro legislador do dente por dente e olho por olho, esquecido do quinto mandamento do
Decálogo, que ordena taxativamente: -
Não matarás!
Com essa ordem de
morticínio em massa, o grande médium caiu na sua segunda falência, muito pior
do que a primeira, quando ainda não havia sido bafejado com as luzes da mediunidade.
Pois, não é certo, como o fez sentir Jesus, que "pedir-se-á muito a quem
muito se houver dado"?
De grande
responsabilidade, portanto, foi a segunda falência moral do libertador da raça hebreia.
Caindo em cólera, como caiu, o Espírito de Moisés, médium que era, atraiu para
junto de si Espíritos vingativos e sanguinários e, debaixo dessa maléfica
influencia, faliu lamentavelmente às vistas do Divino Pai, que é todo Amor,
Clemencia e Perdão, justamente para com as criaturas mais taradas e atrasadas,
existentes à face da Terra.
Justificando a
nossa assertiva, transcrevemos as próprias palavras do Divino Mestre:
-"Meu Pai não quer a morte do pecador, mas que se arrependa e salve!"
A darmos crédito à
palavra dos historiadores, a figura gigantesca de Moisés terminou a sua missão
terrena no alto do monte Nebo, donde pode contemplar, de longe, como último
consolo, a terra exuberante de Canaã, que não logrou alcançar, graça que lhe
foi negada por ter duvidado da palavra do Senhor, que tão nababescamente o
cumulara dos mais raros e preciosos dotes mediúnicos.
Como o Espírito é o
único artífice da sua própria evolução moral, não sendo possível realizar, numa
só vida corporal, essa mesma evolução, o de Moisés teria fatalmente de voltar à
Terra para, reencarnado na pessoa do profeta Elias, desempenhar novas tarefas
em prol da humanidade de então.
Pará, agosto de 1942.