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domingo, 10 de dezembro de 2017

O Dogma Fluidificante


O dogma fluidificante
Nabor da Graça Leite
Reformador (FEB) Junho 1947

Sob este título, diligente confrade, possivelmente de São Paulo, teve a gentileza de remeter-nos um opúsculo de 11 páginas versando exclusivamente sobre o corpo fluídico de Jesus.

A preocupação máxima do autor é provar que Jesus não teria sido um Espírito em estado de materialização tangível, quando de sua estada na Terra, porém, um homem, em tudo igualzinho aos outros homens que, em virtude de sua imperfeição, têm necessidades, ainda, de revestir o espírito dum envoltório mais grosseiro.

Primeiramente devemos lamentar o fato de não vir esse trabalho assinado, e isso porque o nome da pessoa ou sociedade que o produziu, lhe daria um cunho de mais responsabilidade, ao passo que assim, no anonimato, ele apenas evidencia espírito confusionista, quando não demolidor de obra que não pertence aos homens, mas a Deus, e que, por isso mesmo, debalde aqueles a tentarão ferir.

Somos dos que jamais viram na chamada questão do corpo fluídico de Jesus motivo para enfraquecimento dos laços de fraternidade no seio dos adeptos da 3ª Revelação. E de fato não existe razão alguma que a justifique, uma vez que não há imposições doutrinárias que obriguem os espíritas a aceitar a obra de J. B. Roustaing, mas, como foi ela editada também no Brasil, há apenas a faculdade de todos os espíritas conhecerem-na para aceitarem-na ou não, usando, cada qual, do livre arbítrio e do direito de como recomendava Paulo, "examinar de tudo para só abraçar o que é bom".

Daí o reputarmos toda campanha que se move contra Roustaing e a Federação, obra de verdadeira incompreensão por parte dos que a realizam como que possuídos de um prazer doentio mas sem se aperceberem de que, ao contrário daquilo que supõem com relação aos feitos dos ensinos de Roustaing, eles é que se acham sob influências positivamente desagregadoras, dos inimigos da luz e da verdade. Senão, que pensar de conceitos como estes, encontrados no opúsculo em questão: "O que podemos dizer de Roustaing, patrono do Espírito das Trevas? Esplêndida mistificação para enganar os tolos espíritas, sem sólidos conhecimentos da doutrina. A fantástica obra de Roustaing está francamente em agonia, vivendo ainda somente pelo esforço da mentalidade escura do GRUPINHO DE FANÁTlCOS (sic) da Federação Espírita Brasileira..."

Que heresia e que injustiça! Não fora sermos estudiosos e interessados nos assuntos, práticos do Espiritismo, relacionados com a obsessão de Espíritos sobre criaturas mal avisadas ou descuidadas de seus deveres morais perante Deus, decerto não nos atreveríamos a transcrever esses conceitos por atentatórios ao mais comezinho espírito de gratidão que é sempre encontrado na criatura que está de posse de sua consciência...

E o Brasil inteiro é devedor à Federação Espírita Brasileira de imorredoura gratidão pelo muito que essa Instituição até hoje tem feito e continua a fazer pelo progresso do Espiritismo, não só em nossa Pátria como também no Continente americano e, quiçá, como já se vai evidenciando, no mundo todo!      

E pode-se, acaso, admitir uma obra de tamanha envergadura nas mãos de fanáticos?

Indiscutivelmente, não!

*

Meu irmão, autor do citado opúsculo:

Agradeço-te a remessa que me fizeste desse pequeno trabalho, que é grande, entretanto, pelo mal que poderá causar a ti mesmo e àqueles que não tiverem já o espírito sob a luz da verdade; retribuindo-o, escuta estas palavras amigas:

Não vejas nunca distinção alguma entre o espírita que aceita a Obra de Roustaing e o que ainda a não admite, mas procura saber antes se ele, como tu próprio, segue os ensinos do Evangelho de Jesus-Cristo. Isto é o essencial. Em primeiro lugar o amor e a caridade para com o semelhante. Se cada qual proceder assim, podes crer de que existirá fraternidade, nada importando que uns acreditem que Jesus foi um homem e outros não. De minha parte, digo-te que, não obstante minha crença sincera naquilo a que chamas "dogma fluidificante", nunca tive uma palavra de irreverência para os meus confrades que o não aceitam, nem isso me há impedido confraternizar com eles, como irmãos que todos somos, a caminho do progresso e da felicidade.

Faze o mesmo, meu amigo, e verás que os "casos" somos nós mesmos que os criamos, pela nossa grande intolerância e, pois, imperfeição.


(Extraído do jornal ‘União’, de Baurú.)

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