Pesquisar este blog

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A voz de Jesus



A voz de Jesus
Lino Carmo
Reformador (FEB) Novembro 1920

“Não vos admireis disso, porque vem o tempo em que todos aqueles que estão nos sepulcros ouvirão a voz do filho de Deus. (João, V, v. 28).

Assim falou Jesus aos Judeus que, hipocritamente submissos à letra da lei, contra ele se revoltavam e procuravam elimina-lo, por querer mostrar lhes que a lei é amor, que a que produz o ódio e exclui a caridade não é lei de Deus, que, em si mesmo, é amor, Não quiseram então muitos, a maioria dos que estavam nos sepulcros, ouvir a voz do filho de Deus. Mas este não falou apenas para aquele momento. Suas palavras foram ditas para todos os tempos que aos de então se seguiriam na vida em humanidade. Por isso é que, tendo a presciência do futuro, ele anunciou que tempo viria em que a sua voz seria ouvida por todos os que estivessem nos sepulcros.

Tudo demonstra que chegou esse tempo. Por toda parte, por todos os cantos do planeta, nos centros populosos e civilizados, como nos mais pequeninos lugarejos da terra, como pelo espaço inteiro que a circunda, a voz do filho de Deus ressoa pela boca de seus mensageiros e enviados, invisíveis c visíveis. Num comércio íntimo de pensamentos e sentimentos, a humanidade do aquém e a do além conjugam cada vez mais seus esforços, se fazem mais fortemente solidárias na procura do verdadeiro pão celestial, único que realmente mata a fome do espírito - a palavra de Jesus em espírito e verdade.

Que importa surjam os díscolos (insubordinados), outros fariseus ou os mesmos de outrora, hoje reencarnados, pretendendo abafar essa voz que reboa pela imensidade? O mesmo que conseguiram há dois mil anos – nada. O gênero humano se adiantou, progredindo os espíritos que o compõem na sua maioria. As inteligências se desenvolveram, tornando- se capazes de descortinar os destinos espirituais de todas as criaturas, de lhes conhecer a origem comum e a trajetória para a realização daqueles destinos. A razão humana, já em parte emancipada e tendendo, sob a ação da força incoercível do progresso espiritual, a se emancipar completamente, não mais poderá ser escravizada por crenças que só foram apropriadas à infância da humanidade, ou por dogmas de qualquer espécie ou procedência. Ela hoje atinge a virilidade e se liberta de todas as peias, para só se inclinar perante o tribunal de Deus, cuja sede está, em cada criatura, na sua consciência esclarecida pela razão, iluminada esta pela luz pura da verdade.

Chegaram, pois, os tempos preditos por Jesus. Largo rasgão se abriu no véu que tolhia a visão do homem. Por aí ele divisa jubiloso as claridades da nova fase que surge no evolver da sua vida infinita de ser, vê perto o cume que terá de galgar e sente que dessa altura contemplará esplendores novos da obra divina. Serão, portanto, inúteis todos os esforços que empreguem os que ainda se comprazem “na sombra da morte”, que é a obscuridade do erro, sob todos os aspectos que possa revestir, por conserva-lo imobilizado na charneca escura, que se lhe vai tornando sempre mais e mais intolerável.

É que os mortos, de fato, começam a ouvir a voz do Messias que o Pai lhes enviou. Que mortos? Os corpos enterrados nos cemitérios e algures? Não. Os mortos a quem Jesus se referia são os que se encontram nos sepulcros da carne, mortos pelas faltas, pelos crimes cometidos contra a lei divina, sofrendo a encarnação material para expiação e resgate desses crimes e faltas, depois do que ressurgirão, isto é, ganharão a vida livre e ditosa do espírito purificado, não mais submetido às reencarnações expiatórias. De um modo ainda mais geral, os que estão nos sepulcros são todos aqueles que se acham encarnados ou sujeitos a reencarnar, os quais todos são os mortos do passado.

Eis o de que cumpre se compenetrem os homens, para que a voz do divino pastor lhes chegue plenamente aos ouvidos, em ondas de celeste harmonia. Eis o que a palavra de seus mensageiros lhes veio ensinar, trazendo-lhes a revelação espírita. Eis o que importa lhes repitam e façam compreender os que no plano terreno se constituíram arautos dessa revelação, principalmente nesses dias de comemoração oficial, em que os verdadeiramente mortos se encaminham em multidões a visitar sepulcros, onde não se encontramos  os que eles choram, a fim de que, o mais cedo possível, como os das necrópoles, vazios fiquem todos os túmulos a que aludia Jesus, por haverem ressurgido para a vida eterna, pela observância da sua palavra, todos os que, à única morte real nos temos condenado divorciando-nos dessa palavra. 

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Da Cremação








                Tema recorrente, reapresentamos matérias colhidas ao longo dos anos em Reformador (FEB) para que possam ser avaliadas pelos leitores deste Blog.

Cremação de Cadáveres
Editorial do Reformador (publicado originalmente em 15 / 5/ 1883)
Reformador (FEB) Outubro 1968

      A cremação do cadáver humano é um dos problemas que atualmente ocupam a atenção de alguns espíritos investigadores.

      Esse problema tem sido tratado sob o ponto de vista científico e até hoje, em nome da ciência, os crematistas têm alcançado vitória, ao menos pelos autorizados defensores que já contam.

      Alguns defensores da cremação têm usado os seguintes argumentos:

      “É tempo de se tomar a sério a higiene pública e de atender, com vontade de bem servi-la, aos reclamos que a ciência de um lado, de outro a Pátria, dirigem às sumidades do poder.

      “Os argumentos apresentados pelos anticrematistas, em favor da continuação dos cemitérios, carece, de base científica, isto é, assentam na observação parcial e incompleta dos fatos.

      “Pasteur, não satisfeito com demonstrar que certas moléstias são só e exclusivamente devidas à vida que palpita e pulula nas mais ínfimas camadas da escala zoológica, foi além e provou que essas moléstias podem transmitir-se do morto ao vivo.

      “O cadáver colocado no subsolo derrama produtos de combustão incompleta, a decomposição se perverte em putrefação com todo o seu séquito abominável e perigosíssimo de gases mefíticos e de líquidos pestíferos.

     “Quanto mais úmido for o solo, tanto mais perniciosamente se manifestará a putrefação.

      “A porosidade, porém, nem sempre mantém o solo em boas condições para a decomposição, pode o terreno, com o tempo, saturar-se com os restos orgânicos e entregá-los, mal oxidados, à água e ao ar atmosférico em contato com ele, lançando assim o gérmen de envenenamento.

      Foi provado exuberantemente que o tifo e outras epidemias nasceram pelo uso de água impura e, entre nós mesmos, há bem pouco tempo, na epidemia que dizimou a população de Vassouras, a causa primordial devia-se ter procurado nas águas infectadas no seu percurso por terrenos pútridos.

            “O cadáver humano, com a sua massa considerável de substância orgânica mole, forçosamente tem de dar lugar a grandes fenômenos de putrefação. Esses serão tanto mais formidáveis quanto piores forem as condições do terreno no qual se fez o enterro.

            “Mas ainda que o solo fosse muito poroso, enxuto e por conseguinte, acessível ao ar, e, além disso, protegido contra os raios do Sol por abundante arborização e contra as inundações pela escolha de alguma eminência, nunca os cemitérios perderiam o seu caráter pernicioso, por não ser possível evitar neles a putrefação do cadáver.

     “E onde temos cemitérios que reúnam aquelas condições atenuantes, principalmente nas cidades populosas?

     “O valor dos terrenos obriga as administrações públicas a utilizar o mesmo lugar em enterros sucessivos, com intervalos insuficientes para a decomposição, saturando assim o solo de tal forma com substâncias mal oxidadas, que em poucos anos perde as condições necessárias para a decomposição.”

***

     Temos de acrescentar alguns argumentos sob outro ponto de vista em resposta a algumas objeções, a fim de arrancar os escrúpulos sistemáticos ou religiosos de alguns anticrematistas.

    A cremação do cadáver não deve ser combatida pelos que admitem o dogma: carnis resurrectionem, a pretexto desse dogma, porque é amesquinhar a fé pensar que o incinerado não poderá ressuscitar por ter sido queimado, em vez de ter sido inumado.

    O corpo sepultado sofre a mesma decomposição e volatiliza-se do mesmo modo que o incinerado, em tempo mais ou menos breve, e, se admitem que Deus quer ressuscitar os corpos inumados, porque duvidar que Ele possa querer ressuscitar os corpos incinerados?

     Não estão uns e outros na letra da escritura: Pulvis eris in pulverem reverteris?

     Logo a cremação não pode ser repelida, por escrúpulo religioso, como contrária ao dogma da ressurreição da carne.

     “Objetam alguns que é doloroso desaparecerem assim, repentinamente, as formas das pessoas queridas.”

     A estes dizemos, aceitando mesmo como sinceras as suas objeções, que mais doloroso e mais repugnante seria se vissem de que modo desaparecem essas formas veneradas, debaixo da terra, em meio aos horrores da putrefação.

     Como são minados esses lábios, esses olhos queridos, essas faces outrora tão aveludadas, pelos vermes imundos; como são intumescidas pela fermentação pútrida; como destilam venenos terríveis em troco da piedade que se lhes consagra.

     E se ao cabo de alguns anos vissem parte destes restos mal oxidados espalhados pelo solo calcados aos pés por trabalhadores insensibilizados pelo ofício, misturados com outros despojos, ainda poderiam erguer a voz para proclamar o enterramento como mais piedoso, mais estético do que a cremação?

      “Objetam outros que pode ser posta no forno crematório uma pessoa em letargia, com as aparências da morte.”

      A esses responderemos que aos especialistas compete verificar a morte; e que, nos casos de morte aparente, se o especialista se enganar, o letárgico irá para o forno e ali morrerá antes de voltar a si; que será melhor que ser inumado e voltar a si, dentro de um caixão, onde os seus gritos ficam abafados, sofrendo o martírio da morte por falta de respiração e a tortura pela fome.

     Demais, os crematistas não impedem que, nos casos em que se supunha morte aparente, fiquem os corpos em depósito por certo tempo até o começo da putrefação, se for necessário.

     “Objetam ainda outros que os cemitérios servem para manter o culto dos mortos, e que, sendo extintos, esse culto desaparecerá.”

     A esses explicaremos que os crematistas não pedem a extinção dos cemitérios, e, ao contrário, querem um, para nele se reunirem as urnas das famílias e de associações, nas quais se encerrem as cinzas dos parentes e associados, e, assim, o sentimento cultual será mantido e desenvolvido.

      Ainda aconselharíamos que as cinzas pudessem ser depositadas nos templos religiosos ou em suas casas, onde o culto seria mais fácil, mais íntimo, mais fervoroso e também mais solene.

      “A única objeção séria contra a cremação, diz o Dr. Colette, é a que se faz a perda da possibilidade das exumações e das investigações médico-legais que se praticam sobre os cadáveres algum tempo depois da morte, mas, acrescenta aquele douto médico, não valerá mais a saúde de populações inteiras do que a impunidade de algum criminoso?”

      E, ainda que esse fato se dê, o criminoso não ficará impune perante o tribunal infalível de sua consciência, que com os grilhões do remorso o torturará.

      A religião, que tem o dever de guiar o espírito da criatura, pelo caminho do bem, ao Criador, deve limitar-se a acompanhar a alma na fé em Deus, e, como religião da vida eterna, deixar o cadáver aos homens da ciência.

      Que a religião nada tem com o cadáver, nem deve intervir de modo algum, provam estas palavras do Divino Mestre: “Deixai que os mortos enterrem seus mortos.”
***
      Assim pensamos, e, expondo essas ideias, temos em vista despertar a atenção sobre esse problema, a fim de que a luz apareça assaz intensa para que ele tenha a solução mais conveniente, porque, como Espíritas Evolucionistas, temos certeza de que esta questão nada afeta a alma e, portanto, nada tem com a religião.

      A Ciência Espírita, que demonstra a necessidade da encarnação e do prolongamento das existências terrestres a fim de nos podermos regenerar e progredir, expiando os nossos erros, será a primeira a querer a cremação, se se provar exuberantemente que ela é necessária a bem da higiene pública e, se essa prova for dada, acreditamos que a Igreja não negará o seu concurso ao estabelecimento da cremação geral, porque, no caso contrário, poderia ser acusada de cúmplice no crime de suicídio público.

            Porém, desde já deve estabelecer-se no Brasil a cremação facultativa, porque esse é um dos direitos da LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA.

Cremação de Cadáveres
Gilberto Perez Cardoso
Reformador (FEB) pág. 33 Maio 1979

      Assunto polêmico, tendo despertado recentemente a atenção de observadores, é o da cremação de corpos. Embora já abordado, por diversas vezes, em revistas espíritas, trazendo inclusive opiniões de Espíritos desencarnados, parece-nos que comporta mais acurado estudo com vistas à rememoração por parte do leitor e a uma síntese do conhecimento acumulado sobre o assunto.

      Antes, porém, de reestudá-lo mais diretamente, seria interessante observarmos aspectos relativos à desencarnação, o que nos permitirá, posteriormente, concluir a respeito da cremação.

      O decesso, em si, é bastante complexo. Na atualidade, a compreensão que dele temos, através de obras mediúnicas, é sobremodo resumido, mas ainda assim nos permite depreender que difere consideravelmente de ser para ser. Parece não haver um processo desencarnatório idêntico a outro, assim como não há duas criaturas absolutamente iguais entre si. Cada uma é um ‘mundo’ próprio, com emoções e pensamentos próprios, que naturalmente a individualizam. Dessa forma, o desenlace - que dependerá fundamentalmente do estágio evolutivo do Espírito desencarnante, isto é, dos seus anseios, ideias e sentimentos, do acervo de experiências conquistadas em vivências pregressas e da maneira como se conduziu na última romagem terrena - variará sensivelmente de indivíduo para indivíduo.

     “O Livro dos Espíritos” elucida suficientemente bem a questão no capítulo III - Da volta do espírito, extinta a vida corpórea, à vida espiritual -, nas respostas dadas às perguntas nº 155 a), 156, 157, 158, 162 e respectivos comentários aduzidos pelo Codificador da Doutrina Espírita. Na realidade, a alma se desprende do corpo gradualmente e não subitamente, sendo que o tempo de separação varia: rápido nos Espíritos que foram desprendidos e benfazejos em vida, cultivando hábitos enobrecedores; demorado, naqueles que se deixaram obcecar pelas materialidades, interesses subalternos e utilitaristas do mundo, com pouco ou quase nenhum desenvolvimento de atividade moral e intelectual, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida, mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. Mesmo em casos de morte violenta, quando a morte não resulta da extinção gradual das forças vitais’, e o desencarnado não se burilou, deslocando o centro de consciência, ‘mais tenazes são os laços que prendem o corpo ao perispírito e, portanto, mais lento o desprendimento completo’.

      André Luiz, em “Evolução em Dois Mundos”, faz um estudo bastante interessante do fenômeno desencarnatório. Compara-o à chamada metamorfose dos insetos, quando a larva experimenta períodos de transformação, em cada um dos quais se renova para atingir a condição de adulto. O ciclo larva-ninfa-inseto adulto é bem estudado pelos entomologistas. Segundo estes, inicialmente ocorre progressiva redução de atividade, cessando a alimentação e ocorrendo a paralisação dos movimentos; ‘encrisalida-se’ em fios de seda trabalhados pela lagarta com a secreção das glândulas salivares, agregados a tecidos vegetais, formando o casulo onde repousa por dias ou até por meses. Na posição de pupa, há essencial alteração em seu organismo, produzida por uma como que histólise (dissolução de tecidos), ao mesmo tempo em que órgãos novos são elaborados pela histogênese (formação de tecidos, à custa dos que perdurarem). A histólise efetua-se por ação de enzimas ou fermentos em tecidos menos nobres, como os do aparelho digestivo e músculos, ocorrendo reduzida atuação nos sistemas circulatório e nervoso. Durante a histogênese, os remanescentes dos tecidos desfeitos pela histólise perdem suas características próprias, como se involuíssem, sendo então utilizados para a configuração dos novos órgãos típicos. Após a metamorfose, só então é que o inseto, integralmente renovado, abandona o casulo, transformando-se na borboleta alada e multicor - o mesmo indivíduo, só que somando em si as experiências dos três aspectos fundamentais de sua existência: larva-ninfa-inseto adulto.
          
    De forma semelhante, o ser humano, depois do período infantil, atravessa expressivas etapas de renovação interior e maturação, configuradas na juventude, adultície, madureza e velhice. Somente após o esgotamento da força vital no curso da existência, obedecendo a programação pré-encarnatória, através da senectude, caquexia, é que se habilita a transformações mais profundas: ocorre redução gradativa da atividade; declinam as atividades fisiológicas e instala-se a inércia; protege-se habitualmente, desde então, adotando o decúbito dorsal no leito, em preparação do processo liberatório. Chega o momento da imobilidade na cadaverização, mumificando-se qual crisálida, mas ‘envolvendo-se no imo do ser com os fios dos próprios pensamentos, conservando-se nesse casulo de forças mentais, tecido com as suas próprias ideias reflexas dominantes ou secreções de sua própria mente, durante um período que pode variar entre minutos, horas, dias, meses ou decênios.’ (os últimos grifos são nossos.)

      A observação de André Luiz sobre o tempo necessário para a elaboração desse processo é de suma importância em relação ao que nos propomos apreciar posteriormente. O fenômeno descrito - o da cadaverização da forma somática -, presidido pelo corpo espiritual, corresponde a uma histólise de células vivas, desagregados do citoplasma e que se mantinham, até então, ligados ao corpo físico, são aproveitados num processo que o próprio André Luiz, alegando falta de termo adequado, nomeou de ‘histogênese espiritual’. À semelhança do que ocorre no inseto, as enzimas atuantes na histólise humana têm por alvo os tecidos menos nobres, com escassa influência sobre os sistemas nervoso e circulatório. Pela ‘histogênese espiritual’, os tecidos citoplasmáticos, desvencilhados do corpo físico, como que atendendo a processo involutivo, retornam ao tipo de células embrionárias, que, dividindo-se agora em outra faixa vibratória, plasmam o psicossoma, segundo o padrão ditado pela mente. Ressalta André Luiz que: “Apenas aí, quando os acontecimentos da morte se realizam, é que a criatura humana desencarnada, plenamente renovada em si mesma, abandona o veículo carnal a que se jungia (...); quando não trabalhou para renovar-se, nos recessos do espírito, passa a revelar-se em novo peso específico, segundo a densidade da vida mental em que se gradua, dispondo de novos elementos com que atender à própria alimentação, equivalentes as trompas fluídico-magnéticas da sucção (...), patentes nas criaturas encarnadas, a se lhes expressarem na aura comum, como radículas alongadas de essência dinâmica, exteriorizando-lhes as radiações específicas, trompas ou  antenas essas pelas quais assimilamos ou repelimos as emanações das coisas e dos seres que nos cercam, tanto quanto as irradiações de nós mesmos, uns para com os outros.” Consequentemente, através da compreensão do complexo mecanismo da desencarnação, poderemos analisar em seguida o problema da cremação dos corpos.

     Não nos prenderemos, aqui, demasiadamente aos argumentos de ordem utilitária, que, se por um lado possam pesar um pouco na balança, a nosso ver cedem a prioridade aos de ordem espiritual.

     Sem dúvida que a cremação seria uma medida mais higiênica; resolveria o problema da falta de espaço nos centros superpovoados; diminuiria o risco de epidemias; seria um processo mais econômico; realizada após a autópsia, com fins médico-legais, evitaria o contra-argumento da possibilidade da necessidade de exumação cadavérica, transcorrido algum tempo da desencarnação.

      Por outro lado, o nosso país tem grande extensão territorial, o que não acarretaria problemas de espaço, tão alegados. Hoje, sabemos que, embora os agentes infecciosos tenham papel incisivo na instalação de uma doença, a resistência à mesma será muito mais consequência da saúde do indivíduo, obtida através de bons hábitos, boa alimentação; e se áreas com escoamento e higiene adequados fossem reservadas aos cemitérios, a questão estaria resolvida. Como podemos ver, a nível humano, várias possibilidades e argumentos são plausíveis e aceitáveis.

     Sob o ponto de vista espiritual, o assunto foi ventilado na “Revue Spirite”:

            1876/4 (pp. 130/134);
            1884/9 (pp. 576/579);
            1890/2 (pp. 72/75). Sob outros ângulos, pronunciou-se também em...

            1877 (p. 117);
            1879 (págs. 261/262 e 331/332);
            1886 (p. 694).

    O Irmão X, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, manifesta-se em mensagem contida no ‘Reformador’ - ‘O Problema da Cremação’, 1952 (p. 199). Aliás, ‘Reformador’, em várias oportunidades, evidenciou o assunto:

            setembro 1952 (pp. 201 e 205);
            novembro 1952 (p. 269);
            outubro 1963 (p. 224);
            setembro 1968 (p. 216);
            outubro 1968 (pp. 231 e 232.)

     Destacaremos, em resumo, as opiniões de Irmão X, Léon Denis e Emmanuel.

     O Irmão X nos adverte de que a atitude crematória é um tanto precipitada podendo vir a ter consequências desagradáveis para o espírito desencarnante:

     “... morrer não é libertar-se facilmente. Para quem varou a existência na Terra entre abstinências e sacrifícios, a arte de dizer adeus é alguma coisa da felicidade ansiosamente saboreada pelo Espírito, mas para o comum dos mortais, afeitos aos comes e bebes de cada dia, para os senhores da posse física, para os campeões do conforto material e para os exemplares felizes do prazer humano, na mocidade ou na madureza, a cadaverização não é serviço de algumas horas. Demanda tempo, esforço, auxílio e boa-vontade. Eis por que, se pudéssemos, pediríamos tempo para os mortos. Se a lei divina fornece um prazo de nove meses para que a alma possa nascer ou renascer no mundo com a dignidade necessária, e se a legislação humana já favorece os empregados com o benefício do aviso prévio, por que razão o morto deve ser reduzido a cinza com a carne ainda quente?”

       Léon Denis, na obra “O Problema do ser, do Destino e da Dor”, 10ª Edição da FEB, p. 135, comenta que, ao consultar os Espíritos sobre a cremação de corpos, concluiu que,

      “em tese geral, a cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento, doloroso mesmo para a alma apegada à Terra por seus hábitos, gostos e paixões. É necessário certo arrebatamento psíquico, certo desapego antecipado dos laços materiais, para sofrer sem dilaceração a operação crematória. É o que se dá com a maior parte dos orientais, entre os quais está em uso a cremação. Em nossos países do Ocidente, em que o homem psíquico está pouco desenvolvido, pouco preparado para a morte, a inumação deve ser preferida, posto que, por vezes, dê origem a erros deploráveis, por exemplo, o enterramento de pessoas em estado de letargia. Deve ser preferida, por que permite aos indivíduos apegados à matéria que o Espírito lhes saia lenta e gradualmente do corpo; mas, precisa ser rodeada de grandes precauções. As inumações são, entre nós, feitas com muita precipitação”.

    Emmanuel, em “O Consolador”, questão nº 151, opina:

    “Na cremação, faz-se mister exercer a piedade com os cadáveres, procrastinando por mais horas o ato de destruição das vísceras materiais, pois, de certo modo, existem sempre ecos de sensibilidade entre o Espírito desencarnado e o corpo onde se extinguiu o ‘tônus vital’, nas primárias horas sequentes ao desenlace, em vista dos fluidos orgânicos que ainda solicitam a alma para as sensações da existência material”.

     Salientamos as últimas opiniões que exemplificam e analisam as consequências da cremação precipitada. Acreditamos que devamos agir perante o problema utilizando os conhecimentos de que dispomos, levando em consideração os sábios conselhos expressos e, principalmente, atuando com bom senso e prudência, a fim de que não causemos sofrimento a outrem, nem aumentemos o fardo cármico que carregamos.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

O suicídio de Judas



O Suicídio de Judas

27,1  E, chegando a manhã,  os sacerdotes e os anciãos  reuniram-se em conselho para entregar Jesus à morte.                 
27,2  Amarraram-No  e  levaram-No  ao governador Pilatos. 
27,3  Judas, o traidor, vendo-O  então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos sacerdotes e aos anciãos as 30 moedas de prata 
27,4  e disse: - Pequei, traindo o sangue de um inocente. Eles, porém, responderam: -Que nos importa? Isto é contigo! 
27,5  Ele jogou no templo as moedas de pedra, saiu, e  enforcou-se.  
27,6  Os sacerdotes recolheram o dinheiro e disseram: Não é permitido lançá-lo no tesouro do templo porque se trata de preço de sangue; 
27,7  Assim, resolveram comprar, com aquela soma, o campo do oleiro, para que ali se fizesse um cemitério de estrangeiros. 
27,8  Esta é a razão porque aquele  terreno  é  chamado,  ainda  hoje,  de “campo de sangue” 
27,9  Desta forma cumpriu-se  a  profecia  do profeta  Jeremias:
 “Eles receberam 30 moedas de prata, preço Daquele cujo montante foi estipulado pelos filhos de Israel ** 
27,10  E, deram-No pelo campo do oleiro, como o Senhor me havia prescrito.”


         Para  Mt (27,11-26) -O Olhar de Jesus... - leiamos Luiz Sérgio por Irene Pacheco Machado, em “Dois Mundos Tão Meus”:

            “No palco víamos a figura de Judas Iscariotis.

            Pouco antes da Páscoa, ele renovara seu trato com os sacerdotes para entregar Jesus. Judas renovara seu trato com os sacerdotes para entregar Jesus. Judas possuía muito amor ao dinheiro. O amor a Mamon sobrepujava o amor a Cristo.

             Judas era altamente considerado pelos discípulos e exercia sobre eles grande influência. Considerava-os, porém, inferiores a ele. Excessivamente vaidoso, julgava-se o salvador da obra do Cristo e foi assim que se tornou presa fácil dos sacerdotes.

            A alta figura de Judas apresentava-se com o rosto pálido e transtornado, coberto de suor. Aproximando-se do trono do juízo, atirou perante o sumo sacerdote as moedas de prata, preço de sua traição. Agarrando-se às vestes de Caifás, implorou-lhe que soltasse Jesus, dizendo que Ele nada fizera de mal.

            Vimos Judas gritando: Pequei, traindo sangue inocente e os sacerdotes responderam: Que nos importa?  Depois, Judas foi lançar-se aos pés do Mestre, suplicando que livrasse a Si mesmo.

            Jesus depositou em Judas o mais belo olhar que a Terra já contemplou: o olhar do perdão.
            Assistindo no teatro vivo a esta cena, comovi-me por demais.

            Era o Rei, o Cristo de Deus, perdoando. Só neste momento compreendi o que vem a ser o perdão, pois somente as grandes almas tem força para perdoar. Jesus fitara Judas com intensa piedade.

            Judas sofria demais e o Mestre o perdoou. Ao gritar: Pequei, traindo o sangue inocente e ouvir o sumo sacerdote, duro, implacável, responder:    Que nos importa?      Isso é lá contigo ...(Mt 27,4), Judas compreendeu que suas súplicas não seriam ouvidas.

            Deixou no chão as moedas que recebera pela traição e saiu da sala desesperado. Sentia o peso de sua insensatez e saiu da sala desesperado. Sentia o peso de sua insensatez e que não teria forças para ver Jesus torturado e crucificado.

             Logo depois, todos os que passaram por certo local retirado viram, ao pé de uma árvore, o corpo sem vida de Judas.

             Os cães já o devoravam... ”

         Para Mt ( 27,4), -Que nos importa?  Isso é contigo...-  encontramos em “Pão Nosso” (Ed. FEB), de Emmanuel por Chico Xavier,  trecho que nos orienta sobre essa passagem:

            “A palavra da maldade humana é sempre cruel para quantos lhe ouvem as criminosas insinuações.  O caso de Judas demonstra a irresponsabilidade e a perversidade de quantos cooperam na execução dos grandes delitos.

            O espírito imprevidente, se considera os alvitres malévolos, em breve tempo se capacita da solidão em que se encontra nos círculos das conseqüências desastrosas.

            Quem age corretamente encontrará, nos felizes resultados de suas iniciativas, aluviões de companheiros que lhe desejam partilhar as vitórias; entretanto, muito raramente sentirá a presença de alguém que lhe comungue as aflições nos dias da derrota temporária.

            Semelhante realidade induz a criatura à precaução mais insistente.

            A experiência amarga de Judas repete-se com a maioria dos homens, todos os dias, embora em outros setores.

            Há quem ouça delituosas insinuações da malícia ou da indisciplina, no que concerne à tranqüilidade interior, às questões de família e ao trabalho comum.

            Por vezes, o homem respira a paz, desenvolvendo as tarefas que lhe são necessárias; todavia., é alcançado pelo conselho da inveja ou da desesperação e perturba-se com falsas perspectivas, penetrando, inadvertidamente, em labirintos escuros e ingratos.

            Quando reconhece o equívoco do cérebro ou do coração, volta-se, ansioso, para os conselheiros da véspera, mas o mundo inferior, refazendo a observação a Judas, exclama em zombaria - “Que nos importa? Isso é contigo...”.”


            Em ‘Revelação dos Papas’ (UES-1936) lemos a psicografia de um espírito que entitulou-se Judas ratificando nosso caminho perene para o amor e a caridade, apesar dos nossos muitos esforços em contrário:

            “Judas, meus bons amigos, volta hoje ao Mundo para declarar perante os homens as verdades que lhe foram inspiradas por Nosso Senhor Jesus Cristo - o grande e amado Mestre - a quem, num momento de cegueira, de trevas e extrema fraqueza traiu, vendendo-o aos inimigos.

            Jesus, meus bons amigos, o Messias, aquele que foi enviado por Deus para salvar o Mundo onde viveis hoje, já perdoou a Judas Iscariote a sua fraqueza e cegueira. Deus, em sua misericórdia infinita, concedeu, pela boca de Seu filho amado, o perdão àquele que foi outrora infiel, traidor, perjuro, falso e criminoso discípulo do Messias, que jamais deixou de lamentar e compadecer-se da fraqueza e miséria do seu discípulo.

            Venho, meus bons amigos, em nome do meu querido Mestre - o Salvador do mundo - dizer-vos alguma coisa que vos interessa.

            Compareço a vossa presença, a fim de restabelecer a verdade desvirtuada, falseada pelos homens interessados em se conservarem no caminho do erro e da mentira.

            Estou diante de vós, meus bons amigos, para me confessar agradecido pelas grandes e imensas provas de amor que me foram dispensadas por Deus e por Nosso Senhor Jesus Cristo.

            Apareço aqui, perante vós, meus companheiros e amados irmãos, para penitenciar-me dos erros que pratiquei e, ao mesmo tempo, entoar hinos à Infinita sabedoria e à pureza imaculada desse Mestre admirável, à incomparável bondade desse coração todo feito de doçuras e de amor!

            Venho cantar hosanas à sublime misericórdia do Criador e erguer uma prece, na qual todos vós deveis acompanhar-me, pois, nesta oração subiremos até junto do Pai Celestial e de Jesus, que, nesta hora, estendem as vistas misericordiosas sobre este planeta atrasado, mundo de expiações e sofrimentos, de lágrimas e de dores.

            Dizei comigo, meus queridos irmãos,

            Jesus, nosso salvador, filho de Deus e luz sublime que clareia o nosso caminho, que nos guia na Terra e na eternidade! Senhor! aqui estão os Teus filhos, tendo à frente aquele que no mundo errou profundamente, o maior de todos os criminosos que pisaram a superfície deste planeta; aqui estamos todos nós, Senhor! tendo à nossa frente o mais pérfido e infiel de Teus discípulos; aqui nos achamos todos nós, junto do mais fraco e criminoso dos Teus filhos -Judas Iscariote!

            Nós, Senhor, somos também fracos, praticamos grandes erros, pesam sobre nós imensas culpas, grandes pecados nos obrigam a curvar a fronte diante de ti, Senhor! Temos, Jesus, a nossa alma coberta de chagas, o nosso coração envenenado pelos mais impuros sentimentos que nele temos alimentado; sentimos o nosso espírito combalido ao rever o nosso passado espiritual, cheio de crimes e faltas graves; somos, Senhor, ainda escravos da matéria, sentindo as entranhas devoradas pelos desejos pecaminosos, a alma presa, agrilhoada à matéria que a retém na superfície da Terra, de onde não poderá desprender-se para as luminosas regiões, sem primeiro expurgar-se das impurezas e das máculas que os pecados deixaram sobre ela e onde os vícios produziram sulcos profundos, as misérias da carne lançaram vestígios que dificilmente se apagarão!

            Temos, Bom Jesus, as mãos tintas do sangue dos nossos irmãos, os pés cheios de lama pútrida dos antros e dos monturos por onde caminhamos durante longo tempo; conservamos também nas mãos o azinhavre da moeda a troco da qual vendemos a nossa consciência, atraiçoamos os nossos irmãos; guardamos ainda nos lábios os sinais das nossas abjeções, da impureza das paixões que alimentamos em nossos corações; trazemos estampados na fronte os estigmas das nossas baixezas, das podridões, misérias e devassidões a que nos entregamos na vida, conservamos nos olhos os traços das nossas crueldades, o brilho das volúpias e prazeres que durante esta existência terrena temos desfrutado.

            O nosso corpo, Senhor, é o livro onde se acha escrita a história dos nossas abusos e da s nossas transgressões, a nossa lama, Jesus, é o espelho onde neste instante se refletem todos os nossos atentados às leis de Deus, todas as violações do Seu Evangelho; a nossa consciência é, nessa hora, sudário onde se acha estampada a tua efígie, mas tão apagada que dificilmente a reconhecemos.

            Senhor! Senhor! Querido e adorado Mestre! Todos os nossos pecados aqui se acham gravados no nosso espírito; todas as nossas culpas aqui estão desenhadas na nossa consciência, que nos acusa diante de ti e de teu Pai!  

            São grandes as nossas faltas, imensos os nossos pecados, infinitos os nossos erros, mas na tua bondade há sempre lugar para todos os perdões; em tua alma existem grandes reservas de misericórdia e tolerância; no teu incomensurável coração há um transbordamento constante de piedade e de amor para os que sofrem, que gemem e choram, os fracos, os infelizes e os pecadores, como nós!

            Recebe, portanto, bom Jesus, esta prece que te oferecemos e que é pronunciada pelos lábios mais impuros que já existiram sobre a Terra, ditada pela consciência mais sombria que palpitou neste planeta; prece nascida da alma mais culpada que este mundo conheceu até hoje, o espírito mais fraco e criminoso dos que se têm encarnado na Terra.

            Aceita, Senhor, bom Jesus, a prece que Judas, o traidor de ontem, o falso e o pérfido de outros tempos nos faz recitar neste momento, na tua presença, para que possamos, como ele, alcançar o nosso perdão, merecer da tua bondade a graça de recebermos do teu Pai a mesma luz e a mesma paz que Ele concedeu ao mais cruel, ao mais criminoso e infame dos Seus filhos!

            Ouve Jesus, a nossa prece e dá-nos o que deste a Judas pelo mal que ele te fez, pela traição que praticou contra a tua pessoas divina, pelo ultraje que infligiu a ti, no momento mais doloroso da tua vida de Missionário, de Redentor, de Salvador do Mundo e Filho de Deus!

            Tu, que tiveste em tua alma a grandeza, a doçura e o amor para perdoar a esse falso e perjuro discípulo, Senhor, perdoa-nos também a   nós, cujos erros, cujas faltas, crimes e pecados estão muito distantes do crime e do pecado daquele que se acha à nossa frente, nesta hora de luto e de dor, para render graças à infinita misericórdia de Deus e ao imenso e inesgotável manancial de doçura, carinhos, afetos, pureza e imenso amor - o Coração de Jesus!  

            Perdoa-nos, Senhor! Salve-nos Jesus! como salvaste Judas!”

            Eu direi também:

            “Meu Jesus! meu Salvador! se mereci o teu perdão e a tua misericórdia, os meus irmãos podem também merece-los, pois, diante de Judas, a humanidade inteira, com todos os seus crimes, os seus pecados e as suas misérias, é santa, inocente como a mais inocente das criancinhas que brincam na superfície da Terra!

            Perdoa, portanto, Senhor, à humanidade como perdoaste ao maior dos traidores!”

                                                   Judas Iscariote
                                                                           (2 de Setembro de 1916)
                                                
                                                                                       
                 
                                                              
                  


domingo, 27 de outubro de 2019

A mulher adúltera


A Mulher Adúltera                          

8,1 Dirigiu-se Jesus para o Monte das Oliveiras. 
8,2 Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a Ele. Assentou-Se e começou a ensinar; 
8,3 Os escribas e os fariseus trouxeram-Lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. 
8,4  Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: -Mestre, agora mesmo essa mulher foi apanhada em adultério; 
8,5 Moisés mandou-nos, na lei, que apedrejássemos tais mulheres. Tu  pois, que dizes? 8,6 Perguntavam-Lhe isso, a fim de pô-Lo à prova e poderem acusá-Lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra... 
8,7  Como eles insistissem, ergueu-Se e disse-lhes:“ -Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.” 
8,8 Inclinando-se, novamente, escrevia na terra... 
8,9  À estas palavras, sentindo-se acusados pelas suas próprias consciências, eles se foram, retirando-se, um por um, até o último. 
8,10  Então, Ele se ergueu e, vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe:“ -Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?” 
8,11 Respondeu ela: -Ninguém, Senhor. Disse-lhe, então, Jesus: “ -Nem Eu te condeno. Vai, e não peques mais.”   
        
Tomemos “O Evangelho...”, de Kardec, em seu Cap.X:

            “...Aquele que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra,”. disse Jesus. Esta máxima nos faz da indulgência um dever, porque não há ninguém que dela não tenha necessidade para si mesmo.”

            Para Jo (8,5) -Tu, pois que dizes? - tomemos  “Caminho, Verdade e Vida”, de nossos irmãos maiores Emmanuel e Chico Xavier, onde encontramos a mensagem que se segue:

            “Várias vezes o espírito de má fé cercou o Mestre, com interrogações, aguardando determinadas respostas pelas quais o ridicularizasse. A palavra D’Ele, porém, era sempre firme, incontestável, cheia de sabor divino.

            Referimo-nos ao fato para considerar que semelhantes anotações convidam o discípulo a consultar sempre a sabedoria, o gesto e o exemplo do Mestre. Os ensinamentos e atos de Jesus constituem lições espontâneas para todas as questões da vida. O homem costuma gastar grandes patrimônios financeiros nos inquéritos da inteligência. O parecer dos profissionais do direito custa, por vezes, o preço de angustioso sacrifício. Jesus, porém, fornece opiniões decisivas e profundas, gratuitamente. Basta que a alma procure a oração,  o equilíbrio e a quietude. O Mestre falar-lhe-á na Boa Nova da Redenção.

            Freqüentemente, surgem casos inesperados, problemas de solução difícil. Não ignora o homem o que os costumes e as tradições mandam resolver, de certo modo; no entanto, é indispensável que o aprendiz do Evangelho pergunte, no santuário do coração:

            Tu, porém, Mestre, que me dizes a isto? E a resposta não se fará esperar como divina luz no grande silêncio.”

            Para  Jo (8,11) -Não peques mais! - do livro “Segue-me!”, de Emmanuel por Chico Xavier, reproduzimos:

            “A semente valiosa que não ajudas, pode perder-se.

            A árvore tenra que não proteges, permanece exposta à destruição. A fonte que não amparas, costuma secar-se. A água que não distribuis, forma pântanos. O fruto não aproveitado, apodrece. A terra boa que não defendes, é asfixiada pela erva inútil. As  flores que não cultivas, nem sempre se repetem. O amigo que não conservas, foge do teu caminho. A medicação que não respeitas, na dosagem e na oportunidade de que lhe dizem respeito, não te beneficia o campo orgânico. Assim também é a graça divina.

            Se não guardas o favor do alto, respeitando-o em ti mesmo, se não usas os conhecimentos em ti mesmo, se não usas os conhecimentos elevados que recebes em benefício da própria felicidade, se não prezas a contribuição que te vem de cima, não te vale a dedicação dos mensageiros espirituais.

             Debalde improvisarão eles milagres de amor e paciência, na solução de teus problemas, porque sem a adesão de tua vontade ao programa regenerativo todas as medidas salvadoras resultarão imprestáveis.

            “Vai e não peques mais!”

            O ensinamento de Jesus é suficiente expressivo O médico Divino proporciona a cura, mas se não a conservarmos, dentro de nós, ninguém poderá prever a extensão e as conseqüências de novos desequilíbrios que nos aviltarão a invigilância.”

            Pedimos sua reflexão para este pequeno escrito de Vinícius, conforme publicado no Reformador de 16.07.1935. Título:A Primeira Pedra”: 

            Alguns escribas e fariseus trouxeram com grande alarde e escândalo uma certa mulher apanhada em adultério e, colocando-a no meio do povo a quem Jesus ensinava, disseram: “Mestre, esta mulher foi encontrada em flagrante adultério. Moisés ordena na Lei que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, porém, que dizes?

            Jesus, depois de fitar por algum tempo seus interlocutores, voltando as costas, curvou-se e foi escrevendo na areia as seguintes considerações:

            “Curioso e digno de nota é o critério dos homens em semelhante assunto. Julgam que só as mulheres devem ser responsabilizadas pelo crime de adultério, como se tal delito fosse privativo delas! Estes mesmos que acabam de acusar esta pobre pecadora são, todos eles, réus da mesma culpa. Sendo necessário, poderei apontar a cada um as vezes que infringiu o nono mandamento da Lei.”

            Enquanto Jesus escrevia, um dos escribas, movido de grande curiosidade, aproximou-se e leu tudo o que o Mestre grafara com o dedo no pátio da igreja; e, em seguida, foi relatar aos seus confrades, os quais continuavam insistindo pelo parecer de Jesus acerca do caso em apreço.

            O Senhor, então, ergueu-se e disse pausada e solenemente:

            “Aquele, dentre vós, que se julgar isento dessa culpa atire a primeira pedra.”

            Estas palavras caíram como brasas vivas sobre as consciências depravadas dos escribas e fariseus, os quais, cientes já do que o Taumaturgo de Nazaré, profundo conhecedor dos recônditos da alma humana, escrevera no chão, foram retirando-se, a começar pelos velhos - que mais tempo tiveram para prevaricar - seguindo-se os menos idosos, até o derradeiro.

            Diante dessa atitude dos seus impertinentes perseguidores, Jesus interpelou a culpada que, humilde e confusa, aguardava seu veredicto.

            -Onde estão os teus perseguidores? Ninguém te condenou?

            -Ninguém, Senhor.

            -Nem eu tampouco te condeno. Vai, e não peques mais.

                                   *****

            A pedra, de que os embusteiros da fé quiseram servir-se para lapidar a delinquente, foi a primeira lançada pelo divino intérprete da Soberana Justiça, na obra da emancipação feminina, estabelecendo a igualdade de direitos entre o homem e a mulher.