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domingo, 27 de outubro de 2019

Como morrem as religiões


Como morrem as religiões
por Theophilo Siqueira
Reformador (FEB) Maio 1937

Conta Renan que, na igreja de sua terra natal, reunia-se o povo, a meia noite, no dia de S. lvo e o Santo estendia os braços para abençoa-lo. Mas, se houvesse ali alguém que duvidasse, erguendo os olhos para verificar o milagre, o Santo se ofendia do ato e não se movia, perdendo-se por esta causa a benção. (Recordações da lnfância.)

O catolicismo romano plantou, na subconsciência dos povos a que serve, infelizmente, a crendice, a superstição religiosa. Criou o materialismo-religioso, pior, talvez, que o materialismo puro, pois este nega, mas aquele desfigura, deturpa e conspurca.

A crença cega, sem raciocínio, estratificou-se. Da ortodoxia impenitente, os bons espíritos se afastaram; mirrou-se a delicada flor da pura intuição, que vai brotar algures. Surge o profetismo fora da Igreja, por isso que igreja não é templo, não é casa de pedra e argila, mas o próprio profetismo. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre Ela”. Isto é, sobre este teu profetismo, Pedro, esta tua intuição, esta tua mediunidade, em suma, a minha igreja será edificada e nada, nenhum erro interesse inferior a destruirá. Eis fundada, desde este momento, a verdadeira igreja do divino Salvador.

            Não importam as falsas “igrejas”, os falsos profetas ou médiuns, os novos alicerces sobre os quais repousará o espírito santo são aquelas declarações peremptórias do Apóstolo Simão cujo nome foi mudado para o de Pedro – pedra, pelo Senhor Jesus.

 Como morrem as religiõesparte 2
por Theophilo Siqueira
Reformador (FEB) Outubro 1937

A implacável lima do tempo gasta toda obra humana. “Toda planta que o Pai não plantou secará”. As “Religiões” são arranjos do interesse inferior do homem. Às revelações descidas do Alto se mesclam impurezas da contingência humana, pois que Deus, na sua onisciência, respeita os sentimentos predominantes através dos quais os profetas e médiuns, apesar dos pesares, inoculam ensino autentico, que conduz à salvação. Deus, contemporizando com humanas fraquezas, semeia verdades eternas, que germinam paulatinamente: escreve direito por linhas tortas...

Mas, a tendência das doutrinas é a de aglutinarem-se em “igrejas” e, assim, entram na reta do fanatismo. Vem a intolerância. A doutrina, de perseguida, passa a perseguidora. Eis o cicio fatal das “Religiões”.

Previna-se o Espiritismo... Fuja da aridez do escolasticismo. No dia em que se assentar sobre a sua verdade, passará à História. Viverá, então, uma vida artificiosa, cheia de sutilezas teológicas... Viva o Espiritismo como tem sido até agora, utilizando-se dos recursos das modernas ciências, da metafísica, servida por escrupuloso experimentalismo, despido de interesses sectários.

A metafísica já não se limita às puras abstrações, mas desce ao terreno firme dos fatos.

O experimentalismo, em pleno domínio da psicologia, já não se canaliza exclusivamente ao campo da ciência material. Infelizmente, o exagero leva o homem a estratificar o pensamento humano, criando o dogma. A Escolástica, exagerando os princípios aristotélico, solidificou uma “Teologia” rígida:  imutabilizou a sua verdade. O racionalismo, combatendo a Escolástica, exagerou, igualmente, o seu negativismo. O materialismo impera dogmaticamente, se bem vá cedendo o passo a um intuitismo temperado de sadio raciocínio, onde o espiritualismo, sem ritos nem “sacerdote”, ganha terreno dia a dia, Espiritualismo, sem aquele privilegiado esoterismo hierárquico... Um espiritualismo eclético, equidistante das “Escolas”: um pouco de escola ponica (?), um pouco da eleástica (escola filosófica pré-socrática); uma dose de Sócrates, com PIatão, com uma mistura de Aristoteles; adicionou-se mesmo um pouco de S. Tomás, sem se desprezar F. Bacon...

O Espiritismo, estabelecendo o conceito de verdade, dentro da concepção evolucionista, reporá o homem no caminho que o torna verdadeiramente digno em face de seu Criador. O Cristianismo primitivo, posto entre o panteísmo e o politeísmo, demonstrou, pelo Verbo encarnado, a transcendência divina: Deus criando livremente, pela sua vontade onipotente, a espiritualidade da alma e a sua liberdade. A Terceira Revelação, na pista da Verdade, vai ampliando o ensino do Cristo. Religião e ciência já não se repelem, mas, ao contrário, completam-se. Aí estão a geologia a biologia, a física, a química fornecendo ao homem elementos de inestimável valor.

Ao Espiritismo estava reservado o papel decisivo do critério experimental, para prova de uma religião revelada... E vai avassalando fariseus e publicanos, gregos e romanos. À força material das velhas “Religiões”, ele antepõe a sua força moral, provando o fato. Convencer, eis o melhor meio de vencer.

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