Em
suas peregrinações pela Galileia, era hábito de Jesus pregar nas sinagogas e
curar, com
a força magnética de seus fluidos, muitos dos chamados endemoninhados, isto é,
criaturas sujeitas à vontade de Espíritos maléficos.
Certo dia, um jovem, então empolgado
com a pregação do Mestre e com os prodígios que operava, não mais pode sopitar
os anseios de sua alma e, por isso, dirigiu-se a Jesus, dizendo-lhe resolutamente:
- Seguir-te-ei, Senhor!
A verdade, porém, é que os homens,
mesmo nos momentos de arrebatamento, têm sempre na vida um "mas", uma
restrição, e isto porque ainda se conservam escravizados às coisas do mundo!
Esse mancebo, após prometer ao
Divino Mestre que o acompanharia em sua jornada de amor e luz, acrescentou,
apressado, um "mas", isto é, que Jesus lhe permitisse ir antes
despedir-se dos que se encontravam em casa:
A resposta de Jesus há de causar
surpresa aos espíritos pouco afeitos às sutilezas das palavras, que bem
representam um símile perfeito das criaturas. Quem vê um homem finamente
vestido, de maneiras delicadas, não acredita que seu coração seja uma usina de
ódios, intemperanças e imoralidades. E quantas vezes nos enganamos nós,
presumindo que este ou aquele maltrapilho é um vagabundo, um malfeitor vulgar,
quando, em verdade, em sua alma rebrilha a luz encantadora do amor e da
honestidade!
Muita gente tem lido e relido as
palavras constitutivas da resposta de Jesus, sem atinar com o seu conteúdo
espiritual, com a beleza de seus ensinamentos.
Mas qual foi a resposta do Messias a
que estamos aludindo? Apenas esta: - Quem empunha o arado e torna a olhar para
trás, não é apto para o reino de Deus.
É bem certo que escritores mal
avisados, levianos em suas apreciações apressadas, têm feito reparos a essa
resposta, porque, dizem eles, Jesus, assim falando, está implicitamente
pregando a secura de coração, despedaçando os ternos laços da família.
Ora, não é crível, absolutamente,
que o Divino Enviado tivesse o propósito de aconselhar tamanho absurdo. O
espírito dessas suas palavras é outro bem diverso. Faz-nos sentir ser
necessário não olhar para trás quando nos encontremos na estrada do bem, evitando,
destarte, que algo nos possa despertar desejos menos dignos, retendo-nos em
suas malhas traiçoeiras.
Quem põe a mão no arado para remover
as suas inferioridades, não pode dele retirá-la, sob pena de perder o esforço
até então despendido.
Um arado, disse culto irmão da
Espiritualidade, promete serviço, disciplina, aflição e cansaço,
no entanto, não se deve esquecer que, depois dele, chegam as semeaduras e
colheitas, pão no prato e celeiros guarnecidos."
Portanto, meu irmão ou minha irmã,
se te não só atende de pronto, como ainda o elogia, dizendo: “Em verdade vos
afirmo que não encontrei tão grande fé, nem mesmo em Israel.”
Em colóquio com uma samaritana de má
vida, junto ao poço de Jacó, revela, pela vez primeira,
ser o Messias prometido.
Aos apóstolos, ainda demasiadamente
intolerantes, que lhe fazem esta queixa: “Mestre, encontramos um homem que
expulsava demônios em teu nome, mas não é do número dos nossos; e nós lho
proibimos”, responde: “Não lho proibais;
quem expulsa demônios em meu nome não é meu inimigo”, provando, uma vez
mais, que o seu espírito universalista aceita, de bom grado, as manifestações
de fé e de bondade, venham elas
de onde vierem!
Nem foi outra a razão por que Pedro,
sob a inspiração do Alto, houve por bem proclamar: “Tenho na verdade alcançado que DEUS NÃO FAZ
DISTINÇÃO DE PESSOAS; EM TODA NAÇÃO, AQUELE QUE O TEME E OBRA O QUE É JUSTO,
ESSE LHE É ACEITO.”
Vem de longe, em dano para a
cristandade, a funestíssima ideia de que o reino de Deus seja uma espécie de
sociedade eclesiástica, organizada segundo os padrões hierárquicos do império
romano, e que, para ingressar nesse reino, o que se tem a fazer é ser batizado,
mesmo inconsciente, aceitar meia dúzia de dogmas teológicos e participar, vez
por outra, de determinadas cerimônias e rituais. Quem satisfaça essas
formalidades burocráticas, pode considerar-se perfeitamente quite com seus
deveres religiosos, e, quando
lhe chegue a morte, terá a alegria de ver o Senhor vir pegá-lo pela mão, para
introduzi-lo, com as honras de estilo, na mansão celestial.
Não é isso, todavia, o que o Cristo
nos ensina em seu Evangelho.
Declara ele, claramente, que o reino
de Deus não tem aparência exterior, não é um lugar no espaço que alguém possa
apontar e dizer: ei-lo aqui ou ei-lo acolá. E acrescenta: “O reino de Deus está
dentro de vós”, deixando bem claro que é um estado íntimo, de justiça (retidão
de caráter), paz e alegria espiritual, como o interpretou o Apóstolo dos
gentios.
Esse estado de felicidade se acha
latente em todos os homens e se vai desenvolvendo, crescendo, integrando-se, à
medida que aprendam a cumprir a vontade de Deus, aplicando suas melhores forças
morais, intelectuais e afetivas na produção do Bem, na prática do Amor
Universal.
Ora, sendo as almas humanas “imagem
e semelhança” do Criador, ao influxo da lei do progresso e por via do processo
reencarnatório, todas hão de alcançar um dia a perfeição, e esse ascenso
universal, que é absolutamente certo, significa, em última análise, a derrota
final de Satanás (egoísmo personalista) diante do Supremo Bem, que é DE
Maravilhas
do Evangelho
Sylvio
Brto Soares
Reformador (FEB) Junho 1962