Pesquisar este blog

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Consequências da Doutrina e da Moral Espírita



Consequências da Doutrina Espírita
Dr. Gustave Geley (Tradução por Luiz de Almeida)
Reformador (FEB) Agosto 1944

“A Ciência é incapaz de nos fornecer uma explicação ou uma interpretação aceitável do Universo. Ela é incapaz de criar uma moral. Ela é incapaz, enfim, de substituir a Religião na evolução social da Humanidade." (Brunetière - "Revue des Deux Mondes", 15 octobre, 1896).

Contentemo-nos, por ora, de encarar algumas das consequências que resultarão imediatamente, sem dúvida, da constatação rigorosamente científica dos dois principais fundamentos da doutrina espírita:

1°) Persistência do eu consciente depois da morte e
2°) Evolução progressiva da alma pelos seus próprios esforços.

É evidente que esta nova ciência arrastará uma revolução completa na filosofia, na moral, na vida social e individual. No domínio da filosofia, ela permitirá, enfim, por de lado, definitivamente, as obscuridades sistemáticas, as doutrinas incoerentes e caducas, sem demora esquecidas em face da simplicidade luminosa da nova ideia e, também, diante da satisfação completa que ela conduz ao nosso instinto de felicidade, ao nosso desejo de imortalidade, à nossa esperança de conhecer o Além.

Nos domínios da FÉ, ela fará desaparecer as ideias niilistas tão deprimentes e tão desesperadoras; assim também os dogmas religiosos tão pouco satisfatórios. Ela substituirá as crenças impostas pela convicção raciocinada. Desembaraçará o espiritualismo dos ouropéis sob os quais, durante tantos séculos, se esforçou por escondê-lo e mascará-lo o gosto de diversas teocracias. Ela nos libertará desses deuses antropomórficos, amiúde caprichosos e cruéis, intervindo constantemente na criação através dos milagres, da graça e da predestinação; reservando seus favores a raros eleitos; exigindo sacrifícios sangrentos e escolhendo as vítimas destinadas a "aplacar sua cólera" entre as melhores de suas criaturas, semeando as tentações sob nossos passos e, pela menor falta, punindo-nos com a eternidade; prostrando-nos, enfim, durante nossa miserável existência, com provas e dores que não são mais que o ressaibo de castigos ainda mais cruéis!

Com esta ideia nova desaparecerão certas prescrições dogmáticas impondo crenças extravagantes, restringindo, até anulá-lo, nosso livre arbítrio, estorvando nosso desenvolvimento consciente; - desaparecerá esta interpretação, incrivelmente mesquinha, do Universo, submetendo toda a criação à humanidade terrestre!

Desaparecerá o dogma do pecado original, com suas consequências injustas e bárbaras. (1)

(1) Consequências que vão, para certos teólogos, até à condenação das crianças mortas sem batismo.

Desaparecerá a noção da "salvação" pelas preces e pelos sacramentos.

Desaparecerão, sobretudo, estas aberrações ferozes sobre o inferno, suas legiões de demônios e seus suplícios eternos!

Quanto estes dogmas infantis parecem miseráveis em comparação com os ensinamentos da nova filosofia: dupla ideia de involução e de evolução abarcando tudo em um panteísmo grandioso. (2) Evolução progressiva dos mundos e dos seres por suas próprias forças, sem intervenção caprichosa da divindade!

(2) A respeito destas magníficas concepções panteístas, não posso impedir-me de citar as belíssimas almas palavras de M. Marius George - Humanité integrale, janeiro de 1896 - "parafraseando uma citação célebre, eu disse uma vez: sou homem e tudo que toca ao homem me é muito caro; mas o que deveria realizar-se fora de seu destino não poderia tocar-me. Se existe um Deus ou vários deuses, anjos ou arcanjos não tendo jamais conhecido nem o esforço, nem a luta, nem o sofrimento, não tendo jamais atravessado a noite angustiosa da ignorância, estes seres exteriores não me são nada, não sendo humanos. Eu não quero e não posso receber por irmãos, mesmo que tão alto estejam na glória, senão os primogênitos em humanidade, os vencedores das nossas mesmas misérias, aqueles que, embora possuindo mais luz, irradiando mais amor e harmonia, passaram também maior tempo que nós pela luta, pelo sofrimento e pela conquista."

"A mais alta ideia que se pode fazer de um ordenador, disse justamente Léon Denis, é de supô-lo formando um mundo capaz de se desenvolver por suas próprias forças e não por contínuos milagres ... "

A divindade não pode ser compreendida fora do Universo.

“A ideia de Deus não exprime mais hoje, para nós, um ser qualquer, mas a ideia do ser, o qual contém todos os seres... Nada de criação espontânea, nascida, miraculosa; a criação é continua, sem começo nem fim... O mundo se renova incessantemente em suas partes, mas no conjunto ele é eterno. (3)

(3) Léon Denis - "Depois da Morte".

A terra sobre a qual, segundo expressão de Flammarion, as religiões querem concentrar todo o pensamento do Criador, não é senão um ponto insignificante no Universo. Uma só existência sobre esse planeta, por outro lado, não é mais que um momento insignificante na série das encarnações numerosas do ser vivente. A alma individual não foi criada completa, com as faculdades que desejou assinalar-lhe o capricho do Criador. Forma-se e se desenvolve ela mesma pelos seus esforços, seus trabalhos e seus sofrimentos. De si própria que se liberta então, pouco a pouco, do mal agarrado necessariamente nas fases inferiores de sua evolução; dela mesma é
que chega à compreensão do verdadeiro, do belo e do bem; que retirará lentamente os elementos conquistados para sua felicidade futura.

No Além, a compreensão perfeita das desigualdades humanas e a solução completa do problema do mal - estas duas condições da vida terrestre - é que se conciliam tão dificilmente com a noção de uma Providência ativa.

As desigualdades humanas, sob o ponto de vista da inteligência, da consciência e do coração, desigualdades que nem a hereditariedade, nem a influência do meio explicam suficientemente, encontram sua interpretação fácil nas diferenças evolutivas dos seres.

"A pluralidade das existências pode, sozinha, explicar a diversidade dos caracteres, a variedade das aptidões, a desproporção das qualidades morais, em uma palavra, todas as diferenças que ferem nossos olhares... Sem a lei da reencarnação é a iniquidade que governa o mundo". (Léon Denis)

A explicação do mal não é menos satisfatória. O mal não é o produto das forças cegas da Natureza, impondo às nossas personalidades efêmeras sofrimentos sem compensação. Não é a consequência injusta de um pecado original; não é uma experiência, ainda menos castigo ou vingança da divindade.

O Mal é tão somente a medida da inferioridade dos mundos e a condição necessária para seu aperfeiçoamento.

O mal é o grande aguilhão da atividade dos seres, necessário para impedir sua imobilização no estado presente. Mesmo na humanidade avançada, a dor física ou moral desfruta de um índice expressivo. Ela impõe o trabalho e impede o retardar-se durante muito tempo nos prazeres inferiores.

Certos privilegiados da existência poderão perder vidas inteiras na ociosidade, mas cedo ou tarde sofrerão a advertência do mal. A doença, um grande desgosto, a dor sob qualquer de suas formas, o fará compreender a inutilidade dos prazeres materiais, lastimar o tempo perdido e, então, lhe dará uma ideia mais elevada e, consequentemente, o desejo da verdadeira felicidade.

Sob condições evolutivas o mal é inevitável. Mesmo seus excessos, as grandes catástrofes, as infelicidades imerecidas, são a consequência do livre desenvolvimento dos mundos pelas suas próprias forças, e não poderiam ser reprovados pela divindade.

O mal diminui paulatinamente consoante a escala da evolução. A história da Terra, desde os tempos mais remotos até nossos dias, é uma prova evidente disso. Não há mais lugar, em face desta interpretação do Universo, para as ideias de paraíso ou de inferno. Punições e recompensas vêm de nós mesmos e são a consequência natural, forçada, de nossas faltas ou de nossos esforços.

"A vida atual (Léon Denis) é a consequência direta, inevitável, de nossas vidas passadas, como nossa vida futura será a resultante de nossas ações presentes. (4) Nós somos aquilo que somos feitos, por nós mesmos.

(4) Não se poderá censurar a possibilidade de exceções acidentais, impondo encarnações dolorosas imerecidas. Semelhantes acidentes são inevitáveis, nada tendo com a intervenção de uma Providência em nossa evolução. Mas eles serão compensados nas encarnações ulteriores. É necessário encarar o conjunto e não os detalhes; e pensar bem que uma só existência não é quase nada, no curso de nossa evolução. Quase sempre aliás, as provas e os sofrimentos foram prévia e livremente escolhidos pelo Espírito antes de sua reencarnação, no seu interesse ou pelo de seus semelhantes.

A sanção de nossas faltas será simplesmente o estacionamento nas encarnações inferiores, segundo as condições que resultam, matematicamente, para cada existência, das existências já vencidas. A recompensa e compensação que devemos esperar de nossos esforços, de nossos sofrimentos, de nossas virtudes, é a passagem para um estado superior, e esta recompensa resultará das leis evolutivas e não de um julgamento divino. Nosso progresso nos assegurará a felicidade, resultado natural da diminuição do mal, coincidindo com o desprendimento da consciência, da liberdade e das faculdades emotivas. Esta felicidade nós a obteremos apenas pelo nosso merecimento, em virtude dos livres esforços.

Para ser capaz de admirar um estado superior é necessário, antes de tudo, elevar-se ao seu nível. Não se poderá desfrutar de um bem que não seja compreendido.
Não vejamos, sem sair da vida ordinária, pessoas incapazes de saborear prazeres estéticos, de apreciar a beleza, de experimentar emoções elevadas! Não procuremos saber em que consistirá nossa felicidade futura. O desenvolvimento prévio é a condição necessária, não somente para a obtenção, mas também para a compreensão
desta felicidade. Isto basta para saber que ela resultará, necessariamente, dos progressos evolutivos.

.......................................................................................

Nota do tradutor - O excerto presente foi extraído do "Essai de revue génerale et d'interprétation synthétique du Spiritisme", do famoso sábio francês Dr. Gustave Geley que, a 28 de janeiro de 1918, perante a Sorbonne, deu conta de seus primeiros trabalhos, no domínio das ciências psíquicas. Grande foi sua contribuição ao assunto pois que, em outros livros de notável transcendência, depôs o fruto de suas experiências aclaradas à luz da análise fria e meticulosa. Cumpre assinalar, entanto, para esclarecimento do leitor, uma ressalva do texto, no trecho em que o autor se refere ao termo - panteísmo. Aqui, não se justifica, a rigor, o significado filosófico delineado como sistema religioso. Ele quer admitir o que a razão comum acolhe: sendo as criaturas partículas divinas, cabe em todas elas a essência do Criador. Os Atos dos Apóstolos testificam, nos v. 28 e 29, cap. 17: "Porque nele vivemos e nos movemos, e existimos, como também alguns de vossos poetas disseram: pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, etc.". Em outro número daremos algumas das Consequências Morais que o ilustre psicólogo anteviu, como fundamento pré-estabelecido, para o círculo da conduta humana, dilatado pela força incoercível da Nova Revelação.


Consequências morais da Doutrina Espírita (1)
Dr. Gustave Geley (Trad. De Luiz de Almeida)
Reformador (FEB) Outubro 1944

As consequências filosóficas que precederam (v. "Consequências da Doutrina Espírita", em número anterior) arrastarão consequências morais de uma importância capital. A nova moral constituirá uma ciência cujos princípios sério rigorosamente deduzidos dos conhecimentos adquiridos sobre nosso destino. Como tal, sua influência será verdadeiramente poderosa. Mas, como tal também, ela sacrificará impiedosamente o montão de preconceitos, de obrigações artificiais, de restrições inúteis que embaraçam a moral tradicional, e que os homens parecem ter acumulado por prazer, para tormento reciproco. Ela se apoiará sobre três bases principais:

1º) O conhecimento das leis e condições evolutivas;
2º) A necessidade do livre desenvolvimento individual;
3º) A noção da relatividade da liberdade moral, apoiada sobre a compreensão do mal e das desigualdades humanas.

DO CONHECIMENTO DAS LEIS EVOLUTIVAS se deduzirão:

A necessidade do trabalho pessoal;

A necessidade de cultivar, sobretudo, nossas faculdades intelectuais e afetivas, e de nos desvencilhar o mais possível das sujeições materiais;

A solidariedade forçada entre os homens, pelo encadeamento das existências sucessivas as quais se acham sujeitos, nas condições e meios os mais diversos. Disto gera a necessidade do altruísmo que, segundo expressão do Dr. Gibier, será o egoísmo verdadeiro, pois auxiliando o aperfeiçoamento do seu próximo e da sociedade,
a criatura ajudará seu próprio avanço e tornará menos penosas as encarnações futuras.

A NECESSIDADE DO LIVRE DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL é uma lei que se deduz necessariamente do conhecimento do livre desenvolvimento do mundo. Guardamos em nós tudo que é necessário para assegurar nosso progresso; e este progresso deve resultar dos nossos esforços pessoais. Portanto, nos limites do possível, a moral humana deve deixar livre o indivíduo. Não é somente inútil, mas nocivo, impor um dever que a pessoa não compreende ser um dever (1).

(1) Seria inútil registrar que não se trata aqui da educação da infância. Haveria muita coisa a dizer sobre este objetivo enquadrado na nova filosofia, mas, no momento, isto nos arrastaria muito longe.

O ideal da moral será instruir, mas não impor, e advertir a criatura sobre as consequências de suas ações. A luta é necessária ao desenvolvimento de sua inteligência (2).

(2) Um exemplo fará melhor compreender meu pensamento: suponho dois adolescentes em nível psíquico semelhante. O primeiro se encerrará em um convento, onde passará a vida a orar, sem nada saber dos trabalhos, dos prazeres, das dores, das tentações ou das faltas da Humanidade. Terminará, portanto, sua existência, sem ter sobre a consciência um só pecado mortal. O segundo, na sociedade, lutará, trabalhará, conhecerá prazeres e dores. Sem ter sido criminoso, terá cometido muitas faltas. É certo que este último estará mais avançado, na morte, e melhor preparado para a vida futura.

Cedo ou tarde, as faltas, os erros cometidos serão, sob a advertência da dor e, consequentemente debaixo da percepção intelectual, julgados e compreendidos pelo próprio culpado e, então, sua liberdade moral dará um passo acima. Bem entendido, este respeito completo pelo livre desenvolvimento do homem não passa de um ideal. Praticamente, ele deve ser subordinado sob justa medida à segurança e à liberdade dos seus semelhantes. Mas todas as restrições e todas as imposições que não visam exclusivamente este objetivo são nocivas e devem ser rejeitadas.

O terceiro princípio que servirá de base à moral futura, o da RELATIVIDADE DA LIBERDADE MORAL, vem em apoio das considerações precedentes, e prova também o perigo das restrições mundanas ou sociais. Da parte da lei da evolução, o livro arbítrio está sempre proporcional ao progresso do Espírito (3).

(3) Esta solução do problema da liberdade moral constitui um dos mais belos ensinamentos da Doutrina Espírita.  

Consequentemente, a gravidade de uma falta não pode ser apreciada em si mesma, nem mesmo após as circunstâncias; mas, antes de tudo, de acordo com o grau de evolução do culpado. Isto significa que os julgamentos humanos, baseados sobre o princípio da igualdade moral, são sempre acoimados de injustiça. É, pois, prudente e sábio abster-se de julgar. É suficiente, aliás, lembrar-nos do nosso passado, para nos convencer da necessidade de uma indulgência completa para com as faltas do próximo. Todos nós, em encarnações diversas, temos sido criminosos e miseráveis; e se soubemos elevar-nos para o conhecimento do belo e do bem, seria rebaixar-nos ao nível dos pecadores toda vez que lhes dispensássemos desprezo.

O espírito elevado não considera faltas ou crimes as consequências do vício, as manifestações da maldade, do egoísmo, do ódio, da inveja, do espírito de vingança, de todos os sentimentos baixos que fazem a infelicidade humana, como produtos inevitáveis de um estado inferior. Ele sabe que existe, no mundo, muito menos culpabilidade que ignorância (4).

(4) Não se argumente que certos criminosos, bem conhecidos, estejam instruídos e inteligentes; semelhantes exceções não poderão ser opostas a uma regra geral. Seria, aliás, provável que estes malfeitores, apesar de algumas faculdades lúcidas, pudessem ser, em conjunto, seres inferiores. Um ser realmente superior é necessariamente bom e não pode jamais agirem função do crime.

Também buscará, antes de tudo, instruir os culpados ou preveni-los sobre suas más ações. Ele não se rebaixará jamais para punir ou para vingar. Ele sabe que os castigos inventados pelos homens são inúteis para melhoria do culpado e que toda a ação carrega em si a própria sanção.

Vê-se o alcance de princípios parecidos na atividade humana. Ao contrário da moral clássica, a moral evolucionária será sobretudo positiva, e reduzirá ao mínimo o número e a importância das restrições, o número e a importância dos deveres (5).

(5) Em uma humanidade suficientemente evoluída, quer dizer, suficientemente inteligente e boa, o princípio de obrigação tomará o lugar do princípio de liberdade. A noção do dever desaparecerá quase inteiramente para ser substituída pela noção do amor. Isto se tomará, com efeito, um prazer em praticar o bem e um sofrimento em praticar o mal.  

Na vida individual ela aconselhará, antes de tudo, o trabalho; sobretudo, bem entendido, o trabalho intelectual e a cultura das nossas faculdades emotivas e afetivas.

Podemos desenvolver-nos em qualquer um dos ramos da atividade psíquica, porque importa menos chegar a conhecer muitas coisas que dilatar nossa capacidade de saber. Aquilo que se aprende é menos importante, em si, que o exercício intelectual necessitado para instruir o aperfeiçoamento consecutivo. É inútil, aliás, tentar, numa existência terrestre, abraçar um punhado de conhecimentos. Evitando uma especialização estreita, sempre nociva, nós nos esforçaremos por cultivar disposições inatas e adquirir o mais possível nesse sentido. É a melhor regra, tanto para a sociedade como para nós mesmos.

Ao mesmo tempo em que trabalhar por si, a criatura, com efeito, em face da Lei do Altruísmo imposta como a encaramos segundo a noção das vidas sucessivas, deverá trabalhar pelo aperfeiçoamento de seus semelhantes.

Ela fará o bem sem inquietar-se com resultado imediato.

Desdenhará pensar sobre o reconhecimento que auferirá de seus benefícios e não exigirá reciprocidade.

Menosprezará as injúrias pessoais, esforçando-se por reprimir qualquer sentimento de ódio ou de ciúme.

Não se vingará.

Saberá desculpar e compreender nos outros os vícios e os defeitos, inexistentes por si mesmos, e, na medida do possível, evitará julgá-los.

Deverá aliás, antes de tudo, trabalhar, fazer prova desse testemunho, oferecendo aos olhos dos seus semelhantes o exemplo de uma bondade ativa, consagrada pelo amor e pelo auxilio.

Não fará, pois, nada que a possa diminuir.

Aproveitando o mais possível sua atual encarnação, deverá cuidar do corpo, instrumento de sua atividade.

Evitará, portanto, os excessos, os perigos inúteis, a preocupação de uma morte prematura.

Não terá nulamente que rejeitar de "caso pensado" os prazeres da existência terrestre, nem considerá-los "pecados".

Somente não esquecerá que apenas os prazeres elevados da inteligência e do coração é que serão úteis ao seu aperfeiçoamento, que os gozos puramente sensuais são apanágio de seres inferiores, acompanham-se quase sempre de desilusões e de dores, podendo, em certa medida, retardar o processo da evolução.    

Pensará, sobretudo, na renúncia de todo prazer que poderá prejudicar o próximo.

(6) Nos quais limites em que pode e deve manifestar-se este amor do próximo, é o que não é poss1vel fixar. Aí, ainda, o evolucionismo não estabelecerá senão leis gerais, deixando toda liberdade para as interpretações individuais.

                                                          
                                                                         Gustave Geley                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       
 Consequências morais da Doutrina Espírita (2)
Dr. Gustave Geley (Trad. De Luiz de Almeida)
Reformador (FEB) Novembro 1944

Esforcei-me por examinar fielmente a parte essencial do Espiritismo. Eu o fiz sem "parti pris", se bem que enlaçado por certa simpatia que não posso dissimular, mas esta simpatia mesma me impede concluir de maneira formal, no temor de uma possível ilusão de minha parte.

Contentar-me-ei, para finalizar, com algumas reflexões que me parecem ponderáveis.

Os fenômenos espíritas têm sido observados por inúmeros testemunhos conscienciosos, controlados por numerosos sábios, para serem agora negáveis "a priori". Vou mais longe: ninguém tem o direito de repudiar, sem prováveis contra-experimentações, as conclusões investigadoras de Crookes, Wallace, Zõelner, Aksakof, Oliver Lodge, Myers, Lombroso, Richet, De Rochas e tantos outros não menos ilustres. A Doutrina Espírita, seja justificada ou não, é por demais grandiosa para não impor aos pensadores, aos filósofos e aos sábios, uma discussão aprofundada.

Grande número dentre eles concluirá, certamente, após exame sério, que uma doutrina baseada sobre fatos experimentais igualmente numerosos e precisos, de acordo com todos os conhecimentos científicos nos diversos ramos da atividade humana, dando uma solução bastante clara e satisfatória dos grandes problemas psicológicos e metafísicos, que uma tal doutrina - arrisco eu - é verossímil. Bem melhor, que ela deve ser verdadeira; que ela é muito provavelmente verdadeira.

Em todo caso, não se trata mais hoje de se satisfazer com ilusões, de se deixar embalar por "velhas canções", nem de dormitar sobre o "fofo travesseiro da dúvida".

Nós devemos saber. Nós queremos saber. Nós podemos saber.

Agora a Ciência abateu para sempre as velhas concepções do Universo.

- Distinção essencial entre os animais e o homem, por este ser provido de alma imortal. - Criação relativamente recente, antropocêntrica e geocêntrica. - Divindade exterior ao Universo, céu, empíreo, etc.

Todas estas noções desapareceram da face do progresso das Ciências Naturais e da Astronomia, mesmo porque se tornaram insuportáveis para a consciência moderna as ideias de um inferno eterno e de um Deus punidor e vingativo.

O evolucionismo se impõe, bom grado ou mau grado, a todo aquele que pondera e raciocina; e, portanto, o Espiritismo evolucionista é a única doutrina que pode hoje em dia ser oposta cientificamente ao niilismo.

- Que a Evolução encarada sob suas duas faces é infinitamente mais satisfatória que a evolução orgânica pura, isto é evidente, pois que ela atende nossos desejos de imortalidade e de ventura, oferece uma sanção moral, satisfaz os anseios do coração e da razão, reunido numa única síntese a Ciência, a Filosofia e a Religião.

- Mas esta doutrina tão bela será verdadeira? (1)

(1) A propósito desta pergunta aleatória, convém realçar que o renomado cientista que foi o Dr. Gustave Geley, na França, estabeleceu esta CONCLUSÃO - para seu pequeno estudo "Essai de Revue Genérale et d'Interprétation Synthétique du Spiritisme", ainda em 1897, nos pródromos do Espiritismo europeu, quando ensaiava, então, suas primeiras experiências. Estudos pacientes e continuados na investigação dos fenômenos, muitos dos quais englobados na conferência que proferiu na Sorbonne, a 28 de janeiro de 1918, nos vieram demonstrar que esse químico e psicólogo veio a abraçar mais tarde, e definitivamente, as teses da 3ª Revelação.
Afirma seu amigo íntimo e prefaciador Sr. Jean Meyer: "no curso de suas fortes páginas, Geley afirma a sobrevivência com uma lógica, uma largueza de vista e uma elevação de espirito que sua autoridade, como experimentador, torna singularmente impressionante".
Nas experiências realizadas em 1924, expostas em seu livro - "L'Ectoplasmie et Ia Clairvoyance" - Gustave Geley, embora sem uma conclusão relacionada com qualquer sistema, assim se expressa: "a única conclusão que tirarei no momento, da exposição árida dos fenômenos, é a certeza de sua autenticidade". Porém, em seu anterior e recente livro - "De l'inconscient au conscient" - deixa transparecer, nestas linhas, sua convicção definida: "na sequência das existências, uma vida terrestre não tem mais importância relativa que uma jornada no curso desta vida. Uma vida, um dia; uma e outro tem, na evolução, importância comparável e uma verdadeira analogia".
Morrendo em 1924, nos arredores de Varsóvia, em consequência de uma queda de avião, deixou no campo da investigação científica seleta sementeira de estudos que hoje frondejam e frutificam para as almas sequiosas da realidade palpável. Liderou com Charles Rlchet o movimento psiquista na França, tendo sido diretor do Instituto Internacional de Metapsíquica. - Nota do tradutor.  

A palavra está com a Ciência. Pode-se, porém, declarar bem alto: a Ciência não poderá mais, hoje em dia, desinteressar-se pelos estudos psíquicos. Que existam lá apenas ilusões ou quimeras, ou que eles sejam o prefácio de uma transformação completa na atividade humana, a Ciência nos deve uma conclusão precisa a respeito.

Nenhum sábio, nenhum pensador, nenhum homem um pouco instruído poderá desdenhar interessar-se por estes empolgantes problemas.  

A imortalidade - disse Pascal - é coisa que tão forte nos importa, que nos toca tão profundamente, que é necessário ter perdido todo sentimento para ser indiferente ao que existe nela."
 .............................................................................................