Lendo e
Comentando (extratos)
por Hermínio Miranda
Reformador (FEB)
Janeiro 1970
No final da década de 60 e no início da de 70, o
saudoso Hermínio Miranda dedicou parte de seu tempo ao acompanhamento do
movimento espírita na Inglaterra. Seus comentários sobre artigos publicados na revista “Two Worlds” e livros que por lá foram
lançados com temática assemelhada ao Espiritismo são simplesmente encantadores.
Selecionamos alguns para nossa instrução:
A
“O
nosso desenvolvimento espiritual é produto do nosso próprio esforço, dentro do
contexto da lei de causa e efeito.”
B “...o universo é regido pela justiça
divina. Não importa quem seja o indivíduo ou qual seja a sua posição no mundo,
ele está sujeito à operação das mesmas leis naturais como qualquer outra
pessoa. Não há exceções, nem maneiras de enganar ou fugir à sequência imutável
da lei de causa e efeito. Se isso fosse possível, a justiça divina seria
inferior à que foi elaborada pelos homens. Alguns pensam, em momentos de crise,
que podem fazer uma barganha com a Divindade. Tem sido sugerido com toda a seriedade
que o arrependimento no leito da morte ou a recitação de alguma crença
teológica tem poderes para inutilizar o inviolável princípio de causa e efeito
e absolver a responsabilidade pessoal.
É bom que, de vez em quando, nos
recordemos desses princípios. Para isso, nada melhor que vê-los expressos em
palavras que sirvam de alimento à nossa meditação. Ainda hoje, decorridos
tantos séculos e após tantas conquistas espirituais de notável significado, há
quem julgue poder ‘negociar’ as coisas que deseja com Deus, num tipo de
barganha impossível, como se Deus fosse simples dono de uma barraca de feira.
Outros propõem negócios semelhantes aos Espíritos, mediante oferendas e
promessas, muitas vezes visando a conseguir favores especiais legítimos ou
lamentavelmente ilícitos e inconfessáveis. Todas essas tentativas e manobras
vão para o nosso ‘fichário’ espiritual, onde se registram os atos de nossa
responsabilidade, a fim de que no futuro sejam retificados os erros cometidos. “
C “A prece não é uma barganha; é nela que
vamos encontrar os recursos de que tantas vezes precisamos para atravessar as
crises surgidas de nossas imperfeições. Orar é uma atitude de defesa
espiritual, na qual buscamos conforto, proteção e ajuda. Nossos mentores
espirituais conhecem nossas deficiências e necessidades melhor do que nós
próprios e somente podem ajudar-nos naquilo que não contrarie dispositivos da
lei divina, nem interfira com o nosso programa de trabalho ou com o exercício
do nosso livre-arbítrio. Não podem, por isso, prestar-nos favores ilícitos nem
fazer por nós aquilo que nos compete realizar. Por isso há preces que, aparentemente, não são atendidas. Somos ajudados na
medida das nossas boas intenções, dos nossos méritos e, principalmente, das
nossas necessidades, isto é, em concordância com o nosso programa de trabalho
evolutivo.”
D “...é
bom sabermos que a nossa atividade espiritual e o esforço que fazemos, no
sentido de nos renovarmos interiormente para ajudar aqueles que nos buscam, são
levados em conta e nos credenciam a uma ajuda por parte dos nossos amigos
espirituais. Muitas vezes somos ajudados de maneira decisiva em momentos de
enorme dificuldade e nem ficamos sabendo da extensão do perigo que nos
envolveu. Não se trata aqui, necessariamente, de perigo de natureza física que
pudesse resultar em desencarnação. Os Espíritos sempre nos advertem de que a
morte não é nenhuma tragédia e qualquer espírita que tenha estudado um pouco a
doutrina sabe disso. Não estamos aqui em busca da imortalidade física.”
E “Creio que com muito maior frequência nos
envolvemos inadvertidamente em perigos de natureza moral, correndo riscos
seríssimos que nos colocam diante de perspectivas aterradoras, pois não podemos
escapar da lei de causa e efeito. Algumas vezes, graças à nossa vinculação com
o mundo espiritual e aos nossos esforços de aperfeiçoamento, somos merecedores
da ajuda espiritual. De outras vezes, porém, ... a despeito de todos os
pequenos méritos que já conseguimos juntar, temos de enfrentar sozinhos as
situações. Nesse caso, os nossos amigos da espiritualidade nos assistem e nos acompanham com o seu amor, mas não podem interferir, pois a prova é nossa
e a nós compete enfrentá-la.
Tive disso pelo menos uma
experiência pessoal. Devo ter tido outras, como todos nós, da qual nem tomei
conhecimento consciente. Cabia-me atravessar um período algo difícil, em que um
perigo considerável - correu todo o meu programa espiritual. Somente depois de
vencida a crise, meus amigos superiores me disseram o quanto estiveram
preocupados por mim, sem poderem interferir, pois o problema era meu e eu tinha
de enfrentá-lo com as minhas forças. Confiavam e esperavam, mas temiam pela
minha sorte. Graças ao bom Deus, correu tudo bem e, ao que sei, fui aprovado no
teste. Provavelmente inúmeras vezes, no decorrer da nossa existência, causamos
dessas aflições aos amigos espirituais que nos assistem. É bom que nos
mantenhamos bem vigilantes para não decepcioná-los e não criar para nós
próprios dificuldades que levarão talvez séculos para se ajustarem.”
F “Embora ainda estejamos todos à grande
distância da perfeição, são muitos os que nos buscam com seus problemas e
perplexidades porque no fundo sabem que nós temos algumas respostas e já nos
foi dada uma fatia considerável do conhecimento espiritual, o suficiente para
sustentar o nosso próprio espírito nas dores da sua escalada. Sobra ainda - e
muito - para distribuir entre aqueles que sabem menos do que nós. Mesmo que
desejássemos, não seria possível esconder a luz que brilha em nossa doutrina.
Se somos espíritas convictos e procuramos executar com dignidade as nossas
tarefas espirituais, transparecerá nos nossos gestos e atitudes a serenidade
que nos trouxeram os ensinamentos dos irmãos superiores. Só resta um apelo que
fazemos a nós próprios e deixamos como lembrete àqueles que nos ouvem: sejamos
dignos do nosso mandato espiritual, testemunhando a verdade que já conseguimos
apreender. Ao mesmo tempo, sejamos humildes naquilo que fizermos porque não
temos ainda a estatura da perfeição espiritual. E quando a tivermos, seremos
ainda mais humildes ..."