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sexta-feira, 30 de julho de 2021

Unificação e Doutrina

 

Unificação e Doutrina

por Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Setembro 1962

 

            O trabalho de unificação dento do Espiritismo tem dado, fora de dúvida, excelentes resultados, embora exija ainda, e o exigirá por muito tempo, as atenções dos responsáveis pela propagação e defesa de seus princípios. Nada se deve fazer fora da Doutrina. Esta é uma norma fixa e invariável. Omiti-la ou despreza-la será como que renunciar àqueles princípios ou subordiná-los a pontos de vista meramente pessoais, nem sempre afins com os reais e altos interesses espíritas.

            Quando vemos alguns confrades entusiasmados em fundar serviços já existentes e em pleno funcionamento na zoa em que residem, lamentamos que tanto entusiasmo e tanto esforço não sejam dirigidos para revitalizar e desenvolver os trabalhos já fundados e em funcionamento. Essa dispersão de esforços não atende às necessidades legítimas da nossa causa, porque a unificação de trabalhos, a união maior para um mesmo fim, tornará possível a realização mais rápida e mais eficiente dos objetivos louváveis que engalanaram a alma desses obreiros.

            Se cada grupo puxar para um lado diferente, o resultado será muito menos satisfatório do que se todos, unidos, puxarem para um lado só. Às vezes pode ser a vaidade a inspiradora da criação de obras paralela. Em outras, porém, acreditamos, é o desejo de fazer alguma coisa mais substancial em benefício do próximo, com a presunção de que o existente não satisfaz. Ora, se todo os espíritas estiverem imbuídos de humildade; se não prevalecer a preocupação de aparecer com destaque; se concordarem em dar a sua valiosa cooperação àqueles que já lutam para sustentar e desenvolver trabalhos de finalidade idêntica, tudo melhorará. A união faz a força. Ou somos espíritas e aceitamos integralmente a Doutrina ou somos falsos espíritas e, neste caso, só aceitamos da Doutrina aquilo que nos convém em determinadas ocasiões.

            Allan Kardec, nas obras que trazem o seu nome, é um manancial de instruções preciosas. Ninguém, dentro do Espiritismo, tem o direito de ignorar a Doutrina, do contrário será, não um espírita, mas um aderente sem raízes profundas. O que dá força ao Espiritismo é justamente a sua doutrina, porque estabelece com segurança os rumos que todos devemos seguir, que nos orienta, nos instrui e nos aponta os caminhos certos da salvação quando nos encontramos em dúvida ou ficamos presos a situações criadas pela nossa própria imprevidência ou ignorância.

            O Espiritismo não pode estacionar. Mesmo que os homens, mal inspirados, tentassem fazê-lo, esbarrariam com a ação dinâmica dos Espíritos. Há trabalho, cada vez maior em nossa seara. Todos trabalham. A Federação Espírita Brasileira dá o exemplo de ação bem orientada e de trabalho fecundo, embora silencioso. Mas não se afastará, como jamais se afastou, dos deveres impostos pela Doutrina. Isto é que se precisa realçar. “A Doutrina é, sem dúvida, imperecível, porque repousa nas leis da Natureza e porque, melhor do que qualquer outra, corresponde às legítimas aspirações dos homens”, disse-o Kardec.

            Como sempre acontece à margem de qualquer movimento religioso, filosófico ou ideológico, é vezo surgirem inovadores, os que acham que não se faz nada, ou que se faz pouco ou mal, e engendram planos mirabolantes, espaventosos, por isso mesmo sem base sólida e fadados ao malogro. Ora, a Doutrina Espírita tem caráter essencialmente progressivo, conforme o Codificador acentuou:Pelo fato de ela não se embalar com sonhos irrealizáveis, não se segue que se imobiliza no presente. Apoiada tão só nas leis da Natureza, não pode variar mais do que estas leis; mas se pôr de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade.” São também palavras de Allan Kardec.

            Todavia, essa aceitação ou assimilação terá de se sujeitar a um critério altamente ponderado. Nada poderá ser feito precipitadamente. Semelhante predisposição, contida em Kardec, prova a maleabilidade superior da nossa Doutrina, maleabilidade inerente à sua natureza profundamente progressiva.

            Quando se cogitava de dar ao Espiritismo uma orientação única, surgiram ideias variadas e curiosas. Conta Kardec: “Houve quem propusesse que os candidatos fossem designados pelos próprios Espíritos em cada grupo ou sociedade espírita. Além de que este meio não obviaria a todos os inconvenientes, apresentaria outros peculiares a semelhante modo de proceder, que a experiência já demonstrou e que fora supérfluo lembrar aqui. Não se deve perder de vista que a missão dos Espíritos consiste em nos instruir, para que melhoremos, porém não em se sobreporem ao nosso livre arbítrio. Eles nos sugerem ideias, ajudam com seus conselhos, principalmente no que concerne às questões morais, mas deixam ao nosso raciocínio o encargo da execução das coisas materiais, encargo que não lhes cabe poupar-nos. Contentem-se os homens com o serem assistidos e protegidos por Espíritos bons; não descarreguem, porém, sobre eles, a responsabilidade que incumbe ao encarnado.

            “Esse meio, aliás, suscitaria maiores embaraços do que se poderia supor, pela dificuldade de fazer-se que todos os grupos participassem de semelhante eleição. Seria uma complicação nas rodagens e estas tanto menos suscetíveis se mostrarão de desarranjar-se, quanto mais simplificadas forem.

            “O problema é, pois, o de constituir-se uma direção central, em condições de frça e estabilidade que a ponham ao abrigo de todas as flutuações, que correspondam a todas as necessidades da Causa e oponham intransponível barreira às tramas da intriga e da ambição.”

            Unificar, em todos os sentidos e de todas as formas, é o objetivo que todos os espíritas devemos perseguir sem esmorecimento. Para que se torne fácil, basta que cada qual siga a Doutrina, exemplifique seus princípios, procure colocar a Doutrina acima de atitudes personalistas e de interesses outros, porque a verdade é que ninguém perderá coisa alguma se se dispuser a obedecer àqueles princípios. Pelo contrário, somente se beneficiará, beneficiando a coletividade espírita e a Humanidade.


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