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quinta-feira, 29 de julho de 2021

A Advertência de Kardec

 

A Advertência de Kardec

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Setembro 1962

             A cada dia que passa mais nos convencemos das dificuldades que nos esperam, nas tentativas cotidianas que fazemos para merecer o nome de “espírita”. Como é difícil ser espírita na verdadeira acepção do vocábulo! Quanta vezes fraquejamos, cedemos, traímos as nossas próprias determinações, porque ainda não conseguimos fechar a nossa alma à penetração insidiosa de pensamentos inferiores! Todavia, com a ajuda dos incansáveis irmãos da Espiritualidade, continuamos lutando contra as nossas deficiências, tristes provas insofismáveis da nossa fraqueza e da nossa incapacidade de vigilância.

             Somente com perseverança lograremos um dia superar essas dificuldades. É mister, contudo, não desanimar e transformar a vergonha das faltas cometidas em estímulo para a regeneração definitiva.

             Aprendemos que “recordar é também reaprender”. Daí a frequência com que voltamos às páginas kardequianas, na ânsia de reter instruções, de reparar omissões e consolidar conhecimentos que nos facilitem resistir e vencer depressivas influências.

             Abrimos ‘Obras Póstumas” e compreendemos que até o mal tem papel importante na obrado bem. As lutas que Kardec teve de travar, porque o movimento era invadido por indivíduos sem outro objetivo que o de solapá-lo, tiveram, porém, grande utilidade para a Causa. Então Kardec ensina: “Alguns indivíduos, mais perspicazes do que outros, entreviram o homem na criança que acabava de nascer e temeram-na, como Herodes temeu o menino Jesus. Não se atrevendo a atacar de frente o Espiritismo, esses indivíduos fizeram de agentes com o encargo de o abraçarem pra asfixiá-lo; agentes que se mascaram, para em toda parte se intrometerem, para suscitarem habilmente a desafeição nos Centros e espalharem, dentro destes, com furtiva mão, o veneno da calúnia, acendendo, ao mesmo tempo, o facho da discórdia, inspirando atos comprometedores, tentando desencaminhar a doutrina, a fim de torna-la ridícula ou odiosa w simular em seguida defecções.” (1)

              A firmeza com que Kardec pintou esse retrato da situação verificada nos primeiros tempos do Espiritismo, deve ser analisada, porque nunca se sabe se esses perigos desapareceram totalmente ou se são suscetíveis de reaparecer periodicamente.

             E Kardec prossegue: “Outros ainda são mais habilidosos: pregando a união, semeiam a separação; destramente levantam questões irritantes e ferinas; despertam o ciúme da preponderância entre os diversos grupos; deleitar-se-iam, vendo-os apedrejar-se e ergue bandeira contra bandeira, a propósito de algumas divergências de opiniões sobre certas questões de forma ou de fundo, as mais das vezes provocadas intencionalmente.” (1)

             Meditamos sobre essas palavras impressionantes do Codificador, que completa seu pensamento desta forma: “Esses são espíritas de contrabando, mas que também foram de alguma utilidade; ensinaram o verdadeiro espírita a ser prudente, circunspecto e a não se fiar nas aparências!” (1)

             Hoje, infelizmente, a situação do Espiritismo é diversa daquela que desafiou o valor moral de Allan Kardec, sem resultado, aliás. Todavia, os espíritas devem estar sempre alertas, porque o poder da Treva é grande e sempre deseja experimentar a sinceridade das nossas convicções e a solidez dos nossos propósitos. A arma que devemos usar é a Doutrina: a defesa que melhor nos resguardará está no Evangelho.

             Trabalhando com devotamento e sinceridade, estaremos mais perto da Verdade, sem, no entanto, nos esquecermos um só instante desta advertência contida numa comunicação de Allan Kardec, já então no mundo dos Espíritos: “Insta não perder de vista que estamos num momento de transição e que nenhuma transição se opera sem conflito. Ninguém, pois, deve espantar-se de que certas paixões se agitem, por efeito de ambições malogradas, de interesses feridos, de pretensões frustradas. Pouco a pouco, porém, tudo isso se extingue, a febre abranda, os homens passam e as novas ideias permanecem. Espíritas, se quereis ser invencíveis, sede benévolos e caridosos; o bem é uma couraça contra a qual sempre se quebrarão as manobras de malevolência...” (2)

         (1)   Kardec – “Obras Póstumas”, edição de 1949, pág. 225

         (2)   Id., id., pág. 229


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