Gabriel Delanne:
Ciência e Espiritismo’
Parte 2/2
Mas voltemos ao prefácio a que aludimos e do qual selecionamos esta passagem:
“.... O Espiritismo foi muito escarnecido pelos ignorantes e pelas pessoas interessadas em destruí-lo , mas como ela se apoia em fatos naturais, fácil lhe foi vencer seus detratores e, mais forte, como nunca esteve, marcha para a conquista do mundo intelectual. Como explicar seus continuados progressos? É que ele tem como método a pesquisas científica. a que emprega a observação e a experiência e que recruta seus adeptos entre as pessoas ávidas de conhecimentos precisos sobre o dia que sucederá ao da morte.
“A Filosofia é impotente para nos informar a respeito da natureza do princípio pensante e respectivo futuro; seus mais célebres representantes chegaram a conclusões diametralmente opostas sobre esta questão fundamental. O espírito que investiga com imparcialidade erra, desorientado, no inextricável dédalo das afirmações contraditórias e cai finalmente no cepticismo, ao verificar a incapacidade daqueles que tentaram decifrar o enigma de nossos destinos. As religiões apelam para a fé, no propósito de sustentarem seus ensinos dogmáticos, mas como diferem entre si e como todas pretendem ser as únicas portageiras de verdade absoluta, elas deixam o pesquisador na indecisão. Quem, pois, nos dará a certeza da realidade da alma e nos dirá se ela é imortal?
“Não hesitaremos em responder que o Espiritismo resolve completamente estes problemas. Ele se utiliza da observação e da experiência para estabelecer que a alma existe durante a vida e que sobrevive à destruição do corpo físico. Foi empregando este método positivo que o Espiritismo criou a verdadeira Psicologia Experimental, aquela que se baseia em fatos sempre controláveis, quando as circunstancias permanecem as mesmas.”
E, mais além, nesse mesmo Prefácio, afirmava aos negativistas por sistema:
“Não é mais à meia noite, no matagal deserto ou nos castelos em ruínas, que os fantasmas se mostram; é no laboratório do sábio que eles aparecem para se submeterem a todas as condições domais rigoroso exame.”
Já no remate de sua peregrinação terrena, Gabriel Delanne, como sabemos, perdeu a visão para as coisas físicas, ficou cego! Incapaz, portanto, para continuar nas suas pesquisas científicas. Acontece, porém, que um novo campo de observações se lhe abriu, e ele passou a descortinar coisas maravilhosas que jamais supusera pudessem existir além das verdades espíritas encaradas pelo único ângulo que le as admitia – o ângulo da Ciência positiva!
Naturalmente, para que seu trabalho não fosse acoimado de fé subjetiva, de misticismo, ou de ideias filosóficas, o Espírito de Delanne, nessa encarnação, veio com a missão especifica de realçar os fenômenos espiritas, expondo a verdade exuberante da Codificação Kardequiana, tudo em perfeita consonância com os preceitos e postulados da ciência humana.
Por isso, o Dr. Canuto Abreu, em seu citado artigo na revista “Metapsíquica”, disse aludindo a Gabriel Delanne:
“Mentalidade politécnica, afeiçoada desde cedo aos estudos exatos, às pesquisas científicas, às observações frias, ás deduções rigorosas, ao horror do erro, da ilusão e da fraude – foi o chefe supremo da parte experimental do Espiritismo, à qual deu o maior desenvolvimento, ainda não suplantado.”
Cumprida a tarefa que lhe fora confiada e da qual tão magnificamente se desincumbiu, recebeu, como prêmio, a cegueira física para que os olhos do Espírito pudessem então maravilhar-se com a verdade integral do Espiritismo!
Sim, porque Espiritismo não é ciência, Espiritismo não é filosofia, Espiritismo não é religião! Espiritismo é um todo indecomponível, formado destas três facetas. E Gabriel Delanne durante sua longa peregrinação foi privado das consoladoras bênçãos do Espiritismo total, não porque seu espírito não sentisse ânsias de algo que só a Filosofia concede e que o Evangelho faculta, dentro desse organismo para onde convergem as três forças propulsoras do verdadeiro progresso espiritual, na sua mais lata e ampla acepção. Mas era preciso que ele sofresse e ficasse assim privado desses sublimes refrigérios da lama, a fim de que a Doutrina Espírita penetrasse nas altas esferas do conhecimento humano, para que despertasse os homens de pensamento, de maneira a que vissem no Espiritismo uma fonte inexaurível de estudos da mais alta transcendência. E essa cegueira e mais a paralisia que lhe dificultava os movimentos, fechando-lhe definitivamente o mundo dos efeitos, transportou-o para o das causas, pouco penetrável pela ciência dos homens. E é ainda Canuto Abreu quem nos pinta, com tintas muito delicadas, o quadro da nova fase do extraordinário Gabriel Delanne, dizendo:
“Então, num plenilúnio de recompensa dada ainda em vida terrena, ele foi encontrar o redil dos cordeiros cristãos. Aproximou-se como peregrino cansado. Tateou a cerca até a porta. Bateu. A porta era Jesus, e abriu-se. Ele entrou emocionado. Aquele rebanho, que nunca o havia interessado quando gozava a visão da carne, era agora o seu rebanho.”
Grande, pois, foi a surpresa para os circunspectos psiquistas de todas as partes do mundo, que haviam acorrido ao Congresso Espírita Internacional, em 1925, quando, na sessão de abertura dos trabalhos, a 7 de setembro, se fez ler o discurso de Delanne, e que assim principiava:
“Roguemos para os nossos trabalhos a benção divina, pois que é nela que reside todo o poder, toda a ciência, toda a justiça, toda a bondade e todo o amor.”
Noutra parte dessa mensagem ao Congresso, lembrava ele aos estudiosos presentes:
“Para todas as nossas investigações, não receemos pedir ao mundo invisível as instruções necessárias. Não nos esqueçamos de que uma falange de grandes sábios continua no Além a se interessar pelos nossos trabalhos. Eles se acham associados aos Espíritos de Luz incumbidos de dirigir o grande movimento de renovação moral e intelectual tão necessária na hora presente! Com todas as nossas forças, apelemos para eles. Que esses nossos amigos nos inspirem!”
Como se vê, Delanne revelava-se agora um espírita completo.
Desencarnou, como dissemos, em 13 de fevereiro de 1926, justamente quando ia escrever, para o “Bulletin” da União Espírita Francesa (Union Spirite Française), mais uma das suas eloquentes páginas de saudação a todos os espíritas franceses, de maneira que esse periódico, em vez do seu costumeiro artigo, trouxe, nesse mês de fevereiro, em sua primeira página, o necrológio do gigante do Espiritismo científico, que também foi membro do Comité do célebre “Instituto Metapsíquico Internacional” e apreciado conferencista.
Para finalizarmos, ouçamos o depoimento de Jean Meyer (o grande amigo de Allan Kardec, o homem que em 1919 criou, em paris, o Instituto Metapsíquico Internacional e a União Espírita Francesa) no seguinte trecho do discurso que então pronunciou em Londres, quando do Congresso Espírita Internacional de 1928:
“Relembrando a memória de Léon Denis, não poderei olvidar a de Gabriel Delanne, Presidente da União Espírita Francesa e da Sociedade Francesa de Estudos dos fenômenos Psíquicos. Ele era, como Léon Denis, membro de honra da Federação Espírita Internacional. Até o último alento, foi um trabalhador incansável, sendo muito importante para o Espiritismo a sua contribuição, pois seus escritos, e com justiça, são considerados com os de Allan Kardec, Léon Denis e Bozzano, clássicos de Espiritualismo moderno”
.
Todos os anos, no domingo mais próximo do dia 31 de março, data da desencarnação de Allan Kardec, os espiritistas franceses prestam ao mesmo, diante de seu túmulo, no Père-Lachaise, sentidas homenagens, fazendo-se então ouvir os mais destacados representantes do Movimento espírita de França.
E sempre após essa cerimônia simples e toda espiritual, os presentes, conforme é de tradição, se encaminham para um outro sepulcro, situado pouco adiante: é onde jazem os despojos do grande admirador de Kardec – Gabriel Delanne. Aí, um que outro orador dirige a esse Espírito palavras de reconhecimento, exaltando-lhe a relevante obra e os incontestáveis méritos.
Gabriel Delanne dedicou toda a sua vida à propagação do Espiritismo, pelo qual se sacrificou inutilmente aos olhos daqueles que só veem no imediatismo a verdadeira razão do viver humano e por isso não podem compreender que, por força desse desprezo pelas vaidades e ambições terrenas, ele se cobriu com os louros espirituais de um trabalho bem conduzido, sem vacilações e fielmente executado até seu derradeiro instante de sua vida corpórea.
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