50
SESSÃO DE 22 DE MAIO DE 1940
Comunicação final, sonambúlica
Segunda do mesmo Espírito que se manifestara, pela primeira vez, quinze dias antes.
Estudara-se ainda, sob novos aspectos, pelo Evangelho de João, o episódio da “ressurreição de Lázaro”.
Terminado o estudo, ele se apresenta e diz o que se segue, onde há vários conceitos merecedores da atenção dos que formam a nossa família espírita.
Médium: J. CELANI
Espírito. – O estudo é atraente, mas pouco produz sem conjugação do ensino com a prática, porque ficam sem eco as palavras e sem proveito a evangelização.
Na falta dessa conjugação está a causa primordial do insucesso da Igreja e a principal causa da hecatombe a que a humanidade assiste sem lhe compreender a origem, nem a finalidade.
Eu vim da Igreja. Discípulo de Loiola, participei das tramas e insídias que me pareciam favoráveis à causa cujo serviço me votara com tanta paixão, que não hesitava em valer-me do crime sob todas as modalidades e das mais tremendas misérias.
Voltei para o espaço; tornei à terra: regressei de novo ao espaço sempre ligado às correntes que, como dizeis, combatem o Cristianismo.
A minha ação tenebrosa me elevou à categoria de chefe de uma falange numerosíssima de Espíritos obstinados no mal. No exercício dessa chefia foi que comecei a sentir e perceber a existência de um poder mais alto, a governar os seres e as coisas. E, quanto mais me compenetrava da existência desse poder, tanto mais fraca se ia tornando a minha ação e menos lúcida a minha inteligência para a urdidura dos planos de combate a serem executados pelos falangistas às minhas ordens.
De par com a restrição que experimentava o meu poder, o sofrimento me cerceava os vôos da inteligência. A paralização do meu esforço na prática do mal, o tolhimento da expansão do meu ódio contra tudo e contra todos que se opunham à realização dos meus desígnios queimavam-me o espírito, como se fora fogo vivo.
Afinal, privado, por assim dizer, do uso e gozo do livre arbítrio, vendo muitos dos meus soldados insubordinarem-se contra minhas ordens, vim ao vosso meio. Discreteei convosco sobre questões de filosofia religiosa e de moral cristã. Quando dei acordo de mim, somente vi ao meu derredor o vácuo.
Não mais soldados obedientes ao meu mando. Mas, no isolamento em que me encontrava, havia uma relativa tranquilidade, pelo me haverdes proporcionando bases para a edificação de outros ideais.
Desde então, não mais deixei de peregrinar pelos vossos Centros, na ânsia de aprender a nova doutrina que felicita a tantos de vós outros. Mas, com pesar o digo, não encontrei por toda parte o que aprender do ensino cristão, porque, em grande número dos vossos Centros, existem as mesmas tramas e insidias que reduziram a Igreja a uma figura decorativa no seio da humanidade.
Por isso meus - deixai que eu empregue o termo - amigos, como aprendiz que sou, venho discretear convosco sobre necessitade da prática, antes da palavra, porquanto a mim me beneficiaram muito mais os sentimentos daquele que me falou, do que as palavras que me dirigiu.
Aqueles que, invisíveis para vós, me ouvem, penetram os vossos corações, em busca da essência dos ensinos que pregoais, para confratenizarem convosco e trabalharem em nova cruzada, a bem de seus espíritos.
Enquanto as coisas andarem como há pouco vos disse, as vossas hostes estarão dispersas, porque, não se compreendendo todos reciprocamente, não podem conjugar a ação geral para realização de um trabalho uniforme, pela salvação da humanidade.
Não há necessidade de religiões para o serviço da verdade, pois que o Cristo disse: “Onde se reunirem dois ou três em meu nome, eu com eles estarei”’. Ora, onde estiver o espírito do Cristo, estarão a Força, a Luz e o Amor.
Tenho dado assim o meu recado. Não vim dizer-vos estas coisas para instruir-vos. Quão pobre sou ainda de cabedais nesse terreno! O que vos disse é apenas a profissão da fé que faz um novo levita convertido neste recinto, onde recebeu o banho de luz, que dissipou as trevas da sua ignorância espiritual.
O Mestre ordena e os discípulos obedecem através dos séculos. Conheci a disciplina férrea do poder temporal; tornei-me assim um disciplinado. Quero pois, servir ao Cristo todo amor, pureza e simplicidade e não poderei servi-lo melhor do que desfazendo a minha obra tenebrosa do passado, com o trazer para o seu seio, para as fileiras do seu exército, aqueles que me acompanharam pelas estradas do crime, da iniquidade, das misérias de toda ordem.
De quando em quando, ainda em mim fala o orgulho, não de todo morto, de um saber efêmero, que nem sempre a criatura pode utilizar. Nesses instantes, porém, sou rapidamente envolvido pelo amparo e a animação de criaturas ao serviço do amor e da verdade e, então, o homem novo ressurge e se fortalece no propósito de prosseguir no carreiro santo da salvação.
Parto, pedindo-vos perdão pelo tempo que vos roubei. Segundo-me dizem voltarei a gozar destes momentos de inefável prazer para o meu espírito.
Deus vos abençoe. – Miguel (Ex-maioral da Inquisição na Espanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário