‘As Más Conversações
Corrompem os Bons Costumes’
Dirigindo-se aos Coríntios, Paulo de Tarso afirmou que as más conversações corrompem os bons costumes (1ª, XV, 33).
O conceito do apóstolo dos gentios vem confirmar a anotação contida no Livro dos Salmos, de ser do nosso dever guardar a língua, de modo a que os lábios não venham a falar mentirosamente (XXXIV, 13). Nos Provérbios de Salomão, o mesmo tema é apresentado de forma objetiva, com a assertiva de que os lábios dos justos sabem o que mais agrada, enquanto a boca dos ímpios anda cheia de perversidades (X,32) e, mais adiante, de que a boca, quando aberta com sabedoria, nela sempre se encontra a caridade (XXXI,26).
Como é fácil de se constatar, o cristão renovado, que é o espírita evangelizado, não mais pode servir como veículo de escândalo, através da palavra irreverente ou incorreta.
Cuidemos de dar merecida importância ao flagelo social que é a maledicência, compreendendo que a língua tanto pode bendizer como amaldiçoar (Tiago, III, 9).
O espírita cristão necessita, por isso, censurar rigorosamente a sua conversação, para que não lhe propicie desenganos e tristezas. Esclarecem os nossos Bondosos Benfeitores Espirituais que a má conversa pode acarretar-nos os mais deploráveis desastres:
a Traçar a nossa inferioridade moral;
b criar um clima de desconfiança e desassossego;
c quebrar o sentido fraterno da vida;
d corromper o nosso equilíbrio mental; e materializar os fantasmas da calúnia, da morte e da desolação.
Paulo de Tarso tinha razão ao assegurar que o obreiro do bem não tem do que se envergonhar, porque maneja a palavra da verdade, fugindo do falatório profano, que corroi como o câncer. (2º Timóteo, II, 15 a 17)
O cristão renovado necessita filtrar o que ouve, fechando os canais auditivos para a palavra que expresse malícia, incompreensão, intriga ou maldade. pensamos que isso seja de suma importância, porque os temas negativos envenenam o coração a largo prazo. Recordamos curioso episódio:
Velho e dedicado confrade despertou, certa vez, irradiando felicidade. O dia era lindo, ensolarado, com o céu inteiramente azul, esbanjando saúde e alegria. Abriu a janela, a fim de sorver, em exercício respiratório, o medicamentoso ar daquela manhã de tantos júbilos, quando notou que o vizinho o saudava, do outro lado do muro. A saudação, entretanto, trazia dramático colorido, assim se resumindo:
- Tudo vai mal. Não sei mais o que pensar. A politica entregue a demagogos e desonestos, os gêneros alimentícios alcançam preços proibitivo, a mocidade cada vez mais corrompida, a vida...
... e não pode prosseguir, porque o estimado confrade, fechando a janela, entrava em prece, visando a arejar o ambiente e não se contaminar com a mordacidade e o pessimismo do vizinho.
Com o nosso querido Chico Xavier aconteceu coisa ainda mais expressiva. Contou-me ele que, certa vez, quando caminhava por uma estrada de Pedro Leopoldo, percebeu que a seu aldo ia um desconhecido. Como é de costume nas cidades do interior, trocaram saudações e foram conversando. O desconhecido, então, entre gostosas gargalhadas, contou para o Chico imoralíssima anedota. Como sincero servo de Jesus e escravo da moral evangélica, Chico foi ficando ruborizado e chegou ao fim do percurso conduzindo acentuada indignação interior. Despediu-se do desconhecido e foi aí que o venerável Emmanuel lhe ofereceu a preciosa lição::
- Porque você, quando o moço concluiu a sua deplorável narrativa, não lhe contou uma outra história, que contivesse formoso sentido moral?
Acontecimentos como estes se repetem todos os dias, em nossas vidas, importando, por isso, que haja o maior cuidado, de nossa parte, no “ouvir” e também no “falar”, afim de que a nossa palavra reflita sempre o que de melhor possua o nosso coração.
O apóstolo Tiago lembra que carregamos um reservatório de água no coração, cabendo à boca fazer as vezes de torneira, através da qual possa correr a água desse reservatório. Se as nossas palavras e conceitos são de ordem inferior, é evidente ser má a qualidade dessa água, mas se elas expressam ideias e opiniões moralizadas, pode-se concluir ser doce o conteúdo do reservatório.
Ora, encerrando a conversação ódio ou indignidade, é claro que o nosso coração vem sendo sustentado com energias de qualidade inferior ou, por outra palavras, com águas amargosas.
Por isso, importa nos poupemos das murmurações negativas, que geram antipatias e discórdias; das lamentações descabidas, que atraem as mais atrozes enfermidades; e dos protestos injustificados, que semeiam a desdirá e a ruína.
Quando o espírita cristão consegue libertar-se do homem velho, ou melhor, de suas antigas imperfeições, pode anunciar, como fez Paulo de Tarso aos Colossenses, que já se encontra despojado da ira, da cólera, da malícia e da maledicência. (III, 8 e 9).
O cristão renovado necessita resguardar a moral, a verdade, o equilibro emocional, a fé a e caridade. E nada mais indicado para isso do que domar a língua, como são domados os cavalos bravios, com diminuto freio, e as embarcações gigantescas, com reduzido leme (Tiago, III, 3 a 5).
Cuidemos de respirar na zona lucida do bem, no clima do amor, invariavelmente louvando e ajudando.
Cuidemos de distribuir a meiga palavra evangélica aos aflitos, levando-lhes a consolação e a esperança; e também a segura palavra de orientação aos desajustados e aos que experimentam tumultos íntimos, oferecendo-lhes a emancipação da dor e a libertação das trevas.
Cuidemos de só abrir a boca para construir, louvar e perdoar, a fim de que as nossas gargantas jamais sejam sepulcros abertos, onde a língua fale mentirosamente e a injúria permaneça em seu interior (Romanos, III, 14).
por Arthur da Silva Araújo
in (Reformador Fev 1970)
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