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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Um artigo de Kardec



Artigo
de Kardec 

Reformador (FEB) Outubro 1947 (?)
apresenta artigo  publicado na Revue Spirite de Junho de 1866
               

                Os formatos em itálico e as observações entre parênteses foram postos pelo Reformador.

            Esta obra (Os Quatro Evangelhos, de Roustaing) compreende  a explicação e a interpretação dos Evangelhos, artigo por artigo, com a auxílio de comunicações ditadas pelos Espíritos. É um trabalho considerável e que tem, para os espíritas, o mérito de não estar em contradição, por qualquer dos seus pontos, com a doutrina ensinada n’O Livro dos Espíritos e no dos Médiuns. As partes correspondentes às que tratamos n’O Evangelho segundo o Espiritismo o são num sentido análogo. Aliás, como nos circunscrevemos às máximas morais que, com raras exceções, são geralmente claras, elas não poderiam ser interpretadas de maneiras diversas; por isso mesmo jamais fizeram objeto das controvérsias religiosas. Essa a razão que nos levou a começar por aí, a fim de sermos aceito sem contestação, aguardando, relativamente ao mais, que a opinião geral se encontrasse familiarizada com a ideia espírita.

            O autor dessa nova obra julgou seguir outra orientação: em lugar de proceder gradativamente, quis de um salto atingir o fim. Assim é que tratou de certas questões que ainda não julgáramos oportuno considerar e a respeito das quais, portanto, lhe deixamos a responsabilidade, assim como aos Espíritos que as comentaram. Consequente com o nosso princípio, que consiste em regular a nossa marcha pelo desenvolvimento da opinião, não daremos, até nova ordem, a essas teorias, nem aprovação, nem desaprovação, confiando ao tempo o encargo de as sancionar ou contraditar. Convém, pois, considerar tais explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas, que, em todo caso, precisam da sanção da apreciação universal e, até confirmação mais ampla, não devem ser tidas como parte integrante da Doutrina Espírita.

            Quando explanarmos estas questões, fa-lo-emos terminantemente. É que então teremos colecionado documentos bastante numerosos, nos ensinos dados de todas as partes pelos Espíritos, (Esses ensinos não surgiram e nem Kardec procurou ouvir os Espíritos sobre o assunto) de modo a podermos falar afirmativamente, certo de estarmos acorde com a maioria. Assim procedemos sempre que se cogitou de formular um princípio capital. Já o dissemos cem vezes: para nós, a opinião de um Espírito, qualquer que seja o nome com que se apresente, só tem o valor de uma opinião individual; o nosso criterium reside na concordância universal, corroborada por uma rigorosa lógica, no tocante àquilo que não possamos verificar pelos nossos próprios olhos. De que nos serviria darmos prematuramente uma doutrina como verdade absoluta, se, mais tarde, ela pode vir a ser combatida pela generalidade dos Espíritos?

            Dissemos ainda que o Livro do Sr. Roustaing não se afasta dos princípios exarados n’O Livro dos Espíritos e no dos Médiuns; as nossas observações, por conseguinte, entendem com a aplicação desses mesmos princípios à interpretação de certos fatos. É assim, por exemplo, que aquele livro dá ao Cristo, em vez de um corpo carnal, um corpo fluídico concretizado, com todas as aparências da materialidade e dele faz um agênere. Aos olhos dos homens, que então não lhe teriam podido compreender a natureza espiritual, ele teve que passar na aparência, palavra esta que incessantemente se repete no curso inteiro da obra, por todas as vicissitudes da humanidade. Desse modo explicaria o mistério do seu nascimento: Maria não teria tido mais do que as aparências da gravidez. Este ponto é estabelecido como premissa e pedra angular, é a base em que o autor assenta a explicação de todos os fatos extraordinários ou milagrosos da vida de Jesus. 

            Nada há nisso, sem dúvida, de materialmente impossível, par quem conhece as propriedades do envoltório perispiritual. Sem nos pronunciarmos pró ou contra esta teoria, diremos que ela é, pelo menos, hipotética e que, se um dia, por errônea viesse a ser reconhecida, o edifício desmoronaria à falta de alicerce.

            Esperaremos, pois, os largos comentários que ela não deixará de provocar da parte dos Espíritos (Esses comentários não apareceram espontaneamente e nem mesmo provocados, senão, mais tarde, e favoravelmente, em terras do Brasil e de Portugal) e que hão de contribuir para elucidar a questão. Sem a prejulgarmos, adiantaremos que a essa teoria já foram feitas objeções sérias (No começo do Cristianismo, os Católicos fizeram realmente objeções não somente à teoria do corpo fluídico concretizado, mas igualmente à reencarnação) e que, a nosso ver, os fatos podem perfeitamente ser explicados sem que se saia da humanidade corporal.

            Estas observações, subordinadas à sanção do futuro, em nada diminuem a importância da obra que, de par com algumas coisas duvidosas, segundo o nosso ponto de vista, outras contém incontestavelmente boas e verdadeiras e será consultada com proveito pelos espíritos conscienciosos.

            Se a substância de um livro constitui o principal, a forma não é de desprezar-se e também concorre para o êxito. Achamos que certas partes do trabalho do Sr. Routaing são excessivamente desenvolvidas e sem utilidade para a clareza. No nosso parecer, se, limitando-se ao estritamente necessário, houvera reduzido a obra a dois ou mesmo a um só volume, ela ganharia em popularidade.







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