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terça-feira, 9 de julho de 2013

'Verdades Amargas'



Verdades Amargas
Túlio Tupinambá ( Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Jan 1961

            O Espiritismo, além da influência benéfica que vem exercendo sobre os homens, mercê da sua característica eminentemente cristã, porque indiscutivelmente legítima, vem também reeducando a Igreja, dando-lhe exemplos que estão sendo por ela imitados. Todos sabemos o temor dos bonzos católicos pelo progresso da doutrina kardequista. De quando em quando surgem arremetidas mais ou menos furiosas contra o Espiritismo, sustentadas pelo sofisma, pela falsidade e pelo engodo. Já estamos habituados a isso e, naturalmente, não costumamos dar muita importância aos ataques, pois sua fragilidade está na razão direta dos argumentos capciosos e inverídicos utilizados pelo clero, que alcança conclusões logicamente irreais.

            Há sacerdotes que, por curiosidade ou outro qualquer motivo, leem livros espíritas, de Emmanuel, André Luiz e outros. Alguns até se valem desses livros para as suas pregações, apenas mudando os pontos que divergem do ensino católico, mas aproveitando as lições intrinsecamente cristãs que se encontram nessas obras.

            Agora, a Igreja, através dos seus corifeus, está adotando outra velha prática espírita, concernente ao culto cristão no lar. Aconselham os adeptos do Catolicismo a fazerem reuniões em casa, lendo e comentando livros, tal como há longos anos foi iniciado entre os espíritas. Um deputado-professor católico, por exemplo, aconselha pelo rádio aos católicos que adquiram certo livro de um frade, onde há uma “salada” destinada a dar aos que desconhecem a verdade sobre o Espiritismo uma noção deturpada da nossa crença, da nossa Doutrina, das nossas práticas. Diz ele que devem fazer reuniões domésticas, lendo e comentando cada trecho dessa congérie de tolices, cuja finalidade é apenas apresentar o Espiritismo de acordo com os interesses subalternos da Igreja. Evidentemente, não poderíamos esperar outra coisa, porque os processos católicos são muito conhecidos e, por serem muito conhecidos, são também muito desmoralizados.

            Antes, a maior ofensiva do clero católico era contra os protestantes de todos os matizes. Com o advento do Espiritismo e seu estonteante progresso em todo o mundo, principalmente no Brasil, a Igreja dividiu suas tarefas de combate, devotando maior atenção, em nosso País, à “destruição” do credo espírita. Nada tem conseguido e nada conseguirá. Em outros tempos, quando podia torturar e queimar vivos os “hereges”, sua ação era mais ampla. Mesmo assim, deixou de prevalecer à medida que a Humanidade se foi esclarecendo e compreendendo que a Verdade não era a que consta no anedotário católico, com os seus milagres e os seus arranjos teatrais, hoje irremediavelmente desmascarados. Compreendendo a Igreja a necessidade de amparar-se, procura realizar congressos ecumênicos, com a participação dos protestantes e ortodoxos. Não há dúvida de que o ideal seria a unificação religiosa, o congraçamento de todos os credos ditos cristãos. Como podem, porém, protestantes e ortodoxos confiar na sinceridade da Igreja Católica, se ela, traindo o próprio pensamento do Cristo, ataca e procura destruir outras religiões, outros ramos do Cristianismo, para tentar restabelecer - coisa impossível, hoje em dia - a sua dominação ditatorial, férrea e intolerante?

            Uma religião cristã só o é quando permanece fiel a todos os princípios do Evangelho de Jesus. Desde que não os respeite ou somente os acate segundo conveniências ditadas por interesses sectários, não tem autoridade alguma para pretender liderar o mundo cristão. Além disso, de tal sorte a Igreja falhou em sua missão no mundo, que o materialismo está fortalecido, principalmente nos países que mais se dizem cristãos. Ela, que se ensanguentou em negregadas campanhas a outras crenças, que moveu guerra “religiosa” a vários povos, que não trepidou em empapar de sangue a Terra e de escurecer os céus com o fumo de incontáveis fogueiras inquisitoriais, não tem nenhum direito e muito menos autoridade para se impor à confiança de outros ramos do credo cristão.

            Repete, apesar da astúcia de seus “capitães”, as anedotas em que a raposa ladina busca tirar partido da inocência, da boa-fé e da credulidade alheias...

            O Espiritismo não teme a Igreja nem os processos anti evangélicos de que ela continua a se utilizar. A crença espírita não é obra humana: veio do Alto, foi estabelecida através de instruções de nobres Espíritos. Nada pode temer e nada teme, portanto. Como força cristã, o Catolicismo é uma caricatura. Seu poder, hoje, não decorre da ideologia do Cristo, mas das barganhas políticas com o Estado. E, na realidade, o Estado sai sempre perdendo. Não faz muitos dias, ouvimos uma informação pelo Rádio, segundo a qual era solicitada uma verba ao Governo, a fim de atender a despesas decorrentes da primeira reunião de bispos no Nordeste...  Quem se dispuser a uma observação menos superficial acerca do crescimento do poder político da Igreja em nosso País, verificará que ele reconquistou a posição - posição política, bem entendido - que tinha ao tempo da Monarquia. A primeira República firmara o preceito de separação da Igreja, até então grudada ao Estado, mas, infelizmente, interesses outros permitiram viesse ela a reconquistar a praça. Não há um ato político ou governamental que não tenha a presença de um representante do clero, que “está em todas”, inclusive até em programas vulgares no Rádio e na Televisão. No entanto, estamos precisando de uma polícia de costumes, de retorno à respeitabilidade em lugares públicos e de ação moralizadora em muitos setores da vida nacional. E o povo continua esperando por isso, como em Portugal, décadas e décadas depois do desastre de Alcácer Quibir, havia quem esperasse a volta de D. Sebastião...


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