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segunda-feira, 22 de julho de 2013

'Ciência, Filosofia e Religião'


Ciência, Filosofia
e Religião


por Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Fevereiro 1961

            Allan Kardec demonstrou que o Espiritismo estuda fenômenos naturais, espontâneos e provocados, do mesmo modo que as ciências naturais, e, por isso, tem muito de comum com a Ciência. Este é o seu aspecto mais terra-a-terra, satisfaz apenas à curiosidade, à sede de saber.

            Em segundo lugar, busca a interpretação desses fenômenos, descobrindo as leis que os governam e recebendo das entidades comunicantes a revelação de outras leis mais abstratas, mas igualmente naturais, que esclarecem a vida em suas múltiplas modalidades. Procura as causas, os processos, as finalidades e assim invade os domínios da filosofia, formando uma concepção do Universo e da Vida.

            Como essas indagações abrangem todos os aspectos da Vida e do Universo, o visível e o invisível, elas constituem um corpo de filosofia realmente grandioso e que não perde o contato com o terra-a-terra da observação científica, mas toca os domínios da Religião, porque demonstra que os estados da alma humana estabelecem relações de afinidade ou de desacordo com as leis que presidem à Vida, criando respectivamente a plenitude ou o vácuo, a felicidade ou o sofrimento. Demonstra que existem leis de afinidade que permitem o contato do homem com as Inteligências Superiores que executam os desígnios de Deus, ou, ao contrário, dificultam esse contato e estabelecem afinidade com inteligências inferiores que ainda não têm consciência dos desígnios de Deus e retardam a evolução do homem.

            Esse grandioso corpo de filosofia espírita, formado em parte pela observação e em parte recebido pela revelação, é profundamente religioso, porque demonstra a existência de Leis Divinas que regem a Natureza, Leis que tudo planejaram inteligentemente, e às quais o homem tem de submeter-se em seu próprio benefício para alcançar a plenitude da vida; mas tal sistema filosófico não deixa de ser igualmente científico, porque é da observação dos fenômenos que ele recolhe confirmação para suas teorias e para as revelações que recebe das entidades comunicantes.

            Os críticos do Espiritismo ainda se acham na primeira fase, na observação dos fenômenos, e observação até muito incompleta e imperfeita. Terão de levar ainda muito tempo para aceitar os fenômenos e compreendê-los, pois que estudam, ou tentam estudar, com os olhos vendados pelos preconceitos da escola materialista. Despenham-se para o abismo das negações inteiramente anticientíficas ; procuram apenas o que possam encontrar de negativo.

            Enquanto estudam apenas para negar, em outras inteligências mais livres a filosofia espírita vai conquistando terreno sem levar em conta os críticos negadores.

            A filosofia espírita vai lhes demonstrando que nessa imensa oficina de Deus, que é o Universo, o homem é um produto ainda inacabado, nos mais diferentes graus de aperfeiçoamento, mas rumando todos para a perfeição que terá de ser alcançada dentro da eternidade. Comparando o que já realizou ele de progresso moral e intelectual neste curto tempo decorrido depois de seu aparecimento sobre a Terra, onde ele é um recém-chegado em comparação com outros seres vivos que existiram durante milhões de anos antes dele, surge a grande esperança de seus altos destinos nos futuros milênios.

            Os negadores vão ficando insulados e pasmos de o mundo não lhes dar a atenção que eles julgam merecer. Virá afinal o tempo em que o Espiritismo será ideia velha e consagrada pela Humanidade. Só então os negadores de hoje, já em novas encarnações, poderão extasiar-se diante dessa majestosa concepção da Vida e do Universo que é exposta pela filosofia espírita.

            Todos os conhecimentos científicos revelam leis sábias da Natureza e nos levam ao respeito pela Força Misteriosa que estabeleceu essas Leis, sendo, portanto, caminhos para a Religião.

            Todas as explicações dos fenômenos sábios da vida são dados filosóficos que nos despertam igualmente o maior respeito pela Força que se manifesta nas Leis da Vida, conduzindo-nos, portanto, à Religião, à adoração do Criador.

            Consequentemente, os aspectos científicos e filosóficos do Espiritismo nos descerram o seu sublime aspecto religioso.

            Quem se detenha só nos fenômenos, alcança uma parte muito pequena do todo. Quem se contente com seu majestoso sistema filosófico, conquista um imenso tesouro intelectual, mas fica ainda na região apenas do conhecimento inoperante. Quem se eleva ao seu aspecto religioso, incorpora o Espiritismo à vida; entra para a vida universal, para a afinidade com a Misteriosa Força criadora do Amor Universal que está presente em tudo e em todos; começa a sentir em si mesmo a unidade da criatura com o seu Criador e, por isso, a perceber a solidariedade de tudo que vive.

            O conhecimento científico satisfaz à curiosidade, o filosófico contenta à razão, mas só o religioso se incorpora à vida.

            No entanto, o aspecto religioso, sem os seus alicerces científico e filosófico, produziria apenas o fanático religioso, desorientado, que agiria loucamente contra as Leis naturais, tentando submetê-las ao seu arbítrio e a seu proveito, no maior desrespeito à harmonia universal. Só conduziria a desenganos.

            Os três aspectos são inseparáveis.

            Depois de haver bem compreendido esses três aspectos, o homem se torna de um otimismo irresistível. Tudo se transforma em bem a seus olhos; mesmo as situações e dores mais terríveis são apenas processo da evolução para atingir um bem maior, um grau mais elevado de vida e felicidade. Em tudo Deus se lhe manifesta através dos homens e da Natureza.

            Sua perfeita Justiça tudo corrige e transforma em bem.

            Começa o homem a compreender a Providência Divina que o cerca de amparo desde antes do nascimento até depois da morte, pondo lhe no caminho da vida somente benfeitores: uns na forma positiva de parentes e amigos que o protegem diretamente, outros na forma indireta de inimigos que o advertem, admoestam, corrigem defeitos, punem faltas, reparam o passado, cobram dívidas cármicas, ajudando-lhe sempre o progresso e lhe criando felicidade.

            Uma calamidade universal, que aos leigos apavora, é para ele uma bendita expiação coletiva para abreviar o progresso dos homens, conduzindo-os mais rapidamente à felicidade.

            O maior monstro da História é para ele apenas um anjo retardado na evolução, mas que terá fatalmente de chegar à plena angelitude, porque Deus não o desamparará nunca, Suas sábias Leis se encarregarão de conduzi-lo ao bem supremo.

            O mundo mental do espírita é absolutamente impenetrável para o leigo, para o adversário, mas o leigo e o adversário também estão no caminho do progresso e chegarão infalivelmente a ser espíritas perfeitos no futuro; virão um dia a possuir todo esse sublime idealismo que a tudo ilumina e embeleza.





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