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domingo, 28 de julho de 2013

27. 'Rimas do Além Túmulo'



27
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina

Vendilhões do Templo

Passas. Eu fico contemplando
teu vulto alegre pela estrada
por onde tu vais semeando,
em vez do Bem, a gargalhada.
Por ser vaidoso e folgazão,
eu não te acuso, meu amigo;
mas, se o vigário em vendilhão
se torna, é crime, e é perigo.
Uma porção de almas pacatas,
quando tu passas, levemente,
ficam dizendo (pobres beatas!):
Eis um ministro competente!
E tu, sereno e imponente,
quando isso ouves, meu burlão,
para enganar a pobre gente,
baixas fingido olhar ao chão...
(Deixa que conte a esse povo,
muito baixinho, quem tu és,
-na placidez de um bardo novo
que não tem medo das galés).
Mas é preciso que te diga
que eu, poeta sofredor,
não sinto mais a gran fadiga
que tem um padre confessor
quando, depois de um bom almoço,
sem se poder quase arrastar,
pensa, sem mínimo alvoroço,
que inda lhe resta um bom jantar...
Depois de achar-me em liberdade,
sem as cadeias da Matéria
bebendo o néctar da VERDADE,
maravilhosa essência etérea;
eu, como um pássaro contente,
       livre das peias da Prisão,        
orei ao Pai Onisciente
para implorar Inspiração.
E, nesse instante (oh! “heresia"!),
a Musa, a rir, me veio dar
uns versos em que transluzia
muita verdade a transbordar...
Já livre da Perturbação,
depois de ver o meu passado,
logo chamou minha atenção
um padre, a andar todo apressado.
Ao VER bailar em sua mente
ideias mil, extravagantes,
eu resolvi, serenamente,
seguir lhe os passos saltitantes.
E fui andando, até chegar
a uma igreja toda ornada
de grandes santos que, no altar,
tinham feição amargurada.
 Ah, se “ele” VISSE que eu estava
presenciando a sua ação,
naturalmente se assustava
e me chamava de - ladrão!
Ficou-se o “bom” padre a escutar,
e, abrindo um cofre a transbordar,
entrou, de rijo, na labuta,
disposto a tudo carregar...
Depois, olhando de soslaio
para o lugar onde EU ESTAVA,
tinha cintilações de raio
o seu olhar, que flamejava.
Pensou: agora estou sozinho,
toca a roubar todo o dinheiro
(com esta capa de santinho,
vou enganando o mundo inteiro)!
Enquanto a pobre Humanidade,
a filha obscura de Caim,
- para alcançar a Felicidade
nos enche a nós, com ouro, assim;
nós, “pobres santos missionários”,
com a algibeira a transbordar,
vamos encher nossos erários
e render Graça ao pé do Altar!
A nossa vida é um regalo;
por isso, a ideia da Miséria
não nos produz nenhum abalo:
sempre nos vale a gente séria,
a gente boa, a gente honrada,
que vem à igreja pra comprar
 a Salvação, dando a mesada
- para a Doutrina prosperar..!
Embora os ímpios, condenados,
gritem- anátemas a nós,
seremos sempre confortados,
e o mundo escuta a nossa voz.
E quando algum ladrão ousado
tenta roubar a Santa Igreja,
é sem demora aprisionado
pela Policia benfazeja.
Nós bem sabemos que o bom vinho
não é o sangue de Jesus;

mas ... a VERDADE é um passarinho
que canta bem, mas não seduz...
Sempre que vou hóstia trincar,
eu penso, no piedoso instante:
Vou cada vez mais engordar,
isto é um bom fortificante!
Nós temos coisas pra iludir
(desde o altar ornamentado);
o oficiozinho de fingir
dá-nos um lucro. avantajado...
E o “bom” do padre, ao terminar
esse discurso, brandamente
saiu e FOI ANUNCIAR
QUE UM VIL LADRÃO, impenitente,
aproveitando a escuridão
da rua, fria e abandonada,
TINHA ROUBADO (oh, que irrisão!)
A IGREJA, pela madrugada!...
 Mas a Policia, à cata
dos vis larápios sem batina,
deve tornar-se mais sensata,
e, obedecendo à disciplina,
ir procurar, pelos altares,
os verdadeiros intrujões:
no meio dos capitulares,
- o bando “honesto” de histriões..!
E, quando algum propagandista
da sã Doutrina de Jesus,
fingindo ser um “Otimista”
prejudicando a própria Luz,
for aos Domingos ouvir missa,
com as pessoas do bom tom.
na tolerância mais submissa,
servindo a Deus e a Mamon,
LANÇAI-O FORA DA FILEIRA
dos denodados pregadores,
pois, A DOUTRINA VERDADEIRA
EXCLUI OS MISTIFICADORES!

4 de Abril de 1929

Lede a ‘Vala Comum’ (1).

(1) - Uma das poesias do livro “A velhice do Padre Eterno

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