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terça-feira, 23 de julho de 2013

35a et 35b. Revelação dos Papas - Inácio de Loiola

35a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


                               Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918

Inácio de Loiola
O Médium vê o espírito, que é de um padre, moço,
trazendo chapéu preto de abas grandes, ligeiramente levantando dos lados.
Está circundando de luz branca, contornada de roxo desmaiado e guarnecido de verdes.
________________________

          Está presente Inácio de Loiola, que vem revelar-vos algumas verdades, entre as quais a da sua vida próxima reencarnação.
         
            Sua vida na Terra foi assinalada por atos de humildade e, ao mesmo tempo, por grandes fraquezas, desvios, transviamento no caminho de Deus.

          Fui um crente sincero, discípulo e fiel servo do meu querido e amado Mestre - o incomparável Jesus! Fui homem dotado de energia e força moral, autoridade e prestigio, não só entre os da sua grei, como perante os que se diziam grandes e poderosos, mas, apesar disso, eram também crentes e humildes perante Deus.

          Pratiquei atos de justiça, fiz da minha fé uma couraça onde me abriguei dos golpes atirados contra o meu peito, visando ferir-me de morte, ou aniquilar-me para sempre.

          O começo da minha vida, todo consagrado ao culto de Deus e do Seu filho amado, foi uma série de martírios e sofrimentos, de angustias e dores. Sofri as maiores humilhações, suportei os mais duros e cruéis tormentos; fui flagelado, espancado, golpeado no corpo e na alma, ofendido em minha honra e pudor, afrontado, insultado, oprimindo, apedrejado e vergastado, e mais de uma vez o meu sangue jorrou das chagas abertas no corpo onde sangraram copiosamente.

          Fui um mártir e embora humilde, ainda assim fui sacrificado, combatido, e atacado por inimigos audazes e perigosos. Tive, porém, muita resignação e paciência, muita tolerância, calma, e firmeza para perdoar injurias, desprezar insultos, esquecer ofensas, desdenhar a calúnia, voltar às costas ao que era baixo e soez.

          No seio de minha pátria, a Espanha, suportei acerbos desgostos, ali feriram-me as setas do mal e os dardos da inveja, a lama da calúnia e da infâmia salpicou-me as faces, lá perdi todas as ilusões mundanas que trouxera do berço e me afagaram a alma durante a vida profana. Na minha própria terra descobri, várias vezes, a mão criminosa, o braço armado do sicário procurando atingir-me, prostrar-me no túmulo.

          Não logrei a ventura de poder viver como sonhara, sempre no seio da minha terra; fui forçado a abandonar os entes que amava, a quem dedicava todo o meu afeto, e para os quais tinha imensas ternuras.

          Achei-me na contingência de caminhar, peregrinar, de porta em porta, implorar a caridade dos corações bem formados, em países estranhos, onde tantas e tão grandes humilhações suportei! Andei, também por terras para mim desconhecidas, onde, com surpresa, ouvia pronunciar com carinho e amor o meu modesto e humilde nome, sentindo sempre essa dor que a saudade lança nos nossos corações, quando nos achamos longe dos que amamos.

          Chorava às vezes lágrimas de amor e saudades dos entes queridos que deixara na terra amada. Passava horas inteiras a orar, a pedir a Deus desse a esses entes a paz, o sossego e o conforto espirituais que o Pai de misericórdia dispensava aquele que se achava prostrado na Sua presença.

          Todos os pensamentos voavam para junto da minha velha mãe, que então vivia ainda. Eram horas de intérminos enlevos essas passadas a remirar pequenos objetos pertencentes à autora dos meus dias na Terra. Era a minha segunda religião, o meu culto particular esse que eu rendia constantemente à lembrança da minha mãe.

          Prossegui nas minhas peregrinações, nas jornadas, nas marchas através das cidades, vilas e aldeias, espalhando sempre o conforto espiritual, repartindo com os meus irmãos os dons e as graças que diariamente recebia de Deus e de Jesus. Ia por todas as casas distribuindo as bênçãos que recebia do céu, o bálsamo e o consolo da fé que alimentava a minha alma e robustecia e avigorava o meu corpo, dando-lhe a energia necessária para suportar as vicissitudes da vida nômade que abraçara.

          Fui crente, tive fé ardentíssima e a minha alma viveu sempre abrasada dessa fé, meu coração sempre aberto, transformado em nicho perfumado, onde Jesus habitava e de onde me fazia ouvir constantemente a sua voz. Fui um humilde, um fraco, materialmente falando; jamais tive no meu coração sentimentos inferiores, indignos de um discípulo apaixonado de Jesus.

          Apesar dessa fé e desse amor ao meu Jesus a quem sonhei oferecer a chefia de uma instituição que teria por fim propagar a sua doutrina e divulgar os seus ensinamentos, a sua moral e a sua justiça, não deixei, entretanto, de cometer atos de fraqueza e de praticar abusos e excessos, pois fui muita vez levado pelo ardor da minha fé à prática de atos de rigor contra os meus semelhantes; mas tudo isso tinha sempre um único móvel - a fé sincera e ardente.

-continua-



35b
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


                              Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918
-continuação-
Inácio de Loiola

          Pensava então, que servir a Deus era impor as Suas leis e os ensinamentos de Jesus, à força e violentamente. Supunha, por me faltar a luz que hoje ilumina o meu espírito e esclarece a minha razão que todo aquele que negasse o nome de Deus e de Jesus devia ser castigado e que isto - acreditava piamente - aumentaria a glória do Senhor. Errei, segui um falso rumo, enveredei por um caminho perigosíssimo, esse do “Crê ou morrer”; trilhei rumo oposto ao que devia ter seguido: a tolerância, a brandura, a moderação, o caminho e o amor. E confesso hoje aqui, diante dos homens, as minhas fraquezas e os meus crimes; não nego um só dos meus atos maus, não fujo à maior das responsabilidades que assumi perante Deus e Jesus, pelos atos de fraqueza que pratiquei.

          Não venho ao mundo para apontar-me a mim mesmo como santo, espírito inocente e puro. Não, meus amigos! Inácio de Loiola - o fundador da Companhia de Jesus aqui no vosso mundo - não baixou à Terra para mentir, mesmo porque não poderia faze-lo, pois seria imediatamente retirado da vossa presença; vem ao mundo dizer a verdade pura, brilhante como o sol que vos ilumina.

          Contudo, não posso silenciar aqui a dor que me conturba a alma, quando da eternidade ouço injustas acusações, feitas a quem vos dá esta comunicação.

          Errar é próprio dos homens, como consequência lógica desse estado material em que se vive no vosso meio, onde o espírito se mantém escravizado, detido pelas cadeias da matéria que o subjuga e, impedindo-lhe os voos, tolhendo-lhe a ascensão para a luz eterna, limitando-lhe a visão das coisas extra materiais, restringindo-lhe o horizonte; - enclausurado no corpo, onde o vigor das faculdades da alma ficam reduzidas de uma grande percentagem; - presa da matéria, onde a alma mal pode perceber e conceber a sua existência separada do corpo, no qual as contingências da mesma matéria fazem brotar no coração humano todos esses sentimentos inferiores, baixos, até vis e criminosos - matéria essa que limita todas as coisas, que não nos deixa ver o absoluto dessas mesmas coisas mas só a sua relatividade - acorrentando a essa carne, que é o túmulo onde o espírito fica sepultado durante a vida terrena e de onde apenas entrevê por uma ligeira fenda, o que se passa além.

          É cheia de ilusões a vida na Terra - onde o homem dificilmente pode julgar os seus atos, onde o bem e o mal se confundem, se misturam, sem que possamos definir o começo de um e o termo do outro;  - esse mundo embusteiro e enganador, com todo o seu cortejo de exigências, com as suas tentações, com as suas seduções e o seu apelo constantemente vibrando nos ouvidos da criatura, chamando-a para os prazeres, para as grandezas, para o gozo e a felicidade efêmeros e fugazes; - planeta, onde homem tem constantemente diante de si exemplos pouco edificantes, onde o mal campeia por toda a parte, onde tudo arrasta, convida, predispõe o homem para as prevaricações e violações das leis de Deus e dar desobediência aos seus decretos; - mundo, onde se põe em dúvida o que é digno, santo e honesto, e se proclama e se afirma, sem exame, sem análise, o que é mal, criminoso e desonesto!

          Terra, onde a virtude é sempre sacrificada ao erro, à perversidade e ao crime; onde muita vez a criatura pratica o mal,  convicta de que somente no bem, na verdade, na razão e na justiça são inspirados os seus atos; que até hoje é planeta de expiação inferior, para onde imigram, na sua quase totalidade, espíritos inferiores, atrasados, ou não evoluídos, que para aí vão justamente em busca das provações necessárias, indispensáveis ao seu progresso e aperfeiçoamento; onde - digo eu ainda - é difícil alcançar a alma luz completa, adquirir o espírito lucidez absoluta para julgar os seus atos!

          Tudo, porém, tem razão de ser... Foi e é necessário que ainda assim seja a Terra, para que os homens se esforcem a fim de alcançar um mundo melhor.

          Portanto, meus irmãos, se errei, fui levado pelas contingências materiais a que estive sujeito durante a existência terrena. Nada fiz, entretanto, que não fosse com intenção de acertar, tendo sempre em vista o bem, a verdade e a justiça, e com o santo e puro intuito de agradar a Deus, de contribuir para o aumento da sua glória, para a grandeza e esplendor da doutrina de Jesus, Nosso Senhor. Não pratiquei o mal pelo prazer de ser mau, mas em vista o bem; os atos eram maus, mas a intenção sempre pura e honesta.

          Jamais dilapidei fortunas ou desonrei a fé; jamais me constitui instrumento de ambições alheias, nunca trabalhei para dar força aos déspotas e tiranos, nem me subordinei a interesses políticos; jamais tramei nas trevas, nem persegui, torturei ou menti; jamais fui algoz da humanidade, verdugo, ou abutre para despojar os meus irmãos dos seus bens e dos seus haveres. Nunca me preocupei com a minha pessoa; jamais ostentei, jamais massacrei, ou decretei morticínios e hecatombes. Nunca disputei o governo, pois, apesar do meu atraso naquele tempo, sabia já interpretar as sábias palavras do Mestre - “O meu reino não é deste mundo”. Nunca me preocupei com as formas de governo, por saber que tudo era transitório no mundo, sujeito, portanto, a transformações sucessivas. Tive sempre certeza de que um só governo existe, uma só justiça existe também - o governo de Deus e a Sua sublime justiça; assim como um só reinado há e um só rei existe, existiu e existirá para sempre - Jesus.

          Não fui, como vedes, bárbaro nem cruel, perverso nem desumano; fui apenas um fraco; fui homem, fui matéria, fui carne! Pequei convencido de que servia a Deus e ao meu Jesus, e que prestava serviços ao mundo e aumentava a glória do Senhor.

          Fui, portanto, fraco; sou um espírito culpado! Já respondi pelo que fiz, e Deus  - que julga com infinita justiça e sabedoria - depois de pesar as minhas culpas e de mandar-me à Terra em outras existências humildes, após aquela em que me chamei Ignácio de Loyola, resolveu na Sua infinita bondade e sabedoria premiar-me com esta luz que o médium vos descreveu e que é a prova irrecusável de que não fui um simples e frio criminoso.

          Sofri no espaço, logo após a minha desencarnação, isso porque a justiça de Deus é sabia e perfeita e, assim, perante ela o mal é sempre o mal, embora Deus julgue as nossas intenções e atenue o sofrimento do espírito, quando vê que ele apenas teve força para resistir e lhe faltaram luzes para guiá-lo no caminho do bem e da razão. Deus me perdoou, impondo-me novas encarnações, existências humildes, obscuras, nas quais sofri o que fiz sofrer aos outros e a minha fé e resignação granjearam, para o meu espírito, esta luz que me circunda.

          Nada mais posso dizer além do que fica exposto, acrescentando apenas, para concluir esta humilde e despretensiosa mensagem, que novamente me encarnarei agora e que, desta vez, o meu espírito não mais se perturbará na matéria, como outrora.  Poderei, melhor que naquele sombrio tempo, cumprir a missão que me vai ser confiada onde trabalharei pelo progresso, resgate e salvação do vosso mundo, que será transformado e remodelado, e para onde parte agora formosa legião de luminosos e sábios espíritos, e com eles, ocupando lugar modestíssimo e obscuro, o que vos fala nesta mensagem.

          A Terra, isto é, os homens como que estacionaram, descuidando-se do progresso moral, deixaram-se ficar apáticos, indolentes, dominados pelo orgulho e vaidade, praticando toda a sorte de crimes e atentados contra Deus e as Suas leis e contra Jesus, cuja doutrina abandonaram e profanaram, cujos ensinamentos violaram, cujo Evangelho rasgaram.

          Hoje, a situação do mundo é aflitíssima, a vida da humanidade penosa e quase insuportável, as condições morais as mais críticas possíveis; nada mais existe de puro e santo, nada mais se vê aí do que devia existir sempre, do que jamais devia desaparecer: a paz, a justiça, a fé, a verdade, a moral e o amor fraternal - base principal do progresso espiritual de todos os mundos que povoam o Universo e rolam na imensidade, onde a Terra gravita ao lado de outros planetas mais evoluídos, florescentes, habitados por humanidades mais adiantadas, mais conscientes da sua existência e do seu papel no conjunto universal.

          Tudo vai transformar-se, modificar-se, tomar novo aspecto, caminhar para o seu destino - a perfeição.

          Assim, anuncio-vos grandes acontecimentos, grandes lutas, grandes sacrifícios, revoluções, transformações, a derrocada de todas as coisas nocivas às criaturas, a destruição completa do que embaraça o progredir humano, a marcha da humanidade terrena para Deus e para a verdade.

          A Igreja sofrerá um grande revés e a sua vida ficará perigando até a hora em que outra doutrina — mais de acordo com o progresso do planeta — vier restabelecer a ordem, garantir a paz, orientar os homens, conduzir a Terra para a verdadeira felicidade — o reinado do Espiritismo, que será a vitória completa, absoluta do Evangelho de Jesus e a implantação definitiva dos seus ensinamentos na superfície deste planeta.

          Até breve, pois não tardará o dia em que Ignácio de Loyola despertará na Terra para a luta, para o bem, para a dor, para o sacrifício.

          Adeus.
                   
Inácio de Loiola
Maio de 1916


(UES - 1934)



Do Blog:

               O Google trás inúmeras informações sobre a vida e a obra de Inácio de Loiola. Resumidamente, registramos:
               No dia 15 de Agosto de 1534, Inácio de Loiola, estudante da Universidade de Paris, fez voto de pobreza, de castidade e de dedicação à causa da Igreja Católica.
               Em 1539 decidiu criar uma Ordem religiosa e começou a escrever as Constituições que só ficaram prontas 16 anos mais tarde.
               Em 27 de Setembro de 1540, a constituição da nova Ordem é aprovada e denominada Companhia de Jesus, então contando apenas 10 membros. A Companhia de Jesus (daí o nome ‘jesuítas’) surge com o objetivo de espalhar a fé cristã, não estando então previsto que fosse uma ordem religiosa especialmente consagrada ao ensino.

               Logo, os jesuítas colocaram foco na educação das crianças buscando ‘renovar’ o mundo. Algo como ‘é de pequeno que se torce o pepino...’ Os marquetólogos da atualidade chamariam isso de ‘fidelização’ às verdades católicas e submissão plena à vontade do papa.

               Com a expansão dos impérios espanhol e português, os jesuítas dirão ‘- Presente!’ nos mundos novos desde o início da colonização. Francisco Xavier percorre a Índia, a Indonésia, o Japão e chega às portas da China. Manoel da Nóbrega e José de Anchieta ajudam a fundar as primeiras cidades do Brasil (Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro).

                Em 1759, o Marquês de Pombal, com o pretexto de um atentado contra o rei D. José, expulsou os jesuítas de Portugal e das colónias. A Companhia de Jesus foi também expulsa de França em 1764 e da Espanha e das suas colónias em 1767. A pressão das monarquias destes países foi-se intensificando e o Papa Clemente XIV dissolveu a Companhia de Jesus no ano de 1773 em todo o mundo, com exceção da Prússia e da Rússia Branca.  Vale um estudo mais aprofundado sobre as relações dos governos com a Companhia de Jesus.

               Em 1814 o Papa Pio VII, restaurou a Companhia de Jesus.  Durante todo século XIX, a vida da Companhia foi muito atribulada. Quando os governos eram conservadores, os jesuítas eram chamados e exaltados, quando os governos eram liberais, os jesuítas eram perseguidos e expulsos.


               O texto acima apresenta colagens de um original de Olga Pombo:  opombo@fc.ul.pt  publicado no Google.

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