Pesquisar este blog

segunda-feira, 8 de julho de 2013

14. 'Mediunidade e Doutrina'


14) Mediunidade e Doutrina

por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Março  1959


            Não importa que os resultados, às vezes, sejam lentos, porque o essencial é que eles venham, recompensando os esforços dos que perseveram no estudo da Doutrina Espírita. Precisamos compreender que nem sempre a reforma íntima da criatura humana pode ser feita rapidamente. Ela tem de lutar a todos os instantes com as inferioridades que tisnam a sua personalidade ou a marcam fundamente. Quanto maiores os obstáculos, maior necessidade de perseverança na luta consigo mesma, porque as dificuldades indicam a conveniência de não esmorecer um só momento. Os violentos e intolerantes, os desesperados e maledicentes, os covardes e caluniadores, os mentirosos e dissimulados, são todos mais doentes do que maus, porque, na realidade, a inferioridade moral é uma enfermidade do espírito, um sinal inequívoco de indigência espiritual, capaz de ser superado pela força de vontade na obra de auto reconstrução. Mas é difícil o trabalho. Todavia, a vitória é sempre possível. Para conquistá-la, porém, é mister a obediência rigorosa aos princípios cristãos que o Espiritismo tão claramente expõe e ensina àqueles que desejam passar pela porta estreita da reabilitação.

            Disse o profundo Emmanuel que “o Universo é toda uma sinfonia de obediência, garantindo os objetivos da evolução". A esta cristalina verdade, acrescentou: “Ninguém perca tempo rogando orientação aos próprios passos no mundo. Da Esfera Superior, culminando no Evangelho do Cristo, em todos os templos, fluem ensinamentos e avisos, advertências e instruções, mensagens e apelos, relacionando os artigos da Lei, concitando-nos todos ao Bem Eterno. Falta-nos, pois, simplesmente a necessária disposição à obediência incansável, de cujo exercício decorrerá a nossa própria integração na máquina do progresso em ascensão para a verdadeira felicidade."

            Meditemos, nós, que ainda nos arrastamos ao peso das próprias necessidades morais, nessas palavras de Emmanuel. Elas são um ensinamento sintético e simultaneamente extenso, e devem merecer a atenção dos que forem realmente bem-intencionados, dos que forem sinceros e desejarem o progresso de seu espírito.

*

            Mediunidade e obediência são como serviço e disciplina, inseparáveis entre si. O médium, para dar cabal desempenho de suas tarefas, tem de ser obediente às injunções do Alto e aos postulados da Doutrina Espírita. Comportando-se dessa maneira, estará mais perto da realização integral de seus deveres. Afirmou Leopoldo Cirne, com toda a segurança da sua enorme autoridade moral e doutrinária, que "quem diz Espiritismo, diz mediunidade em ação". É um axioma valioso, esse, pela sólida verdade que encerra. "Em "Doutrina e Prática do Espiritismo", Leopoldo Cirne trata do assunto com absoluta firmeza: “... o exercício da mediunidade envolve sempre o desempenho de uma missão, de um compromisso, mais ou menos grave e importante, assumido pelo médium, antes de encarnar. O seu primeiro cuidado deve ser, portanto, aparelhar-se das requeridos condições espirituais que o tornem, ao mesmo tempo que um veículo de luz e de verdade para os homens, um instrumento flexível, um transmissor fiel das comunicações, abstendo-se tão completamente quanto possível de nelas colaborar e intervir, mesmo inconsciente ou involuntariamente. Para esse resultado é que a disciplina do pensamento e a educação e o domínio de suas aptidões psíquicas hão de poderosa e eficazmente contribuir, permitindo lhe, quando chegar o tempo de exercer as suas faculdades, praticar uma abstenção, um isolamento do seu próprio espírito, que assegure ao comunicante a máxima liberdade e independência de manifestação. Não percamos de advertir, contudo, que cedendo os seus órgãos para esse fim a uma outra entidade, não fica o médium inibido de exercer uma prudente vigilância, a fim de obstar, quando se trate de Espírito de ordem inferior, que este proceda com inconveniência ou pratique desatinos, prejudiciais ao aparelho vivo de que se está servindo. Porque em tal caso - e é assim que fazem os médiuns educados -, por uma ação de espírito a espírito, fará ele retirar o turbulento, retomando posse do seu organismo. Neste sentido é que deve ser entendida a sábia advertência de Paulo, ao discorrer sobre as regras e condições a observar nas assembleias dos crentes e a propósito da intervenção dos Espíritos pelos médiuns (denominados então profetas) quando afirma (1 Coríntios, XIV, 32) que "os Espíritos dos profetas (ou que por estes se manifestam) estão sujeitos aos profetas." (ob. cit. págs. 148 e 149.)

*

            O estudo da Doutrina Espírita é uma das pedras de toque do Espiritismo. Sirvamo-nos da lição magnífica de André Luiz, que nos esclarece: "Em Espiritismo, é imperioso distinguir entre Mediunidade e Doutrina para que as surpresas do mundo não nos ensombrem a marcha. Mediunidade é processo. Doutrina é realização. O processo passa. A realização permanece." André Luiz, com admirável recurso sintético, desenvolve uma explanação convincente a esse propósito, aduzindo também que a “Mediunidade é fenômeno da alma. Doutrina é alma do fenômeno". E continua: "Na primeira, temos a observação e a experiência; na segunda, a educação e a caridade. Em síntese, a Mediunidade é trabalho da criatura humana e a Doutrina Espírita é Jesus de braços abertos. Dignifiquemos, assim, a mediunidade com a nossa consagração ao bem puro e simples, mas não nos esqueçamos de plasmar a Doutrina Espírita no livro da própria alma, a fim de que o nosso coração se converta em flama da Vida Eterna."

*

            Obediência é disciplina; disciplina é educação; educação é esclarecimento; esclarecimento é evolução; evolução é liberdade. Todos nós somos almas em busca da liberdade, porque ainda sentimos as grilhetas dos vícios, da descaridade, do desamor, da incompreensão e da cegueira espiritual, que se vão desfazendo à medida que avançamos na assimilação das verdades espíritas, que são verdades lançadas ao mundo pelo Cristo há quase dois mil anos. Mas, por serem verdades evidentes, vêm rolando através dos séculos, nem sempre seguidas pela Humanidade, que se vê enganada por falsas religiões, paganizadas e sem alma cristã, embora externamente cristianizadas, e pelo materialismo multiforme, que mata no coração dos homens os sentimentos mais elevados e as virtudes mais belas. Estudar e seguir a Doutrina Espírita é o caminho mais curto para a compreensão da vida material e espiritual. Os médiuns devem arrimar-se na Doutrina, estudá-la e propagá-la, assim como resolver todos os problemas da mediunidade através dos postulados doutrinários.


Nenhum comentário:

Postar um comentário