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sexta-feira, 5 de julho de 2013

15. 'Rimas do Além Túmulo' - a um padre...


15
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina


A um Padre

Para o irmão Faustino de Carvalho,
sacerdote católico em Belém.

Já surgiu para todos benfazeja aurora;
compreendes, irmão, que pela voz sonora
dos Espíritos todos são esclarecidos,
para, mansos obreiros, serem conduzidos
ao caminho do Bem, da Honra e da Humildade,
seguindo uma doutrina - toda Caridade.
Que desejas sacerdote, não importa, irmão,
Se te raiou também o esplêndido clarão
da alvorada da Crença ideal, que conduz
almas aos venturosos páramos de Luz!..
Temes, acaso, ouvir um ente da Outra Vida?
Ignoras talvez que a Alma desprendida
da Matéria se eleva, calma e radiante,
para além, muito além, num país bem distante,
para gozar, feliz, no regaço dos seus
amigos verdadeiros que servem a Deus?
Porque motivo a Igreja ocultando a Verdade
aos cristãos, quer ter inda autoridade
deturpando as palavras que o Cristo deixara
aos obreiros que vêm cultivar a Seara?
Será Justo que os padres ocultem com um véu
as verdades sublimes que emanam do Céu?
Estuda, irmão, reflete, e verás claramente:
o Espiritismo veio dissipar, de frente,
erros, mentiras que escurecem a Verdade
como ao Azul sereno um véu de tempestade.
Sei um pobre viajor, perdido pela estrada,
necessita encontrar a luz abençoada
de uma estrela que o guie, mostrando o caminho
que o conduza ao lar, a seu querido ninho,
que faz ele vagando em plena escuridão?..
Implora, confiante, a Deus a proteção.
Em vão a noite fica mais e mais sombria;
o vento, qual molosso (cão fila)  hidrófobo, assobia, 
açoitando o arvoredo; e o pobre viajor,
cansado de vagar, tremendo de pavor,
arqueja vacilante, olhando os negros céus
que parecem zombar até do próprio Deus...
Vem o Dia, desponta a rápida alvorada,
e os trigos do caminhos, árvores da estrada
banham-se dessa luz diamantina e santa.      
E a Natureza em festa ri, suspira e canta;      
cada flor orvalhada exala uma canção
às gotas, cristalinas que caem pelo chão...
Então, o viajor inclina a fronte calma,
sentindo em oração desabrochar lhe na alma
um hino de alegria; amor e de esperança:
cessara a tempestade aos raios da bonança!

                                      Assim, querido irmão, o homem que procura,
na estrada tortuosa da Vida, a chama pura
da doutrina que encerra - Paz e Redenção.
Encontra-se, a princípio, em triste indecisão;
incrédulo não vê o foco que irradia
            por todos os recantos prismas de harmonia;
            até que em fim, depois de bem analisar
fatos e provas, já não pode duvidar,
e crê no Espiritismo e vê a união
da doutrina à Ciência, a Verdade à Razão!
As crenças absurdas passam, como passa
num dia de sol claro um rolo de fumaça,
que tentando esconder a luz do firmamento,
se eleva e se desfaz num rápido momento!..
Aceita, irmão, aceita a dádiva sincera,
nas rimas que aqui deixo. Oh, sim, eu bem quisera
mostrar-te claramente o elo fraternal
que me vincula aos homens num laço eternal! 
Não temas declarar que um pobre sofredor
te veio aqui falar com Fé e com Amor.
E palmilhando, então, a estrada da Verdade,
procura trabalhar em prol da Humanidade;
e quando entrares na vida espiritual
da Terra levarás venturas sem igual!

Na residência da família do sacerdote em 30 de dezembro de 1927.

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