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sábado, 27 de julho de 2013

O Perdão Impossível



O Perdão Impossível

Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)


Reformador (FEB) Junho 1964



            O perdão é o ponto final na cadeia do ódio.

            A vingança de uma ofensa é uma nova ofensa que por seu turno reclama vingança, e assim se estabelece um encadeado de ofensas que alimentam o ódio e este atravessa gerações em sucessivas encarnações de sofrimentos incalculáveis.

            A Lei sabiamente exige que se rompa essa cadeia e se passe ao amor, que é colaboração e vida, evolução eterna das faculdades do Espírito pela solidariedade.

            O vingativo supõe que está praticando justiça, mas está sendo injusto, porque, como ofendido, ele é parte no pleito e não pode ser juiz. Ninguém pode ser juiz em causa própria, porque desconhece o passado e se supõe credor quando já é devedor e está perdendo oportunidade de pagar sua dívida de outros tempos.

            Felizmente a Lei possui recursos para romper a cadeia de ódio e estabelecer o amor, porque ela dispõe do esquecimento que reina em nova encarnação e põe juntos os adversários no mesmo lar como pai e filho, irmãos, esposos, dependentes uns dos outros, até que o amor vença o ódio e restabeleça o equilíbrio.

            No curso longo de uma série de encarnações, por vezes muito penosas e até de novas quedas desastrosas, finalmente é a Lei quem vence, porque a Lei é a vontade onipotente de Deus e tem a eternidade para agir.

            A sabedoria eterna ensinou:

            “Concilia-te depressa com teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao oficial de Justiça, e sejas lançado na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil." (Mat., 5:25 e 26.)

            Nesta bela figura de Jesus fica ensinada a engrenagem da Lei para recuperar o culpado que não soube perdoar logo as ofensas. Ele é lançado na prisão das encarnações expiatórias e terá que sofrer muito, até se refazer e pairar acima das ofensas.

            Só há um perdão impossível: é nos perdoarmos nossos próprios pecados e esquecê-los, porque eles voltam sempre à nossa consciência endividada, reclamando reparação.

            Podemos facilmente perdoar a quem nos ofende e até agradecer-lhe como instrumento de nossa redenção, porque nos forneceu o ensejo de pagar alguma dívida antiga, contribuiu involuntariamente para nossa felicidade; mas não podemos esquecer nossas próprias faltas, porque elas estão dentro de nós, acusando-nos sempre, por mais que tentemos esquecê-las. "Dentro de nós reside toda a sanção penal: evitam-se as galés, evita-se a prisão, mas não se pode evitar esse imortal clarão de nossa consciência, a lâmpada sagrada" - assim ensinou Guerra Junqueiro, o mais brilhante moralista de nossa língua.

            "Todo aquele que comete pecado é escravo do pecado." (João, 8:34)

            Como não podemos perdoar nossos próprios pecados, dos quais ficamos escravos, só nos cumpre esforçar por libertar-nos deles, reparando-os quanto antes. Esta tarefa é difícil, mas a Lei nos ajuda, pondo-nos de novo em contato com aqueles contra quem pecamos e oferecendo-nos o ensejo de servi-los humildemente, porque "o maior dentre vós há de ser vosso servo" (Mat. 23:11).

            Como é sublime a Doutrina da Salvação Universal que nos foi ensinada por Jesus, referindo-se ao pagamento até o último ceitil, para nos libertarmos do pecado, Doutrina hoje mais amplamente explicada pelos seus Enviados!


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