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quinta-feira, 11 de julho de 2013

29. 'Revelação dos Papas' - Benedito VII



29

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918


Benedito VII
     
O espírito apresenta-se sob o aspecto de um homem de estatura regular, 
cabelos grisalhos, tendo em torno de si luz azulada, contornada de focos,
intermitentes, de outro azul mais escuro. Raios verdes se espalham no ambiente, 
onde o espirito se destaca trajando túnica escura,
abotoada de alto e baixo, com a tiara na cabeça.



          Venho, meus amigos, visitar-vos e dizer-vos alguma coisa que muito vos interessa saber.
        
             O papa que neste momento se apresenta na Terra, para vos saudar, é um dos que, após a morte, tiveram a dita de poder receber, ao mesmo tempo, prêmio e castigo.
   
          Não podeis, de certo, compreender essa alternativa de castigo e prêmio, mas vos explicarei como tudo se passou.

          Enquanto estive na Terra, esforcei-me para ser o que se pode chamar um homem probo e sensato. Nunca me deixei vencer por aqueles que em torno de mim procuravam espalhar o terror, disseminar ódios, espalhar dissensões e até adulterar o que estava escrito no Evangelho, que eu tinha, então, o dever de defender. Os meus amigos, os que sinceramente se empenhavam em ajudar-me na grande missão que eu tomara sobre os ombros, sentiam que a minha vontade era forte e a minha resolução inabalável, mas notavam também que, quanto mais enérgico parecia eu ser, mais recrudescia em torno de mim a guerra, mais acesa se tornava a luta entre a tiara e as ambições políticas da época.

          Não vacilava em opor barreira à corrente de interesses que ameaçava invadir a corte pontifícia, em cujo seio os traidores e os falsários buscavam envolver o papa na onda, sempre crescente, dos abusos e misérias que ali se ostentavam, com desplante e despudor capazes de fazer perder a calma ao mais santo dos sacerdotes.

          Jamais dei ouvidos à calúnia, jamais acudi ao apelo da cobiça e dos interesses inconfessáveis, jamais me esqueci de que na cadeira de S. Pedro, onde me sentara a contragosto, não podia ter outra conduta, outro proceder que não fosse colocar a fé e a verdade acima dos interesses ocasionais, fossem quais fossem.

          Pensava eu, então, que ser papa era ter coragem para resistir às imposições dos potentados e não tremer nem vacilar, ainda mesmo diante das ameaças de morte, ante as investidas dos que, a todo transe, procuravam vingar-se do papa, por ter ele sempre se mostrado fiel ao cumprimento do dever e aos interesses, que, no seu entender, jamais deviam ser conspurcados nem preteridos pelos interesses de ordem material, que, apenas, serviam para alimentar a vaidade e cada vez mais acoroçoar e fomentar o orgulho dos que no mundo entendem poder tudo sacrificar aos seus apetites e à sua volúpia desenfreada.

          Ser papa - dizia eu então, e era sinceramente que assim pensava - é ser, a um só tempo, pai e sentinela avançada dos grandes e superiores interesses da cristandade; ser papa - concebia eu - é ser tolerante, bondoso, mas também ser forte, enérgico e intransigente sempre que estiverem em jogo a honra da Igreja e a pureza da fé. E fazia o possível para evitar que um desses dois princípios soçobrasse no meio da tempestade das paixões que se desencadeavam naquele recinto, onde só se devia ouvir a palavra da justiça, da razão e da verdade, naquele santuário, em cujo ambiente só se devia respirar a paz, a calma e a doçura que a doutrina de Jesus derrama nos corações e com que inebria as almas daqueles que são verdadeiros discípulos do Crucificado.
         
            Mais de uma vez procurei extinguir o elemento perturbador que sorrateiramente tentava solapar os alicerces do monumento que fora edificado à custa de esforços inauditos, que havia sido construído sobre o sangue dos mártires cristãos e do qual o papa devia ser, custasse o que custasse, a principal coluna, o mais poderoso esteio.

          Envidei esforços para serenar os ânimos, aplacar a fúria das ambições, conter os ímpetos brutais e formidáveis dos déspotas e dos tiranos, opondo uma muralha de ferro aos que procuravam fazer do papa instrumento de sua volúpia e da sua cupidez. Busquei contrariar os desejos e tentativas da turbamulta que vinha de assalto em assalto, procurando profanar e derrubar tudo aquilo que na sua marcha vandálica encontrasse.

          Fui, portanto, um papa convicto, cônscio do seu papel, compenetrado da sua missão na Terra. Nada fiz que não fosse ditado pela consciência pura, pela razão apoiada na força do direito e da justiça. Tive sempre o maior respeito pelas coisas sagradas, jamais profanei as minhas crenças violando a lei, quebrando a compostura e a nobreza de que se deve revestir todo aquele que tiver sobre os ombros o honroso encargo de dirigir, encaminhar e orientar as consciências.

          Entretanto, e não tenho pejo em confessar, errei em muitos pontos, falseei em vários assuntos, não tive a luz suficiente para poder bem compreender o que estava escrito e ver a diferença entre a verdade pura revelada, que fulge como o sol ao tocar o Zênite e a verdade convencional, apoiada nos interesses de ocasião, filha legítima desses mesmos interesses, subordinada às conveniências, criada pelos homens e por isso mesmo imperfeita como os seus autores, mesquinha como os seus arautos e os seus defensores. Não vi, não compreendi a distância que vai do fato consumado, positivo, real, objetivo, às convenções e criações imaginárias dos interessados em manter e conservar erros, alimentar vaidades e fomentar hipocrisias e orgulhos desmedidos.

          Não tive, é verdade, a luz que hoje se espalha por toda a parte. Nos meus tempos não tinha ainda raiado este sol que hoje vos aquece com os seus raios; mas podia se quisesse, se me não deixasse também arrastar por interesses, embora de ordem moral e filosófica, prestar maiores serviços a Deus e beneficiar mais os meus irmãos da Terra. Deixei-me empolgar pelos falsos ensinos e pelo dogma - coisa esta inteiramente inútil, mero produto de uma ambição desmedida e de um orgulho intolerável!

          No meu tempo, era unicamente permitido aos papas lerem o que o Sagrado Colégio julgasse digno de ser conhecido pelos “Pontífices Máximos”. Vedava-se ao grande pastor  pesquisar, especular, ir buscar em outra fonte o que não lhe podia fornecer aquela onde era obrigado a beber diariamente - o dogma. Tolhia-se assim, o chamado representante de S. Pedro, restringia-se, por essa forma, o campo de ação intelectual do chefe da Igreja. Temia-se que o papa, lendo, consultando, buscando esclarecer o seu espírito nos livros da ciência e da filosofia profanas, se tornasse mais tarde insubmisso às imposições dogmáticas e tentasse introduzir reformas que viessem alterar o que se estabelecera com o fim único de servir a interesses humanos, para satisfazer e alimentar o orgulho dos que tinham a pretensão de tudo saber e, por isso, de dominar a humanidade.

          O meu erro é, portanto, atenuado, à vista do que acabo de expor; mas a Divina Sabedoria quer que adquiramos experiência, e o meio de que se serve para mostrar-nos o caminho da luz é deixar que aprendamos à nossa custa; desse modo, ficamos entregues a nós mesmos, e são as desilusões, as surpresas que, pouco a pouco, vamos experimentando, que nos instruem, nos orientam, nos conduzem à verdade.

          Ao desprender-me do corpo - onde o meu espírito cumpriu parte da sua provação - sofri decepção, dolorosa desilusão, quando vi ser completamente diversa da que se apregoa na Terra a verdade que contemplamos depois da morte!

          Senti quanto fora insignificante o papel que representara, certifiquei-me então da inutilidade do meu esforço, embora sincero e devotado; pude medir a distância que me separou da verdade e compreender o valor dos sofrimentos, das amarguras, das desilusões e surpresas cruéis experimentadas, no momento da minha passagem da Terra para o mundo dos espíritos.

          Compreendi e agradeci a Deus que, por esse meio, me castigava e premiava ao mesmo tempo, pois, se de um lado as desilusões e dissabores me torturavam, por outro, eu percebia já que a minha sinceridade, a minha firmeza inabalável, a minha coragem enfrentando o que reputava pernicioso à fé e à verdade que eu tinha o dever  de sustentar e defender, não passavam despercebidas aos olhos de Deus, que assim me dava a prova positiva da Sua sabedoria, da Sua infinita e impecável justiça e também da Sua infinita misericórdia e do Seu infinito amor!

          Não vos deixeis iludir, meus irmãos; a verdade é uma só e existe, existiu e existirá para sempre! Ninguém poderá contrariá-la, confundi-la, apaga-la! Para ofuscar esta luz, para apagar esta “Revelação” seria preciso que o próprio Deus fosse eliminado, porquanto Ele é a fonte de onde ela emana!

          Ficai certos de que não haverá nada que se oponha ao triunfo, à vitória decisiva dessa sublime verdade!

          Adeus.
Benedito VII
Abril de 1915


Informações Complementares
            Papa de outubro de 974 até 10 de Julho de 983.
            Combateu os abusos e a ignorância que reinavam na Itália e no mundo cristão e também firmemente a simonia, ou seja, o tráfico de objetos sagrados: sacramentos, dignidades, benefícios eclesiásticos. Em 981 redigiu uma encíclica. Colaborou nas reformas da Igreja em conjunto com as ordens monásticas, fundou um monastério no Monte Aventino. O restante de seu pontificado até a sua morte em 983 foi pacífico.
Fonte: Wikipedia

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