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sábado, 30 de janeiro de 2021

Pedro e Paulo

        

Francisco Leite de Bittencourt Sampaio
Nascimento: 1º Janeiro 1834         Desencarne: 10 Outubro 1895


 Grupo Ismael

A Redação / Bittencourt Sampaio

Reformador (FEB) 16 Setembro 1918

 Grupo Ismael

             A comunicação mediúnica que abaixo inserimos, dada pelo operoso e lúcido espírito do companheiro que na Terra chamou Bittencourt Sampaio, é daquelas que não deixam dúvidas sobre a sua procedência. Na estrutura rigidamente bela de um estilo inconfundível, sente-se a profundeza dos conceitos emanados como de fonte não toldada das incertezas e dúvidas humanas.

            Os prismas da ideia apresentam cambiantes novas e mal entrevistas do mundo, na apreciação de problemas e personagens, que a superstição e o fanatismo de vinte séculos adulteraram de muito, senão inteiramente.

            Apreciando a missão dos dois vultos mais eminentes do Apostolado Cristão, no dia em que a humanidade os comemora com pompas e galas terrenas, retumbante mas inexpressivamente, o companheiro de lides espirituais, pensador e poeta evangélico por excelência aproveitou o ensejo para dar às letras espíritas uma página de alto relevo filosófico-religioso na qual, estamos certos, e vão desalterar muitos corações e muitas inteligências, ávidas de consolações e verdades. Cedendo, a nossa primeira página a tão emérito hóspede, resta-nos a convicção de que melhor não poderíamos corresponder ao nosso tradicional programa.  

            Eis a comunicação, ou antes o ensinamento que epigrafamos:

 

Pedro e Paulo

 

          Bendito seja o meu Senhor!

            Meus caros amigos:

             Reúnem-se corações de homens imensamente gratos pelos benefícios recebidos, para comemorarem esses dois vultos eminentes que a Cristandade aprecia e ama. Chama-se isso comemoração. Se-lo-á? No sentido restrito da palavra sim; mas no sentido lato - não. Pedro e Paulo!

            Ainda é bem possível que séculos se passem até que eles possam ser melhor comemorados, porque, espíritos cuja envergadura mal o homem compreende, não podem de modo algum ser apreciados como deveriam ser. De fato, onde estão os seus imitadores?  E, no entanto, são decorridos dois mil anos, quase, que eles deram os exemplos mais eloquentes de fé viva, ardente, quo os conduziu ao sacrifício do martírio! Ninguém, nenhum mortal surpreendeu, por um instante sequer, de um daqueles lábios uma palavra de desalento, um instante de desfalecimento! A impulsioná-los sempre para a frente estava a fé, a fé que se patenteava na certeza de que seus espíritos a possuíam e quaisquer que fossem os obstáculos que tivessem de vencer, a figura do seu amado e divino Mestre jamais se deliria nas suas consciências!

             Raciocinando assim, raciocinavam também, que tudo se cumpria pela vontade sublime de Deus.  

             Hoje, os cristãos novos que devem marchar na vanguarda da Era Nova, da Verdade anunciada a todos os instantes e em todos os recantos pelas bocas dos mensageiros celestes, podem tê-los sempre como esteio vivo, procurando na medida das suas forças dar uma demonstração positiva de que são discípulos de Pedro e Paulo.

            As velhas religiões assumiram grande responsabilidade na direção da humanidade; sobre elas pesam grandes culpas por não falarem a verdade ao mundo; e o mundo sempre ignorante dessas coisas, sempre propenso a desfrutar todos os proventos materiais, pouco se incomodou com as coisas espirituais.

            De degradação em degradação, de decadência em decadência, de erro em erro, de princípio em princípio chegou no abismo insondável da descrença.

            Mas, esse estado não pode, não deve continuar a prevalecer.

            Deus, ouvindo não os clamores do mundo, mas as vozes dos seus mensageiros celestes, ouvindo as súplicas desses espíritos diletos, cuja intervenção na nossa vida é tão grande, tão extraordinária mas que mal percebeis, Deus faz baixar sobre esse mesmo mundo a sua misericórdia e o eu valor, envia o Consolador prometido, e ei-lo a trabalhar, a agir de feição a reunir os homens de boa vontade, a convida-los a vir trabalhar na seara que há de conduzir não só eles, mas todos, à felicidade eterna. Aproxima-se hora das lutas, os espíritos não cessam de lançar a cada canto o seu grito de alarma. Homens adormecidos engolfados nas suas cogitações materiais; uns acumulando o que têm, outro desfrutando os prazeres mundanos na orgia sempre acidentada, a humanidade caminha em erro e os grandes vultos são lembrados na terra uma vez cada ano e isso mesmo ainda como leve passatempo! Oh! Singular maneira de comemorar os grandes benfeitores da humanidade!!

            Repito, esse estado de coisas não pode continuar: surge a necessidade palpitante da reforma individual e, por consequência, social.

            O mundo está completamente revolucionado, todas as ideias que nele germinam permanecem em conflito latente. As velhas religiões do passado ainda se mantêm de pé a custa de um equilíbrio extraordinário, conseguido unicamente pelos ouropéis (aparência enganosa de luxo), pela astucia, pela habilidade política posta em jogo pelos seus mais eminentes representantes. Essas instituições seculares, que benefício algum têm trazido à humanidade, pois que a ela só lhe tem trazido dores, desvarios, decepções, lutas as mais encarniçadas e tremendas: essas religiões, todas elas rolarão por terra, para dar lugar ao ressurgimento de uma época nova na qual o amor, a caridade, a fraternidade, começam conjugadas a sua grande obra de confraternização universal, a união de todos os povos, tendo apenas uma só religião e um só entendimento.

            Esse efeito não será para a vossa vida terrena, mas que importa isso se haveis de vir em novas etapas para concluir a tarefa da reforma planetária? Porque, sabeis, cada um tem seu papel definido neste grande empreendimento; de sorte que haveis de vir novamente tomar lugar designado nessa grande transformação.

            E para que a tarefa seja bem desempenhada e o tarefeiro tenha certeza do papel que está representando, é necessário, é imprescindível que ele desde já se reforme, batalhe consigo mesmo, lute e faça com que o homem velho sucumba para dar lugar ao homem novo; que surja cheio de vigor, cheio de esperança, cheio de fé. E onde deveis buscar esse elemento de força) de vitalidade para, empreender esta campanha extraordinária, a mais extraordinária talvez de que os vossos espíritos tenham tido consciência?

            No Evangelho, nesse Evangelho que fez a grandeza dos vultos a que os vossos corações vêm aqui reunidos trazer um preito de estima e admiração. E eu, peregrino, embora libertado da carne, tendo a visão mais nítida e perfeita das coisas de Deus, julgo-me sem merecimento algum sequer para pronunciar os nomes de Pedro e Paulo! Que poderei dizer das suas individualidades?

            O que vos posso dizer é que um representa tanto amor, tanta caridade e o outro tanta fé que é cedo, muito cedo para poderdes compreender a extensão de tais predicados neles. Só no dia que a humanidade acordar deste sono em sono em que está mergulhada, no dia que ela despertar para a realidade das coisas, então, compreendera a grande obra de Pedro e Paulo .Sem medo, sem receio direi: eram precisos esses dois vultos para que o Evangelho de Jesus fosse propagado na Terra; eram precisos esses dois corações aliados, esses dois cérebros extraordinários, para que o homem tivesse certeza de que Jesus viera ao  mundo e legara à humanidade o seu código de amor, de verdade e, sobretudo, de caridade.

            Novos Paulos, outros tantos Pedros deverão surgir, não que se precise converter gentios, não que se precise de nova pedra angular para a Igreja de Jesus, mas porque se precisa de novos Paulos e novos Pedros da fé, pelo sentimento e pela razão.  

            E no dia que assim suceder, e no dia que esses novos arautos surgirem, pode-se perfeitamente dizer que nesse dia começou a felicidade do mundo.

            É preciso que se fale com franqueza: espíritas, é preciso que se pregue com amor, sim, mas com energia também; já é tempo de se cuidar melhor das coisas de Deus. Sabeis que muito se pedirá a quem muito se houver dado ... E quem mais tem recebido do que os representantes da Boa Nova?

            É preciso agir, é preciso trabalhar. Que temos feito?

            Eu vos respondo, muito; mas tendes necessidade de fazer mais, muito mais. Fazer com o vosso vizinho, com o vosso próximo em geral? Sim, mas antes fazer convosco mesmos.

            Sabeis que a misericórdia de Deus sempre está em contato com as vossas consciências: e no entanto, às vezes, com tristeza vemos os vossos desfalecimentos.

            Pergunto: os estudantes do Evangelho devem ou não devem ter fé? Sabem ou não sabem que jamais serão desamparados por seu Mestre?

            O divino Mestre tem os olhos voltados para a humanidade inteira e se a humanidade sofre, geme e chora, é porque lhe tem voltado completamente as costas.

            Vós outros, porém, desde que abrais vossos corações, desde que a vossa penitência seja verdadeira, eu vos garanto categoricamente a sua misericórdia para que sintais o alívio, o bálsamo consolador que cura todas as feridas, todas as lepras inclusive a lepra da consciência culpada.

            Perdoai-me esse arrebatamento, eu falo assim convosco e não poderia ter a mesma linguagem que os demais, porque m’s permitis e sobretudo porque me amais.

            Unido a vós por um passado tão longo, porque deixaria de falar desta maneira quando se comemora o espírito dos representantes máximos da fé, dessa fé que representa a franqueza, a lealdade?

            Aceitai, meus companheiros, o que vos digo neste momento, como penhor máximo da minha estima.

            Dia virá no qual todos unidos, cá em cima, continuaremos a trabalhar, preparando a nossa volta e esse mundo que hoje habitais.

            Vamos pedir a Deus, vamos rogar a Jesus e sobretudo ao Anjo Tutelar da humanidade, que é Maria, para que, quando tivermos de voltar novamente, as condições dos nossos espíritos sejam outras; para que possamos sem desfalecimento, sem tibieza, sem fraqueza, sem esmorecimento de qualquer espécie, apresentarmo-nos de viseira erguida a luta e dizer: Senhor, cumpra-se em todos nós a tua santa vontade!  

            Ainda duas palavras:

            Os olhos do mundo estão voltados para a doutrina de Jesus e vós, como seus representantes na Terra deveis vos conduzir com o máximo critério em todos os atos da vossa vida, para que ninguém lance sobre a doutrina de Jesus, em virtude dos vossos desatinos e acertos, o ridículo.

            Tende cautela, as perseguições continuam incessantes, todos os meios são lícitos para os nossos inimigos e eles só contam com um único elemento de triunfo: a vossa fraqueza.

            Sede firmes, sede fortes, examinai bem as vossas consciências, e por esta forma não deixeis aberta a porta, para que o lobo traiçoeiro não entre no redil.

            Sede estudiosos, sede amorosos, notai bem: praticai a caridade da alma, o amor sincero e eu vos garanto mais uma vez que a assistência dos vossos amigos e protetores será um fato.

            Nas horas das vossas dores implorai a esse espírito amoroso a sua proteção e eu vos asseguro, meus amigos, ele virá em vosso socorro. Refiro-me a Maria.

            Que a misericórdia de Deus baixe sobre vossos espíritos e vos faça compreender que ama-lo é vosso primordial dever.

                                                                       Bittencourt Sampaio


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