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domingo, 3 de janeiro de 2021

O endemoninhado geraseno

 


O endemoninhado geraseno

por Rodolfo Caligaris   Reformador (FEB) Fevereiro 1966

 

            "'Tendo atravessado o mar, desembarcaram no país dos gerasenos e, mal Jesus  descera da barca, veio ter com ele um homem possuído do espírito imundo, homem esse  que ninguém conseguia dominar nem mesmo com correntes, pois muitas vezes estivera com ferros aos pés e preso por cadeias e as quebrara. Vivia dia e noite nas montanhas e nos sepulcros, a gritar e a flagelar-se com pedras. Ao ver Jesus, ao longe, correu para ele e o adorou, exclamando em altas vozes: Que tens tu comigo, Jesus, filho do Deus Altíssimo? Eu te suplico, não me atormentes. Isso porque Jesus lhe ordenara: Espírito imundo, sai deste  homem. Perguntando-lhe Jesus: Como te chamas?  - respondeu: Chamo-me Legião, porque somos muitos.  

            Ora, havia ali uma grande vara de porcos pastando na encosta do monte, e os demônios faziam a Jesus esta súplica: manda-nos para aqueles porcos, a fim de entrarmos eles. E como Jesus lhes desse permissão para isso, os Espíritos impuros, saindo do possesso, entraram nos porcos; toda a manada saiu a correr impetuosamente e foi precipitar-se no mar, onde se afogou.

            Os que a apascentaram fugiram e foram espalhar na cidade e nos campos a notícia do que se passara. Logo acorreram muitos até onde estava Jesus e, encontrando o homem que ficara livre dos demônios sentado a seus pés, vestido e de perfeito juízo se encheram de temor. Ouvindo, então, dos que presenciavam o fato, a narrativa do que sucedera ao possesso e aos porcos, todos pediram a Jesus que deixasse aquelas terras.” (Dos Evangelhos)

            Temos aqui um caso impressionante de possessão, cuja vítima, subjugada por uma falange de Espíritos perversos, tornara-se o terror dos sítios em que vivia.

            Pelo relato dos evangelistas, bem podemos imaginar-lhe a terrível figura: seminu e  coberto de feridas sangrentas, olhos esfogueados, cabelos longos e em desalinho, pedaços de corrente a lhe penderem das pernas, mais haveria de parecer uma fera do que propriamente uma criatura humana.

            Compadecido do infeliz, Jesus liberta-o de tão má influência, com o que lhe restitui de pronto a razão, e domínio de si mesmo, e, convidando-o a sentar-se junto de si, põe-se a edifica-lo com seu verbo terno e esclarecedor, preparando-o para que viesse a ser mais um arauto da Boa Nova, e, ao voltar para a companhia dos familiares, ao contar-lhes que coisa estupenda o Senhor fizera por ele, estivesse habilitado a anunciar-lhes também a doutrina de Amor, de Tolerância e de Justiça que estava sendo trazida ao mundo, cuja observância é o mais seguro remédio contra todos os males que afligem e infelicitam a Humanidade.

            Quanto aos Espíritos obsessores, não entraram nos porcos, como supuseram os circunstantes, coisa que hoje melhor se compreende; apenas se fizeram visíveis aos suínos e estes, espavoridos, se precipitaram do monte para baixo em tão desabalada carreira que,  não podendo estacar ao chegarem à praia, introduziram-se no mar, perecendo afogados.

            O episódio em tela, ao mesmo tempo que ressalta o extraordinário poder de Jesus (baseado na perfeição de seu caráter) e sua incomensurável piedade para com os sofredores, põe em relevo, por outro lado, a mesquinhez de muitos homens, para os quais o interesse material a tudo sobreleva.

            A cura daquele possesso que os trazia em sobressalto deveria ser, para os gerasenos, motivo de se regozijarem e se mostrarem agradecidos àquele que operara tal maravilha. Ao invés disso, porém, só levaram em conta a perda de seus animais e, receosos de novos prejuízos pecuniários, despediram de suas terras, qual se fora um intruso indesejável, o próprio Filho de Deus que os honrara com sua augusta presença.

            Agora meditemos.

            Nós outros não estaremos agindo, ainda hoje, de igual maneira? Não continuamos colocando as conveniências mundanas acima dos galardões espirituais?

            Conquanto nos pese reconhecê-lo, todas as vezes que contrariamos a Doutrina Cristã, porque seguir lhe os preceitos nos custaria o sacrifício de algum lucro temporal, é como se, visitados pelo Mestre, o puséssemos para fora de nossa porta!


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