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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Confissões

Confissões - a

I. Pequeno (Antônio Wantuil)

Reformador (FEB) Fevereiro 1946

            Em continuação às transcrições que vimos fazendo de trechos do livro – ‘Deus’ - da autoria do Rev. Padre Huberto Rohden:

             “Dentro em breve estará encerrada a minha peregrinação terrestre - e eu aguardo, tranquilo, quase ansioso, esse termo final de uma longa jornada - tão longa e tão fugaz... Que novas maravilhas me revelará essa metamorfose, esse cair do pano, essa grande alvorada?...

            Partirei daqui para mundos ignotos, mundos de que tanto falei e escrevi, mundos por que tanto trabalhei e sofri, mundos que muitos dos meus ex-ouvintes e ex-leitores já conhecem de vista, e que eu anseio por conhecer também...”

            “Queriam alguns homens que eu mesclasse de elementos humanos, incertos, as tuas revelações divinas, infalíveis... Queriam que eu fizesse do teu Evangelho bandeira de interesses subalternos e chave para tesouros profanos ...

            “Mas, o teu reino não é deste mundo, e o teu Evangelho é por demais espiritual para não ser desespiritualizado pelo contato com as nossas materialidades cotidianas... Preferi sofrer a incompreensão e hostilidade de muitos a ser infiel a teu espírito e à minha consciência - e estou satisfeito com o que fiz.”

            “Sei que castigas o mal e premias o bem - mas não sei porque sofrem inocentes e exultam culpados,..

            “Sei que grandes crimes merecem grande punição - mas porque punem para sempre um verme da Terra? ...

            “Que glória ou prazer te podem dar os gemidos de Espíritos infelizes?”

            “Se sabes e desde sempre sabias que tantas almas não atingiriam seu destino feliz - porque não as deixaste na noite benéfica do não-ser?..porque chamaste ao luminoso dia da existência esses convidados à noite eterna?..

            “Disseram-me que havias criado milhares e miríades de seres incorpóreos dotados de grande poder, inteligência e beleza, destinados a serem felizes em tua companhia, mas que muitos desses seres se haviam revoltado contra ti e que tu os havias punido com penas eternas.

            "Cheio de pasmo e estupor ouvi deste primeiro fracasso do teu poder, da tua sabedoria e bondade - e fiquei desnorteado.”

            “Não sei como definir esse indefinível quê, esse misterioso algo que infundiste à matéria do teu universo”. Vejo que a matéria evolve, que progride, que procura subir de perfeição em perfeição, ela, que não possui propriamente espírito, nem alma, nem inteligência, nem vontade...”

            “Cheguei a compreender também que o teu céu não é algum lugar longínquo para onde deva a alma viajar após a sua separação do corpo - mas que o teu céu é um estado espiritual dessa mesma alma liberta, uma atitude moral, uma atmosfera divina criada dentro da alma na vida presente e revelada na vida futura ...”

            “No dia, Senhor, em que os homens inventaram que eras “pessoa”, começou a grande decadência...

            “Decadência, não tua, porque tu és eternamente forte, juvenil, indefectível; mas a grande decadência da tua divindade no conceito dos homens.

            “Modelaram-te os homens à sua imagem e semelhança, personalizando-te. Chegaram mesmo ao ponto de atribuir-te personalidade tríplice - e com isto correram enorme cortina de fumaça por diante de tua divina natureza."

            “Tu castigarás esse homem “injusto” ou “desajustado”?

            “Não, ele mesmo se castigará, porque toda culpa, quando não devidamente cancelada, leva no seio o germe da pena.”

            De acordo com o desejo dos nossos leitores, continuaremos no próximo número de ‘Reformador’ a transcrever as gotas filosóficas do Autor.

Confissões -b

I. Pequeno (Antônio Wantuil)   

Reformador (FEB) Março 1946

             Conforme prometemos, seguem mais alguns trechos do livro – ‘Deus‘- obra publicada em 1945 pelo Revmo. Sr. Padre Huberto Rohden:

             “Quem arremete com o crânio contra uma muralha de granito ofende mais a si mesmo do que ao granito.”

            “Muitos chegam ao ponto de se sentirem como que dispensados de serem bons pelo fato de serem abundantemente “religiosos”.

            “Não, não posso crer, meu Deus, que tu sejas tão cruel e insensato que crias um ser destinado a ser infeliz, que chames à existência era a uma humanidade fadada a perecer longe de ti, em terra estranha, faminta, no meio de animais imundos...”

            “Que Deus tão pouco divino serias tu se, no fim dos tempos, o teu adversário saísse mais vitorioso que tu? Se levasse consigo a maior parte da tua humanidade?”

            “O teu céu e o teu inferno não são lugares, no sentido comum do termo, são estados da alma, atitudes do espírito, perspectivas retas ou falsas do Eu.”

            “Estou no teu céu, no teu inferno quando estas coisas, divinas ou anti divinas, estiverem dentro de mim, em estado latente, agora - em estado manifesto no mundo futuro.”

            “O reino de Deus e o reino de Satã estão dentro do homem. E, aonde quer que o homem vá, leva consigo o seu céu ou o seu inferno.”

            “A vida, ao menos a do nosso planeta, é tua mortal inimiga, minha doce Caridade. Não penses que eu seja pessimista. Não o sou, como também não sou otimista - sou apenas sincero e desassombrado realista. E a realidade, aqui em nosso planeta, é esta: a vida que guerreia sem tréguas, é filha primogênita da excelsa divindade.”

            “Querem os homens fazer da religião uma tal ou qual magia ritual, um complexo de fórmulas cabalísticas - quando o teu Messias lhes disse que os teus cultores deviam cultuar-te no santuário da verdade e da justiça, no templo da sinceridade e da pureza, na ara (alta) da bondade e da caridade universal."

            “Todos eles desejariam ser amigos teus e discípulos do teu Cristo se encontrassem o Cristo genuíno e integral - não o Cristo envolto em mortalhas e sudários fúnebres, mas o Cristo vivo, Rei imortal dos século...

            “Todos eles, fartos de religião sobre Jesus, anseiam pela religião de Jesus."

            “Desde que fizemos as pazes e somos amigos, ó morte, compreendi que certas coisas que os homens tomam por miragem e fatamorganas (miragem que se deve a uma inversão térmica) são mais reais que todas as supostas realidades dos homens.”

            “Tu és, possivelmente, o único ser que não me queira mal pelo que disse. As tuas criaturas, mesmo as que vivem com o teu nome à flor dos lábios e com os teus símbolos nas vestes, me considerarão, talvez, irreverente, blasfemo, herege, ateu, herege, ateus, luciferino, porque algumas das coisas que eu disse de ti são grandes demais para caberem nos estreitos moldes da nossa humana filosofia. Entretanto, basta-me saber que tu me conheces e pões na balança o sincero amor que te consagro, no meio de todas essas noites da inteligência.” 

            Na impossibilidade de continuarmos com essas transcrições, porque acabaríamos por transcrever todo o livro do notável e erudito sacerdote, aqui ficamos seguros de que agradáveis foram para os nossos leitores essas pequenas pérolas que extraímos de tão magnífica obra filosófica.


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