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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

A teimosia dos fatos

 


A teimosia dos fatos

por Luciano dos Anjos   Reformador (FEB) Julho 1966

             César Lombroso é, sem favor, um dos maiores gênios do mundo. Impossível relacionar toda a imensa contribuição que deu à ciência, especialmente no campo da Frenologia, da Antropologia Criminal, da Psicologia e da Sociologia. Após sua morte, tributou-lhe a Humanidade inteira as maiores homenagens, tendo sido comparado a Darwin, Spencer, Pasteur, Charcot e Virchow. A Real Academia de Medicina da Itália até hoje concede um prêmio internacional chamado “Prêmio Lombroso”, em memória ao gigante de quem o médico brasileiro Leonídio Ribeiro diria: “Sua obra é patrimônio da ciência universal e sua vida ficará como exemplo de amor e dedicação à Humanidade” ,

            Um belo dia o conde de Cbiaia pediu a Lombroso que examinasse, com a sua autoridade de cientista, os fenômenos espíritas, a fim de que “desmascarasse o embuste”. Lombroso fez algumas exigências e aceitou. Afirmaria mais tarde: "Quando vi, à plena luz. uma mesa levantar-se e uma pequena trombeta voar como uma flecha da cama à mesa e desta à cama, meu ceticismo recebeu um choque”. E, afinal, quando muitos esperavam o desmascaramento do Espiritismo, César Lombroso viria a público para corajosamente sentenciar: “Estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta persistência a. possibilidade dos fatos chamados espíritas. Os fatos existem, e eu deles me orgulho de ser escravo”. “Se houve um indivíduo, por educação científica, contrário ao Espiritismo, este indivíduo fui eu, eu que escarneci por tantos anos e que havia consagrado a vida à tese que diz ser toda força uma propriedade da matéria e a alma uma emanação do cérebro! Mas, se sempre tive grande paixão pela minha bandeira científica, encontrei outra ainda mais fervorosa: a adoração da verdade, a constatação do fato.”

            E depois dessas conclusões, divulgadas pelo mundo todo, dogmáticos e sectários “enterraram” Lombroso...

            Outro sábio não menos famoso foi William Crookes, autor dum tratado clássico de análises químicas, de numerosas pesquisas em Astronomia, principalmente sobre fotografia celeste. Foi ele o descobridor do “tálio”, após importantes trabalhos sobre a análise espectral. Foi o descobridor do quarto estado da matéria, prêmio Nobel de Física, membro da Sociedade Real de Londres, enfim, um cientista de primeira magnitude! Eis que o notável químico anuncia que iria ocupar-se dos chamados fenômenos espíritas. Proclamaram então de público os inveterados cépticos: “Enfim! Vamos pois saber como havemos de pensar!” E, de fato, Crookes inicia as mais complexas pesquisas a que os fenômenos já foram submetidos até hoje. Chegou a criar instrumentos especiais para seus trabalhos, não esquecendo de fazer passar pelos médiuns uma corrente elétrica a fim de registrar seus movimentos! Depois de quatro longos anos de experiências, em meio a grande expectativa do mundo, publicou afinal as suas conclusões: “Os diversos fenômenos que venho atestar são tão extraordinários e tão completamente opostos aos mais enraizados pontos do credo científico que mesmo agora, recordando-me dos detalhes de que fui testemunha, há antagonismo na minha razão, que diz ser isso Impossível, e o testemunho de meus dois sentidos da vista e do tato, que me dizem não serem testemunhos mentirosos. Supor que uma espécie de loucura ou de ilusão vem dominar subitamente um grupo de pessoas inteligentes e sensatas, parece mais incrível do que os próprios fatos que atestam.” “O Espiritismo está cientificamente demonstrado.” E, respondendo a seus antagonistas, Crookes replicaria lacônica mas esmagadoramente: “Eu não disse que esses fenômenos eram possíveis; o que disse e afirmo é que são verdadeiros.”

            Aí então “enterraram” o sábio e espalharam que ele estava gagá...

            Eis que agora vemos surgir um novo cientista que recomeçou todas as experiências, partindo do mesmo zero científico e palmilhando os mesmos caminhos frios e imparciais de seus antecessores. Falo do professor-catedrático Joseph Banks Rhine, que rotulou os fenômenos supranormais de Parapsicologia e começou a passa-los um após outro pelo rigoroso crivo do exame científico. Respiraram novamente os céticos e os eternos negativistas. Novamente anteviram a morte do Espiritismo, já que “a parapsicologia explica tudo muito bem, sem precisar apelar para a alma dos defuntos.” Nas suas primeiras publicações Rhine ensejou à crítica uma cascata delirante de raciocínios contra todas as teses espíritas. O materialismo cantava mais uma vez a glória da sua suprema ascensão! Mas, de repente, o panorama começou a mudar. Já 110 seu livro “New World of the Mind”, Rhine viria a censurar o materialismo cego e a admitir “uma realidade que domina o Universo em toda a sua importância e não há outro recurso senão chamar a essa realidade espírito humano”. O famoso cientista prosseguiu pacientemente em suas pesquisas, embora ouvindo candentes críticas. E daria o golpe de misericórdia nos tolos negadores de tudo, ao editar “The Reach of the Mind”. “Muitos fatos não parecem explicáveis senão por um agente desencarnado. A intenção manifesta através do efeito provocado é tão própria duma pessoa defunta que não saberíamos razoavelmente atribuir-lhe outra origem.” “Casos dessa natureza fazem pensar num agente pessoal dum gênero que não pertence verossimilhantemente a nenhum indivíduo vivo.” Em “Parapsychology-Frontier Science of the Mind”, Rhine robusteceria suas conclusões. E, para complementá-las, passou a chamar “theta” ao estudo específico do fenômeno da sobrevivência e da reencarnação.

            Ora, é de se esperar que Rhine ponha as barbas de molho, pois já lhe devem estar pelo menos tirando a medida do caixão...

                                                         (Do "Diário de Notícias" de 28-1-68)


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