Pesquisar este blog

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

A natureza do indivíduo

 


A natureza do indivíduo

Emmanuel por Porto Carreiro Neto      

Reformador (FEB) Março 1949

Amigo,

             Não estejamos a ingerir-nos em o que não nos toca, mas empenhemo-nos em o que nos concerne. Muitos problemas há, que não nos cabe resolver. São transcendências para nós, que mal enxergamos no grande oceano de nossas poucas faculdades e muita ignorância. Busquemos estudar o círculo em que nos debatemos, antes de procurar ultrapassa-lo; baste-nos esse círculo que já é imenso para nossa pequenez. Olhemos em torno, e veremos quanto há que fazer. Sobram-nos problemas de como havemos de vencer a nós mesmos. Lutamos nas canseiras do desespero e da incompreensão, ansiados por libertar-nos desse círculo de ferro em que nos aprisionamos, enclausurados numa cegueira que nos furta a visão de maiores grandiosidades. Reconheçamos nossa mesquinhez dentro dum Universo infinito. Vejamos nossa miséria olhando a nós mesmos, empecidos os passos na áspera via do progresso, enquanto nos é fácil o torvo caminho das paixões. No altar divino do Senhor Nosso que é longanimidade, sacrifiquemos a jactância e toda sofreguidão de transcender nosso minúsculo âmbito de conhecimentos. Repito-te: pesquisemos esse círculo, que muito já estudaremos e muito alcançaremos. Saibamos compreende-lo, que ele se dilatará; e então, sem dele sairmos, verificaremos que os horizontes recuam.

            A Natureza é infinita; a cada qual é concedida uma parte, e a parte primeira é o nosso mundo interior. Quem somos? É o indivíduo um complexo tão grande, que pudéramos dizer ser ele uma Obra-prima da Criação de Deus. Nele se enfeixa tudo quanto o Senhor criou de belo. Mas o homem se incorpora as mais negras vilanias, que empanam a virtude maior – o Amor; tece em torno do raio divino a névoa mais densa e caliginosa (sombria). Onde exuberaria a grandeza, reina a sordícia (sordidez); onde estrugiria (ecoaria) a sublimidade, dorme pesado sono um abismo asqueroso. Como há de, então, embevecê-lo o fulgor das estrelas, se vive na sombra; como enlevá-la a harmonia, quando é paradoxo e contraste em si mesmo; como extasiá-lo a maviosa linguagem das aves, quando a sufocam os sinistros urros de fera?

            Estudemo-nos a nós mesmos, na maravilha da Criação. As leis universais em nós mesmos se enquadram e a nós próprios se aplicam. O equilíbrio que governa o Universo em nós se faça, para não negarmos que somos realmente obra do Arquiteto insuperável. Então, expungir-se-ão (limpar) de nós o egoísmo e a megalomania: viveremos em nós, mas não para nós; e, não ultrapassando a nós, encerraremos, por isto mesmo, a grandeza da Criação.


Nenhum comentário:

Postar um comentário