A
palavra de
Emmanuel
e o movimento
espírita
O espírito Emmanuel[1],
de quem todos temos recebido sábias orientações evangélicas, escreveu através
do médium Francisco Cândido Xavier uma obra que, a rigor, nenhum espírita deve deixar
de ler.
Ela nasceu de uma sugestão dada por
um amigo espiritual, na reunião de 31 de outubro de 1939, no Grupo Espírita Luiz
Gonzaga, de Pedro Leopoldo, a fim de que os companheiros encarnados formulassem
perguntas ao lúcido guia do Chico, objetivando a ampliação dos seus conhecimentos.
Emmanuel, consultado a respeito do
assunto, estabeleceu um programa de trabalho e já em março do ano seguinte a
tarefa estava concluída, com os originais de ‘O Consolador’ prontos para serem publicados pela Federação Espírita
Brasileira.
A feição de O Livro dos Espíritos, a obra apresenta respostas seguras para 441
perguntas que englobam problemas de Ciência, Filosofia e Religião e, atendendo
-- como bem informa a Sinopse de Livros da FEB -- "ao conceito progressivo
da Revelação, esparge novas luzes sobre inúmeras questões". É composta de
três partes, cada uma com cinco capítulos, mas neste breve artigo iremos nos
prender mais a algumas questões abordadas nas duas últimas, reservadas aos
temas filosóficos e religiosos.
* * *
A abordagem de temas atualíssimos do
movimento espírita é feita de maneira clara por Emmanuel, incluindo determinados assuntos que alguns, por desconhecimento,
costumam rotular de "controvertidos" .
Na hora em que certos grupos se agitam
com o objetivo de arrebanhar número cada vez maior de prosélitos, é conveniente
relembrar a advertência de O Consolador
afirmando que, de modo algum, a propaganda, plena de estardalhaço, é necessária
ao Espiritismo, cuja direção "pertence ao Cristo e seus prepostos, antes
de qualquer esforço humano, precário e perecível". Assim sendo, "a
necessidade imediata dos arraiais espiritistas é a do conhecimento e aplicação
legítima do Evangelho, da parte de todos quantos militam nas suas fileiras,
desejosos de luz e de evolução" (perg. 218).
E não há justificativa para os espíritas
correrem atrás dos intelectuais ou dos poderosos do mundo, pois, além de os
"valores intelectuais do planeta, nos tempos modernos, sofrerem a humilhação
de todas as forças corruptoras da decadência", a Doutrina "não
necessita de determinados homens para consolar e instruir as criaturas" e
"na sua feição de Cristianismo redivivo não deve nutrir a pretensão de
disputar um lugar no banquete dos Estados do mundo, quando sabe muito bem que a
sua missão divina há de cumprir-se junto das almas, nos legítimos fundamentos
do Reino de Jesus" (pergs. 206, 210 e 361).
* * *
Emmanuel
vai adiante. Ao responder à pergunta 110, afirma ele: "A melhor escola
ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do
caráter. Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir,
mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade
poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem."
O lar como sublime escola do espírito,
fonte da real educação!
Tão clara a afirmativa e mais clara ainda
se torna quando o mentor acrescenta que "na sua grandiosa tarefa de cristianização,
essa é a profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar
a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça e novo ciclo de progresso
espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da
Humanidade" (perg. 110).
Academias? Universidades? Cursos? Não!
Apenas o lar.
E é ao lar, e não às instituições do
mundo, que os grupos espíritas devem se assemelhar, conforme nos indica o autor
no item 363: "Os agrupamentos espiritistas necessitam entender que o seu aparelhamento
não pode ser análogo ao das associações propriamente humanas. Um
grêmio espírita-cristão deve ter, mais que tudo, a característica familiar,
onde o amor e a simplicidade figurem na manifestação de todos os
sentimentos."
* * *
Coisa muito comum nos dias de hoje é
a ânsia de alguns confrades por atingirem posições destacadas no mundo, para,
desse modo, levantarem o nome do Espiritismo e carrearem as benesses do poder
temporal para o movimento doutrinário. A política apresenta vários casos desse
tipo, mas, com relação ao problema, a obra de Emmanuel nos adverte que
o discípulo sincero de Jesus "não deve provocar uma situação de evidência para
si mesmo nas administrações transitórias do mundo. E, quando convocado a tais
situações pela força das circunstâncias, deve aceitá-Ias não como galardão para
a doutrina que professa, mas
como
provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre difícil" (perg. 60).
Também o atalho por onde muitos enveredaram,
pela interpretação apressada do lema "fora da caridade não há salvação",
é abordado.
Por quê?
Porque "as obras da caridade
material somente alcançam a sua feição divina quando colimam a espiritualização
do homem, renovando-lhe os valores íntimos, porque, reformada a criatura humana
em Jesus-Cristo, teremos na Terra uma sociedade transformada, onde o lar genuinamente
cristão será naturalmente o asilo de todos os que sofrem" (perg. 255).
Não que Emmanuel seja contrário à caridade
material, "que faz do Espiritismo evangélico um pouso de consolação para
todos os infortunados". Em boa hora, contudo, ele lembra que as religiões
sectárias "também organizaram as edificações materiais para a caridade do
mundo, sem olvidar os templos, asilos, orfanatos e monumentos. Todavia, quase
todas as suas obras se desvirtuaram, em vista do esquecimento da iluminação dos
Espíritos encarnados". Ora, daí se depreende que "o serviço de
cristianização sincera das consciências constitui a edificação definitiva, para
a qual os espiritistas devem voltar os olhos, antes de tudo,
entendendo a vastidão e a complexidade da obra educativa que lhes compete
efetuar, junto de qualquer realização humana, nas lutas de cada dia, na tarefa
do amor e da verdade".
* * *
Outros, muitos outros assuntos, motivos
de debates no movimento espírita, são analisados pelo guia de Chico Xavier, nessa
obra, de modo incontestável e com profunda elevação espiritual. Questões referentes
ao Evangelho, Velho Testamento, Mediunidade, Evolução, Trabalho, Sentimento,
Cultura, Arte, Física, Química, Biologia, Psicologia, Sociologia, etc.
Entretanto, não queremos encerrar esta
nossa colaboração sem lembrar duas sábias respostas encontradas em O Consolador.
A primeira diz respeito aos
Espíritos que passaram pela Terra. Se todos tiveram as mesmas características
evolutivas, no que se refere ao problema da dor.
Eis a resposta: "Todas as
entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são Espíritos que se
resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado, com
exceção de Jesus--Cristo, fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja
evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos angélicas
repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios" (perg.
243). "O Eleito, porém, é aquele que se elevou para Deus em linha reta,
sem as quedas que nos são comuns, sendo justo afirmar que o orbe terrestre só
viu um eleito, que é Jesus-Cristo" (perg. 277).
É só abrir Os Quatro Evangelhos, de J.-B. Roustaing, para saber, detalhadamente,
como se dá essa evolução em linha reta, nas esferas fluídicas, sem necessidade
da dor punitiva nos mundos materiais.
Já a segunda resposta está relacionada
com o sacrifício do Gólgota. Teria sido
ou não completo esse ato sem o máximo de dor material para o Divino Mestre?
Emmanuel
rebate, afirmando: "A dor material é um fenômeno como o dos fogos de artifício,
em face dos legítimos valores espirituais. Homens do mundo, que morreram por
uma ideia, muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo
apenas a amargura da incompreensão do seu ideal. Imaginai, pois, o Cristo, que
se sacrificou pela Humanidade inteira e chegareis a contemplá-Ia na imensidão
da sua dor espiritual, augusta e indefinível, para a nossa apreciação restrita
e singela."
Mas o mentor não se detém aí e continua:
"De
modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus, estabelecendo dados
comparativos entre o Senhor e o homem. Em sua exemplificação divina, faz-se
mister considerar, antes de tudo, o seu amor, a sua humildade, a sua renúncia
por toda a Humanidade. Examinados esses fatores, a dor material teria
significação especial para que a obra cristã
ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não
constituiu o ponto essencial da sua perfeita renúncia pelos homens? Nesse
particular, contudo, as criaturas humanas prosseguirão discutindo, como as
crianças que somente admitem as realidades da vida de um adulto quando se lhes
fornece o conhecimento tomando para imagens o cabedal imediato dos seus
brinquedos."
Mais uma vez é só abrir Os Quatro Evangelhos para um estudo
sobre o corpo fluídico de Jesus. Antes tendo o cuidado de dar uma olhada na
escala espírita de O Livro dos Espíritos,
para lembrar que Espírito puro não reencarna ...
* * *
Vale a pena ler - ou reler - O Consolador para aprender muito com
Emmanuel. Principalmente os que ainda não conseguiram compreender o abençoado programa
doutrinário da Federação Espírita Brasileira, já a caminho do primeiro
centenário.
Folheando, com isenção de ânimo e sem
ideias preconcebidas, as páginas dessa obra psicografada por Francisco Cândido
Xavier, encontramos, em diversos trechos, a defesa explícita da posição assumida
pela Casa de Ismael ante as tendências demonstradas pelo movimento espírita,
além de uma sublime complementação da obra granítica de Allan Kardec,
"atendendo ao conceito progressivo da Revelação".
E aos que, infelizmente, ainda estejam
batalhando por um Espiritismo mundano, ao sabor das vaidades e das paixões, só
nos resta lembrar, com Emmanuel: "A
missão do Consolador tem que se verificar junto das almas e não ao lado das
gloríolas efêmeras dos triunfos materiais. Esclarecendo o erro religioso, onde
quer que se encontre, e revelando a verdadeira luz,
pelos atos e pelos ensinamentos, o espiritista sincero, enriquecendo os valores
da fé, representa o operário de regeneração do Templo do Senhor, onde os homens
se agrupam em vários departamentos, ante altares diversos, mas onde existe um
só Mestre, que é Jesus-Cristo."
por Fomar José Costa Morais
in ‘Reformador’ (FEB) Junho 1974
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