Kardec
e o Método
Ao considerar a obra monumental elaborada
pelo Codificador, é natural vá a atenção
concentrar-se no conteúdo, tamanha a atração exercida sobre as mentes que
percorrem suas páginas em busca de um norte para os passos incertos nos carreiros
do mundo. Mas, depois de saciada a fome de esclarecimentos, volta-se a alma
refeita para a imponência da obra, e da imponência dela para o vulto que soube
concebe-la e executa-la com tanta mestria. A figura de Kardec desponta em toda
a sua grandeza, granjeando a admiração e o respeito de todos aqueles que o vêm
conhecer através de suas obras.
Para os espíritas, portanto, as
inspirações não são encontradiças apenas no conteúdo da codificação
kardequiana, mas também na forma como foi ela vazada, dado que, embora
avaliando devidamente a estatura moral e espiritual daquele que recebeu a
incumbência de ser, entre os homens, o intérprete do Consolador, ressaltam da
obra as qualidades de pedagogo exímio por ele demonstradas, na maneira
magistral como soube ordenar, coordenar, concatenar e desdobrar os mais
transcendentes assuntos, aplanando assim os
caminhos e facilitando os passos de todos aqueles que por eles se põem a desbravar
os terrenos da ciência das ciências.
Se Kardec, codificador e mestre
emérito, empregou os métodos por ele utilizados para veicular, em primeira mão,
as noções basilares da Doutrina Espírita, será de indagar por que os espíritas,
ao se entregarem ao afã de difundirem as mesmas noções, dão mostras do desprezo
por esses métodos, uma vez que valorizam, de forma extremada, os que estão em
voga nas atividades escolares do mundo.
O “Reformador”, em variadas oportunidades, e de diversos modos, já tem acentuado que tal preferência não parece
muito condizente com o espírito da Doutrina Espírita, visto que a escola do
mundo é eminentemente pragmatista, utilitarista, imediatista e materialista. O
Evangelho já adverte, na palavra do Mestre dos mestres, que “não se mete vinho
novo em odre velho”, advertência que anteciparia a impropriedade de difundir as
coisas do espírito através
dos métodos materialistas, por muito respeitáveis e racionais que eles sejam.
E se, em contrapartida, assaltar ao
estudioso a hesitação quanto aos métodos a empregar para esse desiderato, é de
lembrar que a dúvida só poderia ser fruto da distração, eis que o Codificador
não se embaraçou com essa questão: utilizou desde logo os meios adequados e,
além de utiliza-los, deu-lhes o devido realce em todos os passos de sua obra em
que abordou o assunto.
Métodos para difundir o Espiritismo ai
estão, portanto, e indicados pelo próprio Codificador. Nesse ponto, os espíritas precisam valorizar as
simples conversações, tal como o ressalta Kardec. Porém, se há interesse ou conveniência
de lançar mão de métodos de ação em maior escala, emergirá, na primeira plana,
aquele em que está estruturado esse portento que é “O Livro dos Espíritos”.
Nele e por ele se aprenderá; “ab Initio”, que o Espiritismo não cuida
de quantificar as criaturas, e sim de qualificá-las.
Editorial
‘Reformador’ (FEB)
Maio 1974
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