Historiografia
Transcendental
por Hermínio C Miranda
Reformador (FEB) Julho
1974
Ao escrever, em 1973, o livro
"As Marcas do Cristo", tive a felicidade de encontrar algumas
evidências da contribuição que a mediunidade está trazendo à pesquisa histórica
e do muito que poderá fazer no futuro.
Vamos lembrar um desses exemplos
aqui.
*
O Cristianismo chegara a uma
encruzilhada: ou seria apenas uma seita judaica ou partiria para a divulgação
ampla, em escala mundial, para todos os povos. O teste fora em Antioquia
e Paulo estava convencido de que o Cristo viera para todos e não apenas para os judeus.
O incidente com Pedro foi o ponto crítico do processo. Anos depois, Paulo diria
aos Gálatas
(2 :11-14) :
- Mas quando veio Cefas a Antioquia,
enfrentei-o face a face, porque se tornara digno de
repreensão, pois antes de chegarem alguns do grupo de Tiago, comia em companhia
dos gentios, mas uma vez que aqueles chegaram, foi visto recatar-se e
separar-se, temendo os incircuncisos. E os demais judeus o imitaram em sua
simulação até o ponto em que o próprio Barnabé se viu arrastado pela simulação
deles. Mas quando vi que não procediam com retidão segundo a verdade do
Evangelho, disse a Cefas na presença de todos:
"Se tu, sendo judeu, vives como
gentio e não como judeu, como forças os gentios a se judaizarem ?"
Vimos em Emmanuel as minúcias do
dramático acontecimento e ficamos sabendo da tremenda
importância do episódio, pois, no seu dizer preciso e sóbrio, "a atitude
de Simão Pedro
salvara a igreja nascente": (Grifo meu.)
Tornara-se premente, inadiável, uma
definição clara de princípios, pois a causa era grande
demais para ficar enredada nas paixões humanas e ao sabor das opiniões pessoais de
cada um. Foi assim que Paulo propôs uma reunião em Jerusalém para debater o
assunto. Meses
depois, Pedro mandou dizer-lhe que estavam prontos para o encontro, que ficaria conhecido
na história eclesiástica como o Primeiro Concílio, no ano 49.
Paulo encontrou a comunidade de
Jerusalém profundamente modificada, sob a influência judaizante de Tiago, que
mais parecia um "mestre em Israel". Emmanuel, que tem sempre uma
palavra de tolerância e suavidade, é particularmente severo neste ponto,
dizendo que
os olhos de Tiago "deixavam perceber uma presunção de superioridade que
raiava pela indiferença" .
À noite, na hora da reunião,
juntaram-se em torno de uma longa mesa os dirigentes da casa.
Havia algumas pessoas que Paulo desconhecia. Pareciam componentes de um novo tipo
de Sinédrio.
Como Paulo trouxera Tito consigo,
Tiago, muito rígido, quis saber se ele também era judeu.
Paulo disse que não.
- Circuncidado? - insistiu Tiago.
- Não - esclareceu Paulo.
Então não podia participar da
reunião. A intolerância se instalara no círculo dos seguidores do Cristo. Pouco
importavam as excelentes qualidades pessoais de Tito - e continuaria a dar
provas disso pelo tempo afora - e o fato de Paulo colocar-se como seu fiador:
filho de gregos, incircuncidado, não podia participar dos debates. A reunião
somente começou depois que Tito se retirou da sala.
Pedro, que desejava a presença de
Tito, instou junto a Paulo para que o jovem fosse circuncidado,
mas Paulo estava indignado; aquilo era uma imposição descabida. Seu primeiro
impulso foi regressar a Antioquia e seguir o seu caminho, mas viera a Jerusalém
com a intenção de levar "cartas de emancipação", ou seja, uma
declaração formal que o liberasse para a pregação entre os gentios. O que
estava em jogo para ele era demasiado importante e embora resistisse, a
princípio tenazmente, pois a circuncisão de Tito seria um atestado de derrota
aos seus princípios doutrinários, acabou cedendo, sob veementes protestos e
ressalvas, ante a intransigência das vozes mais influentes na comunidade.
- No dia imediato - escreve Emmanuel
- procedeu-se solenemente à circuncisão de Tito, sob a direção cuidadosa de
Tiago e com a profunda repugnância de Paulo de Tarso.
Ora, esta informação, colhida no
mundo espiritual, parece conflitar com a narrativa de Paulo
que, na Epístola aos Gálatas, escreveu assim (2:3-5):
"Pois bem, nem sequer Tito, que
estava comigo, por ser grego, foi obrigado a circuncidar-se. Mas, por causa dos
intrusos, dos falsos irmãos que solapadamente se infiltraram para espiar a
liberdade que temos em Cristo Jesus, com a finalidade de reduzir-nos à
escravidão, a quem nem por um instante cedemos, nos submetendo, a fim de
salvaguardar para vós a verdade do Evangelho."
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