Meu Pai
dá testemunho
de Mim
5,31 “ -Se Eu der testemunho de mim mesmo, não
é digno de fé o Meu testemunho.
5,32 Há outro que dá testemunho de Mim e sei
que é digno de fé o testemunho que dá de Mim.
5,33 Vós
enviastes mensageiros a João e ele deu testemunho da verdade.
5,34 Não
invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas coisas a fim de que
sejais salvos.
5,35
João era uma lâmpada que arde e
ilumina: Vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua luz
5,36 Mas tenho testemunho maior do que o
de João,
porque as obras
que Meu Pai Me deu para executar
- essas são as obras que faço - testemunham a meu respeito que o Pai me enviou
5,37 E o
Pai que me enviou, Ele mesmo deu testemunho de Mim. Vós nunca ouvistes a Sua
voz nem vistes a Sua face...
5,38 e
não tendes a Sua palavra permanente em vós, pois não credes Naquele que Ele
enviou...
Leiamos a Roustaing:
Jo (5,31-33) -Testemunhos - Jamais deve o homem apresentar-se
como modelo. Deve, sim, de modelo servir. Só as obras que pratique, os exemplos
que dê podem e devem testificar a seu favor. Esses os únicos testemunhos verdadeiros que o homem pode dar de si
mesmo. Os outros, não ele próprio, é que devem dar dele testemunho.
Jo (5,34-36) -Meu Pai dá Testemunho de Mim. No que disse aos Judeus que o foram
interpelar, João deu testemunho da
verdade, declarando não ser o Cristo,
ser apenas seu precursor. De Deus é que Jesus recebe o testemunho da sua missão
de enviado celeste.
“Digo-vos, porém, estas coisas a fim de que
sejais salvos.” Os que creram na sua missão foram postos em condições de se
salvarem, isto é, de lhe ouvirem com confiança e fé a palavra, os ensinamentos,
e de caminharem pela suas sendas.
João era um espírito superior em
missão. Os Judeus lhe escutaram a palavra como sendo a de um profeta, de um
enviado de Deus. Mas a sua missão
era preparatória e, como tal, pouco tempo devia durar. O precursor tinha que se
apagar diante do Cristo, tinha que
ver terminada a missão que trouxera, quando Jesus começasse a desempenhar
publicamente a sua.
Jo (5,37) -Nunca lhe ouvistes a voz, nem nada vistes que O
representasse. Duplo sentido encerram essas
palavras do Mestre e duplo sentido tinha ele em mente ao proferi-las: fazer
notar aos Judeus, ali então presentes, que não haviam presenciado essas
manifestações espíritas verificadas às margens do Jordão e no Tabor,
assinalando assim a importância delas; e, além disso, comprovar, segundo o espírito que vivifica, dando
um ensinamento, que Deus nunca se manifesta pessoalmente aos homens, como
sabeis e nós temos dito.
Jo (5,38) -E a Sua palavra em vós não permanece,
porque não credes naquele que foi por Ele enviado. Jesus, perante os homens, era o
órgão de Deus, sua palavra era a
palavra de Deus. Não crendo os Judeus na sua missão e, ainda mais,
repelindo-lhe a moral, os ensinos, os exemplos, neles não ficava a palavra de
Deus. Em seus corações só tinham guarida os preconceitos, os vícios e as
paixões que os dominavam.
Se, por
ignorância ou escrúpulo, mas de boa-fé, houvessem renegado a missão de Jesus,
crendo, entretanto, na moral que ele personificava e praticando-a, tal qual se
cressem na sua missão, teriam sido, não de
nome, porém de fato, seus
discípulos, como o foram os profetas e os justos em Israel, antes da sua vinda
à Terra. Até aos vossos dias assim foi e
ainda é. São de fato discípulos de
Jesus todos aqueles que, sejam Judeus ou Gentios, sejam quais forem suas
crenças, sejam quais forem as seitas a que pertençam, procedem como se cressem nele, praticando a moral que resume o
mandamento divino em que se encerram toda a lei e os profetas, embora, na presente encarnação, lhe reneguem o
nome.
Meu Pai dá testemunho de Mim...
5,39 “-Vós perscrutais as escrituras, julgando
encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão testemunho de
mim.
5,40 E
não quereis vir a Mim para terdes
vida...
5,41 Não espero a glória dos homens...
5,42 Mas, sei que não tendes em vós o amor de
Deus.
5,43
Vim em nome de Meu Pai, mas não
Me recebeis. Se vier outro em seu próprio
nome, haveis de recebê-lo...
5,44
Como podeis crer, vos recebeis a
glória uns dos outros e não buscais a glória que é só de Deus,
5,45 não
julgueis que vos hei de acusar diante do Pai;
5,46
pois, se crêsseis em Moisés, certamente creríeis também em mim, porque
ele escreveu a
Meu respeito.
5,47
mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas
palavras?”
Para
Jo (5,39-47), -Meu Pai dá testemunho de Mim - tomemos
“Palavras do Infinito”, de Humberto
de Campos por Chico Xavier:
“Avizinhando-se o
Natal, havia também no Céu um rebuliço de alegrias suaves. Os Anjos acendiam estrelas nos cômoros de
neblinas douradas e vibravam no ar as harmonias misteriosas que encheram um dia
de encantadora suavidade a noite de Belém. Os pastores do paraíso cantavam e,
enquanto as harpas divinas tangiam suas cordas sob o esforço caricioso dos
zéfiros da imensidade, o Senhor chamou o discípulo Bem-Amado ao seu trono de
jasmins matizados de estrelas.
O vidente de
Patmos não trazia o estigma da decrepitude como nos últimos dias entre as
Espórades. Na sua fisionomia pairava aquela mesma candura adolescente que o
caracterizava no princípio do seu apostolado.
- João - disse-lhe
o Mestre - lembras-te do meu aparecimento na Terra?
- Recordo-me,
Senhor. Foi no ano 749 da era romana, apesar da arbitrariedade de frei
Dionísios, que colocou erradamente o vosso natalício em 754, calculando no
século VI da era cristã.
-Não, meu João -
retornou docemente o Senhor - não é a questão cronológica que me interessa em
te arguüindo sobre o passado. É que nessas suaves comemorações vem até mim o
murmúrio doce das lembranças!...
- Ah! sim, Mestre
Amado - retrucou pressuroso o Discípulo - compreendo-vos. Falais da
significação moral do acontecimento. Oh!... se me lembro... a manjedoura, a
estrela guiando os poderosos ao estábulo humilde, os cânticos harmoniosos dos
pastores, a alegria ressonante dos inocentes, afigurando-se-nos que os animais
vos compreendiam mais que os homens, aos quais ofertáveis a lição da humildade
com o tesouro da fé e da esperança. Naquela noite divina, todas as potências
angélicas do paraíso se inclinaram sobre a Terra cheia de gemidos e de amargura
para exaltar a mansidão e a piedade do Cordeiro. Uma promessa de paz desabrochava para todas
as coisas com o vosso aparecimento sobre o mundo. Estabelecera-se um noivado
meigo entre a Terra e o Céu e recordo-me do júbilo com que vossa Mãe vos
recebeu nos seus braços feitos de amor e de misericórdia. Dir-se-ia, Mestre,
que as estrelas de ouro do paraíso fabricaram, naquela noite de aromas e de
radiosidades indefiníveis um mel divino no coração de Maria!...
Retrocedendo no
tempo, meu Senhor bem-amado, vejo o transcurso da vossa infância, sentindo o
martírio de que fostes objeto; o extermínio das crianças de vossa idade, a fuga
aos braços carinhosos de vossa progenitora, os trabalhos manuais em companhia
de José, as vossas visões maravilhosas no Infinito, em comunhão constante com o
vosso e nosso Pai, preparando-vos para o desempenho da missão única que vos fez
abandonar por alguns momentos os palácios de sol da mansão celestial para
descer sobre as lamas da Terra...
- Sim, meu João,
e, por falar nos meus deveres, como seguem no mundo as coisas atinentes à minha
doutrina?
- Vão mal, meu
Senhor. Desde o concílio ecumênico da Nicéia, efetuado para combater o cisma de
Ário em 325, as vossas verdades são deturpadas. Ao arianismo seguiu-se o
movimento dos iconoclastas em 787 e tanto contrariaram os homens o vosso
ensinamento de pureza e de simplicidade, que eles próprios nunca mais se
entenderam na interpretação dos textos evangélicos.
- Mas não te
recordas, João, que a minha doutrina era sempre acessível a todos os
entendimentos? Deixei aos homens a lição do caminho, da verdade e da vida sem
lhes haver escrito uma só palavra.
- Tudo isso é verdade, Senhor, mas
logo que regressastes aos vossos impérios resplandecentes, reconhecemos a
necessidade de legar à posteridade a vossa biografia na Terra; contudo, os
homens não dispensam, em sua atividades, o véu da matéria e do símbolo. A todas as coisas puras da espiritualidade
adicionam a extravagância de suas concepções. Nem nós nem os evangelhos
poderíamos escapar. Em diversas basílicas de Rávena e de Roma, Mateus é
representado por um jovem, Marcos por um leão, Lucas por um touro e eu, Senhor,
estou ali sob o símbolo estranho de uma águia.
- E os meus
representantes, João, que fazem eles?
- Mestre,
envergonho-me de o dizer. Andam quase todos mergulhados nos interesses da vida
material. Em sua maioria, aproveitam-se das oportunidades para explorar o vosso
nome e, quando se voltam para o campo religioso, é quase que apenas para se
condenarem uns aos outros, esquecendo-se de que lhes ensinastes a se amarem
como irmãos...
- As discussões e
os símbolos, meu querido - disse-lhe suavemente o Mestre - não me impressionam
tanto. Tiveste, como eu, necessidade destes últimos, para as predicações e,
sobre a luta de idéia, não te lembras quanta autoridade fui obrigado a
despender, mesmo depois da minha volta da Terra, para que Pedro e Paulo não se
tornassem inimigos? Se entre os meus
apóstolos prevaleciam semelhantes desuniões, como poderíamos eliminá-las do
ambiente dos homens, que não me viram, sempre inquietos nas suas indagações?...
O que me constrita é o apego dos meus missionários aos prazeres fugitivos do
mundo!
- É verdade,
Senhor.
- Qual o núcleo de
minha doutrina que detém no momento maior força de expressão?
- É o
departamento dos bispos romanos, que se recolheram dentro de uma organização
admirável pela sua disciplina, mas altamente perniciosa pelos seus desvios da
verdade. O Vaticano, Senhor, que não conheceis, é um amontoado suntuoso das
riquezas das traças e dos vermes da Terra. Dos seus palácios confortáveis e
maravilhosos irradia-se todo um movimento de escravização das consciências.
Enquanto vós não tínheis uma pedra onde repousar a cabeça, dolorida, os vossos
representantes dormem a sua sesta sobre almofadas de veludo e de ouro; enquanto
trazíeis os vossos pés macerados nas pedras do caminho escabroso, quem se
inculca como vosso embaixador traz a vossa imagem nas sandálias matizadas de
pérolas e de brilhantes. E junto de
semelhantes superfluidades e absurdos, surpreendemos os pobres chorando
de cansaço e de fome; ao lado do luxo nababesco das basílicas suntuosas,
erigidas no mundo como um insulto à glória da vossa humildade e do vosso amor,
choram as crianças desamparadas, os mesmos pequeninos a quem estendíeis os
vossos braços compassivos e misericordiosos. Enquanto sobram as lágrimas e os
soluços entre os infortunados, nos templos, onde se cultua a vossa memória,
transbordam moedas em mãos cheias, parecendo, com amarga ironia, que o dinheiro
é uma defecação do demônio no chão acolhedor da vossa casa.
- Então, meu
Discípulo, não poderemos alimentar nenhuma esperança?
- Infelizmente,
Senhor, é preciso que nos desenganemos. Por um estranho contraste, há mais
ateus benquistos no Céu do que aqueles religiosos que falavam em vosso nome na
Terra.
- Entretanto -
sussurraram os lábios divinos docemente - consagro o mesmo amor à humanidade
sofredora. Não obstante a negativa dos filósofos, as ousadias da ciência, o
apodo dos ingratos, a minha piedade é inalterável... Que sugeres, meu João,
para solucionar tão amargo problema?
-Já não
dissestes, um dia, Mestre, que cada qual tomasse a sua cruz e vos seguisse?
- Mas prometi ao
mundo um Consolador em tempo oportuno! ...
E os olhos claros
e límpidos, postos na visão piedosa do amor de seu Pai Celestial, Jesus
exclamou:
- Se os vivos nos
traíram, meu Discípulo Bem-Amado, se traficam com o objeto sagrado de nossa
casa, profligando a fraternidade e o amor, mandarei que os mortos falem na
Terra em meu nome.
Deste Natal em diante, meu João, descerrarás mais um fragmento dos
véus misteriosos que cobrem a noite mais triste dos túmulos para que a verdade
ressurja das mansões silenciosas da Morte. Os que já voltaram pelos caminhos
ermos da sepultura retornarão à Terra para difundirem a minha mensagem, levando
aos que sofrem, com a esperança posta no Céu, as claridades benditas do meu
amor!...
E, desde essa
hora memorável, há mais de cinquenta anos, O Espiritismo veio, com as suas
lições prestigiosas, felicitar e amparar na Terra a todas as criaturas.
Humberto de Campos
(Recebida em Pedro Leopoldo a 20 de dezembro de 1935)
Para Jo
(5,40) -E não quereis vir a mim para terdes vida
- leiamos “Fonte Viva” de Emmanuel por Chico Xavier:
“Quantos procuram
a sublimação da individualidade precisam entender o valor supremo da vontade no
aprimoramento próprio.
Os templos e as
escolas do Cristianismo permanecem repletos de aprendizes que vislumbram os
poderes divinos de Jesus e lhe
reconhecem a magnanimidade, caminhando, porém, ao sabor de vacilações cruéis.
Crêem e descrêem,
ajudam e desajudam, organizam e perturbam, iluminando-se na fé e ensombrando-se
na desconfiança... É que esperam a
proteção do Senhor para desfrutarem o contentamento imediato no corpo, mas não
querem ir até ele para se apossarem da vida eterna. Pedem o milagre das mãos do
Cristo, mas não lhe aceitam as diretrizes. Solicitam-lhe a presença
consoladora, entretanto, não lhe acompanham os passos. Pretendem ouvi-Lo, à
beira do lago sereno, em preleções de esperança e conforto, todavia, negam-se a
partilhar com ele o serviço da estrada, através do sacrifício pela vitória do
bem. Cortejam-no em Jerusalém, adornada de flores, mas fogem aos testemunhos de
entendimento e bondade, à frente da multidão desvairada e enferma. Suplicam-lhe
as bênçãos da ressurreição, no entanto, odeiam a cruz de espinhos que regenera
e santifica. Podem ir na vanguarda edificante, mas não querem. Clamam por luz
divina, entretanto, receiam abandonar a s sombras. Suspiram pela melhoria das
condições em que se agitam, todavia, detestam a própria renovação.
Vemos, pois, que é fácil comer o pão
multiplicado pelo infinito amor do Mestre Divino ou regozijar-se alguém com a
sua influência curativa, mas, para alcançar a Vida Abundante de que Ele se fez
o embaixador sublime, não basta a faculdade de poder e o ato de crer, mas
também a vontade perseverante de quem aprendeu a trabalhar e servir,
aperfeiçoar e querer.”
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